Por cujo motivo te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti pela imposição das minhas mãos.

2 Timóteo 1:6

INTRODUÇÃO

   A primeira e a segunda carta de Paulo a Timóteo são conhecidas como epístolas pastorais, são chamadas assim porque nestas cartas o apóstolo Paulo exorta o jovem pastor Timóteo em vários aspectos e segmentos da vida ministerial, familiar e social. Para quem deseja ingressar no ministério pastoral ou para quem já está há mais tempo nessa caminhada é leitura indispensável em qualquer época.

   A Bíblia foi separada em “partes” por alguns estudiosos para facilitar o estudo e o conhecimento das escrituras. No Antigo Testamento temos pentateuco, históricos, proféticos, poéticos.... No Novo Testamento a divisão é evangelhos, cartas paulinas, cartas gerais e assim por diante. A questão é que quando olhamos a Bíblia na ótica dessas divisões corremos o risco de não dar a devida atenção a alguns livros por fazerem parte de um bloco ou uma parte que julgamos não ter relação conosco ou com o ministério que desenvolvemos no reino de Deus. Mas devemos trazer a memória sempre o que escreveu o apóstolo Paulo: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra”. 2 Timóteo 3:16-17 (NVI). Toda escritura é inspirada por Deus e útil, e não cabe a nós acharmos que certo texto não tem relevância para nós, se assim agirmos seremos cristãos negligentes.

   Neste estudo aprofundaremos um pouco mais nosso conhecimento acerca de alguns versículos das cartas de Paulo a Timóteo. Mas, muito mais do que apenas conhecer, que juntos cresçamos na graça e no conhecimento.

 

A NECESSIDADE DOS DONS NA IGREJA

   A obra do Senhor nessa terra é realizada por cristãos chamados para serem embaixadores do Reino. Não obstante muitos acham que Deus equipa pessoas com certos dons apenas para serem usados na Igreja nos momentos de culto. Sem dúvida o Senhor tem separado e preparado pessoas para este santo ministério de ensinar, tocar, cantar, administrar e trabalhar efetivamente e integralmente em sua obra. Mas, é importante ressaltar que além dos dons dados ao homem para servir na Igreja, outros dons espirituais são dados por Deus para trabalhos que não são feitos na Igreja. Mas, é importante que o cristão tenha consciência que foi o Senhor que o equipou para toda boa obra, e que o objetivo principal é a Sua glória.

    A Bíblia apresenta algumas listas de dons, as mais conhecidas entre os cristãos estão registradas em Romanos 12:6-8 onde diz: “Temos diferentes dons, de acordo com a graça que nos foi dada. Se alguém tem o dom de profetizar, use-o na proporção da sua fé. Se o seu dom é servir, sirva; se é ensinar, ensine; se é dar ânimo, que assim faça; se é contribuir, que contribua generosamente; se é exercer liderança, que a exerça com zelo; se é mostrar misericórdia, que o faça com alegria”. (NVI). E também Coríntios 12:4-11: “Há diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diferentes tipos de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos. A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum. Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de conhecimento, pelo mesmo Espírito; a outro, fé, pelo mesmo Espírito; a outro, dons de cura, pelo único Espírito; a outro, poder para operar milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a outro, variedade de línguas; e ainda a outro, interpretação de línguas. Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, conforme quer” (NVI).

   Perceba que podemos sim, usar os dons espirituais dentro e fora do templo, servir, administrar, ensinar, animar, contribuir entre outros, são dons que podem e devem ser usados aonde quer que estejamos. Os dons espirituais são fundamentais para a obra da Igreja aqui na terra, sem a capacitação do Espírito Santo não conseguiríamos realizar a obra do Senhor como Ele deseja. Por isso, é de suma importância que cada cristão busque saber qual dom que recebeu do Senhor para servir melhor ao Seu propósito. Todos fomos chamados por Deus para fazer algo seja dentro ou fora dos portões da Igreja. Não podemos nem devemos esquecer que a Igreja somos nós onde quer que estejamos e que os dons espirituais que Ele nos dá podem e devem ser usados nos mais variados segmentos da sociedade. Portanto, é necessário que estejamos conectados com o Senhor da obra para entender o nosso lugar nessa grande plataforma de serviços.

   É fato que muitas pessoas ignoram ou enterram os dons e talentos que Deus as dá, isso já foi profetizado por Jesus na parábola dos talentos (Mateus 25:14-30). Mas, não podemos esquecer o final da parábola, onde os servos que não usaram corretamente os dons e talentos recebidos sofreram a punição por esta atitude.

   Você já sabe qual o dom recebeu do Senhor? Você tem utilizado eles para a glória de Deus?

 

REAVIVANDO O DOM DE DEUS

   Um dos Conselhos de Paulo a Timóteo nas epístolas pastorais é: “Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos” (2 Timóteo 1:6 ARA). Reavives, no original, significa reacender ou reinflamar. O fogo do zelo visto nos dons espirituais pode apagar-se, ou pode tornar-se embotado e ineficaz, se alguém não tem cuidado no exercício apropriado dos mesmos, coisa alguma é automática, na vida espiritual. Precisamos abanar as brasas constantemente, isto é, despertar nossos poderes, mediante o serviço ativo e espiritual, com base na comunhão com o Espírito de Deus.

   Timóteo enfrentava sérios problemas no ministério, Timóteo estava limitado por frequentes enfermidades físicas (1 Timóteo 5:23); ele era naturalmente tímido (1 Coríntios 16:10); 3) e relativamente jovem (1 Timóteo 4:12; 2 Timóteo 2:22); Os efésios que se opunham a Timóteo eram tenazes no erro (1 Timóteo 1:3-7,19,20; 4:6,7; 6:3-10; 2 Timóteo 2:14-19,23); Os crentes eram perseguidos pelo Estado.27 Tudo isso, talvez estivesse levando o jovem a se sentir desanimado e não é diferente conosco. As batalhas espirituais tendem a nos fortalecer ou nos levar ao desanimo.

   O Conselho de Paulo neste texto não é que Timóteo busque novas maneiras, novos projetos para se fortalecer, antes ele o admoesta a reavivar, reacender a chama que havia nele, era hora do jovem pastor remover as cinzas e remexer as brasas para que o fogo surgisse novamente. Ele já tinha os ingredientes necessários para a obra para a qual Deus o chamou bastava ele reavivá-las.

   Quem de nós já não presenciou em alguém ou até mesmo experimentou um fervor espiritual em algum momento da caminhada cristã onde nada parecia poder nos parar ou nos fazer temer. Mas as batalhas espirituais, as dificuldades entre outros fatores podem apagar a chama em nós, talvez a ponto de que não haja nem mesmo fumaça, ou sequer uma pequena brasa onde antes havia dedicação e zelo. É por isso que o cristão precisa estar constantemente ligado na videira para produzir frutos, bem como usar os dons que Deus os deu para não esfriar ou apagar.

   Alguns versículos anteriores deste capítulo (2 Timóteo 1:3-4) valem ser ressaltados. Paulo diz a Timóteo que orava constantemente por ele. Também fala da fé da sua mãe a avó, da mesma forma do próprio Timóteo. Mas não deixa de exortar o jovem pastor sobre a necessidade lutar pessoalmente para manter vivo o entusiasmo pelo Evangelho em sua vida. Como é bom sabermos que existem pessoas orando e intercedendo por nós, como é importante estarmos cercados por pessoas que expressam fé genuína e fervorosa em Deus. Isso tudo pode nos ajudar a crescer espiritualmente, mesmo assim estamos sujeitos a passar por vales de dúvidas e desânimo, por isso é necessário que façamos nossa parte, mantendo sempre a chama acesa reavivando o dom que Deus nos deu. A melhor forma de manter o dom é usá-lo para a glória de Deus.

   Provérbios 26:20a diz: “Sem lenha o fogo se apaga”, este texto é obvio, mas pensemos um pouco sobre isso. Em dias de facilidades com fogões a gás ou elétricos, podemos esquecer que houve um tempo em que para se manter o fogo aceso era necessária lenha. Para ter a lenha precisava-se ir na mata, cortar a árvore, carregá-la, esperar secar, depois cortá-la em pedaços para então, ser usada no fogo. Você percebe quantos detalhes e quanto trabalho? Muitos de nós queremos manter a chama acesa. Mas não estamos dispostos a pagar preço para isso, não queremos renunciar nem nos esforçar, mas apenas apertar o botão e ter a chama acesa assim como fazemos em nossos fogões e fornos. Na vida espiritual existe um preço para manter a chama acesa. Isso demanda trabalho, porém, quando nos dermos conta do quanto será bom em nós e na vida das pessoas ao nosso redor entenderemos que, no fundo não é penoso e sim, uma dádiva.

   No Antigo Testamento uma das funções do sacerdote era manter a chama do altar sempre acesa, “O fogo, pois, sempre arderá sobre o altar; não se apagará; mas o sacerdote acenderá lenha nele cada manhã”. (Levíticos 6:12). Para o fogo permanecer aceso era necessário constante manutenção e alimentação através da lenha. Assim, nós devemos alimentar diariamente a chama do Espírito Santo em nós através da oração, meditação na Palavra e uso dos dons espirituais.

 

PODER, AMOR E EQUILÍBRIO NO USO DOS DONS

   Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio (2 Timóteo 1:7 NVI).

   Quando olho para este texto penso no que mais se destaca para cada um de nós quando o lemos? Infelizmente covardia e poder estão mais em voga enquanto amor e equilíbrio acabam ficando em segundo plano. Não há dúvida que o cristão não pode ser medroso ou covarde, existem inúmeros outros textos bíblicos que ressaltam isso, porém a palavra poder também foi totalmente distorcida no meio evangélico. Não poucas vezes “poder” no meio evangélico está relacionado a algumas manifestações que podemos dizer que nem sempre tem respaldo bíblico. Muitas vezes teatros de supostas curas, exorcismos, entre outras distorções existentes no meio gospel são tidas como manifestação de poder pelos evangélicos. Por isso, faz-se necessário buscar entender que tipo de poder Paulo está falando aqui.

   Poder no grego é “dunamis”, que significa força, poder e energia. Ela que deu origem ao nosso vocábulo moderno dinamite. Isso fala sobre o poder que nos capacita à santidade e ao serviço cristão e que ocorre através dos dons espirituais e da presença do Espírito de Deus em nosso ser. Isso confere aos discípulos o mesmo poder que Cristo possuía; e Ele que eles poderiam fazer maiores obras do que aquelas que Ele mesmo realizou. (Ver João 14:12). Ora, para tanto, é mister que os homens recebam o poder divino. E esse poder foi posto à disposição dos remidos, podendo transformá-los segundo a imagem de Cristo, de tal modo que seu poder se torna parte do ser essencial e do caráter do crente, e não algo meramente dotado para ser usado como instrumento sem vontade própria.

   O poder espiritual vem de Deus e deve ser usado para Suas glória. Atos dos Apóstolos 1:8 diz: “Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (Atos dos Apóstolos 1:8 NVI). Os discípulos de Jesus estavam amedrontados com todos os acontecimentos naqueles dias. Jesus então, declara que eles seriam revestidos de poder, que significa coragem, ânimo para que eles testemunhassem sobre o amor de Deus a todos os povos. A maior demonstração de poder não está baseada em sinais prodigiosos apenas, mas simplesmente em não temer testemunhar o amor de Deus aonde quer que estejamos. Mas isso só Deus pode nos capacitar a fazer, é Ele quem nos fortalece e nos prepara para sermos cheios de ânimo e coragem para sermos testemunhas fiéis.

   Não são poucos os supostos “supercrentes” cheios de poder que fazem e acontecem, mas que pecam na falta de amor, compaixão e domínio próprio. Se prestassem mais atenção ao que a Palavra de Deus ensina, perceberiam que a autoridade dada pelo Senhor deve vir acompanhada de amor e domínio próprio. Paulo diz que o amor é um caminho mais excelente (1 Co12:31), e que podemos ter muitos dons mas se não tivemos amor nada somos (1 Co13:1). Os dons espirituais devem estar conectados com os frutos do Espírito, “Mas ofruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio” (Gálatas 5:22-23). É assim que o cristão deve manifestar seus dons, e agindo dessa maneira, com certeza seremos instrumentos nas mãos de Deus.

 

GUARDANDO UM GRANDE TESOURO

    Quanto ao bom depósito, guarde-o por meio do Espírito Santo que habita em nós (2 Timóteo 1:14).

   Deus confiou a Paulo o depósito da verdade (1 Timóteo 1:11) e o apóstolo passara adiante esse depósito para Timóteo (1 Timóteo 6:20). Agora, cabia a Timóteo a responsabilidade solene de mantê-lo (1:13), guardá-lo (1:14) e transmiti-lo a outros (2.2).

   Timóteo deveria defender, guardar e levar o Evangelho genuíno para todos quanto fosse possível levar.

   A ideia de guardar o tesouro, expressa neste versículo, não pressupõe apenas colocar em um cofre e nunca mais mexer. Talvez tenhamos uma melhor compreensão se pensarmos na parábola dos talentos contada por Jesus em Mateus 25:14 30. A parábola narra a história de um homem que ao sair de viagem deixou seus tesouros aos cuidados de três servos de confiança. A um ele deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, conforme a capacidade de cada um. Oque ganhou cinco aplicou o dinheiro e rapidamente multiplicou a riqueza de seu senhor. Assim também procedeu o que ganhou dois talentos, porém, o que ganhou um talento fez um buraco e escondeu, guardou o talento que havia recebido. Quando o senhor voltou de viagem, elogiou os que haviam multiplicado os recursos, mas castigou o que havia apenas guardado e escondido o tesouro recebido. Todos os cristãos recebem dons e talentos de Deus, alguns além de zelarem por estes dons os multiplicam, outros apenas os guardam, escondem, não repartem ou aplicam. Mas, essa parábola nos serve de alerta sobre a importância de aplicarmos e multiplicarmos os dons que Deus tem confiado a cada um de nós. É assim que guardaremos esse bom tesouro que foi a nós confiado.

   É importante ressaltar que devemos preservar esse tesouro por meio do Espírito Santo de Deus. O Evangelho é o maior tesouro que possuímos. Este tesouro tem um dono, nós somos apenas servos que recebemos a dádiva de guardar e transmitir a outras pessoas. Um dia estaremos perante o Senhor que confiou seu tesouro a cada um de nós.

 

CONCLUSÃO

   Certa vez um pregador disse que o reino de Deus não é um palco de apresentação antes é uma plataforma de serviços. Serviço é o que não falta na obra do Senhor, Jesus disse certa vez que a seara é grande, mas poucos são os ceifeiros (Lucas 10:2). Se cada cristão fizesse sua parte com certeza o Evangelho já teria sido levado para muitos outros lugares e pessoas. Mas é fato que ainda hoje a seara é grande e poucos são os trabalhadores. Muitos são os que dizem-se cristãos, porém, na hora de exercerem seus dons se escondem atrás de muitas desculpas. Convido você para no dia de hoje refletir sobre os dons e talentos que o Senhor lhe confiou e em como você os tem utilizado.

 

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. Como podemos manter o zelo e o entusiasmo pela obra de Deus em cada um de nós?

R.

2. Você já sabe qual ou quais dons recebeu do Senhor? Você tem utilizado eles para a glória de Deus?

R.

3. Dê alguns exemplos de como os dons espirituais podem ser usados fora da igreja

R.

4. Como você entende a palavra poder em 2 Timóteo 1:7 e Atos dos Apóstolos 1:8?

R.

5. Como você descreveria uma testemunha de Cristo? Você tem sido tal testemunha de Cristo?

R.

6. Você concorda que a autoridade espiritual deve vir junto com amor e domínio próprio?

R.

7. Qual dom você gostaria de ter?

R.