Texto de Estudo

BEM-AVENTURADO o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.

Salmos 1:1 

INTRODUÇÃO

O livro dos Salmos é uma coletânea de cânticos, orações e lamentos do povo de Deus, escrito por vários autores, desde os dias de Moisés até o período pós-cativeiro babilônico, sendo Davi o principal e o mais famoso autor. Há mais de 100 citações de Salmos em o Novo Testamento. Isso prova sua relevância na história da redenção. Esse livro tem sido uma fonte de consolo para a Igreja de Deus, ao longo dos séculos, até aos dias atuais.

O Salmos 1 é resumo e prólogo (introdução) do Saltério. “Bem-aventurados” é uma expressão que aparece 26 vezes em toda a obra. Ao terminar a compilação que reuniu os diferentes componentes dos Salmos, uma feliz inspiração levou os editores a escolher o Salmos 1 como introdução. Apesar de ser breve, seu conteúdo retrata vividamente o tipo de homem que se alimentará das palavras dos salmistas. Toda a variação de interesses religiosos está refletida nesse hino; as orações e as meditações do saltério estão relacionadas, direta ou indiretamente, às ordenanças da Lei. Portanto, o Saltério é um manual apropriado para os indivíduos piedosos. Mas a lealdade de todo o coração à Lei e à fé em suas promessas foi submetida a severos testes nos eventos da História.

Os observadores da Lei pareciam frequentemente sofrer sob a má sorte, ao passo que os ímpios prosperavam. Por conseguinte, entre as muitas vozes que se fazem ouvir no Saltério, ouvimos expressões de dúvida e desespero da parte de homens cuja alma, perplexa diante dos caminhos de Deus no mundo, estava “abatida”. Não obstante, o salmista sabia bem que os fatos da História e da experiência individual parecem falhar diante das expectativas dos fiéis. Mas ele afirmou que, a despeito de todas as aparências, é verdade permanente que Deus cuida de todos quantos O temem; portanto, tudo vai bem com os que amam a Lei do Senhor, e tudo vai mal com aqueles que a desprezam.

Como a poesia hebraica é, normalmente, composta de paralelos, transcrevemos o Salmo abaixo a fim de perceber-se mais facilmente a estrutura. Vejamos alguns aspectos importantes desse belo poema sagrado.

 

O CAMINHO DOS ÍMPIOS

1a       Bem-aventurado o homem

1b       que não anda conforme o conselho dos ímpios,

1c        não se detém no caminho dos pecadores

1d       nem se assenta na roda dos escarnecedores.

 

O início do Salmos 1 caracteriza-se pela presença de pessoas más. O texto, em seus paralelos poéticos, menciona ímpios, pecadores e escarnecedores. Não se trata de desconhecidos, pois diversos outros textos bíblicos falam também deles.

Observe que encontramos uma tríplice associação de três palavras: andar, deter e assentar; conselho, caminho e roda; ímpios, pecadores e escarnecedores. O pecado começa pelo andar, satisfazendo os seus apetites pecaminosos; posteriormente, já não é apenas um curioso, antes, sente-se à vontade; encontra-se em ambiente bastante familiar; e, por fim, assentou-se.

 A progressão do comportamento descrito passa pela recepção do conselho que já o influencia, a perversidade que ainda não se exteriorizou explicitamente. Depois vai pelo caminho, o modo habitual de viver, chegando à roda, obstinação produzida pelo hábito de uma vida pecaminosa.

 Este homem familiarizou-se com os conselhos dos ímpios; passa a se deter com uma curiosidade mais intensa no caminho dos pecadores e, por fim, assenta-se na roda dos escarnecedores. Há um agravamento de sua situação pecaminosa, pois ele passa a zombar das coisas santas. As três frases completas mostram três aspectos e, realmente, graus de separação de Deus. Retratam, assim, a conformidade a este mundo em três patamares diferentes: a aceitação dos seus conselhos, a participação dos seus costumes e a adoção da sua atitude mais fatal.

 Repare que o ponto inicial desse comportamento aparentemente nada teve de grave, poderia soar até como mera curiosidade a fim de ampliar a sua visão ou, quem sabe, poder provar de todas as coisas e valer-se do que é bom. Contudo, o fim foi a assimilação de um comportamento totalmente estranho a Deus e à Sua Palavra. É necessário, portanto, fugir dos maus exemplos e dos maus conselhos; eles nos induzem, progressivamente, à acomodação e justificação do erro em nossa vida. A racionalização pode ser algo muito danoso e reforçador de um comportamento pecaminoso em rebeldia à disciplina.

Ora, se nos dias do salmista era necessário que as pessoas que seguiam os caminhos de Deus evitassem a companhia dos ímpios visando à manutenção de uma vida bem estruturada, quanto mais no presente, quando o mundo transformou-se em algo muitíssimo mais corrupto, nosso dever é evitar, criteriosamente, todas as ameaças da sociedade para que nos conservemos incontaminados de todas as impurezas. O salmista, contudo, não só prescreve aos fiéis que se mantenham à distância dos ímpios, temendo ser contaminados por eles, senão que sua admoestação implica - ainda que cada um seja prudente - a fim de que não se corrompa, nem se entregue à impiedade. Mesmo que uma pessoa não tenha contraído todo o aviltamento provindo dos maus exemplos, é possível que se assemelhe aos perversos ao imitar, espontaneamente, seus hábitos corruptos.

Aquele a quem o salmista chama de justo não modela sua conduta pelo conselho de pessoas más. E os justos não se demoram na companhia de ímpios persistentes; muito menos permanecem entre os cínicos, que zombam de Deus abertamente.

 

O CAMINHO QUE CONDUZ À REALIZAÇÃO

2a       Pelo contrário:

sua satisfação está na lei do Senhor

2b       e nessa lei medita dia e noite

Nós vimos que o caminho dos ímpios é bem triste; entretanto, o caminho do justo conduz à realização, ao bem-estar crescente. Bênçãos do Senhor esperam por ele.  O homem que se compraz na Lei divina é bem-aventurado. E parte da bem-aventurança já é o deleite na Palavra de Deus: “Aleluia! Bem-aventurado o homem que teme ao SENHOR e se compraz nos Seus mandamentos” (Salmos 112:1). Por mais prazeroso que seja o estudo da Palavra, o maravilhar-se com a majestade de Deus revelada e a Sua instrução, nem sempre temos o discernimento da aplicação dessa lei absoluta às nossas circunstâncias, cheias de ambiguidades, daí a oração do salmista, “guia-me pelo caminho dos teus mandamentos, pois neles encontro a felicidade.”” (Salmos 119:35 NTLH).

 É mister cultivarmos o hábito de ler a Palavra e descobrir, no processo de aprendizado, o prazer em cumpri-la, como bem diz o salmista: “Tenho grande alegria em fazer a Tua vontade, ó meu Deus; a Tua lei está no fundo do meu coração”. (Salmos 40:8 NVI). O prazer do justo está na Lei do Senhor e nela ele medita, estuda, busca as respostas para todas as situações da vida. O meditar na Palavra e nos feitos de Deus é uma prática abençoadora por ocupar nossa mente e o coração com o que realmente importa; estimula a nossa gratidão e a perseverança em meio às angústias.

O prazer na Palavra faz com que direcionemos nosso coração e os pensamentos para ela. Ao invés de alimentarmos mágoas, ressentimentos e desejos de vingança, buscamos na Palavra, que é o nosso prazer, o suprimento às necessidades e a orientação em nossas decisões. Quando descobrimos esse prazer na Palavra de Deus, passamos mais tempo lendo e refletindo sobre os Seus ensinamentos. Enquanto o homem sem discernimento busca conselho nos ímpios, culminando por assentar-se na companhia dos escarnecedores (Salmos 1:1), possivelmente para convalidar seus interesses e inclinações, o bem-aventurado busca-o nos mandamentos de Deus.

A meditação é o processo principal pelo qual o cristão tem acesso aos pensamentos de Deus. A palavra meditar, no hebraico, é derivada de uma raiz que significa “ruminar”. Ruminação é o processo digestivo de alguns animais, em que a mesma massa de alimento se reprocessa várias vezes para haver uma nutrição mais completa. Meditação é o processo mental e espiritual de processarmos, ou digerirmos, o alimento de Deus, ou seja, as Escrituras Sagradas.

Meditar  na Palavra tem o sentido de considerá-la em nossas decisões, refletir sobre os Seus ensinamentos. A meditação deve modelar, corrigir e confirmar o nosso comportamento; é uma exortação à assimilação existencial da Palavra a fim de que esta se evidencie em nossa prática. A meditação é a consideração frequente, atenta e devota das obras, das palavras e dos benefícios de Deus, e de como tudo provém d’Ele (que opera ou permite) e de como, por caminhos maravilhosos, todos os desígnios da vontade divina são exatamente realizados.

A palavra “meditar”, em nosso vernáculo, teve sua origem num termo que significava “preparar para a ação”. Dessa forma, a meditação não tem um fim em si mesma; e, sim, visa conduzir o nosso agir e o realizar. A sua prática confere-nos maior discernimento, estimula-nos ao prazer de obedecer a Deus e de partilhar Seus ensinamentos.

 

O RESULTADO DA ESCOLHA

 

3a      Será como uma árvore plantada junto a canais de água,

3b      que dá seu fruto a seu tempo

3c      e cuja folhagem não murcha.

3d      Tudo o que faz terá êxito.

 

6a      Porque o Senhor conhece o caminho dos justos;

6b      porém o caminho dos ímpios perecerá.

4a     Não são assim os ímpios.

4b     Pelo contrário: são como a palha que o vento dispersa.

 

5a     Por isso os ímpios não subsistirão no juízo,

5b     nem os pecadores na assembleia dos justos.

 

 

O autor sagrado não apenas nos mostra que há dois caminhos a escolhermos, mas também, claramente, descortina os resultados da escolha. Vejamos.

Em primeiro lugar, um contraste profundo é apresentado. O salmista faz um profundo contraste entre o ímpio e o justo. Enquanto o ímpio é como uma palha que o vento dispersa, o justo é como uma árvore plantada junto à fonte. Enquanto o ímpio está seco espiritualmente, o justo tem verdor mesmo nos tempos de sequidão. Enquanto o ímpio não tem frutos que agradam a Deus, o justo produz frutos na estação certa. Enquanto o ímpio não tem estabilidade e é jogado de um lado para o outro pelo vendaval, o justo tem suas raízes firmadas no solo da fidelidade de Deus. Enquanto o ímpio tem suas obras reprovadas por Deus, o justo tem sucesso em tudo quanto faz. Enquanto um busca a roda dos escarnecedores, o outro se deleita na lei do Senhor. Enquanto o ímpio não terá assento na assembleia dos santos, nem prevalecerá no juízo, o justo será conduzido por Deus na História e recebido na glória. Enquanto o caminho do ímpio perecerá, o do justo é conhecido por Deus.

É tempo de você refletir sobre sua vida. Quem é você? Onde está o seu prazer? Onde se encontra o seu tesouro? Em qual dessas duas molduras você pode colocar sua fotografia? Lembre-se: o ímpio pode parecer feliz, mas seu fim é trágico. Mas, o justo, mesmo passando por provas, é bem-aventurado.

Em segundo lugar, um caminho de felicidade é descortinado. A felicidade existe e pode ser experimentada. É legítima e compatível com a fé cristã. Essa iguaria especial da alma não se encontra no conselho dos ímpios, daqueles que se esquecem de Deus. Esse tesouro tão cobiçado não é encontrado no caminho largo dos pecadores, nem mesmo à mesa, a qual os escarnecedores rasgam a cara em ruidosas gargalhas prenhes de escárnio.

Onde está a felicidade? Você é feliz, em primeiro lugar, por aquilo que evita. Você sorve o néctar da felicidade quando tapa os ouvidos ao conselho dos ímpios, quando afasta os pés do caminho dos pecadores e quando não busca um lugar junto à mesa, à roda, dos escarnecedores. Ademais, você é feliz por aquilo que faz. Uma pessoa feliz nutre a alma com os jorros benditos que emanam da Lei de Deus. A felicidade está em alimentar a mente com a verdade divina e ser governado por essa verdade. Em terceiro lugar, você é feliz por quem você é. Uma pessoa feliz é uma árvore frondosa, de folhas viçosas e frutos excelentes; mesmo na adversidade, não perde a beleza, nem escasseia os frutos. O feliz tem sucesso constante uma vez que tudo quanto faz será bem-sucedido.

A prosperidade e o sucesso têm encantos naturais, além dos que podem ser forjados por nossa prodigiosa imaginação. E com todos esses ingredientes, há, certamente ‒ não sejamos ingênuos ‒, as tentações próprias, reforçadas por nossa maneira de visualizar o mundo. No entanto, a Palavra mostra-nos que ser bem-sucedido está relacionado ao proceder conforme os preceitos de Deus. Jamais seremos frustrados Naquele que não tem planos frustrados (Jó 42:2). Não há genuíno sucesso fora da Palavra de Deus. O segredo do sucesso está no alimento de nossa alma com a Palavra. Deve-se, portanto, permanecer “plantado junto à corrente de águas”. Deus, pela Graça, preserva-nos e conduz-nos a bom termo ao que Ele mesmo colocou em nosso coração para que levemos adiante. Logo, é tão-somente pela bênção divina que alguém pode permanecer numa condição de prosperidade. Lembremo-nos sempre de que o “sucesso” mencionado pelo salmista está associado mais especificamente à vida espiritual e, também, ao que se faz conforme o conselho da Lei do Senhor.

Em terceiro lugar, um juízo inevitável é anunciado. Os ímpios são aqueles que não dão importância a Deus. Eles não têm segurança diante das tempestades da vida e serão levados como a palha que o vento dispersa. Os pecadores, deliberada e conscientemente, andam na contramão da vontade divina e transgridem a Lei. Esses, mesmo sendo religiosos e tendo seu nome no rol de membros de uma igreja, não permanecerão na congregação dos justos. Os perversos, além de rejeitarem a verdade, escarnecem de Deus e zombam da fé cristã. Eles podem prevalecer no juízo dos homens, subornando tribunais e amordaçando a Justiça, mas jamais prevalecerão no Juízo de Deus. Ímpios, pecadores e perversos podem vender uma imagem glamorosa do pecado e podem transmitir a imagem de que estão sorvendo todas as taças da felicidade, mas sua alegria é ilusória. Levarão uma vida vazia, e sua condenação no Juízo é certa. É preciso abrir os ouvidos da alma para escutar a retumbante voz do salmista, quando conclui: “Pois o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá”.

 

CONCLUSÃO

Como ser feliz? A felicidade é subproduto da santidade. O Saltério começa exaltando a Palavra de Deus. Obedecendo a ela, o homem realiza-se e será feliz. No Salmos 1, o salmista contempla a diferença radical entre a vivência do justo e a do ímpio. Ele chama-nos a observar que a vida do justo é caracterizada por um evidente amor aos mandamentos de Deus (a Lei) e, ao mesmo tempo, anuncia que a verdadeira felicidade (bem-aventurança) pertence apenas ao homem justo. Se atentarmos à voz de Deus na boca do salmista, encontraremos um caminho seguro para vivermos de maneira que o Senhor seja completamente glorificado; e nós, completamente felizes.

O salmista indica o caminho para uma vida inteiramente entregue a Deus, conhecendo a Sua Palavra e dela tirando bons conselhos. A vida que você quer ter daqui a 5, 10, 20 ou 40 anos depende de suas decisões hoje. O justo é direcionado por Deus, usa seu tempo em coisas espirituais, busca boas companhias, gosta do estudo bíblico, apresenta-se diante de Deus para agradá-lO. O ímpio é superficial, zombador, carnal; vive pecando, é sem direção, perdido, sofrido pelas tempestades da vida. A ideia é de pessoa desassossegada, inquieta, em constante desarmonia.

No Salmos 1, o autor contempla a diferença radical entre a vida do justo e a do ímpio. Ele observa que o justo vive com evidente amor aos mandamentos de Deus (a Lei). Ao mesmo tempo, o salmista anuncia que a verdadeira felicidade (bem-aventurança) está apenas com o homem justo, e não com o ímpio.

O cristão tem prazer no ensino bíblico! Eis o segredo de seu sucesso. A Bíblia é a nossa norma de conduta. Todo aquele que deseja ser bem-sucedido deve se interessar pelo que Deus falou, fez e revelou nas Escrituras. Os ensinos adquiridos ao longo da vida do fiel tornam-se nossa regra de conduta. Tal como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, o fiel vai sendo “irrigado” pela Palavra de Deus.

 

 

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