Texto de Estudo

Atos dos Apóstolos 8:29-31:

29 E disse o Espírito a Filipe: Chega-te, e ajunta-te a esse carro. 30 E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? 31 E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse.

 

INTRODUÇÃO

Antes de tudo, relembremos o que é o discipulado. “Discipulado é o relacionamento entre um mestre e um aprendiz, baseado no modelo - Cristo. Por ele, o Mestre reproduz no aprendiz a plenitude da vida que há em Cristo, capacitando o aluno a treinar outros para que também ensinem a novos discípulos” .

Tomando por base o livro de Atos, podemos perceber como a Igreja cresceu e expandiu-se até os confins da Terra, conforme a Palavra de Deus (Atos dos Apóstolos 1:8). Isso porque, depois de fortalecidos e preenchidos do poder de Deus conforme a promessa, os discípulos obedeceram ao ide de Jesus (Mateus 28:18-20). Usando de exemplo o texto de Atos dos Apóstolos 8:26-40, enfatizamos a necessidade do discipulado, levando-se em consideração a pergunta: Por que precisamos discipular?

 

DISCIPULAR FAZ PARTE DA MISSÃO!

 

A missão principal da Igreja de Cristo é fazer discípulos. Para isso, é preciso aprender com o próprio Cristo. O texto da Grande Comissão mostra um mandamento de Jesus aos seus seguidores: “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” (Mateus 28:19-20). 

Pensando no contexto do ministério de Cristo, todos os seus discípulos eram novos convertidos. Portanto, precisavam de instruções e conhecimento a respeito do Evangelho. Foi exatamente o que Jesus fez ao caminhar com eles. E teve o cuidado de os discipular a fim de aperfeiçoá-los; no momento certo, enviou-os à missão. “E com muitas parábolas semelhantes lhes expunha a Palavra, conforme o permitia a capacidade dos ouvintes. E sem parábolas não lhes falava; tudo, porém, explicava em particular aos seus discípulos” (Marcos 4:33-34). 

O texto básico proposto mostra que Filipe, orientado e dirigido pelo Espírito, aproximou-se do Eunuco, observou-o e percebeu que ele lia o profeta Isaias. Perguntou-lhe: “Compreendes o que vens lendo?” Então, o Eunuco respondeu: “Como poderei entender se alguém não me explicar?” Em seguida, convidou Filipe a acompanhá-lo. Este, então, aceitou e anunciou-o a Jesus. 

Fazer um discípulo demanda tempo. Precisamos dedicar-lhe atenção e devemos nos envolver com ele. Caminhar com ele, até que tenha profundidade na Palavra e ensiná-lo a fazer o mesmo com outras pessoas. Paul Gardner afirma: “Provavelmente, foi por meio deste homem (Eunuco) que, mais tarde, o Evangelho se espalhou por toda a Etiópia, pois aquele cidadão era um importante oficial do Governo e estava a caminho de sua casa” .  

Contudo, vale destacar que a missão só tem sucesso quando está sob a direção de Deus; e o discípulo, à disposição para atuar. 

 

DISCIPULAR PROMOVE MATURIDADE ESPIRITUAL!

 

Vejamos um segundo tópico com base na pergunta: Por que precisamos discipular?

“Uma igreja sem discipulado é uma utopia. Esforçar-se por desenvolver uma igreja sem a preocupação de formar discípulos é um trabalho extenuante que só produz adeptos para a religião cristã” . 

Temos visto muitos frequentadores em nossas igrejas; dentre estes, alguns nunca passaram por um processo de discipulado. A consequência disso é a falta de profundidade espiritual. A estes, a pergunta do Eunuco continua ecoando em seus corações: “Como poderei entender, se alguém não me explicar?”.  

A Igreja Primitiva, em sua trajetória, teve muito êxito e exerceu grande poder, passando a expandir-se, mesmo em um contexto totalmente adverso e ameaçador, como foi a Diáspora Judaica (Atos dos Apóstolos 8:1-3). “Entrementes os que foram dispersos iam por toda a parte pregando a Palavra” (Atos dos Apóstolos 8:4). O diácono Filipe viveu este contexto da dispersão, mas o seu segredo em cumprir com êxito a missão foi maturidade espiritual. A referência a Filipe como ‘o evangelista’, em Atos dos Apóstolos 21:8 indica claramente que, bem mais tarde, ainda era amplamente conhecido por seu zelo missionário .

Há três aspectos importantes que, além de promover maturidade espiritual na vida dos discípulos, fizeram com que eles cumprissem o mandado de Jesus com ousadia. São eles:

1) No poder do Espírito Santo – Fortalecidos e cheios do Espírito Santo, os discípulos vieram a entender tudo aquilo que Jesus fez e ensinou a eles. “Mas o Consolador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (João 14:26). O diácono Filipe, embora não sendo um dos 12 que caminhou com Jesus, estava no contexto dos apóstolos (cf. Atos dos Apóstolos 6). Ele sintanizara-se com os ensinos das doutrinas de Cristo pelo testemunho da Palavra. Filipe era homem de boa reputação, cheio do Espírito e de sabedoria (Atos dos Apóstolos 6:3).

Deus não usa mecanismos organizacionais, atrações mundanas ou promoções poderosas para ganhar almas. Ele usa pessoas — homens e mulheres dedicados, que obedecem ao Espírito. O Espírito Santo é o ‘Senhor da seara’; é ele que exerce todo o poder (Atos dos Apóstolos 1:8). O Espírito abriu o caminho de Filipe para alcançar o homem (Eunuco), abriu as Escrituras para o pecador que buscava e abriu o coração do pecador para crer em Jesus .

2) No poder da Palavra – Escrevendo aos coríntios, o apóstolo Paulo diz: “Certamente, a Palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus” (1 Coríntios 1:18). A centralidade da Palavra está em Cristo, do início ao fim, conforme ele mesmo afirma: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o Último, o Princípio e o Fim” (Apocalipse 22:13). Quando Filipe aproximou-se do Eunuco, este já estava lendo as Escrituras (Isaías 53:7-8). A passagem é uma profecia da maneira como Jesus cumpriria a missão dada pelo Pai. 

O Eunuco veio a crer, porque Deus visitou-se com o seu Espírito, com a sua Palavra e com o seu servo, Filipe, a ensiná-lo. E este foi obediente e agiu sob o comando e o poder de Deus; teve êxito ao discipular o Eunuco. Assim, a Igreja Primitiva crescia em espiritualidade e quantidade, pois havia pessoas comprometidas umas com as outras. Discípulos comprometidos com a missão de fazer novos discípulos, no poder do Espírito, da Palavra e na oração.

3) No poder da oração – Embora o texto básico não destaque a oração, podemos perceber, em seu contexto, o quanto ela exerceu grande poder no desempenho da missão de fazer discípulos. Exemplo disso é a maneira que a Igreja vivia: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (Atos dos Apóstolos 2:42). E ainda: “Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a Palavra de Deus” (Atos dos Apóstolos 4:31).

A expressão “estar cheio do Espírito” significa uma intimidade intensa com o Pai. “A oração é o canal de comunicação mais íntimo que o discípulo pode ter com o seu Deus. A qualidade de sua comunicação determina a força de seu relacionamento” . Filipe era “homem cheio do Espírito” e, consequentemente, mantinha intimidade com Deus pela oração. E, ainda, nos bastidores, havia uma Igreja que perseverava unânime em oração pelos soldados que estavam no campo de batalha, isto é, sobre aqueles que nas ruas, nas casas, nas sinagogas, nas prisões e por todos os lugares anunciavam a Cristo. 

O texto em destaque apresenta a figura do discipulado (Eunuco) e do discipulador (Filipe). Mas quem pode ser enviado para discipular? Então, surge o terceiro tópico deste estudo, muito importante no processo de fazer novos discípulos.

 

O TREINAMENTO PARA O DISCIPULADO

 

O Eunuco tinha acesso à Escritura, mas sem entendimento. Isso é natural entre os novos convertidos. Então, entra o papel do discipulador, ou seja, aquele que é mais experiente na fé. Mas, para que haja experiência na fé, é preciso conhecer muito bem a Palavra de Deus. Filipe foi enviado por ter esse conhecimento. Um discipulador com pouco conteúdo intelectual corre o risco de ser emocional e superficial em seus ensinamentos . Filipe foi eficaz com o Eunuco, exatamente por sua profundidade espiritual. O Eunuco ficou tão maravilhado que, após ouvir Filipe, creu e foi batizado. 

Podemos aprender a necessidade do treinamento de uma equipe de futebol (profissional). Nenhum time entra em campo sem passar por um rigoroso treinamento. No final do campeonato, destaca-se quem teve bom planejamento, bom comando, boa disciplina; unidade; comprometimento; motivação; conhecimento do adversário; correção dos erros; boa relação com o comandante, etc. 

Quando observamos uma equipe chamada “Igreja”, pensando em quem é o seu Comandante, não deveria esta ter um desempenho ainda maior do que uma equipe de futebol? E por que nem sempre isso ocorre? Um dos fatores é exatamente a falta de treinamento para líderes discipuladores. O treinamento baseia-se na palavra do Comandante: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Timóteo 3:16-17). Esta é a palavra que transforma e produz os resultados, como vimos na lição anterior.

Voltando ao exemplo da equipe de futebol, há de se destacar que ela não se limita a treinar; é preciso entrar em campo e, assim, ganhar ritmo e aperfeiçoamento. O discípulo também precisa sair do treinamento e entrar em campo. Devemos entender que, no princípio, ninguém possui todas as características ideais para ser um discipulador. Esses aspectos obtêm-se precisamente por meio da experiência de ensinar a outros (ninguém nasce sendo pai, mãe, líder, ou profissional; tudo se aprende no decurso da vida)” . 

Outra questão que o treinamento visa atingir é combater heresias. A Bíblia relata, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo, a existência de falsos mestres. Não é diferente em nossos dias... Portanto, é fundamental que a Igreja de Cristo zele pela sã doutrina. Paulo, escrevendo a Timóteo, orienta: “Até a minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1 Timóteo 4:13-16).

Tem muitos discípulos que até apresentam boa vontade no ensino, mas não possuem base ou preparo e, por isso, podem transmitir ensinos superficiais e errôneos com relação à doutrina de Cristo. O treinamento pode eliminar esses erros e trazer profundidade ao conhecimento e à prática da Palavra.

 

A CONTINUIDADE DO MINISTÉRIO DO REINO

 

Por fim, podemos destacar que a necessidade de se fazer discípulos ocorre por causa da continuidade, da propagação do evangelho. A ordem de Jesus aos discípulos foi enfática: “vós sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra”. (Atos dos Apóstolos 1:8)

Observe a progressão do plano proposto por Jesus. Com certeza, somente 12 homens não seriam suficientes para propagação e o testemunho dos ensinos de Jesus. Nem um século seria tempo suficiente para tal tarefa. O que aconteceu quando o tempo dos apóstolos findou? O evangelho continuou a ser pregado, pois eles não apenas se preocuparam em evangelizar; mas, com certeza, investiram tempo discipulando outros alunos.

O Novo Testamento narra, por exemplo, que Barnabé discipulou Paulo; este discipulou a Timóteo e aconselhou-lhe ainda da seguinte forma: “Tome os ensinamentos que você me ouviu dar na presença de muitas testemunhas e entregue-os aos cuidados de homens de confiança, que sejam capazes de ensinar outros. (2Tm2:2) Essa é a lógica da continuidade do discipulado. O Evangelho do Reino precisa ser pregado em todos os lugares e em todas as eras. 

Infelizmente, muitas igrejas deixaram - e estão deixando - de existir, porque não tiveram ou não têm essa preocupação: formar discípulos. Ou, quando isso é feito, parece que não é realizado da forma correta. Hoje, temos uma Igreja totalmente distinta da primitiva, que “perseverava na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”. (Atos dos Apóstolos 2:42).

 

CONCLUSÃO

Vimos neste estudo a importância do discipulado. Primeiramente, porque faz parte da missão da Igreja. Em segundo lugar, porque promove maturidade espiritual. 

Observamos também que, para haver um discipulado bem-sucedido, é necessário um período de treinamento para líderes. Deus confiou à Igreja a missão de fazer novos discípulos. Não podemos negligenciar tal mandamento do Senhor. A Igreja é um corpo vivo e deve produzir vida nas pessoas. Jesus mostrou por seu exemplo que essa é a sua essência. Ele não estava preocupado com coisas; e, sim, com vidas. “... eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (João 10:10b).

O discipulado é o caminho apontado por Deus para a Igreja pôr em prática o que aprendera na Palavra. Isso gerará crescimento espiritual, tanto para o discipulado quanto para o discipulador e, consequentemente, a Igreja estará mais focada em realizar a sua tarefa de fazer discípulos. A boa notícia em tudo isso é ver que Deus é quem dá a direção e o poder para a Igreja cumprir o seu papel. Reflexão: Você tem feito a sua parte nesse processo? 

 

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