Texto de Estudo
Apocalipse 18:1-2:
1 E DEPOIS destas coisas vi descer do céu outro anjo, que tinha grande poder, e a terra foi iluminada com a sua glória. 2 E clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e covil de todo espírito imundo, e esconderijo de toda ave imunda e odiável.
INTRODUÇÃO
O capítulo 18 de Apocalipse ocupa-se em relatar o julgamento da grande Babilônia e como o mundo pode ser afetado por ele. Em linhas gerais, a lição oferecerá ao leitor uma visão panorâmica e, ao mesmo tempo, mostrará que a destruição da grande Babilônia evoca a justiça divina, bem como sua soberania. Outrossim, apontará que qualquer forma de aliança feita com a “meretriz” sofrerá consequências com sua queda. A Babilônia não cai sozinha, mas leva junto a confiança e tudo que os homens depositam nela como forma de obter vantagens ou lucros. Vejamos como isso ocorre.
A QUEDA
A cena que João vê em nada se assemelha a do capitulo 17, no qual aparece uma mulher rica, altiva, sedutora e cheia de pompas. Tudo já era ruína e destruição, pois a “grande prostituta” fora despojada e destruída. João classifica três níveis de categorias afetados pela grande Babilônia (v.3):
As grandes massas: Estão em foco nações, povos e pessoas em geral, pertencentes a todas as classes econômica, social e intelectual. Pessoas de todas as camadas sociais beberam do vinho de sua devassidão. O vinho que beberam, espiritualmente falando, consiste em pecar sem limites contra Deus e agir como se ele não existisse. Tal pecado jamais poderá ser perdoado; enfrenta a ira divina e conduz à morte espiritual. Com sua luxúria e imoralidade, a meretriz seduziu e enganou os homens para que seguissem a besta.
Os reis da Terra: Já se tem um grupo específico: os “reis”. Homens de influência, líderes políticos de todas as nações, governantes, imperadores, chefes de Estado e militares, lideranças religiosas, etc. Essa classe inteira foi afetada, pois se deixou seduzir pela luxúria e por riquezas. Cometeu-se adultério espiritual com Babilônia, isto é, assumiu-se a liderança na perseguição de objetivos religiosos, políticos e econômicos. Cultuaram-se ídolos. Os reis governaram com crueldade e enriqueceram-se à custa de outros menos afortunados. Visto ser o dinheiro seu ídolo, forçaram todos os subordinados a prestarem homenagens a esse deus. Os homens foram conduzidos a amarem mais o dinheiro do que a Deus, pensarem mais nas riquezas do que em si mesmos. Com ganância de poder, destruíram-se, trazendo juízo e condenação da parte daquele que julga retamente todas as coisas.
Os mercadores do mundo. Homens de negócios de todo o mundo foram seduzidos. São os “mercadores” que aplicaram seu coração ao dinheiro, aumentando os lucros de forma imoral, injusta e pecaminosa. Nos tempos antigos, os mercadores de Tiro tornaram-se famosos pelo mundo (Isaías 23:8). De modo semelhante, os comerciantes de muitos lugares navegavam ao longo dos litorais do Mar Mediterrâneo para realizarem negócios nos portos da Espanha, Grécia, Ásia Menor, Síria, de Israel e em regiões da Arábia (Ezequiel 27:12-23). Em seu apogeu, Roma veio a ser o celeiro de todos os produtos e rendimentos do mundo antigo. A atividade comercial não é ruim em si mesma; pelo contrário, é necessária e saudável quando praticada com honestidade e justiça, não fazendo do lucro a qualquer preço um fim. Tais mercadores, de posse da ganância, caíram no laço e na sedução da grande Babilônia. Os mercadores que João tem em mente não são a maioria, mas um grupo específico. Sobre isso, podemos afirmar que os mercadores da Terra são os que negociam, de qualquer maneira, mercadorias satânicas e diabólicas; coisas que induzem a pecar contra Deus, seus mandamentos e sua Igreja. Eles enriqueceram-se não com negócios honestos, mas por amor às coisas insinuadas pelo diabo. Seu coração pertence à grande meretriz, à Babilônia. E, por amor, enriqueceram-se a qualquer preço.
UM CONVITE SOLENE
Uma voz do céu clama: “retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos” (v.4). De maneira simbólica, isso pode significar “evitar toda a comunhão com os pecados do mundo pagão”. Porém, tal advertência também pode ser tomada literalmente: o povo de Deus é convocado a deixar a cidade antes de sua destruição. Da mesma forma, os crentes de Jerusalém fugiram da cidade antes do grande cerco, no ano 70 d.C. No entanto, como a grande Babilônia não se restringe a um lugar geográfico, o que pode estar em foco é não manter comunhão com o sistema babilônico de idolatria e luxúria.
A explicação do anjo aponta duas razões para que o povo de Deus retire-se de Babilônia: para não ser cúmplice de seu pecado e não participar no seu julgamento, sofrendo a mesma punição. Por isso, retirar-se de Babilônia significa não ter comunhão com seus pecados e não ser pego na armadilha das ilusões de suas tentações. Aquele que aplica seu coração ao mundo também receberá seus flagelos. Seja “Babilônia” tomada como local físico e geográfico, seja como um sistema corrompido, os servo de Deus sempre devem “sair”. A advertência tem por objetivo proteger os filhos do Senhor contra qualquer mal que posa decorrer dessa comunhão nociva e diabólica.
Os pecados da grande Babilônia foram muitos, em quantidade e intensidade (v.5), e o Senhor trouxe-os à memória, aplicando severo julgamento. A expressão “em dobro” (v.6) não significa pagar duas vezes; mas, sim, que ela foi punida na medida certa e com justa retribuição. Em meio a tantos pecados, destaca-se os da auto-glorificação, imoralidade e do orgulho(v.7), assim sobre ela veio juízo, deixando-a assolada, devastada e exposta à vergonha e desonra, pois “poderoso é o Senhor que a julgou” (vs.3, 8).
O LAMENTO SOBRE SUA QUEDA
Diante da queda da grande Babilônia, vozes de lamentos ecoam por toda a Terra, e as lamentações podem ser assim dividias:
Os reis e os poderosos da Terra (vs. 9,10). É um olhar de espanto e um choro de desespero. Ao longe, observam a fumaça e lamentam sobre aquela que, outrora, fora “grande”, mas que está em chamas. Eles nada podem fazer, pois chegou a hora do juízo. E haviam se prostituído com a meretriz, provaram do vinho da devassidão, fizeram aliança com ela e desfrutaram dos prazeres. Os poderosos que firmam suas alianças com um sistema corrompido, hedonista, mundano, imoral e inescrupuloso nada podem fazer, a não ser amedrontarem-se quando tal sistema for julgado e entrar em colapso. Essa cidade pervertida, seja Babilônia, seja Roma, seja Jerusalém, seja qualquer outro lugar que se tenha feito inimigo de Cristo, sofre imensamente quando Deus lhe toma tudo quanto idolatrou. Esses reis entendem também que são diretamente afetados pelo sofrimento da cidade.
Os mercadores choram e pranteiam a perda das mercadorias e riquezas (vs. 11-17a). Para os mercadores, a perda é irreparável; significava total ruína econômica. A lista de produtos é extensa, e tudo era grande fonte de lucro. Sabemos que o comércio, nos tempos antigos, era vasto, internacional e variado. Para ilustrar, os navios vindos da Itália com mercadoria a ser vendida em Roma vinham de todos os portos, ao longo da costa mediterrânea. Embora alguns sofressem naufrágio (Atos dos Apóstolos 27:41), o volume de tráfico marítimo era fenomenal. Portanto, ser proprietário de uma frota significava um empreendimento proveitoso enquanto o tempo permanecia favorável. A lista de produtos apresentada nos versículos 12 e 13 é considerável. Mencionam-se alguns dos 28 artigos de mercadoria, catalogados desde itens de luxo aos produtos domésticos; dos gêneros alimentícios à criação de gado, inclusive se incluem os escravos. No cabeçalho do registro, há itens de luxo que caracterizam a riqueza das nações e dos indivíduos. A grande prostituta, por exemplo, “estava vestida com roupa de púrpura e escarlate e adornada com ouro e pedras preciosas e pérolas” (v.16). Nota-se que tal choro não é de arrependimento; apenas se lamenta a perda e a ruína que sofreram.
Os capitães do mar e marinheiros (vs. 17b-19). Os marinheiros não se restringem somente a navegadores, mas incluem-se todos que, de alguma forma, usavam o mar para expandir seus negócios e aumentar o lucro. Sobre isso, Hendriksen comenta: “são mencionadas quatro classes: os capitães, os passageiros em viagem de negócios, os marinheiros e tantos quantos vivem do mar, por exemplo, exportadores e importadores, pescadores e catadores de pérolas, etc.” . O que se tem aqui são homens ímpios colocando a confiança e o coração nos prazeres e nas riquezas da vida.
Nesse caso, a parábola do rico insensato aplica-se perfeitamente (Lucas 12:16-21), pois tais homens são atraídos pela avareza, e não se dão conta de que aquilo que é deste mundo perece junto a ele, da mesma forma que tudo que a grande Babilônia tinha a oferecer, em termos de riqueza e luxo, pereceu com ela, na sua queda. Assim sucederá a qualquer sistema, organização ou segmento político/religioso que se encontre “divorciado” de Deus - sua ruína trará a ruína também aos que se enriquecem às custas de sua influência.
UM CÂNTICO DE EXULTAÇÃO E O FIM DRAMÁTICO DA GRANDE BABILÔNIA
Em meio à lamentação sobre a grande Babilônia, ressoa um cântico de júbilo. Céus e Terra “exultam” Babilônia, pois ela foi julgada. O motivo da alegria é que sua destruição significa que “finalmente Deus lavrou a sentença contra ela por causa de vocês.” (v.20, BV). Isso não é um cântico alegre de vingança pessoal, mas o anúncio da Justiça de Deus. O julgamento é necessário para satisfazer à justiça divina, extirpar o mal da Terra e salvar seu povo. Por isso, um cântico de vitória como esse, longe de representar vingança pessoal, é um grito de alegria! Revela que, no fim, Deus mostrar-se-á como Deus diante de todos os inimigos satânicos. Por todo o capítulo 18, é o único cântico que expressa júbilo, pois vem dos “santos apóstolos e profetas”. Provavelmente, os dois grupos estão aqui representados: os profetas do Antigo Testamento e os santos do Novo Testamento, incluindo pessoas de Deus de todas as épocas e lugares que, de uma forma ou de outra, foram vitimadas pelo poder opressor da grande Babilônia.
O fim definitivo e completo de Babilônia é ilustrado quando um anjo lança uma enorme pedra no mar e diz que daquela mesma forma Babilônia seria lançada para nunca mais ser achada (v.21). Sua completa destruição é enfatizada na palavra “jamais” (ou seu equivalente) que se repete por cinco vezes, nos versos 21-23. A Babilônia promovia as artes, mas agora toda a música cessa, e os negócios cessaram. Não há mais mão de obra especializada na cidade. As ações da vida diária, como moer farinha para fazer pão, também pararam. As noites e os dias são sem vida. As casas, à noite, ficam escuras como breu. As atividades e festividades normais - como casamentos - não mais alegram as ruas e as casas. Tudo isso descreve Babilônia como uma cidade morta. A grande Babilônia não mais existirá; estará eternamente julgada e destruída.
CONCLUSÃO
Contemplar o julgamento de um sistema diabólico e opressor, provavelmente, tenha sido de grande alívio para os leitores originais de João, pois muitos já haviam sentido as investidas desse poder. Aos cristãos de hoje, e aos que, de alguma forma, encontram-se em situação semelhante, o julgamento de Babilônia também é fonte de esperança. A lição é que maldade ou injustiça alguma durará para sempre. No tempo certo, Deus trará o juízo; e toda a maldade, engano, luxúria e outras formas de males terão sua justa retribuição. Assim, o julgamento da grande meretriz é um paradigma dos julgamentos divinos, que recaem sobre qualquer forma de pecado e injustiça. Os que querem salvar-se de participar do cálice do julgamento podem fazê-lo por meio do rompimento imediato com qualquer forma de aliança estabelecida com ela. Em qualquer lugar que uma “babilônia” for identificada, a ordem é “sai dela, povo meu”.