Texto de Estudo 

Apocalipse 10:1-2:

1 E VI outro anjo forte, que descia do céu, vestido de uma nuvem; e por cima da sua cabeça estava o arco celeste, e o seu rosto era como o sol, e os seus pés como colunas de fogo; 2 E tinha na sua mão um livrinho aberto. E pôs o seu pé direito sobre o mar, e o esquerdo sobre a terra;

 

INTRODUÇÃO

Soaram as seis primeiras trombetas, e aguardamos a sétima. As últimas três foram anunciadas como “ais” que viriam. A quinta fala dos gafanhotos saídos do abismo, vindos para atormentar os homens que não têm o selo de Deus. A sexta trombeta anuncia uma cavalaria inumerável que mata uma terça parte dos homens impenitentes. Quando a sétima tocar, não haverá mais chance para os pecadores, pois ela apontará para o juízo final. Será tarde demais para o arrependimento.  

Entre o sexto e o sétimo selo, houve um interlúdio com uma mensagem de consolo para a Igreja; da mesma forma, entre a sexta e a sétima trombeta haverá um interlúdio - anjo, nuvem, arco-íris, trovão, livrinho; eis alguns símbolos presentes no capítulo. Que o Espírito Santo nos guie nesta análise e faça-nos entender uma mensagem urgente!

 

UM ANJO PODEROSO COM UMA MENSAGEM PODEROSA

“E vi outro anjo forte” (v.1). Há mais de 60 referências sobre anjos no Apocalipse. Eles são o exército de Deus, enviado para realizar seu propósito na Terra. A Bíblia diz: “Não são, porventura, todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?”. (Hebreus 1:14). Muitos de nós não pensamos sobre esses seres; todavia, no céu, um dia será mostrado tudo o que fizeram por nós.

Os anjos são valorosos em poder (SI 103:20), mas há uns mais poderosos que outros. Temos um anjo forte, e sua descrição assemelha-se muito ao próprio Deus e ao Cordeiro. Alguns estudiosos entendem que seja uma descrição do Cristo glorificado, conforme ele mesmo se apresentou a João, no primeiro capítulo do Apocalipse. Outros, entretanto, creem que seja um anjo oriundo diretamente da presença de Deus e do Cristo ressurreto. 

Há semelhanças estreitas entre o anjo e o Cristo. Contudo, no Apocalipse, anjos são sempre anjos; Cristo nunca é chamado de anjo. E este citado do capítulo não recebe adoração. O Apocalipse nunca confunde o Senhor que está assentado no trono com os emissários que descem à Terra.  O Novo Testamento, em geral, e o autor do Apocalipse, em particular, não denominam Jesus de anjo. 

O escritor de Hebreus ensina que os anjos são criaturas em submissão a Jesus; enquanto este é divino e humano, aqueles são apenas espíritos.  Portanto, apesar da semelhança, não devemos pensar que o anjo descrito seja o nosso Senhor Jesus Cristo.

João descreve-o como poderoso, em virtude da aparência física da cabeça, do rosto e das pernas; essa colossal figura está em pé, sobre o mar e sobre a terra. Com sua repercutida voz, atinge tudo da criação divina. Além disso, possui o poder necessário para a execução do propósito divino. Vejamos suas características:

a) Descia do céu, vestido de uma nuvem: O anjo poderoso vem diretamente da presença de Deus e do Senhor Jesus Cristo e está vestido de nuvem. A Escritura fala, poeticamente, de nuvens como veículos que Deus usa para indicar movimento. O Senhor conduziu o povo de Israel por meio de uma nuvem luminosa (Êxodo 16:10). As escuras cobriram o Sinai quando a lei fora dada (Êxodo 19:9). E, quando Deus apareceu a Moisés, usou uma nuvem de glória (Êxodo 24:15; 34:5). Ademais, faz das nuvens a sua carruagem (SI 104:3). Outra recebeu Jesus quando ele foi assunto ao céu (Atos dos Apóstolos 1:9) e, quando voltar, virá entre nuvens (Apocalipse 1:7).  Como outros detalhes, esse parece querer proporcionar mais glória à aparência do anjo.

b) Por cima da sua cabeça estava o arco-íris: Em Apocalipse 4:3 vemos o arco-íris ao redor do trono de Deus. Sabemos também que é o símbolo da aliança divina com seu povo, assegurando-lhe que não destruiria a Terra com um dilúvio, novamente (Gênesis 9:12-16). É lamentável, em nossos dias, que tal símbolo tenha sido usado pela comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). Nós, cristãos, devemos lembrar o verdadeiro sentido desse símbolo e, principalmente, ensinar às crianças sobre ele.

c) Seu rosto era como o sol: Como o rosto de Jesus “era como o sol quando brilha com todo seu fulgor” (1.16), há referência ao rosto do anjo que se torna igual ao sol. Isso significa que ele veio da presença de Jesus.  Também na transfiguração, quando Jesus apareceu em glória, seu rosto brilhava como o sol. Ninguém podia olhar diretamente para sua face. Como já afirmamos, embora haja bastante semelhança entre a descrição do anjo e a da pessoa do Senhor Jesus, não há prova suficiente para dizermos que o anjo é Cristo. Isso evidencia somente a glória celestial do anjo forte. 

d) Seus pés como colunas de fogo: Enquanto os pés de Jesus eram como bronze polido refinado em fornalha (1.15), as pernas do anjo são iguais a colunas de fogo. 

e) E tinha na sua mão um livrinho aberto: A palavra grega para livrinho (10:2) é diferente da usada em 5:1; esse diminutivo não dá a ideia de rolo. O livrinho está aberto no sentido de que seu conteúdo é conhecido. O rolo (5:1) contém a revelação do propósito da redenção e da justiça que Deus executa ao longo da História humana. O livro pequeno deve contar uma parte desse propósito divino. Outros o identificam como a Palavra de Deus, que deve ser comida e pregada ao mundo (10:11). Ezequiel e Jeremias também receberam ordens semelhantes (Ezequiel 2:9; 3:3; Jeremias 15:16-17), e ambos comeram o livro e pregaram.  João é chamado a comer o livro e pregar; da mesma forma, a Igreja do Senhor deve se alimentar da Palavra e pregar para todos os povos.

f) Seu pé direito estava sobre o mar e o esquerdo sobre a terra: Deus manifesta sua reivindicação de propriedade sobre o mundo inteiro; afinal de contas, foi ele quem o criou (10:6).  Nas seis primeiras trombetas, apenas parte da criação era o alvo. Mas, neste momento, está em jogo toda a criação! Isso indica que ele exerce poder em todo o mundo, e sua Palavra é para todos. O mar e a terra representam a totalidade do universo criado. 

g) Bradou com grande voz, como ruge o leão: A fraseologia “rugido como de um leão” provém de Oséias 11:10; o Senhor Deus ruge para dizer aos israelitas espalhados por países que regressem do exílio. Em Amós 3:8 lemos: “O leão rugiu - quem não temerá? O Senhor, o Soberano, falou - quem não profetizará?”. Quando o Senhor ruge de Sião, seu povo é advertido de que o juízo virá, caso não o ouça. De igual modo, Jeremias escreve esta palavra de profecia: “O Senhor ruge do alto; troveja de sua santa morada; ruge poderosamente contra sua propriedade” (Jeremias 25:30 NVI).  Por isso, a voz do anjo representa a do próprio Deus, com todo o seu poder e autoridade.

h) Havendo clamado, os sete trovões emitiram as suas vozes: A Bíblia diz que a voz de Deus é poderosa como o trovão (Salmos 29:3). O número “7” aparece 54 vezes em Apocalipse! O numeral significa “completo”, “total”. Nesta passagem, o som ganha ainda mais força ao ser dito que foram sete trovões. É importante informar que, quando a Bíblia usa a palavra trovão, quase sempre traz uma mensagem do juízo. João entendeu a mensagem por intermédio dos trovões, mas não recebeu autorização para escrevê-la (v. 4). Muitos podem questionar o que as vozes disseram e por que não lhe foi permitido escrever, mas não devemos especular o que Deus não nos revelou. Precisamos lembrar: “As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus, porém as reveladas pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Deuteronômio 29:29). 

Inúmeras pessoas têm tentado decifrar os códigos do Apocalipse, mas temos de ter cuidado com falsos mestres e profecias mentirosas. Como servos obedientes, dediquemo-nos a cumprir o que nos foi revelado; não podemos nos ater a detalhes que Deus, em sua infinita sabedoria, decidiu manter ocultos.

i) O anjo faz um juramento: O juramento pronunciado pelo anjo é muito solene, no nome daquele que vive pelos séculos dos séculos, que criou o céu, a terra e o mar, e tudo quanto neles existem. E não são meras palavras! O anjo anuncia o fim iminente em nome do Deus Eterno, que também é criador e Senhor de toda a criação. Em outras palavras, o fim está próximo, porque o Deus eterno e soberano está por trás de tudo e governa o seu universo. 

A declaração do anjo, no final do verso 6, não deixa dúvida: não haverá demora para a chegada do juízo. Deus tem adiado o seu julgamento para que os pecadores perdidos tenham tempo de se arrepender (2 Pedro 3:1-9). Esse foi o propósito da sexta trombeta (9:20-21). No entanto, Deus irá acelerar o julgamento e realizar seus propósitos. Ao tocar a sétima trombeta, o juízo virá (11:15-19); então, será o tempo da consumação da ira divina (15:1). O verso 7 não diz o momento em que soará a trombeta, mas os dias da voz do sétimo anjo. A ideia é clara – a trombeta não será tocada só por um instante, e isso simboliza um período de tempo. Portanto, ela inclui as sete taças ou os sete flagelos (Apocalipse 16:1-20) que levam diretamente ao julgamento final. Logo, o povo de Deus receberá sua gloriosa herança final, a plena salvação, conforme a promessa anunciada aos servos e aos profetas. 

 

O PEQUENO LIVRO

A voz que proibira João de anotar as palavras dos sete trovões, depois lhe pede que vá ao anjo forte e tome o pequeno livro da sua mão esquerda. Ele prontamente obedece à voz e, ao pegar o livro, recebe uma segunda ordem, “E ele disse-me: Toma-o, e come-o” (v. 9). As instruções que o anjo dá a João (Apocalipse 10:8-11) devem lembrá-lo sobre a responsabilidade de assimilar a Palavra de Deus e de torná-la parte do ser interior. Não bastava que visse o livro ou soubesse de seu conteúdo e propósito; era necessário que o recebesse em seu interior. 

Assim deve ser conosco. A Palavra de Deus é comparada a alimento: pão (Mateus 4:4), leite (1 Pedro 2:2), carne (1 Coríntios 3:1 2) e mel (SI 119:103). Os profetas Jeremias (Jeremias 15:16) e Ezequiel (Ezequiel 2:9 - 3:4) sabiam o que significava “comer” a Palavra, antes de poder compartilhá-la.  

Outro detalhe interessante é o fato de o livrinho ser “doce ao paladar e amargo no estômago” (vv.9-10). Quando um menino judeu aprendia o alfabeto, ele escrevia as letras numa tabuleta de farinha e mel, e o professor ensinava o valor fonético de cada letra. Se o aluno já era capaz de repetir o som das letras, recebia a permissão de comê-las, uma a uma, à medida que recordava de modo correto. O alfabeto era, assim, como um mel na boca.  Talvez essa tradição tenha ligação com a atitude de João.

No versículo 11, o anjo incumbe João de profetizar novamente; seu trabalho ainda não chegou ao fim. Deveria declarar a verdade profética de Deus “a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis” (Apocalipse 5:9). O termo “nações” referia-se às gentias. Ao apresentar o restante de sua profecia, João discorrera amplamente acerca das nações.

 

CONTEXTUALIZANDO

Apocalipse é um livro incrível! Muitos negligenciam sua leitura em função dos códigos e símbolos; contudo, mesmo que não saibamos exatamente o que cada um quer dizer, precisamos conhecer o conteúdo de sua mensagem e estar preparados, pois as profecias irão se cumprir. Podemos achar que não há aplicação prática nos versículos estudados; porém, se pensarmos assim, estaremos seriamente enganados. Reflitamos:

A primeira lição que aprendemos está nos versos 1 a 3. João teve a revelação por meio de um anjo poderoso. Da mesma forma, Deus revela sua mensagem em nossas igrejas por meio deles, que pregam nos púlpitos, buscando nos preparar para o juízo final. Valorizemos os que velam por nossas almas e estejamos atentos aos ensinos da Palavra de Deus, pois as profecias deste livro hão de se cumprir!

No verso 4, vemos que o anjo ordenou a João não escrever a mensagem dos sete trovões. Questionar o porquê de Deus não permitir isso, ou sobre o assunto de que trata tal mensagem, não se faz necessário, pois o que devemos saber está claro em sua Palavra. Então, procuremos seguir o que nos foi esclarecido e deixemos as mensagens encobertas para que Deus revele-as para nós no céu.

Aprendemos, nos versos 5 a 7, que, assim como o anjo jurou e profetizou o juízo iminente, devemos estar preparados para a vinda do Senhor. Jesus preparou um lugar para que estejamos juntos dele também. O dia e a hora do seu retorno ninguém sabe; por isso, precisamos nos preparar, pois aquele que criou todas as coisas é fiel e cumprirá suas promessas. 

O texto dos versos 8 a 10 ensina que João foi obediente às ordens recebidas. Da mesma forma, nosso Deus espera que sejamos fiéis ao seu mandado. Não basta conhecer a Bíblia; é preciso que nos alimentemos constantemente. Deus não a coloca em nossa boca à força, obrigando-nos a recebê-la. Ele sempre a entrega, e devemos aceitá-la. A figura do livrinho doce na boca e amarga no ventre é maravilhosa! Há muitas lições a serem aprendidas, e destacamos algumas:

a)A Palavra de Deus é doce: Segundo o salmista, ela é mais doce que o mel (Salmos 119:103). Por isso, precisamos nos alimentar dessa Palavra para que as nossas e o nosso testemunho de vida sejam doces. A amargura no ventre pode indicar as provações que todo cristão enfrenta. Engana-se quem pensa que, ao se converter, os problemas acabarão; lembremos que vivemos em meio a uma sociedade pecaminosa e, infelizmente, sofremos as consequências do pecado cometido por ela. 

b)“Doce” e “amargo” podem também simbolizar a mensagem de Deus: Ao mesmo tempo em que a Bíblia fala do céu e suas delícias, orienta-nos quanto ao inferno e seu sofrimento. É salutar que os pregadores da Palavra apresentem essas verdades para que o povo saiba escolher. Ezequiel alimentou-se de um rolo sagrado (Ezequiel 3:3), e as palavras contidas eram doces em sua boca. Porém, com toda a certeza, tornavam-se amargas em seu ventre ao pregar para uma geração de tão dura cerviz. Da mesma forma, Jeremias, conhecido como o profeta chorão, alimentou-se da Palavra de Deus, e ela foi gozo e alegria para ele (Jeremias 15:16). Da mesma forma que eles, precisamos pregar a Palavra sem diluí-la. No entanto, para que tenhamos êxito nessa empreitada, devemos, primeiramente, alimentar-nos dessa Palavra.

 

Outra lição é ensinada no último verso do capítulo. Nele, encontramos uma ordem direta a João e, consequentemente, a todos nós: “Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e reis”. O verso revela que o trabalho da Igreja continua; o Evangelho precisa ser pregado ao mundo inteiro e com rapidez, porque o juízo já se aproxima. Deus deseja que toda a humanidade ouça e responda positivamente à sua mensagem. Ele está preocupado com todos, pois são portadores de sua imagem (Gênesis 1:27). O Senhor não deseja que alguém sofra uma morte espiritual: “Eu não tenho prazer na morte de alguém, declara o Soberano Senhor. Arrependa-se e viva!” (Ezequiel 18:32). Ele deseja que as pessoas, em todos os lugares, “sejam salvas e venham ao conhecimento da verdade” (1T m 2.4). Não podemos esquecer que a tarefa de anunciar o reino de Deus é de responsabilidade de cada cristão.

 

CONCLUSÃO

A mensagem central deste capítulo é a iminência do juízo de Deus. Por se tratar de um interlúdio entre a sexta e a sétima trombeta, o texto mostra que Deus é longânime e tem dado chance para que o pecador arrependa-se. Mas, quando a sétima trombeta for tocada, não haverá mais tempo! Por isso, devemos anunciar a Palavra em tempo integral, por todos os lugares onde Deus nos colocar.