Texto de Estudo
Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.
Lucas 14:33
Muitos mestres, ao longo da História da humanidade, surgiram em diversas áreas, como a filosófica, a artística, a bélica, a política, a social. Entre eles podemos mencionar: Sócrates, Da Vinci, Napoleão Bonaparte, Mandela, Ghandi. E muitos outros, foram destaques mundiais, implementando conceitos e valores ao seu tempo. Entretanto, nenhum reúne características tão incomuns em uma única pessoa (Pão da vida, João 6:35; Luz do mundo, João 8:12; o Bom Pastor, João 10:11; o Caminho, a Verdade e a Vida, João 14:6. Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz!, Isaías 9:6).
Essa pessoa é Jesus, o Cristo que vive, que deixou um legado inegavelmente sólido, visto que Sua amada Igreja caminha pelo mundo até hoje, indo aos confins da Terra, levando a Sua mensagem milenar de boas-novas! E isso ocorre devido a alguns homens que se dispuseram a ouvi-LO e a segui-LO, durante o ministério do Mestre neste planeta. Despojaram-se de seus afazeres, dos lares, de planos pessoais para aprenderem sobre uma vida eterna na presença de Deus.
De mãos vazias, de coração aberto e mente sã, confiaram até o fim no amor, no poder e na justiça do Filho de Deus. Suas vidas foram transformadas paulatinamente, à medida que seguiam o Mestre. Diz a Palavra que o viver com Cristo Jesus, segui-LO, é uma vida de alegria e de esperança, mas também de provas e renúncias. Quem está disposto a ser um com o Mestre? “para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós...” (João 17:21)
Hoje são milhões de pessoas que já ouviram, ouvem e disseminam as Boas-novas em todo o planeta. De geração em geração, discípulos são moldados para o fim a que se dispuseram: aprender de Deus, ser exemplo de Cristo Jesus e ser carta viva, levando a mensagem das Escrituras.
JESUS, O MESTRE
Os dicionários atuais trazem o significado da palavra “mestre “de forma superficial. Houaiss, por exemplo, diz que mestre é pessoa dotada de excepcional saber, competência, talento em qualquer ciência ou arte. Enquanto o dicionário Michaellis conceitua como indivíduo que possui o domínio de uma arte, ciência ou técnica, o Aurélio aponta como pessoa que ensina. Há uma expressão, no dicionário The Collins Australian, que conceitua a palavra mestre(master) como “a pessoa que tem completo controle da situação”.
Jesus, durante as pregações, curas e ensinamentos, demonstrava total controle sobre qualquer situação. E sobre todas as pessoas demonstrou domínio e sabedoria. No dicionário bíblico Wycliffe, o termo mestre, usado no Novo Testamento, mais precisamente se referindo a Jesus (Mateus 26:18; Marcos 5:35; João 11:28), tem um sentido mais profundo, resgatado do Antigo Testamento, referindo-se à palavra rabi:
Esta palavra é uma transliteração do hebraica, usada como um termo de respeito e honra. E significa, literalmente, “meu grande", “meu mestre”. Embora o termo tenha sido originalmente usado como uma marca de respeito, depois do século I d.C. tornou-se um título para mestres religiosos e líderes, perdendo em grande parte o seu significado original.
O Mestre Jesus possuía total domínio de todas as situações, ensinava a todas as classes sociais, multidões (Lucas 9:11), doutores da Lei (João 3), pequenos grupos heterogêneos (Mateus 11:1). Não havia lugar específico para o ensino; onde estivesse, ali era Sua sala de aula, nas sinagogas(Lucas 4:15), nos templos (Marcos 14:49), nas ruas (Lucas 13:26), nos montes (Mateus 5:1-2). Seu conteúdo era vasto, e orientava sobre o viver na Terra e como chegar ao céu (Mateus 5). As multidões admiravam-se com o Seu ensino, pois era diferente daqueles que propagavam as Leis, neste caso, os escribas, considerados especialistas. Havia autoridade em Seu discurso, não simplesmente conhecimento. “Ao concluir Jesus este discurso, as multidões maravilhavam-se da Sua doutrina, porque as ensinava como tendo autoridade, e não como os escribas” (Mateus 7:28-29, grifo nosso) Embora Jesus não tivesse uma cadeira cativa nas sinagogas, os Seus ensinamentos e ações tornavam-nO credenciado a ser chamado por rabi. Mathew Henry, em seu livro “Mateus a João”, aponta a importância dada a esse título:
“Foi pouco tempo antes da época de Cristo que os mestres judeus, os mestres de Israel, tinham adotado o título de Rabi, Rab, ou Raban, que significa grande, ou muito, e era interpretado como Doutor, ou Meu senhor. E eles enfatizavam tanto o título que criaram uma máxima que dizia que “aquele que saúda o seu mestre, e não o chama de Rabi, faz com que a divina majestade afaste-se de Israel”.
Jesus não era considerado somente mais um mestre para aqueles que O seguiam, porém um com autoridade. Muitos desdenharam dessa autoridade por observarem a Sua procedência, ou a Sua origem familiar, ou o Seu ofício. Contudo, quem O acompanhava sabia ser Ele um mestre distinto de todos os outros, pois não trazia jugo sobre o povo, mas amor. Pregava obediência e justiça com equilíbrio; não fez distinção entre ricos e pobres, nem entre enfermos e saudáveis. A todos atendia.
Apesar do prestígio entre os Seus seguidores, Jesus não tinha acomodações adequadas para alguém que havia recebido um título de tamanha relevância. “Quando iam pelo caminho, disse-lhe um homem: Seguir-te-ei para onde quer que fores. Respondeu-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lucas 9:57-58). Tampouco se serviu do título para ser servido; ao contrário, o Mestre Jesus, diferentemente dos outros mestres, que se orgulhavam dos títulos eclesiásticos, do conhecimento e da posição social, demonstrou que veio servir a todos os necessitados, como diz a Palavra: “Assim como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mateus 20:28).
JESUS CHAMA OS DISCÍPULOS
A primeira premissa para o início do discipulado era a renúncia, o negar a si mesmo e toda a sua bagagem de conhecimento e prática. Naquele contexto, imagina-se que Jesus chamaria os que não estivessem em plena prática de suas funções laborais, mas Cristo surpreende ao recrutar pessoas atarefadas. Sabiamente, o Mestre expõe uma situação inusitada que traz ao mundo uma lição para a vida: nunca se deve relegar a segundo plano o chamado de Deus por estar envolvido com as tarefas deste mundo. O comentário de Beacon é que Jesus, ao chamar os pescadores que lançavam a rede ao mar, convocava homens ocupados e corajosos. (Marcos 1:16-17)
O Mestre também demonstra, ao chamar Mateus, coletor de impostos (Mateus 9:9), a imparcialidade em relação ao discipulado. Este é para qualquer pessoa que atenda ao chamado. Mateus não era bem-visto pelos conterrâneos, e Henry explica:
O posicionamento de Mateus, por ocasião do chamado de Cristo. Ele estava sentado na recebedoria da alfândega, pois era um publicano (L c 5.27). Era um funcionário da alfândega, no porto de Cafarnaum, ou um coletor de impostos, ou coletor de imposto territorial. (1) Ele estava trabalhando, como os outros a quem Cristo chamou (cap. 4.18); (2) era um trabalho de má reputação entre as pessoas sérias, pois estava ligado a muita corrupção e tentação, e havia poucos naquele ramo que eram honestos.
Jesus olhou para Mateus e, não, para o seu ofício. Recrutou-o para uma missão valorada. Assim como os pescadores, ele também estava ocupado com seus afazeres, embora criticado pelos judeus sob domínio do Império Romano.
E o Mestre continua seu recrutamento. Depois de convocar atarefados, malfamados, encontra-se diante de um incrédulo. Natanael, chamado também Bartolomeu, questiona Filipe sobre o valor de um nazareno quando convidado a conhecer “aquele de quem Moisés escreveu na Lei, e a quem se referiram os profetas...” (João 1:45-46) Embora de coração puro, Natanael discute a procedência de Jesus, nominada erroneamente por Filipe. O Mestre trabalharia com mansos, consanguíneos, questionadores. Chamou-os, e eles responderam prontamente. Isso revela certo conhecimento prévio de Jesus, por parte daqueles que foram chamados. Beacon comenta que, pela resposta dada ao chamado do Mestre, de forma imediata (Marcos 1:18), possivelmente, eram familiarizados com o ministério de João Batista, primo de Jesus. Assim, haviam ouvido falar do Mestre.
O convite “vinde após mim/segue-me” ecoa até os dias de hoje. O chamado inicial a 12 homens distintos não se restringiu àquela época, não se restringiu àquela região da Terra, não se restringiu àquele povo. É fato que se ramificou nos cinco continentes. Todavia, como dito no início, há de haver renúncia. E como se adaptar a isso? Como viver em consonância com Cristo Jesus, ressurreto, se ainda o espírito habita em um corpo natural? Os primeiros discípulos foram agraciados com a presença do Filho do Homem, tornando-os mais capacitados para a Missão, ou os cristãos atuais têm mais recursos para um discipulado mais consistente?
O MESTRE TREINA SEUS DISCÍPULOS
Jesus não tinha muito tempo na Terra, três anos apenas para formar uma boa equipe de missionários que levariam o Evangelho a diversos lugares. Diversas também eram as características desses homens, amorosos, geniosos, questionadores. Como os ensinar, em tão pouco tempo, tanto conhecimento e tanta sabedoria? Não a dos homens, mas a sabedoria divina? E o Mestre inicia o treinamento com uma grande lição (Mateus 5:1), subindo ao monte e falando das dificuldades pelas quais passariam por seguir a Jesus. Henry escreve assim:
“Bem-aventurados os pobres de espirito”, Ele acrescentou: “Bem-aventurados vos, os pobres”. Todos os crentes que aceitam para si os mandamentos do Evangelho e vivem por eles, podem tomar as promessas do Evangelho para si e viver de acordo com elas. E a aplicação, conforme esta aqui, parece especialmente planejada para encorajar os discípulos em relação aos prováveis sofrimentos e dificuldades que encontrarão ao seguirem a Cristo.
Era necessário que aquele grupo heterogêneo tivesse o mesmo espírito humilde e simples. Decorrente desse espírito, deveriam se tornar consoladores, misericordiosos, pacificadores, sinceros e puros, imbuídos de toda a justiça. Em primeiro lugar, o Mestre ensina como caminharem com Ele, pois seriam sal e luz, ou seja, suas vidas deveriam dar prazer a outros. Seriam testemunhas da Vida, e Vida abundante; falariam da Verdade, a única; deveriam ser diretos e usarem de clareza no ensino do Evangelho. Na sequência, cumpridores da Lei (Mateus 5:17), tanto quanto o Mestre dissera que O seria.
No capítulo 6 de Mateus, Jesus orienta Seus discípulos a não acumularem para si aquilo que os desviariam da missão, ou que os tornariam o oposto do ensino inicial: orgulhosos e arrogantes. À medida que caminham e navegam com o Mestre, aprendem como se comportarem diante de várias situações. E, em Lucas 8:24-25, Jesus mostra que é necessário terem fé. Caminhar com Cristo requer uma confiança “infantil” n’Ele. Nautas como eram, temeram o mar revolto, mas se esqueceram de quem os acompanhava. Embora suplicando sinceramente, desconfiaram do poder d’Aquele que os chamou e demonstrava Seu poder continuamente a eles.
E, então, Jesus pergunt-lhes: “Onde [está] sua fé?” Como se quisesse dizer: A tranquilização da tempestade e a suavização das ondas não lhes ensinaram que este seu Mestre é não só muito poderoso, mas também muito amoroso? Portanto, sua resposta não deveria ser a confiança de uma criancinha?
Após várias lições teóricas e práticas, Jesus dá-lhes uma missão, um exercício, na qual são revestidos de poder dados pelo Mestre. “Reunindo os 12, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curarem doenças; e enviou-os a pregarem o reino de Deus, e fazerem curas, dizendo-lhes: Nada leveis para o caminho, nem bordão, nem alforje, nem pão, nem dinheiro; nem tenhais duas túnicas” (Lucas 9:1-3) Seria um primeiro momento de teste para os homens que decidiram seguir Aquele que julgavam ser o Messias, o Filho do Deus vivo, o único com autoridade no ensino da Palavra.
Nada levar, somente o poder dado pelo Mestre; isso parecia um teste de fé, uma prova de obediência, de abnegação. Era preciso confiar somente na Palavra de Jesus. O treinamento desse grupo seleto passava por uma prova espiritual. No verso 6 de Lucas 9 confirma-se, então, o sucesso e a alegria de confiar no Filho de Deus, Mestre único, como Ele mesmo diz ser, em Mateus 23:8. Os Seus ensinamentos eram aprendidos e apreendidos; seguir o Messias já dava frutos.
UMA ANÁLISE DA MISSÃO DE JESUS E DE SEUS DISCÍPULOS
Pode-se afirmar que, para aquilo a que se propôs Jesus, tudo foi realizado. Sua missão é um sucesso até hoje, posto que a Igreja continua a crescer, o Evangelho permanece disseminado em todo o mundo, e novos adeptos ao Cristianismo são incorporados ao Corpo de Cristo, constantemente.
Craig comenta que o Evangelho de Lucas aponta para a compaixão de Jesus, que se voltou para todos os marginalizados da época, fossem eles pobres, ou enfermos, ou rejeitados pela sociedade. Confirma, assim, a Sua missão aqui: salvar e buscar o perdido.
Pode-se inferir a necessidade de, logo no início, Jesus proferir o Sermão da Montanha, afirmando ser feliz o “pobre de espírito”, pois seria necessário usar de misericórdia com os marginalizados. Para isso, todo o orgulho e ciência deveria dar lugar à humildade. Os Seus discípulos deveriam aprender do Mestre o trato com todos, mas principalmente com os mais necessitados que, de alguma forma, eram os mais carentes.
Jesus nomeou (ou melhor, “escolheu”) doze (14) para que estivessem com ele para treinamento formal e informal. Tal instrução levaria a uma missão de pregação, de cura e de libertação. Por meio da companhia íntima com o Senhor, os discípulos receberiam uma comissão de pregar e uma autoridade (exousia, poder com o sentido de uma autoridade delegada) para curar as enfermidades, e expulsar os demônios (15).
De acordo com esse comentário de Beacon, os comissionados fariam exatamente o que o Mestre realizou durante Sua permanência na Terra - levariam as Boas-novas a todos, curando quem necessitasse, libertando pessoas do jugo do inimigo. O Novo Testamento relata vários feitos desses discípulos que ousaram seguir um Mestre diferenciado, que falava com autoridade, que lhes incutia fé, pedia obediência, ensinava mansidão, perdão e domínio próprio. O aprendizado dos ensinamentos e a observação dos atos de Jesus formou o caráter cristão dos Seus apóstolos (enviados); Ele não era apenas teórico da sabedoria, mas sabia aplicá-la em todas as ocasiões.
Contudo, Jesus, como todo o mestre, deixaria Seus discípulos, um dia, sabendo que cumprira toda a Sua missão. Ao ascender aos céus, o Mestre dizia àqueles que O seguiram até ali, que se concluía a missão terrestre. Mas importante salientar que o grupo de seguidores havia recebido do Rabi palavras de poder, de esperança; em João 14:12-14, o Senhor afirma que eles fariam coisas maiores do que as que o próprio Jesus realizou e, um detalhe, “sem a presença” do Mestre, pois Ele retornaria para o Pai. E, ainda, no verso 16 do mesmo capítulo, avisa que pedirá ao Pai que envie outro Consolador para que permaneça com Seus discípulos.
A missão daquele grupo, chamado e preparado pelo Mestre, após a ascensão de Cristo Jesus, continua próspera e vitoriosa. Em toda a História da humanidade, nenhum outro mestre, que iniciou Seu ministério com 12 homens, conseguiu tantos seguidores, em todos os cantos do planeta! Atualmente, estima-se que sejam em torno de dois bilhões de pessoas! A ação do Espírito de Deus na vida daquele que crê em Cristo continua ensinando a multiplicar os discípulos, até o retorno encarnado e triunfal do Senhor Jesus.
CONCLUSÃO
Deus, o Pai, confiou a missão de resgate da Sua maior criação a Deus Filho, que a completou com eficácia e perfeição, deixando um legado à humanidade riquíssimo de sabedoria. Escolheu alguns homens heterogêneos em suas personalidades e moldou-lhes um caráter cristão. Estes, consolados pelo Espírito Santo, ramificaram e multiplicaram o Evangelho. Até hoje, nada é fácil aos que se dispuseram resgatar o homem da perdição, a começar com Cristo Jesus. Sabe-se, mundialmente, como Lhe foi custoso finalizar Sua missão; Seus discípulos também não tiveram um fim aprazível. Muitos deles, missionários, no século XXI, sofreram com perseguições, torturas e mortes bárbaras. Todavia, o plano de Deus continua firme e inabalável. E estes versículos encerram toda e qualquer dúvida daquele que se dispuser a seguir a Cristo Jesus, o Mestre dos mestres: Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa. (Mateus 5:11,12).