TEXTO DE ESTUDO

Isaías 53:7:

7 Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca.

 

INTRODUÇÃO

Chegamos ao décimo sábado de estudo do livro de Isaías. Com certeza, temos sido edificados, impactados e consolados com os assuntos abordados até aqui. Hoje falaremos sobre o “servo sofredor”. Essas duas palavras merecem atenção especial em dias em que se fala tanto em liderança e buscam-se, com empenho, cargos mais elevados. 

Em se tratando de um servo sofredor, podemos afirmar que poucos querem ser servos, ainda mais um que sofre. Mas essa não é uma lição que nos ensinará apenas como ser servos; ela tratará do maior exemplo de amor e obediência do Deus que se fez homem. Ele deixou todo o esplendor de sua glória e veio ao mundo como servo para sofrer em nosso lugar. Analisemos essa profecia, escrita há mais de 2.500 anos, e vejamos o quanto sofreu nosso Senhor Jesus para que nós pudéssemos viver.

 

A PROFECIA - O SERVO SOFREDOR

Não resta dúvida de que o texto de Isaías 53 era uma profecia que apontava para o Messias prometido. Isso teve apoio dos Rabinos, até o 12º século; depois disso, estudiosos judeus passaram a interpretar a passagem como uma descrição dos sofrimentos de Israel como nação. Porém, como Israel poderia ter morrido por seus pecados (v. 8)? E quem disse que era inocente do pecado e, dessa forma, fora condenada injustamente (v.9)? Não; o profeta escreveu sobre um indivíduo inocente, não sobre uma nação culpada. Deixou bem claro que esse indivíduo morreu pelo pecado da culpa para que os culpados pudessem ser libertos. Não há dúvida de que o servo que Isaías descreve é o Messias; e, não, Israel. O Novo Testamento afirma que tal Messias Servo é Jesus de Nazaré, o Filho de Deus (Mateus 8:17; Marcos 15:28; Lucas 22:37; João 12:38; Atos dos Apóstolos 8:27-40; 1 Pedro 2:21-24). 

Há quatro cânticos, no livro de Isaías, que descrevem o Servo do Senhor. No primeiro, é retratado como um mestre, ensinando com mansidão, dotado do Espírito e alcançando os povos (Isaías 42:1-40). No segundo, ele é retratado como um evangelista (Isaías 49:1-6). No terceiro, um discípulo (Isaías 50:4-9). Por fim, ele é pintado como o Salvador Sofredor (Isaías 52:13 – 53:12). Analisemos seus passos.

Exaltação (52:13): Nesse versículo, que é o início da profecia, Isaías informa que o Servo do Senhor agiria com prudência; seria exaltado, elevado e muito sublime. O texto comprova que a profecia não está se referindo a Israel, pois sabemos muito bem como era o procedimento dessa nação. Eis um quadro sublime, profundo e preciso do Messias. O Servo de Deus teria a sabedoria para realizar eficazmente o que Deus pediu-lhe para realizar. Isso resultará em uma exaltação suprema, expressada pela repetição tripla (cf. 6:3): Ele será “engrandecido” (como Deus é exaltado, cf 2 Samuel 22:47), “elevado”, e colocado em posição “mui sublime” (cf 6:1 - a mesma exaltação é aplicada a Deus).  O servo sofreu e morreu, mas não permaneceu morto. Foi “exaltado e elevado e [foi] mui sublime”. A expressão “proceder com prudência” significa “ser bem-sucedido na empreitada”. O que parecia uma humilhante derrota foi, na verdade, uma grande vitória aos olhos de Deus (Colossenses 2:15). “Eu te glorifiquei na Terra”, disse Jesus a seu Pai, “consumando a obra que me confiaste para fazer” (João 17:4). Jesus não apenas foi ressurreto dentre os mortos, mas também seu corpo foi glorificado. Ele ascendeu ao céu, onde está assentado à direita do Pai. Possui toda a autoridade (Mateus 28:18), pois tudo foi colocado a seus pés (Efésios 1:20-23). Não há ninguém no universo que seja maior que ele. Que grande surpresa para aqueles que o consideraram o menor dos menores! 

Espanto (52.14): O versículo anterior fala da exaltação e elevação do servo; contudo, antes, ele seria humilhado, desfigurado a ponto de não se parecer com um homem. Seu sofrimento seria tanto que as pessoas ficariam espantadas com sua aparência. Quanto sofrimento nosso Jesus suportou! Quanta injustiça! Quando foi interrogado diante de Anás, Jesus foi esbofeteado por um dos guardas (João 18:22). Na audiência perante Caifás, cuspiram nele, esbofetearam e socaram sua cabeça (Mateus 26:67; Marcos 14:65; Lucas 22:63). Pilatos açoitou-o (João 19:1; Mateus 27:26; Marcos 15:15), e os soldados romanos espancaram-no (João 19:3). O açoite era tão terrível que provocava a morte de alguns prisioneiros. "Ofereci as costas aos que me feriam", disse o Servo de Deus, "e as faces, aos que me arrancavam os cabelos; não escondi o rosto aos que me afrontavam e me cuspiam” (ls 50:6). Tudo o que fizeram ao filho de Deus deveria ter sido feito a Barrabás e a nós!

Sacrifício por todas as nações (52:15): O relato do verso 14 é chocante, porém o verso 15 enche-nos de alegria ao saber que  a morte de Jesus mudaria a História da humanidade. A palavra “borrifar ” é frequentemente usada a respeito de espargir o sangue de um sacrifício. Em linha com a mensagem de salvação de Isaías, disponível para todos, o significado parece ser que “muitas nações” beneficiar-se-iam com o sacrifício do servo e com o derramamento do seu sangue. “Os reis fecharão a boca”; isso é, eles seriam surpreendidos e ficariam respeitosamente calados, subjugados pela grandeza da salvação — algo que eles, sendo gentios, não tinham entendido, ou até mesmo considerado antes.  Jesus não morreu por um povo, mas seu sacrifício foi em favor de toda a humanidade.

O Servo desprezado (Isaías 53:1-3): O capítulo 53 de Isaías descreve, do verso 1 a 4, a vida e o ministério de Jesus; do 5 a 8, sua morte; no 9, seu sepultamento; sua ressurreição e a exaltação são descritas nos versos 10 a 12. Há tantos detalhes sobre Jesus que poderíamos chamar o texto de “O Evangelho de Jesus segundo Isaías”. 

Há três focos de desprezo nesse capítulo. Desprezaram sua Palavra, suas obras, e a própria pessoa de Cristo. Vejamos com mais cuidado tais focos:

Desprezo por sua mensagem: Isaías começou a profecia falando do desprezo dos ouvintes quanto à sua mensagem. A incredulidade dos judeus, na época do nosso Salvador, é mencionada expressamente como sendo o cumprimento dessa Palavra (João 12:38). E ela é aplicada, da mesma maneira, ao pouco sucesso que a pregação dos apóstolos encontrou entre judeus e gentios (Romanos 10:16).

Desprezo por suas obras e por sua pessoa: Israel não era um paraíso quando Jesus nasceu; em termos políticos e espirituais, era um deserto. Cristo não veio como uma grande árvore; mas, sim, como “um rebento”. Nasceu na pobreza, em Belém, e cresceu numa carpintaria, na desprezada cidade de Nazaré (João 1:43-46). Por causa de suas palavras e ações, atraiu uma multidão, mas não havia nada em sua aparência física que o diferenciasse de qualquer outro judeu.  

Jesus não nasceu em uma família rica e não tinha prestigio social, nem reputação. Tudo isso era muito importante para os judeus da época; por isso o trataram como mais um escravo, desprezando-o, depreciando-o. Venderam-no por 30 moedas, depois de ele ter feito tantos milagres. Quando Deus fez o universo, usou seus dedos (Salmos 8:3). E, quando libertou Israel do Egito, foi por sua mão forte (Êx13:3). Porém, para salvar os pecadores perdidos, teve de mostrar seu braço poderoso! No entanto, as pessoas ainda se recusam a crer nessa grande demonstração do poder de Deus.

O Servo Ferido (Isaías 53:4-6): Por que um homem inocente como Jesus Cristo morreu dessa forma terrível na cruz? Esses versículos explicam a razão disso: ele tomou o nosso lugar. 1 Pedro 2:24 fazendo uma alusão ao texto de Isaias, disse: “Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados”. Ele foi ferido, transpassado, moído para que nós tivéssemos vida. A respeito disso, Wirsbe escreveu:

 

Observe o preço que ele pagou: (1) transpassado ou ferido refere-se à morte dele na cruz, transpassado por pregos — João 19:37; Zacarias 12:10; (2) moído, o que significa ser "esmagado" sob um fardo, o peso do pecado que foi depositado sobre ele; (3) castigo ou punição como se ele tivesse quebrado a lei, nesse caso com o vergão do açoite. No entanto, esses sofrimentos físicos não foram nada comparados com os sofrimentos espirituais da cruz, quando ele tomou sobre si nossas transgressões (vv. 5,8), nossa rebelião e quebra deliberada da Lei do Senhor; nossa iniquidade (vv. 5-6); a desonestidade da nossa natureza; nossas enfermidades e dores (v. 4); nossas misérias e o resultado infeliz de nossos pecados. Somos pecadores por nascimento ("Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas") e por escolha ("cada um se desviava pelo caminho"). Veja Salmos 58:3 e Romanos 5:12ss. O versículo 6 começa com o "todos" de condenação, mas termina com o "todos" de salvação. Ele morreu por todos nós. Esses versículos são o cerne do evangelho — "Cristo morreu por nossos pecados". 

 

O verso cinco deste capítulo é interpretado de forma errada, muitas vezes. Certos pregadores ensinam que não podemos aceitar qualquer tipo de enfermidade, pois Cristo já as levou na cruz. É importante ressaltar que o cumprimento dessa profecia ocorreu durante o ministério de Jesus na Terra, onde muitos milagres de cura foram feitas pelo Senhor. Claro que isso não significa que ele não vai curar nossas enfermidades de hoje. Cremos em um Deus poderoso, capaz de curar toda e qualquer doença de quem pede com fé, mas não podemos exigir, com base neste texto, que nos cure de todos os nossos males. Devemos lembrar que ele é soberano; a vida e a morte estão em suas mãos. A boa-nova é que a maior enfermidade, chamada pecado, ele já levou sobre a cruz. Infelizmente, muitas pessoas gostam dessa doença maldita, pois vivem nela.

O Servo Calado (Isaías 53 7-9): Poucas pessoas conseguem permanecer caladas quando são caluniadas, agredidas e injustiçadas, mas estamos falando de um servo. Servos não retrucam; antes, são obedientes e submissos aos senhores. Cristo permaneceu calado diante dos acusadores, bem como dos que o afligiram. Ele calou-se diante de Caifás (Mateus 26:62 63), dos principais sacerdote e anciãos (Mateus 27:12), de Pilatos (Mateus 27:14; João 19:9) e de Herodes Antipas (Lucas 23:9). Não falou quando os soldados zombaram dele e espancaram-no. No texto de 1 Pedro 2:23 diz-se: “O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia, não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente”.

O que dizer do julgamento de nosso Mestre, descrito nos evangelhos? É simples e puramente o cumprimento do versículo 8 deste capítulo. Feito na calada da noite, com testemunhas falsas e compradas, que deferiram acusações falsas contra aquele que é a Verdade. E por que ele permaneceu calado? Porque não veio para se defender; mas, sim, para morrer pelos nossos pecados.

O Sepultamento de Jesus é tão importante quanto sua morte, pois é a prova de que ele morreu. As autoridades romanas não teriam entregado o corpo a José de Arimatéia e a Nicodemos se de fato Jesus não tivesse morrido. Foi pretendido que sua sepultura fosse “com os ímpios”, ou seja, com os criminosos condenados e crucificados com ele. No entanto, quando Jesus de fato morreu, foi enterrado com honra por um homem rico. Essa era a garantia de Deus de que as acusações quanto a ser violento e enganador eram falsas. Ele era manso com os pecadores, e as suas palavras eram verdadeiras. 

O servo recompensado (Isaías 5310-12): Vimos o servo desprezado, ferido, calado. Finalmente, nos versículos finais, veremos o servo sendo recompensado. O servo triunfou. Deus o recompensaria ricamente. Toda a grandeza e o poder dos seus inimigos estariam entre os despojos da sua vitória. Tudo acontece porque Jesus estava disposto a passar pela morte e ser identificado com os seres humanos, os quais estavam em estado de rebelião (cf. Marcos 15:28). Embora Jesus se deixasse ser “contado com os transgressores”, ou seja, tratado como um rebelde, ele estava livremente intercedendo pelos rebeldes e continuaria a fazê-lo dessa forma (cf. Lucas 23:34; Romanos 8:34; Hebreus 7:25; 1 João 2:1). Está claro, a partir disso, que não era uma vítima das circunstâncias, não meramente um mártir, não simplesmente o nosso exemplo, não somente um mestre. De boa vontade, e obedientemente, levou o fardo dos pecados e a culpa de toda a raça humana, triunfando sobre tudo isso, de modo que nós podemos entrar livremente na presença de Deus e estar em perfeita relação com ele. 

Satanás ofereceu a Jesus um reino glorioso em troca de adoração (Mateus 4:8), porém Jesus foi fiel até a morte. O texto de Filipenses 2:8-10 expressa muito bem sua obediência e a recompensa por isso: “E, achado na forma de homem, humilhou a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra”. 

 

CONTEXTUALIZANDO

A riqueza de detalhes concernentes a Jesus, presente nesta profecia, é ímpar. A vida de Jesus, seus milagres, a rejeição que sofreu, a forma que o mataram, seu sepultamento, ressurreição... Quando comparamos os relatos dos evangelhos do Novo Testamento à luz de Isaías 53 vemos claramente que a Palavra de Deus cumpriu-se e continuará a se cumprir até a segunda vinda do Messias. Contudo, o que mais chama a atenção é ver que algumas reações com relação ao Servo Sofredor podem ser vistas em nossos dias!

Os versículos 13 a 15 do capítulo 52 descrevem como viria o Senhor Jesus a esta Terra: de forma humilde, nascido em uma família pobre, sem atraente aparência física, sem status. Então, o que poderia atrair as pessoas a ele? Ah, se todos soubessem quem ele era, o poder que possuía e o que veio fazer, com certeza correriam para ele. Infelizmente, em nossos dias, muitas pessoas ainda não aceitam Jesus pela simplicidade do Evangelho e do próprio Cristo. As pessoas querem coisas que tenham mais status, aparência. Enquanto isso, rejeitam aquele que deu a vida por nós. 

Isaías lamentou, no início do capítulo 53, a dureza de coração das pessoas quanto à sua pregação. Isso também se cumpriu, e ainda se cumpre. Porém, atualmente, não é apenas o coração das pessoas que está endurecido, mas, lamentavelmente, a pregação está deturpada. Muitos não pregam o que de fato a Bíblia ensina. Não se tem pregado sobre o sofrimento do Messias a fim de perdoar nossos pecados. O que vemos é falsos profetas pregando prosperidade e um evangelho que não exige renúncia. Onde estão as pregações que falam da cruz, dos cravos, dos açoites, do quanto sofreu nosso Jesus para que pudéssemos ter vida?

Infelizmente, muitos preferem questionar todo o amor de Deus, derramado na cruz, assim como os grupos religiosos da época de Jesus, ao invés de aceitarem com gratidão tamanha prova de amor. 

 

CONCLUSÃO

O que mais deve chamar nossa atenção nesta profecia não é apenas o quanto sofreu o querido Salvador; mas, sim, o quanto nos amou. E, diante disso, devemos refletir sobre como reagimos diante de tanto amor. Jesus permaneceu calado frente aos acusadores, porém nós, que já fomos alcançados por esse amor, precisamos falar para todos o quanto Deus ama-nos, a ponto de dar seu único filho para morrer por nós.