Porque povo santo és ao SENHOR teu Deus; o SENHOR teu Deus te escolheu, para que lhe fosses o seu povo especial, de todos os povos que há sobre a terra.
Deuteronômio 7:6
INTRODUÇÃO
Após desenvolvermos alguns estudos buscando compreender Deus — Criador, Redentor e Mantenedor — somos compelidos a meditar um pouco mais nas características desse Ser Soberano que, a despeito de tanta glória e majestade, digna-Se habitar entre nós, a ponto de escolher um povo especial. Este estudo bíblico é dirigido aos salvos em Cristo, vale dizer, a crentes que têm a Bíblia como a infalível e segura Palavra de Deus. Assim, partindo desse pressuposto, não adentraremos às variadas discussões sobre a existência de Deus na ótica da metafísica (gr.meta = além de; e física = as coisas físicas) ou, como dizem os eruditos, sobre as diferentes cosmovisões teístas.
A Teologia Sistemática e a Ética Cristã apresentam algumas teorias argumentativas sobre a existência de Deus. Há o argumento cosmológico, o teleológico, o ontológico e o moral. Neste ensejo, por não ser um curso de teologia e, além disso, tendo em vista a limitação de tempo e espaço, iremos nos restringir apresentando um brevíssimo sumário e, assim mesmo, apenas da teoria que desenvolve o argumento teleológico, ou finalístico. Calha ressaltar, por oportuno, que os vocábulos teleológico e teológico não devem ser confundidos. Este tem a ver com o estudo de Deus (gr.: Theos = Deus + Logos = estudo); aquele tem a ver com o estudo das finalidades (gr.: Telos = vontade, fi m — no sentido de finalidade + Logos = estudo).
Concordamos com o Pastor Doutor Norman L. Geisler, ex-reitor do Southern Baptist Theological Seminary, em Charlotte, Carolina do Norte, USA, quando preleciona a existência de diversas variações do argumento teleológico. Pondera que a mais famosa delas deriva de William Paley (1743-1805), que utilizou a analogia do construtor de relógios. Da mesma forma que cada relógio é construído por alguém e como o funcionamento do Universo é muitíssimo mais complexo do que o de um relógio, temos que deve haver um construtor do Universo. Em suma, o argumento teleológico argumenta a partir do projeto (design) a favor de um Projetista (Designer) Inteligente. A fórmula silogística é:
(i) Todos os projetos implicam um projetista.
(ii) Existe um grande projeto para o Universo.
(iii) Portanto, também deve haver um Grande Projetista na origem do Universo.
A primeira premissa é conhecida a partir da nossa própria experiência; em todas as ocasiões nas quais vemos um projeto complexo, sabemos pela nossa experiência prévia que ele surgiu da mente de um projetista. Relógios implicam construtores de relógio; edifícios implicam arquitetos; quadros implicam pintores; e mensagens codificadas implicam um remetente inteligente. Sabemos que isto é verdade porque observamos isto ocorrer o tempo todo. Da mesma forma, quanto mais fascinante o projeto, tanto mais fascinante será o projetista. Mil macacos sentados em máquinas de escrever, ao longo de milhões de anos, jamais produziriam uma peça do porte de Hamlet. Só que Shakespeare escreveu esta obra magnífica na primeira tentativa. Quanto mais complexo o projeto, tanto maior será a inteligência necessária para desenvolvê-lo.
De conveniência se ressalte, nessa toada, que a Bíblia nos apresenta duas maneiras fascinantes da Revelação de Deus ao homem: a Revelação natural (a natureza revela Deus: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Salmos 19:1) e a Revelação Especial. A expressão máxima da Revelação Especial de Deus foi Jesus Cristo “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho” (Hebreus 1:2). O médico psiquiatra, Professor da Escola de Medicina de Harvard, Dr. Armand M. Nicholi Jr., escreveu sobre o grande escritor C. S. Lewis que, na sua fase de ateísmo, concordava com a opinião de Freud de que o Universo é tudo o que existe — nada mais do que um acidente que simplesmente aconteceu. Mas Lewis acabou se perguntando se a vastidão inacreditável do Universo, sua precisão e ordem, e sua enorme complexidade não refletiriam algum tipo de Inteligência. Haverá Alguém além do Universo que o tenha criado?
Lewis, depois da transformação de sua visão de mundo, responde com um “sim!” ressonante. Ele afirma que o Universo está cheio de “placas de sinalização”, como “o céu estrelado acima e a lei moral dentro de nós” — frase de Immanuel Kant — tudo apontando com clareza inconfundível para aquela Inteligência. Lewis nos adverte a abrir os nossos olhos a fi m de olhar em redor e entender o que estamos vendo. Em suma, o brado de Lewis é: “Acordem!” Não é ocioso lembrar, nesse cenário, que nas mais diferentes civilizações e culturas, em todas as épocas, a humanidade, em geral, tem uma noção intuitiva da existência de Deus.
Anuímos à cátedra do destacado fi lósofo e apologista cristão, Dr. William Lane Craig, quando orienta que o absurdo da vida sem Deus pode não provar que Deus existe, mas na verdade mostra que a questão da existência de Deus é a pergunta mais importante que alguém pode se fazer. Ninguém que conheça a fundo as implicações do ateísmo ousará dizer que tanto faz se Deus existir ou não. Quando uso a palavra Deus nesse contexto, quero dizer o Criador do Universo, o Deus onipotente e perfeito, que nos oferece a vida eterna. Se esse Deus não existisse, então a vida seria absurda. Isso equivale a dizer que a vida não teria sentido, valor ou propósito.
Se Deus não existir, tanto o homem quanto o Universo estão inevitavelmente fadados à morte. O homem, como todos os demais organismos biológicos, deve morrer um dia. Sem a esperança da imortalidade, a vida humana caminha apenas para a cova. A vida humana não passa de uma faísca na escuridão infinita, uma faísca que aparece, emite uma trêmula chama e se extingue para sempre. Decerto, o ateísmo proclama que somente o universo físico existe e, com isso, não deixa espaço para a existência de Deus. Com efeito, por mais que os respeitemos, a Bíblia os classifica como insensatos ou néscios. Isto é o que encontramos nos Salmos 14:1 e 53:1 (“Disse o néscio no seu coração: Não há Deus”). Por outro lado, a igreja cristã e, em especial, a Igreja Batista do Sétimo Dia, tem a existência de Deus como o alicerce da sua Teologia. Logo, a nossa fé — contendo todas as nossas crenças — tem por pressuposto a existência de um Deus real e pessoal.
Com a expressão “Deus real”, estamos afirmando que Deus não é mera energia criadora e/ou mantenedora, mas, sim, um Ser complexo — haja vista a Sua forma triúna de ser — que criou o Céu, a Terra, o mar e tudo o que neles há. Além disso, com a expressão “Deus pessoal”, proclamamos nossa convicção de fé no sentido de que adoramos e servimos a um Deus que intervém, que Se importa com a vida de cada ser humano. Nessa linha de entendimento, ressoa forte o ensinamento do Senhor Jesus Cristo, de que não cai um fio de cabelo de nossa cabeça sem que Deus atente a isso.
Trata-se, pois, de um Deus que é, ao mesmo tempo, infinito e pessoal. Sendo assim, e de fato cremos que o é, necessitamos confiar mais n’Ele. Precisamos ter sempre a certeza de que Ele (Deus) Se importa conosco em cada pormenor de nossa vida. Ele quer sempre nos conduzir pelo melhor caminho, alvitrando os melhores resultados. Aliás, esta assertiva está alicerçada nas sagradas Escrituras. Confira-se: “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fi m que desejais” (Jeremias 29:11). Com isso, estamos dizendo, pela fé, que Deus Se importa com a nossa saúde física, emocional e espiritual. Ele Se importa com a nossa vida profissional, estudantil, relacional, amorosa, familiar e na Igreja. Sim, servimos a um Deus que age e interage!
UM POVO ESPECIAL
Conquanto tenhamos fé para crer que, de um só homem — Adão —, Deus fez toda a humanidade, de igual modo, alicerçados na Bíblia, somos convencidos de que Deus separou para um serviço especial algumas pessoas que, bem por isso, se tornaram especiais. Muito se tem discutido sobre o critério que Deus adota para escolher alguém. Há muita especulação a esse respeito. Teorias foram engendradas para justificar a escolha de uma pessoa e não a de outra. Argumentos embasados em pilares frágeis e insustentáveis buscam explicar a eleição apontada na Bíblia. Mas, ao fazê-lo, no mais das vezes, acabam por jogar a Revelação contra si mesma. Sim, porque se valem de inconciliáveis justificativas, tais como o uso irresponsável do vocábulo “soberania” em relação ao Criador e Mantenedor do Universo. De tal arte, alguns estudiosos buscam justificar tudo, até mesmo as assertivas denegatórias dos atributos morais de Deus (argumentos apologéticos que acabam por negar o atributo moral do amor e da justiça na Divindade), com o argumento da soberania divina.
Assinale-se, por oportuno, que os batistas do sétimo dia tradicionais não negamos a soberania de Deus. Evidentemente, não limitamos a soberania de Deus a uma definição determinística de controle absoluto de cada pormenor de tudo o que ocorre no Universo, de modo a excluir as contingências reais, as leis naturais de causa e efeito e, por fim, o livre arbítrio. Cremos, sim, que o Eterno Deus tem o domínio sobre todos os seres (espirituais, humanos e animais), bem como sobre todas as coisas, com envolvimento íntimo e direto em todo o evento da natureza e da história. Com isso, afirmamos que nada, de modo algum, pode acontecer sem a permissão de Deus. Logo, acreditamos sim, na vontade coativa, impositiva ou coercitiva de Deus, haja vista a clássica afirmação: “...agindo eu, quem o impedirá?” (Isaías 43:13). A par disso, cremos também na vontade permissiva de Deus, não havendo qualquer novidade na constatação de que a Bíblia está repleta de narrativas que respaldam essa afirmação.
Crentes na inerrância das Escrituras e, por via de consequência, jamais ensinaremos, nem mesmo nas entrelinhas, que Deus seja o autor do pecado e do mal. Como batistas do sétimo dia, temos uma saudável hermenêutica na busca da compreensão do texto de Isaías 45:7 (“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas as coisas”). O vocábulo “mal” aqui não deve ser entendido como antítese do “bem”, mas sim, como aludindo aos males da natureza, tais como terremotos, inundações, tempestades de granizo, provocando devastação, calamidades e desolações. Essa interpretação é confirmada em Isaías 47:11 e Amós 3:6 por exemplo. Em suma, cremos e pregamos que Deus é o autor, a fonte e a causa de todo bem; e, o adversário, Satanás, o autor do mal.
Discussões à parte, neste estudo nos ocuparemos na busca do entendimento da ideia de ter o Criador e Mantenedor do Universo — Criador de todas as coisas — em Seu infinito amor e sabedoria, separado (escolhido, eleito) um povo para a realização de Seu propósito. Para que alcancemos uma melhor compreensão da assertiva acima, necessitamos diligência, fruto de fervorosa oração e humilde devoção na busca de respostas — à luz do conjunto da Revelação das Escrituras — à seguinte indagação: Qual era (ou, qual é) o propósito de Deus com a criação do homem? Surgem múltiplas tentativas de respostas. Consoante acima cravado, é necessário fervorosa oração e humilde devoção. Aliás, o objetivo deste estudo bíblico é fortalecer o ensino das Escrituras, que apresenta um Deus 100% (cem por cento) amor e 100% (cem por cento) justiça e que, para o fi m de executar o Seu propósito, houve por bem escolher amorosamente um povo que fosse depositário de Suas bênçãos. E mais. Esse povo eleito e, por isso, especial, estava comissionado a compartilhar Seu caráter. Com essa compreensão, passemos a analisar o chamado de Israel para ser povo especial do Eterno Deus.
NO ANTIGO TESTAMENTO
Vimos no verso chave, a assertiva de que foi Deus quem escolheu Israel para ser Seu povo especial. Convém transcrever novamente o texto, que proclama: “Porque povo santo és ao Senhor teu Deus, e sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus; o Senhor teu Deus te escolheu para que lhe fosses o seu povo especial, de todos os povos que há sobre a terra” (Deuteronômio 7:6). Concordamos com o Pastor Warren W. Wiersbe quando, ao comentar este verso, observa que desde o chamado de Abraão até o êxodo, esperava-se que o povo de Israel fosse separado, não por ser melhor do que as outras nações, mas por ser diferente. Era o povo escolhido de Deus. O Senhor ordenou a Abraão que deixasse Ur dos caldeus e que fosse para a terra que ele lhe mostraria (Gênesis 11:31 – 12:4), e quando Abraão deixou a terra e foi procurar ajuda no Egito, Deus teve de discipliná-lo (vs. 10-20). Ao longo de sua história, quando Israel se manteve separado ao obedecer às leis de Deus e ao procurar agradar ao Senhor, foi bem sucedido em tudo o que fazia. Porém, quando começou a condescender com outras nações e a adorar seus ídolos, sofreu derrotas e fracassos.
Separação significa segurança (v. 1-6). Nas Escrituras, separação não quer dizer isolamento, pois se os cristãos se isolassem, como poderiam ser “o sal da terra” e “a luz do mundo” (Mateus 5:13-16) e falar do Senhor a outros? Os cristãos podem viver afastados do pecado e consagrados ao Senhor e, ainda assim, estar envolvidos nos desafios e atividades normais da vida. Abraão era aliado de alguns de seus vizinhos em Canaã e juntos derrotaram invasores e salvaram o povo de Sodoma e Gomorra (Gênesis 14). Contudo, em momento algum Abraão viveu ou adorou como seus vizinhos. Jesus era “amigo de publicanos e pecadores” (Mateus 11:19) e, no entanto, também era “santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores” (Hebreus 7:26). Jesus tinha contato com o mundo real e com as pessoas desse mundo, mas não foi contaminado por esse contato. A verdadeira separação bíblica é o contato sem contaminação. Somos diferentes do mundo, mas não esquisitos. Quando você é diferente, atrai as pessoas e tem oportunidade de compartilhar as boas novas de Cristo; mas quando você é esquisito, afasta as pessoas e faz com que fechem a porta para seu testemunho.
Mostra-se conveniente, nessa linha de refl exão, apresentar os comentos de outros especialistas em Teologia do Antigo Testamento a respeito do tema versando a iniciativa de Deus em escolher para Si um povo especial. Com isso, anuímos ao magistério do destacado Pastor Frederick F. Bruce, Professor de Crítica Bíblica e Exegese, na Universidade de Manchester, na Inglaterra, quando, ao discorrer sobre a expressão “povo santo és”, reconheceu que Israel ocupa uma posição especial como povo de Deus, sem que isso decorra de algum mérito seu (de Israel). Mas eles serão abençoados se permanecerem fi éis à aliança. Israel é santo porque pertence ao Deus cuja distinção em relação a tudo que foi criado é santidade; é um povo “separado” e não “virtuoso”, “bom”, embora deva se tornar isso também. A ideia de eleição (Deus os escolheu) e de serem “tesouro pessoal” de Deus (cf. Êx 19:4,5) também é proeminente no Novo Testamento (cf. Tito 2:14; 1 Pedro 2:9-10). O ministério da graça é confirmado aqui. O Deus do Antigo Testamento também escolhe os fracos (1 Coríntios 1:26-31).
Assim, para Yahweh, a santidade deveria ser a própria constituição e norma de conduta do povo. O principal significado da palavra traduzida como “santo” é a de separação física. Portanto, tinha a ideia de “consagração” ou “dedicação”, isto é, distante dos costumes das nações ao redor deles e dedicado exclusivamente ao serviço do Senhor (ver 1 Pedro 2:9). Da expressão “seu povo próprio” (ou especial), extrai-se o significado literal de “um povo de possessão especial”. Ela provém de uma raiz que significa “adquirir propriedade”, “possessão”. Lançadas essas ponderações, importa-nos ter sempre em mente que o chamado de Deus a Israel, sua eleição como “um povo de possessão especial”, tinha um propósito, máxime no compartilhamento — às outras nações e povos — do caráter do Deus Eterno, verdadeiro Criador e mantenedor do Universo. Configura-se, portanto, um chamado para o serviço.
Os que ensinam que a escolha de Israel foi para a salvação, olvidam o lamento de Paulo, o apóstolo, em Romanos 9 10 e 11, confirmando que “nem todos os que são de Israel são israelitas. Nem por serem descendência de Abraão, são todos fi lhos; ...” (Romanos 9:6-7). Nesse cenário, apregoamos que o estudo conjunto e sistemático do tema que versa a escolha do povo de Deus na Nova Aliança só faz confirmar a assertiva acima posta.
NO NOVO TESTAMENTO
Muitos estudiosos — alguns especialistas em Teologia do Pacto — têm encontrado no conjunto das sagradas Escrituras diferentes pactos de Deus com o homem (v.g. Aliança com Adão [Adâmica], Aliança com Noé [Noática], Aliança com Abraão [Abraâmica], Aliança com Moisés [Mosaica], Aliança com Davi [Davídica], etc), até chegarmos na Nova Aliança, também chamada Aliança da Graça. Conquanto seja amplamente divulgado tal ensinamento, sem fazer qualquer juízo de valor no que se refere aos ditos estudos, este autor, didaticamente, prefere falar de dois grandes Pactos, duas grandes Alianças, dois sufi cientes e cabais Testamentos.
Aliás, nessa linha de entendimento, chega-se ao ponto de reconhecer que, na verdade, a Bíblia nos apresenta um Deus de infinito amor que, em Sua presciência nos amou, desde os tempos eternos, arquitetando o projeto de Salvação da humanidade caída. Sendo assim, vejo as Duas Alianças, os Dois Testamentos, como sendo um único programa divino, desenvolvido em diferentes etapas pedagógicas. Daí, a expressão paulina: “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fi m de recebermos a adoção de filhos” (Gálatas 4:4-5). Postas essas premissas e, agora, conhecedores do propósito de Deus ao escolher um povo especial na Antiga Aliança, surgem, então, as seguintes indagações:
(i) Deus ainda tem um povo especial específico?
(ii) Se a resposta for afirmativa, qual é esse povo?
(iii) Dentre outros escritores bíblicos, Paulo fala de um
“remanescente segundo a eleição da graça” (Romanos 11:5).
Sendo assim, quem é esse “remanescente”?
Nós batistas do sétimo dia cremos que Deus tem o Seu povo, ainda hoje. Reconhecemos, a par disso, que na Antiga Aliança, o conceito e critério de identificação do povo de Deus era eminentemente étnico (racial), pois era da linhagem de Abraão. Na Nova Aliança não encontramos fundamentos para uma escolha nesta base (racial). Há grupamentos cristãos evangélicos hoje, cuja existência no cenário mundial remonta menos de dois séculos e que, ainda assim, se arvoram, de forma categórica e contundente, como sendo o único povo de Deus, o remanescente fi el. Não estamos concordes com tamanha pretensão, visto que despida de embasamento bíblico.
Tampouco encontramos na Nova Aliança fundamentos para apontar determinada denominação religiosa como sendo a Igreja Verdadeira, o povo de Deus. Não cremos, pois, na tendenciosa hermenêutica atinente às sete Igrejas do Apocalipse, que as identifica com sete períodos estanques e subsequentes na história da igreja cristã, conducentes ao mal ajambrado entendimento de que a igreja verdadeira é a de Laodicéia (a 7ª Igreja no Apocalipse), forçando o estabelecimento de liames que a vinculem a determinada agremiação religiosa. Cumpre reiterar que nós, batistas do sétimo dia, proclamamos, em alto e bom som, que agora há uma redefinição do conceito de “povo de Deus” (gr. laos Theou). Não é mais étnico, nem tem a ver com a circuncisão. Tampouco é cultural. Mas, é segundo a graça, por meio da fé em Jesus.
Decerto, somos eleitos para a Salvação. A Bíblia nos afirma tal verdade. Não é menos certo, todavia, que essa escolha se confirma na vida daqueles que recebem Jesus Cristo como seu único e sufi ciente Salvador. É só por Jesus, pois, que nós somos salvos. Não há outro meio. Todas as demais predicações a esse respeito, que desbordem da mensagem da cruz — indo além dela ou fi cando aquém dela — por mais bem elaboradas que se apresentem, são falaciosas e enganadoras, devendo, portanto, ser repelidas do arraial dos salvos. Outrossim, antes éramos “não povo” (gr. ouk laos), mas, agora, por Cristo Jesus, somos “povo de Deus” (gr. laos Theou).
Pois bem. A indagação seguinte, é: Então como se identifica o povo de Deus e quem é o remanescente?Cremos que o povo de Deus está composto dos fiéis do Senhor em todos os tempos, civilizações e culturas. Não cremos e, bem por isso, não pregamos a existência de determinada instituição religiosa (eclesiástica) que possa ser identificada como detentora do monopólio denominacional do status de “povo de Deus” (gr. laos Theou). Renovemos sempre nossa convicção de que Deus nos chamou para um propósito divino. Somos eleitos do Senhor. O propósito desta escolha é de solar clareza. O desafio é, com base nas Santas Escrituras, buscarmos compreender a singeleza e magnitude desta escolha. Para tanto, comecemos pela reflexão no magno texto paulino, em sua Epístola aos Efésios, cap. 1, vs. 3 a 13. Ei-lo:
“3. Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo;
4. Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;
5. E nos predestinou para fi lhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,
6. Para louvor da glória de sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado,
7. Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas de sua graça,
8. Que ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e prudência;
9. Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo;
10. De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra;
11. Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade;
12. Com o fi m de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo;
13. Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa”.
Amados, o entendimento histórico e tradicional batista do sétimo dia (no Brasil e no mundo), com forte embasamento bíblico, é o de que somos todos predestinados para a Salvação. Entretanto, isso não significa que todos serão salvos, mas, tão somente, aqueles que aceitaram, pela fé, a oferta do perdão exibida na cruz do Calvário. Bem é de se ver, não somos adeptos da teologia universalista (ensina que todos serão salvos) e, tampouco da dupla predestinação, no sentido de que Deus preordenou (determinou previamente) que algumas pessoas, independentemente de sua escolha, só possam receber a condenação do fogo eterno. Que o Senhor nos torne cada dia mais cônscios de nosso chamado para a vida (gr. “zoé” = vida superior, diferente de “bios” = vida natural)! Daí, a declaração de Jesus: “... eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10:10).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos ao longo deste estudo bíblico a atuação de Deus chamando para Si um povo, lá na Antiga Aliança, conforme o atesta o verso-chave, mas, também, na Nova Aliança, por meio da obra de Cristo na cruz. O Antigo Testamento celebra os atos de Deus em favor do Seu povo. A Bíblia não esquece de engrandecer o nome do Criador, mas sua ênfase está na ação redentora de Deus. É por esta razão que o Novo Testamento anuncia a vitória de Jesus sobre a morte como a maior demonstração do poder de Deus. Do ponto de vista meramente natural, parece que a ressuscitação de um defunto é coisa pequena em comparação com a criação do universo. Mas a ressurreição de Jesus é da mais alta importância para a fé, porque proclama a vitória do amor de Deus sobre o pecado e a morte. Atentemos, nesse ensejo, às inspiradoras palavras de Salomão Luís Ginsburg, cuja poesia se tornou o hino nº 7 do Cantor Cristão:“No céu, na terra, que maravilhas Vai operando o poder do Senhor! Mas seu amor aos homens perdidos, Das maravilhas é sempre a maior!” 1. Lembremo-nos sempre que um povo escolhido é, por definição, um povo separado, vocacionado para viver vida santa. Assim, somos permanentemente desafiados a “seguir a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14).
QUESTÕES PARA REFLEXÃO EM CLASSE
1. Tomando por base o verso-chave (Deuteronômio 7:6), discuta com a classe a sua compreensão da escolha que Deus fez na Antiga Aliança, separando para Si um povo especial. Qual foi o seu propósito?
R.
2. Partindo-se do entendimento de que na Nova Aliança Deus elegeu para Si um povo zeloso de boas obras, quais as implicações dessa eleição?
R.
3. Explique, à luz dos comentários desta lição e com base nas Santas Escrituras, o texto de Isaías 45:7.
R.
4. O que se pode entender com a expressão “Povo de Deus”? Quem são os integrantes do “Povo de Deus”?
R.
5. Consoante o texto de Efésios 1:3-13, somos eleitos de Deus. O que isso significa para você?
R.