Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,
Gálatas 4:4
INTRODUÇÃO
Como entender algo que está além da nossa realidade? Onde podemos buscar as respostas para falar de um “Deus humano”? O Evangelho de João fala do Verbo que habitou entre nós, cheio de graça e verdade. O apóstolo Paulo, na sua carta aos Filipenses, descreve Jesus como alguém que teve Sua divindade revestida por Sua humanidade. E a carta aos Gálatas descreve a vinda do Filho de Deus no momento certo da história humana, quando a visão providencial de Deus direcionou e aparelhou pessoas e nações para a encarnação e a missão do Salvador. Gerrit Cornelius Berkouwer, pastor e conhecido professor dogmático em Amsterdam, na Holanda, foi feliz ao dizer que a reflexão teológica, bem como para a defesa contra os erros, a respeito da Divindade e da Humanidade de Jesus, devem ocorrer separadamente. Não podemos agrupar num único tratado tudo quanto atinge a Pessoa de Cristo. Sendo assim, neste estudo falaremos da natureza completamente humana de Cristo.
I. SEU CORPO ERA HUMANO
As controversas cristológicas nos primeiros séculos não foram poucas. Muitas foram as correntes de pensamentos em torno da natureza de Cristo. Em 451, no concílio em Calcedônia, mais de quinhentos bispos se reuniram aprovando e subscreveram uma fórmula de fé que, doravante, nortearia o pensamento cristológico da Igreja Universal: “Todos nós professamos o uno e idêntico Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, completo quanto à divindade e completo quanto à humanidade... em duas naturezas inconfusas e intransmutadas, inseparadas e indivisas, unidas ambas em uma pessoa e hipóstase”.
Estas palavras concisas definem o resultado de longos esforços, muitas vezes apaixonados e contraditórios, por resolver os cismas e restaurar a unidade da fé e da Igreja. Neste encontro, ficou definido que Jesus teve uma natureza humana completa e uma natureza divina completa. Uma só pessoa com duas naturezas. Nesta afirmação, Zacarias Severa no seu livro “Manual de Teologia Sistemática” afirma que estas duas naturezas estão unidas sem confusão, sem mudança, sem separação, conservando cada qual sua própria especificidade.21 A intenção não foi dar uma explicação ao inexplicável, mas declarar a fé da igreja. Em outras palavras Jesus é vere Deus et vere homem ( verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem). Lutero também ao tentar dar significado a sua profissão de fé, falou que as duas naturezas estão amalgamadas numa só Pessoa (in unam Personam conveniuntet commiscentur — associam-se e misturam-se numa Pessoa).
Muitos aspectos dão prova da humanidade de Cristo, até porque é mais fácil aceitar Sua natureza humana do que a divina. Mesmo assim, ainda existe certo tipo de docetismo disfarçado em algumas teologias. Esta fi losofi a grega insiste em apresentar um Cristo muito longe da realidade humana. O fato é que a natureza humana de Cristo nasceu da vontade de Deus. Ele não era igual a nós hoje, uma natureza caída e dada ao pecado. Mas, era igual à natureza de Adão e Eva, “antes da queda”, criados e feitos à imagem do Pai. Alguns aspectos na vida de Jesus provam que Ele teve uma vida normal. Seu nascimento, nascido de mulher, “E deu à luz o seu fi lho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem” (Lucas 2:7).
Ele também é citado nas listas de genealogias, “E o mesmo Jesus começava a ser de quase trinta anos, sendo (como se cuidava) fi lho de José, e José, de Eli...até ...Adão, e Adão, de Deus” ( Lucas 3:23-38)., o Seu desenvolvimento humano foi aparentemente normal, “E o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele”. Além desses pontos, podemos ver pelos textos bíblicos que Jesus apesar de estar sempre focado na missão redentora, teve que lutar contra Suas limitações físicas. Ele sentia canseira “E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte. Era isso quase à hora sexta” ( João 4:6); também teve fome “E, de manhã, voltando para a cidade, teve fome” (Mateus 21:18) e sede “Veio o Filho do Homem, comendo e bebendo...” (Mateus 11:19).
II - EXPERIMENTOU INTENSAS EMOÇÕES HUMANAS
Enfrentou muitas emoções humanas, tanto positivas quanto negativas. O Filho de Deus revelou, dessa forma, ter uma vida afetiva normal e saudável. A Bíblia descreve que Cristo irou-se “E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas” ( Mateus 21:12); essa narrativa da purificação do templo mostra Jesus irado e condenando a situação que encontrou em Jerusalém. Volta-se a mencionar a ira de Jesus em Marcos 3:1-5, onde os fariseus estavam vigiando Jesus para ver se Ele realizaria a cura no dia de sábado de um homem que tinha a mão atrofiada, “E, olhando para eles em redor com indignação, condoendo-se da dureza do seu coração...”. Sentimentos de tristeza também fi zeram parte da vida de Jesus. Como em certa oportunidade, Jesus “comoveu-se em espírito, e perturbou-se” ao ver Maria chorar (João 11:33). Jesus “turbou-se em espírito” quando anunciou a traição de Judas (João 13:21). No Getsêmane, na noite anterior à Sua morte, Jesus “começou a ter pavor e angustiar-se” (Marcos 14:33). 2. Jesus chegou a expressar sua grandiosa tristeza: “A minha alma está triste até a morte” (Marcos 14:34). Mais tarde, no Getsêmane, esteve “em agonia” e suou sangue (Lucas 22:44). Mas as emoções e sentimentos do nosso mestre não se limitaram apenas às tristezas. Ele teve muitos motivos para Se alegrar, e um dos motivos foi quando ouviu o relato dos setenta “Naquela mesma hora, se alegrou Jesus no Espírito Santo e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste às criancinhas; assim é, ó Pai, porque assim te aprouve” (Lucas 10:21); amou Seus amigos (João 11:50) e sentiu compaixão daqueles que andavam abandonados ( Mateus 9:36). Os sentimentos e emoções humanas que Jesus sentiu, até mesmo as tribulações que tentaram mudar o curso de Sua trajetória, serviram para torná-lO forte e experimentado em muitas dores. A carta aos Hebreus afirma que Cristo é o sumo sacerdote, pois naquilo que Ele foi tentado, testado, provado, saiu vitorioso e pode nos socorrer (Hebreus 2:18).
III. SUAS LIMITAÇÕES ERAM HUMANAS
Jesus é alguém totalmente singular entre todas as pessoas que viveram e viverão na face da terra. Ele é o perfeito humano, sem pecado, dependente da vontade do Pai e submisso a ela. Mesmo contendo as duas naturezas, era limitado à humana, pois a Sua missão requeria isso “Porque, assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem” (1 Coríntios 15:21). Ainda que Seu conhecimento fosse incomparavelmente maior que os homens do Seu tempo (João 1:47;4:29;Lucas 6:8) e tivesse um conhecimento e aplicação das sagradas escrituras nunca visto antes ( Mateus 26:54-56; Lucas 4:21). Mesmo assim, mostrava-Se de alguma forma limitado. Podemos observar isso claramente na passagem em que Ele mesmo diz não saber nem o dia e nem a hora da Sua vinda, (Marcos 13:32). O relato bíblico da tentação é outro fato importante. Será que satanás foi “tolo” em tentar a Jesus? Cristo podia ou não ser tentado? Sobre isso, Severa 23 diz que podem surgir indagações, e ele mesmo responde a elas:
Não foram reais (Não podiam afetar): Algumas pessoas dizem que Suas tentações não foram reais, porque Ele não tinha uma natureza pecadora como a nossa. A resposta de Severa a essa indagação é que os puros também sofrem tentações, como Adão e os anjos. Alguns críticos dizem que Cristo não podia pecar, pois tinha uma natureza sem pecado. Severa responde a essa indagação falando da intensidade das tentações. Segundo ele é preciso considerar que antes delas chegarem a nós, simples pecadores, são filtradas pelo Pai (1 Coríntios 10:13). Olhando desta ótica, Qual seria a intensidade da tentação que Deus permitiu ao Seu Filho? Fome, sede, solidão? (Mateus 4:4-11).
É visível que as aflições exteriores afetavam apenas o exterior, mas o homem interior de Cristo não podia ser afetado. Seu interior era cheio do Espírito Santo. Mais cedo ou mais tarde, Ele sabia que as aflições exteriores passariam, mas que a Sua relação com o Senhor é eterna. O poeta britânico Gerard Manley Hopkins apresenta a tentação como uma espécie de encontro para reconhecimento entre Jesus e Satanás: “Nas trevas da encarnação, Satanás não sabia com certeza se Jesus era um Homem comum, uma teofania ou talvez um anjo com poderes limitados como ele próprio. Ele desafiou Jesus a realizar milagres como forma de reconhecer os poderes do seu adversário” 24. Sua limitação humana O permitiu morrer. Sua vida de obediência à vontade de Deus o permitiu ressuscitar.
IV. SUAS DENOMINAÇÕES ERAM HUMANAS
Jesus Cristo é o personagem principal da Bíblia Sagrada. Humanamente falando, Sua importância é tamanha que o nosso calendário é contado a partir de Seu nascimento. Muitas são as nominações e títulos humanos que a bíblia atribui a Ele
Filho de José (Lucas 3:23), o Filho de Maria (Marcos 6:3), o Filho Davi, Filho de Abraão( Mateus 1:1), Filho do Homem ( Mateus 8:20), A raiz de Jessé (Isaías 11:10), Homem de Dores (Isaías 53:3) que sabe o que é padecer, o irmão de Tiago e de José, de Judas e de Simão (Marcos 6), Jesus, o Galileu (Mateus 26:69), Emanuel que traduzido quer dizer “Deus conosco”(Mateus 1:23-24), Leão de Judá (Apocalipse 5:5), Juiz de Israel (Miquéias 5:1), o Homem que Ele - isto é - Deus destinou (Atos dos Apóstolos 17:31), Nazareno –(Mateus 2:23 o Poderoso de Jacó (Isaías 49:26), o Cristo – do Grego “Christós” que significa “ungido” (Mateus 1:16), Pastor e Bispo (1 Pedro 2:25), o Filho de Deus que havia de vir ao mundo (João 11:27), o carpinteiro (Marcos 6:3), Jesus de Nazaré (Atos dos Apóstolos 10:38).
Existem muitas outras citações bíblicas, mas estas são provas sufi cientes para o ‘crente’ firmar sua fé nAquele que “se fez carne e habitou entre nós”. E aqueles que viveram nesse período testemunharam a “glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” ( João 1:14).
CONCLUSÃO
Jesus é a própria natureza do amor que vem a ser infinito em Si mesmo por doar-se sem reservas e sem limites. Esse agir do Cristo opera a esperança, opera a salvação. No momento em que se cumpre a encarnação do Verbo, o fi m dos tempos coincide com o começo, e o Pai contempla nesse Verbo encarnado o Primogênito da criação. Ele que não criou a morte, nem nada criado para a morte, deu-nos Seu Filho para que todas as coisas cheguem à beatitude de Seu amor, que é vida eterna.
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE
1. O corpo de Jesus era humano?
R.
2. Cite algumas das emoções vividas por Cristo.
R.
3. Podemos observar limitações humanas em Jesus?
R.
4. Ele poderia ter pecado? Por quê?
R.
5. Quais nominações citadas no estudo você lembra?
R.