Texto de Estudo

Apocalipse 12:13:

13 E, quando o dragão viu que fora lançado na terra, perseguiu a mulher que dera à luz o filho homem.

 

INTRODUÇÃO

O grande tema do livro de Apocalipse é a vitória de Cristo e sua Igreja conquistada após uma guerra espiritual contra o diabo e seus anjos. Esse combate é uma luta entre a soberania de Deus e a pretensa soberania de Satanás, atuando nos governantes do mundo.  Compreender a supremacia divina sobre este mundo, e especificamente sobre a Igreja e as nossas vidas, contribui para o amadurecimento de nossa fé. 

O capítulo 12 é o centro do livro e inaugura a segunda parte do Apocalipse. Não há estreita conexão entre o conteúdo do capítulo 11 e o do 12. Aqui temos um novo começo, pois o Apocalipse basicamente possui duas partes principais: a Igreja de Cristo perseguida pelo mundo (capítulos 1-11) e Cristo com a Igreja, perseguidos por Satanás (capítulos 12- 22). Além disso, o capítulo 1 ressalta uma introdução do livro; e o 22, uma conclusão.  

Em linhas gerais, o capítulo 12 relata uma dura luta entre Cristo e Satanás, que não está relacionada aos fins dos tempos, mas vai totalmente além dos limites normais de tempo e espaço.  Essa guerra dividi-se em três momentos, que são os três embates que o Dragão realiza: a) contra Deus e o Messias (v. 1-6); b) contra Miguel (v. 7-12); c) contra a mulher (v.13-18).  Em todos, o dragão foi derrotado. Antes de abordar os momentos da grande guerra, analisemos os principais personagens envolvidos.

 

A MULHER PERSEGUIDA

A análise mais coerente sobre quem a mulher simboliza é interpretá-la como sendo a Igreja.  Não se deve confundir com a Igreja institucional. A Igreja em questão é una e representa um só corpo, uma só família, uma só esposa ao longo de toda a História. Paulo fornece-nos a chave para o significado da mulher celestial quando fala da Jerusalém de cima, mãe do povo de Deus na Terra – “Mas a Jerusalém do alto é livre, e essa é a nossa mãe”. (Gálatas 4:26 NVI) - Ela foi a mãe do Israel verdadeiro no Antigo Testamento, e do povo do Messias no Novo Testamento. Isto é, a Mulher representa todos os salvos em Cristo, desde a criação até a volta de Jesus.

A Igreja representa Cristo neste mundo; portanto, reflete a beleza do Salvador e reverbera o brilho do Mestre. Assim, em Cristo Jesus a Igreja é gloriosa e exaltada. Ela encontra-se assentada com Cristo e recebeu autoridade sobre o diabo e suas hostes. Seu domínio não é político, nem econômico, mas espiritual.  A coroa de 12 estrelas representa a vitória da Igreja em Cristo. Ela assentar-se-á em tronos para julgar o mundo e os anjos.  

A maior missão da mulher foi dar à luz a Cristo, segundo a carne. O processo da chegada de Jesus a este mundo foi acompanhado por muito sofrimento. O povo separado por Deus, para ser veículo da chegada do Messias, sofreu muita dor e chorou muitas lágrimas. Por diversas vezes, Israel enfrentou o perigo da total extinção, havendo contra ela guerras e deportações, tudo o que poderia ser visto como tentativas de Satanás para tirar do mundo a esperança messiânica.  O Dragão, incessantemente, tentou frustrar o plano e matar o Salvador. No entanto, Deus protegeu o seu povo e, na plenitude dos tempos, Jesus nasceu. 

 

O FILHO DA MULHER PERSEGUIDA, O ARCANJO MIGUEL E SEUS ANJOS

Ao longo do capítulo, podem-se observar as constantes hostilidades promovidas pelo Dragão ao filho da Mulher. Este é identificado claramente como o Ungido do Senhor, Jesus Cristo. Diante de todas as setas do inimigo, o Messias vence. 

No verso 6, ao narrar que o Filho foi arrebatado para Deus até o seu trono, é a maneira vívida de João constatar a vitória do Ungido de Deus sobre todas as tentativas de Satanás para destruí-lo.  Portanto, a descrição do Filho não é em sua humilhação, mas de sua exaltação. O Filho que nasceu é o Rei que tem o cetro nas mãos. Seu reinado é universal e irresistível.  

João relata que há festa no céu, pois “Agora veio a salvação, o poder e o reino de nosso Deus, e a autoridade de seu Cristo” (v. 10, NVI). A vitória de Jesus na cruz sobre Satanás produziu salvação a todos que sofrem do poder maligno. Os adversários sujeitar-se-ão ao filho da mulher de tal modo que o reino eterno possa tornar-se uma realidade.  Como bem disse Paulo, “então virá o fim, quando ele entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de ter destruído todo domínio, toda autoridade e todo poder”. (1 Coríntios 15:24 NVI) 

Miguel (que significa “quem é semelhante a Deus”) é citado algumas vezes na Escritura, sempre como representante de Deus nas batalhas. Ele é o anjo que guarda Israel (Daniel 10:13 21; 12:1) e luta contra os que guardam as nações gentias (Daniel 10). Na literatura intertestamentária, é o protetor e intercessor de Israel (Enoque 20:5). Judas 9 diz que ele lutou com o diabo pelo corpo de Moisés. 

Nesta passagem de Apocalipse, Miguel é o defensor do povo de Deus como um todo contra o poder maligno de Satanás.  E não luta sozinho, mas convoca todos os anjos para lutarem ao seu lado. A afirmação “Miguel e seus anjos” (v.7) é um contraste com “dragão e seus anjos”. Não são “anjos pertencentes a Miguel”, mas aqueles que lutam no “time” do arcanjo. Em outras palavras havia “Anjos bons” x “Anjos maus”. 

 

O DRAGÃO – O PERSEGUIDOR

O dragão é um ser pessoal, dotado de vontades, sentimentos, inteligência e com um objetivo claro: perseguir o Messias e sua Igreja. Tem sete cabeças, dez chifres e, nas cabeças, sete diademas. 

As sete cabeças representam que exerce poder e grande autoridade de forma universal. Ele é o deus deste século.  Os chifres simbolizam sua capacidade destruidora. Jesus chama-o de homicida (João 8:44). Ele é o ladrão que veio para matar, roubar e destruir (João 10:10).   

Diadema é uma espécie de coroa que demonstra o poder que o dragão pode exercer. Sua influência não se limita a um povo ou nação. Ele possui súditos em toda a Terra; portanto, tem um reino: “para abrir-lhes os olhos e convertê-los das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus, a fim de que recebam o perdão dos pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim” (Atos dos Apóstolos 26:18). 

O dragão é um inimigo sedutor. No verso 4, afirma que sua cauda arrastou um terço das estrelas do céu, lançando-as à Terra. Aqui se supõe a revolta inicial de Satanás. Foi essa revolta original que obteve para ele a lealdade de um terço de todos os poderes angelicais.  Ao mesmo tempo, seduz aos homens e foi o protagonista da queda de Adão e Eva no Éden. Para tentar nossos primeiros pais, usou o disfarce, a dúvida, a inversão da Palavra de Deus, a negação da Palavra de Deus, a exaltação do homem, a acusação contra Deus, a sedução do homem.  Desse simbolismo, apreende-se que Satanás é um dos mais poderosos e inteligentes seres criados, mas sucumbiu pelo orgulho e por tamanha presunção, a ponto de acreditar ser igual ou superior a Deus. 

Outra característica nefasta do dragão é ser acusador. Ao longo da História, o diabo nunca descansou a fim de minar as forças da Igreja de Cristo. Ele acusou Jó quando disse: "Será que Jó não tem razões para temer a Deus?", respondeu Satanás. "Acaso não puseste uma cerca em volta dele, da família dele e de tudo o que ele possui? Tu mesmo tens abençoado tudo o que ele faz, de modo que todos os seus rebanhos estão espalhados por toda a Terra.” (Jó 1:9-10, NVI).

Em Apocalipse 12 Satanás é descrito como um “enganador” (v.9), e ele é chamado assim quando é lançado do céu. Parece haver uma sequência: enquanto tinha acesso à corte celestial, ele podia agir como um acusador; este é o papel desempenhado por ele desde a queda de Adão. Mas, uma vez que Jesus subiu ao céu, Satanás é destituído dessa posição e não mais pôde acusar os santos. Por causa da morte e ressurreição de Jesus, Deus justificou-nos. E quem pode nos condenar? Mas isso não termina a campanha de Satanás. Em vez disso, ele muda de tática. No lugar de acusar, começa a enganar, retornando à estratégia original que empregou no jardim do Éden. 

A constante opressão e maldade que opera sobre o mundo dá a sensação de que Satanás tem poderes ilimitados sobre as vidas humanas. No entanto, a Palavra de Deus afirma, claramente, que o inimigo recebeu limites, além dos quais não traspassará sem a permissão da soberania divina. A limitação do dragão pode ser definida em três perspectivas: 

Limitação de espaço: Ele não tem mais acesso ao céu; foi atirado para a Terra e, com ele, os seus anjos.

Limitação de tempo: A sentença de Satanás foi decretada na morte de Cristo; por isso, ele sabe que pouco tempo resta-lhe. O diabo sabe que está derrotado, mas luta para que os homens não saibam.

Limitação de poder: A supervalorização do poder de Satanás não tem base bíblica. Deve-se enfatizar que o diabo foi vencido por Jesus (v.5), pelos anjos (v.7-8) e pela Igreja - Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida. (v.11 – NVI)

 

AS BATALHAS

Recapitulando, o foco central do conflito é a intensificação da fúria do dragão mediante o nascimento do Messias. Satanás multiplicará esforços na tentativa de desfechar um golpe sobre Jesus. Porém, todas as tentativas anteriores fracassaram de tal modo que suas forças voltam-se aos discípulos do Messias. E, nessa ira, conforme se vê por todo este livro de Apocalipse, Satanás é altamente sucedido, no aspecto da destruição física dos seguidores de Cristo, ainda que não possa prejudicá-los na sua vitalidade espiritual. Portanto, até mesmo esse ataque é fútil, pois os seguidores de Cristo não podem sofrer dano permanente, tal como sucedeu também ao seu Cabeça.  

Vejamos alguns aspectos das batalhas:

A)O dragão contra o Messias: Satanás multiplicará esforços na tentativa de desfechar um golpe sobre Jesus. Satanás aparece com suas cabeças, chifres e diademas, querendo se mostrar o verdadeiro rei do mundo. Mas ele sabe que a sua posição como rei nunca será estabelecida se não vencer o Messias. Toda a esperança diabólica de uma vitória do mal depende dessa luta contra o filho que nasceu. Se ele conseguir devorar o Messias, o dragão estabelecer-se-á como o monarca dos reinos da Terra.

E o seu filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono (v.5): Do nascimento até o céu, onde Jesus atualmente senta à destra do Pai, no Santo dos Santos, a missão bem-sucedida do Mestre é resumida nesse versículo. Sem entrar em pormenores, o versículo torna-se um dos mais poderosos da Bíblia. Pela sua vida perfeita, a sua morte sacrificial e a sua ressurreição dentre os mortos, Jesus é totalmente vitorioso sobre o diabo. João, autor do Apocalipse, antes de entrar em mais detalhes sobre o dragão e seus servos, quer nos lembrar de que o verdadeiro Rei e Vencedor é o Senhor Jesus Cristo.

B)Dragão contra Miguel: O diabo não conseguiu devorar o filho. A mulher escapou dele, sob a proteção divina. E enfrenta o exército de Miguel. Tem todo o apoio de seus anjos. Nessa batalha, a ofensiva foi de Miguel contra o Dragão. Ele empurra o maligno à batalha, o que é uma indicação de que tem a superioridade e está seguro da vitória. O dragão e seus anjos não foram apenas derrotados, mas também expulsos do céu, ou seja, perdeu o posto de acusador dos nossos irmãos. A luta no céu é justaposta com uma segunda guerra na Terra, em Apocalipse 19:19. Ambas terminam com a derrota de Satanás. No verso 9 de Apocalipse 12 é Satanás que cai do céu para a Terra e, posteriormente, cai daí para o abismo (20:3). Em ambos os casos, o juízo é executado por meio de um anjo. Porém, cabe ressaltar que não é Miguel e seus anjos que recebem louvor pela ruína de Satanás, mas Cristo, que exerce a supremacia em seu reino. Quando Jesus subiu ao trono com plena autoridade para governar, Satanás foi expulso do céu.

“Nem mais se achou no céu o lugar deles” (v.8): O resultado dessa batalha é importante. O diabo perdeu e saiu enfraquecido. Seu poder, depois da vitória de Jesus na cruz, é menor do que o poder anterior. Qualquer aspiração de dominar os servos de Deus, ou de vencer o próprio Cristo, foi negada pela vitória de Jesus e pela vitória resultante de Miguel. Os versículos seguintes mostrarão alguns aspectos importantes a respeito da derrota do diabo.

“E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a Terra e, com ele, os seus anjos” (v.9). O grande dragão e seus seguidores são expulsos para a Terra, pois o céu está fora dos seus limites. A série de nomes (antiga serpente, diabo, Satanás...) é dada pelo menos por três razões: identificar aquele a quem Cristo venceu; alertar os habitantes da Terra sobre o cruel poder do diabo e ilustrar a capacidade desse monstro de destruir e enganar, respectivamente.  Cada nome possui um significado específico: 

•A antiga serpente: Desde a primeira vez que Satanás aparece na Bíblia, é descrito como uma serpente, destacando a sua sagacidade (Gênesis 3:1). É o mesmo que tentou Eva, que continua lutando contra e seduzindo os homens desde o princípio.

•Diabo: Do grego diabolos, significa “acusador”, “difamador”, “caluniador”. A palavra bem descreve o caráter e o procedimento do dragão.

•Satanás: Esse nome quer dizer ‘adversário’. O dragão é o inimigo que procura derrotar e destruir os homens e opõe-se a Deus e a todas as coisas boas e santas.

C)O dragão contra a mulher: Após frustrada a ofensiva para destruir o Messias, o dragão tentará aniquilar a Mulher. “A mulher, porém, fugiu para o deserto” (v.6): a mulher – povo de Deus, os servos de Jesus - fugiu para o deserto por um período e encontra-se diante do dragão furioso e frustrado. Ela foi enviada ao deserto para que tivesse um lugar que a sustentasse durante mil duzentos e sessenta dias. O número simbólico de três anos e meio representa o período do domínio final de Satanás, tentando frustrar os propósitos divinos, particularmente os últimos dias desse período, como relatado em Apocalipse 11:3.  O deserto tem algumas alusões. É possível que tenha menção às perambulações dos israelitas, durante quarenta anos. Este versículo também pode aludir à fuga de José, Maria e Jesus para o Egito (Mateus 2:13-14), protegendo-os dos desígnios maléficos de Herodes. Alguns estudiosos veem uma alusão, por igual modo, ao tempo da destruição de Jerusalém, quando todos os cristãos, advertidos de antemão por visões proféticas, fugiram para o outro lado do rio Jordão e, assim, não sofreram dano algum dos invasores romanos. Por mais de uma vez, um deserto tem sido a cena da proteção divina para seu povo. Isso sucederá de novo, porquanto esse deserto simboliza a situação na qual Deus fornecerá sua proteção; e não apenas uma localização geográfica específica . Assim, deve-se ter a confiança de que o Senhor protegerá a mulher celestial mesmo durante o pior sofrimento e, isso, por sua vez, inclui a ideia da proteção da Igreja na Terra, como afirma a parte final do verso 6 – “Onde lhe havia Deus preparado lugar para que nele a sustentem”.  

Por meio do que a mulher foi vencedora? Por intermédio de Miguel? Das próprias realizações? A vitória da Mulher sobre o dragão provém do Sangue do Cordeiro: “Eles, pois, venceram-no por causa do sangue do Cordeiro” (v.11). Não é o conhecimento sobre o Cordeiro, mas o seu Sangue. A morte de Cristo é a nossa vitória; o seu sangue é a nossa arma mais poderosa. Seu sacrifício na cruz desfez toda a possibilidade de Satanás triunfar sobre o povo de Deus – “Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus”. (2 Coríntios 5:21 NVI)

A Igreja vence o dragão quando testemunha de Cristo, mesmo em face da perseguição e morte. Não é a crença intelectual no Cordeiro, nem o louvor interno do Cordeiro que significa a vitória, mas somente a Palavra do testemunho diante de ouvidos estranhos. A Igreja que vence é a comunidade de testemunhas. 

 

 

 

 

CONCLUSÃO

As batalhas contra Jesus, seus discípulos e Miguel concretizaram o insucesso do diabo, que foi lançado à Terra, irado e frustrado. Resta a Satanás tentar destruir, individualmente, alguns discípulos de Cristo. 

Devemos lembrar sempre que a derrota do dragão foi consumada pelo SANGUE PRECIOSO DO CORDEIRO. Esse acontecimento revela, claramente, que a salvação vem pela graça mediante a fé, mostrando a obra divina e a resposta humana - “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós, é dom de Deus” (Efésios 2:8 NVI). 

Nos capítulos seguintes, o dragão chamará os seus aliados para tentar destruir os cristãos, mas estes têm o consolo da presença do Senhor, dando-lhes força para vencer.