Texto de Estudo

Apocalipse 13:1:

1 E EU pus-me sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia.

Apocalipse 13:11:

11 E vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como o dragão.

 

INTRODUÇÃO

O capítulo a ser estudado é um dos trechos que mais gera especulação no livro de Apocalipse. Três personagens destacam-se; todos inimigos de Deus e, consequentemente, inimigos da Igreja: o dragão, a primeira e a segunda bestas. Cada um representa algo ou alguém. O primeiro, o dragão, em todo o Apocalipse, é identificado como Satanás. Os outros dois, porém, são fontes extensas de diferentes e divergentes opiniões. 

Para compreendermos melhor as duas figuras, precisamos estudar o texto de hoje em paralelo ao capítulo 17, que traz algumas informações importantes. 

 

A PRIMEIRA BESTA: O ANTICRISTO

A história narrada no capítulo 13 pode ser encarada como a continuação do 12, pois o último verso deste faz uma conexão entre os dois capítulos: “...e pôs-se em pé, sobre a areia do mar” (12:17b). Neste caso, quem se põe em pé é o dragão, posicionando-se entre o “mar” (de onde emerge a primeira besta) e a “terra” (de onde emerge a segunda), convocando ambas para lhe servirem como instrumento de enganação e perseguição. Entretanto, o capítulo 13 também pode ser interpretado como uma explicação da batalha entre o dragão e a mulher, descrita no capítulo anterior. Assim, no 13, estão descritos os cooperadores (servos) de Satanás na sua luta contra os cristãos e a maneira que os mesmos atuarão. 

A primeira besta que emerge do mar (v.1) é, na opinião da maioria dos estudiosos, o anticristo. Trata-se de um personagem que recebe de Satanás poder e autoridade para se opor a Deus (v.6) e perseguir os cristãos (v.7). Seu aspecto descreve suas qualidades, pois se levanta com a ferocidade de um leão, a agilidade de um leopardo e a força de um urso. A besta que sobe do mar simboliza o poder perseguidor de Satanás incorporado em todas as nações e governos do mundo, ao longo de toda a História.  Os três animais citados no verso dois lembram as quatro feras que Daniel viu em seu sonho: um leão (a Babilônia, Daniel 7:4), um urso (a Média-Pérsia, Daniel 7:5), um leopardo (a Grécia, Daniel 7:6) e um “animal terrível” (o anticristo, Daniel 7). João vê esses animais, ou reinos, na ordem inversa, uma vez que olha para o passado, enquanto Daniel mira o futuro. O último império mundial será alicerçado sobre todos os anteriores e concentrará o seu mal e poder. Além da ferocidade desses animais, também agregará o poder, o trono e a autoridade do próprio Satanás! 

Segundo a visão de João, a besta possuía dez chifres e sete cabeças. A significância desses ícones são descritos para o apóstolo apenas mais à frente, no capítulo 17, no qual um anjo afirma: “as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis dos quais caíram cinco; um existe, e outro ainda não chegou. E, quando chegar, durará pouco. E a besta que era e não é também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete, e caminha para destruição. (17:9-11) 

Posteriormente, o anjo descreve: “os dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam reino, mas recebem autoridade como reis, com a besta durante uma hora. Têm esses um só pensamento e oferecem a besta o poder e a autoridade que possuem. (17:12-13) 

Muitas interpretações são possíveis para explicação que o anjo oferece a João. Alguns acreditam que o anticristo é (ou será) originário de Roma, visto que esta foi edificada sobre sete montes. Por isso, inúmeros intérpretes protestantes acham que o anticristo apresenta-se na figura de um “papa”. Outros crêem que os sete reinos são contados a partir do primeiro Imperador romano e que o oitavo ainda se levantará, unindo força com outros governantes (dez reis – dez chifres), estabelecendo uma unificação mundial satânica. Também há os que supõem que o anticristo represente o governo de Satanás, guerreando contra a Igreja em todas as épocas. Para o estudo de hoje, limitamo-nos a esclarecer que o anticristo, seja ele uma pessoa, um governo ou uma ordem mundial, apresenta-se como alguém que influencia fortemente as pessoas (v.3), possui autoridade religiosa que destina adoração ao dragão (v.4a), está servido de forte poder militar (v.4b) e tem poder de extensão mundial (v.7). 

Conforme o relato, a besta abre a sua boca e profere “blasfêmias contra Deus, para lhe difamar o nome” (v.6). Blasfemar não quer dizer amaldiçoar, como no Português, mas fazer ou dizer algo em relação a Deus, que profana o nome divino ou viola sua glória e divindade. O sumo sacerdote acusou Jesus de blasfêmias (Mateus 26:65), por ter reivindicado um lugar à direita de Deus. “Blasfêmia”, no presente versículo, é uma reivindicação humana, que se exalta acima da exigência de Deus, de que as pessoas sejam-lhe fiéis e adorem-no.  

O apóstolo Paulo diz que o homem da iniquidade é o “filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus, ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus”. (2 Tessalonicenses 2:3-4). A narrativa do texto de Apocalipse descreve que o anticristo, valendo-se do poder e autoridade que lhe foram concedidos, ataca ferozmente os santos para os vencer, pois tem ao seu lado seguidores espalhados por todo o mundo, e estes o servem e o adoram. (v.7,8). Mesmo ao caos estabelecido, os que têm seu nome escrito no Livro da Vida do Cordeiro jamais se dobrarão aos pés da besta, não temerão, tampouco serão enganados por ela. 

 

A SEGUNDA BESTA: O FALSO PROFETA

Ainda atônito com a visão da primeira besta, João depara-se com outro personagem entrando em cena: uma segunda besta; desta vez, emergindo da terra. A segunda aberração é conhecida como o falso profeta, e encontramos outras referências no Apocalipse que comprovam isso. (cf. 16:13; 19:20; 20:10). 

A segunda besta é serva da primeira e induzirá o mundo a adorar o anticristo (13:11-15). Se a primeira é o braço de Satanás; a segunda mostra ser sua mente. Enquanto a primeira age no campo político, a segunda atua no religioso. A primeira é conhecida pelo seu poder conquistador, pela força (13:4). A segunda, pelo seu poder sobrenatural de fazer grandes milagres (13:13-16).  O falso profeta, na verdade, prepara o caminho para que o mundo aceite e adore o anticristo.

Segundo a visão de João, simbolicamente, o falso profeta aparenta ser um cordeiro. Todavia, sua voz denuncia a verdadeira procedência e essência: “mas falava como dragão”. Os sinais que ele executa deixam os homens admirados, pois até “fogo dos céus faz descer à Terra”, e todo o crédito é transmitido a primeira besta, de forma tal que as pessoas passam a adorá-la (v.12). A influência da segunda besta é tão proeminente que ela ordena aos habitantes da Terra que façam uma imagem para (ou da) primeira, talvez uma réplica escultural do anticristo (v.14). Aparentemente, pelo poder do dragão, concedido a segunda, ela dá vida à imagem, e quem não a adorasse seria morto (v.15). Alguns intérpretes acreditam que esses fatos estão ligados ao culto a César. A auto-divinização e o culto ao Imperador era algo muito comum e forte na época dos cristãos. Várias imagens de imperadores eram erigidas pelas províncias romanas. O culto a César tornou-se obrigatório a qualquer cidadão romano. Isso sucedeu na época de Domiciano , quem exigiu que lhe dessem o título de “senhor e deus”. Seus decretos imperiais começavam com esta fórmula: “Nosso senhor e deus Domiciano ordena...”.  Inúmeros cristãos foram mortos e perseguidos por não se dobrarem ante as imagens dos imperadores, ou lhe prezarem culto, fato que descreve bem o quadro pintado em Apocalipse 13

É difícil definir se o falso profeta representa um único personagem, seja no tempo passado, seja para um futuro. Talvez alguém que se levante em todos os tempos! Jesus disse o seguinte a respeito deste assunto: “pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Marcos 13:22 grifo nosso). Essas palavras concordam plenamente com Apocalipse 13 

O apóstolo João descreve que falsos profetas já haviam se levantado naquele tempo, e que eram o “espírito do anticristo” (1 João 4:1-3). Tanto João quanto Paulo concordam que as forças malignas do anticristo e do falso profeta foram operantes em seus dias (2 Tessalonicenses 2:7; 1 João 4:3), mas os apóstolos também relatam que haverá uma manifestação, de uma forma mais intensa, das hostes satânicas, às portas da vinda de Cristo, quando Jesus levantar-se-á e destruirá o maligno para sempre (2 Tessalonicenses 2:8; 1 João 4:3).

 

A MARCA DA BESTA E O NÚMERO 666

Os versículos 16 a 18 são um dos trechos bíblicos mais polêmicos dentro da teologia cristã e da não cristã. Inúmeras teorias foram apresentadas, mas nenhuma com eficaz aceitação.

João descreve que a primeira besta não se contenta em destruir os que não a adoram, mas passa a marcar quem lhe pertencem. Notemos que a besta não faz uma distinção àqueles que recebem a marca: “A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhe seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte”. Por isso, “todos”, no presente verso, não significa “todas as pessoas”, mas “pessoas de todo tipo”. A palavra “marca”, nesse contexto, era usada como sinal de propriedade em animais. E também um termo técnico para o selo imperial, em documentos comerciais, e para a cunhagem romana de moedas. Os escravos eram marcados na testa, indicando servidão; e, não, lealdade. 

 A História está repleta de relatos de escravos, soldados ou fanáticos marcados ou tatuados. O versículo, contudo, especifica que o propósito para imprimir a marca da besta é para ter condição de comprar e vender mercadorias, e isso inclui uma categoria muito mais ampla do que um pequeno segmento da população. Alguns estudiosos colocam a sentença no contexto histórico do culto a César, de modo que somente as pessoas que tivessem recebido uma marca impressa em seu punho ou fronte podiam entrar no mercado. A dificuldade com tal interpretação é que os historiadores romanos nada registram acerca dessa prática no império, o que, mesmo assim, não exclui tal interpretação, visto que todo contrato de compra ou venda tinha um charagma, um selo.  Sobre o selo, estava inscrito o nome do imperador reinante e a data. O selo imperial era o sinal de um contrato celebrado e aceito. Se conectarmos a marca com esse dado, perceberemos que aqueles que adoram a besta aceitam sua lei e autoridade. 

Se considerarmos o capítulo 13 como uma símile do reino messiânico, podemos fazer a seguinte analogia: o dragão (Satanás) imita Deus. A primeira besta imita Cristo. O falso profeta imita o Espírito Santo. Logo, a marca da besta nos ímpios seria uma contraposição à marca do Espírito Santo nos salvos (Efésios 4:30; Apocalipse 7:3).

Na sequência do texto, João revela aos leitores o número que descreve o nome da besta: “666”. Maior do que o número 666, são as interpretações para tentar decifrar o enigma. Atribuindo letras na correlação do número 666 com o alfabeto hebraico, grego ou latino, temos algumas sugestões que surgiram ao longo dos tempos: Nero (Imperador romano), John Knox (reformador calvinista), Martinho Lutero, Napoleão, Hitler, grupos famosos do rock (Beatles, KISS, Black Sabbath, ACDC), frases como “VICARIUS FILII DEI” (Vigário do Filho de Deus; frase supostamente escrita na tiara que o Papa usa, ou usará) e alguns hereges chegaram a atribuir o número 666 à frase: “Jesus Cristo Filho de Deus”.

Assim como não podemos definir com precisão o significado do 666, qualquer conclusão sobre como essa marca apresentar-se-á nos ímpios é mera prepotência. Várias teorias foram instituídas e destituídas ao longo dos tempos. A marca já foi atribuída a código de barras, “micro chips eletrônicos”, etc. Nada até agora foi comprovado teologicamente. 

 

Apocalipse 13 PARA TODAS AS ÉPOCAS

Um dos erros que podemos cometer ao ler, não só o capítulo 13, mas todos os textos do Apocalipse, é preocuparmo-nos demais com a investigação dos textos e esquecermos a contextualização e aplicação dos mesmos. Não podemos negligenciar que os judeus, que eram especialistas em interpretação de profecias, sempre admitiam a vinda do Messias como algo vindouro e não se preocuparam com o presente. Tanto que Jesus veio, voltou ao céu e, em breve, retornará, e os judeus ainda aguardam o Messias.

Infelizmente, as pessoas preocupam-se em saber quem é o anticristo e não percebem que ele levanta-se em todos os tempos. Como se levantou nos tempos de Paulo e João (2 Tessalonicenses 2:7; 1 João 4:3) e está de pé em nossos dias, destruindo famílias, igrejas, casamentos. Enquanto alguns olham para a Igreja romana e esperam que ela cresça a ponto de dominar a Terra; outros, na Nigéria, por exemplo, veem seus irmãos cristãos sendo assassinados por radicais islâmicos. Será que para esses nigerianos o anticristo é a Igreja romana? E, se a Igreja parasse um pouco de se preocupar com o falso profeta que ainda virá e se preocupasse com os falsos profetas que estão levando os nossos jovens ao ceticismo e relativismo religioso? O número de “não religiosos” no mundo já passa de 18%, e esse contingente cresce a cada dia que passa. 

Há muitos crentes que se preocupam demais em decifrar a marca da besta, que é para os ímpios e sua destruição, e se esquecem de empenhar-se em manter inviolável o selo do Espírito Santo, que é o elemento indispensável para o dia da redenção dos salvos, como afirma Paulo: “E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção” (Efésios 4:30). Se contextualizamos todos os textos da Escritura Sagrada, por que não fazermos isso com o livro de Apocalipse? Quando Jesus disse que “surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Marcos 13:22), ele não pregou uma mensagem escatológica, mas um recado imediato aos seus discípulos e a nós. A Igreja precisa estar alerta e preparada, em todos os tempos. Sabemos que o diabo levantar-se-á com toda a força nos últimos dias, mas isso não significa que já não esteja trabalhando arduamente.

 

CONCLUSÃO

Desvendar os mistérios de Apocalipse 13 é uma tarefa muito difícil, talvez impossível de fazer. Enquanto alguns preferem uma visão fechada, o texto aponta muitos caminhos; todos possíveis de serem trilhados. O passar dos tempos não revela a verdadeira face do enigma, e a Igreja de Jesus segue alerta e preparada, sempre avante. Será que haverá tempo de uma ferrenha perseguição contra os cristãos? Lembremos que essa estratégia já foi utilizada por Satanás, nos primeiros séculos de existência da Igreja. Porém, quanto mais ele perseguia a Igreja, mais ela crescia!

Alguns esperam a grande perseguição, que Satanás traga muitos pela sedução. Lembremos as palavras do próprio Cristo quando fora indagado a respeito dos últimos dias que antecederão a sua vinda: “Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não perceberam, senão quando veio o dilúvio e levou-os a todos, assim também será a vinda do filho do homem”. (Mateus 24:37-39)