Como a frase famosa de William Shakespeare: “Alguns nascem grandes, alguns alcançam a grandeza, e alguns tem a grandiosidade como mola propulsora” (de Shakespeare, Noite de Reis, 1601). Deus usa uma variedade de meios para selecionar pessoas para a obra que deseja realizar. No caso de Ester, a última parte do texto parece encaixar bem. Ester nasceu uma judia em cativeiro na Pérsia, certamente não era uma posição que poderia engendrar confiança naquele dia. Os judeus no cativeiro freqüentemente lamentavam a perda do seu lar e país, e também o fato de que eles estavam sob a autoridade antes dos babilônios e, depois, do persas. O papel da mulher na cultura persa não era de grande importância. Em Ester 1 descobrimos que o rei persa, Assuero, tivera a sua mulher destituída depois dela se recusar a obedecer ao seu desejo de exibi-la. O precedente está claro: os homens são para mandar na família. Isto é especialmente verdade na família do rei (Ester 1 20). Após destituir Vasti, Assuero procurou por uma nova rainha. Ostensivamente, ele estava procurando por alguém que não teria a coragem de opor-se a ele.

 

Enquanto isso, Ester foi notada por causa de sua beleza e compunha parte do harém do rei em Susã. Este grupo de jovens mulheres era o grupo do qual a nova rainha seria retirada. Ester ganhou o benefício do fiscal do harém e recebeu tratamento especial. Depois de um ano de preparação, ela foi apresentada ao rei, que rapidamente a tomou como sua nova rainha. Até este momento a nacionalidade de Ester não tinha vindo à tona – ela fora orientada por seu tio e pai adotivo Mardoqueu a não discutir acerca disto (Ester 2:10). E mais, a beleza de Ester extinguia qualquer curiosidade sobre sua ascendência. A vida de Ester sofreu uma reviravolta inesperada, uma volta com os traços tanto de escravidão (ela certamente não era livre para fazer o que quisesse) quanto de luxo abundante. Tudo que ela precisava fazer, com o intuito de manter-se a salvo, era sentar silenciosamente e estar sempre linda. Ester sabia, certamente, o que aconteceu a sua predecessora e a lição que a vida de Vasti ensinou: insubordinação não seria tolerada.

O complô para exterminar

Um tempo depois o tio de Ester, Mardoqueu, e um nobre da corte do rei, chamado Hamã, entraram em contenda, o que colocou a rainha numa posição bastante delicada. Hamã era um oficial bem posicionado, acima dele, na hierarquia, somente o rei. Mardoqueu recusou-se a demonstrar respeito por Hamã, o que o irritou. Quando Hamã descobriu que Mardoqueu era judeu, ele arquitetou um plano para matar não tão somente Mardoqueu, mas também todo o povo judeu espalhado pelas províncias da Pérsia (Ester 3:8–11). Com a ordem assinada para matar os judeus, enviada por emissários para todas as cidades da nação, o desastre não demoraria a acontecer. Quando descobriu a conspiração, Mardoqueu enviou mensagem para Ester requisitando sua ajuda.

Ester estava, contudo, enfrentando um dilema: seu tio pedira-lhe para ir até o rei e falar com ele sobre o problema, mas ao fazer isto ela violaria os termos de relacionamento com o rei. Vasti fora deposta por fazer algo muito aquém daquilo que Mardoqueu estava pedindo a Ester! Ela enviou um recado de volta ao seu tio de que o horário marcado para ela falar com o rei (uma vez ao mês) não aconteceria por um bom tempo e que ir até o rei sem ser convidada seria pedir pela morte. Mardoqueu respondeu à mensagem relembrando Ester de sua herança: Ela preferia não escapar deste julgamento apenas porque vivia com o rei. Com a urgência do desastre aproximando-se, Ester permaneceu, heroicamente, dizendo “...E assim irei ter com o rei, ainda que não seja segundo a lei; e se perecer, pereci” (Ester 4:16 NIV).

Os tolos se apressam

Tendo tomado a sua decisão, Ester ainda não tinha feito nada errado ou com imprudência. De fato, suas ações mostram que ela agiu com cuidado e prudência. Ao concordar com o pedido de seu tio, Ester enviou instruções para todos os judeus jejuarem e orarem na sua preparação para a audiência com o rei. Tal atitude demonstra que a rainha havia entendido claramente que para seu esforço ter resultado ela precisaria da ajuda de Deus. Quando problemas persistem ou desastres atacam, pode ser tentador pular o passo de ir em busca da vontade ou assistência de Deus “porque não há tempo”. Ester menosprezava este tipo de pensamento ao comprometer-se a jejuar e orar por três dias inteiros. Este período de três dias também deu tempo para ela decidir como falar com o rei.

Em Ester 5 descobrimos que ela, ao invés de fazer exigências diante do rei, ela utilizou uma estratégia muito mais sutil, convidando tanto o rei quanto Hamã para uma refeição da qual todo o reino estaria fora. Ao fazer isto, ela insinuou-se para Assuero e Hamã, este último foi, embora sentindo-se beneficiado. E mais, apesar de o rei ter-lhe dado uma oportunidade de pedir diretamente pelo que ela procurava, ela não tomou este caminho mais fácil, e sim continuou com seu plano inicial, mais cauteloso. Fazendo isto ela evitou a armadilha na qual Vasti havia caído, demonstrando sabedoria incomum. Nós descobrimos no restante da história que o plano de Ester funcionou perfeitamente e que os judeus foram salvos da destruição certa, enquanto que seu tio Mardoqueu fora promovido ao lugar que antes era de Hamã.

Louvando a coragem

A resistência heróica de Ester por seu povo contém lições para todos nós. Poucos de nós estamos em posições nas quais nossa ação ou inação significará a diferença entre a vida e a morte de uma nação inteira, mas todos estamos em situações nas quais nossas atividades poderiam influenciar positiva ou negativamente alguém para o reino de Deus. Talvez o primeiro e mais importante passo que podemos dar neste tipo de situação é seguir a orientação de Deus. Muito freqüentemente logramos Deus e depois clamamos para trabalhar em seu benefício. Em muitos casos seria melhor despender mais tempo em orações e menos em ação. Uma vez que formos orientados para um caminho, nós devemos segui-lo sem medo.

Mais ainda, Ester não escolhera as circunstâncias que exigiram a sua atividade. Ela não foi voluntária para fazer parte do harém do rei ou para ser a rainha. Do mesmo modo, não foi a rixa dela com um nobre persa que causou toda aquela encrenca. Entretanto, a rainha não era de dar desculpas por não agir. Nenhuma das circunstâncias que a levaram a agir foram “culpa” dela. Contudo, em vez de ficar zangada porque não tinha esperança de poder mudar as circunstâncias, Ester escolheu reagir da maneira que ela podia, bravamente indo à presença do rei, em que a morte a aguardava. Nós devemos lembrar que nem sempre podemos controlar as circunstâncias da nossa vida, porém podemos controlar como reagir a elas. Assim como Ester, devemos nos responsabilizar pelas escolhas que podemos fazer, em vez de lamentar as escolhas que não podemos fazer.

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