Texto de Estudo

Lucas 9:23:

23 E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.

 

INTRODUÇÃO

Na semana passada, estudamos sobre o discipulado e destacamos as características que este deve impor. Hoje, trataremos das exigências do discipulado. 

Em nossos dias, no meio “cristão”, o termo exigência parece um pouco ríspido. Tem-se pregado um Evangelho que não cobra e promete tudo de modo fácil e rápido, sem complicação, bastando haver um sacrifício financeiro. Não é pequeno o número de pessoas que ronda diversas igrejas no intuito de encontrar uma religião sem exigências, um lugar em que não se sinta incomodado em suas vontades, em que o foco seja, acima de tudo, o ser humano. É o Evangelho do “venha como você está e permaneça do mesmo jeito”. O problema é que tais seguidores nunca serão verdadeiros discípulos de Jesus, porque o discipulado tem exigências.  Sobre essas, estudaremos a seguir.

 

AS EXIGÊNCIAS

Jesus, contrariamente ao que muitos líderes religiosos de nosso tempo pregam, não ensinava o que as pessoas almejavam ouvir. Por isso, cuidou em anunciar a própria morte (Marcos 8:31). Em seguida, convocou a multidão e os discípulos para lhes falar a respeito das exigências do discipulado (v.34) e expressou as condições para permanecerem na escola da qual ele é Senhor e Mestre. Vejamos quais são:

1.“Se alguém quiser”: Jesus começa com uma chamada condicional: “Se alguém quer” (Marcos 8:34). A soberania de Deus não violenta a vontade humana. É preciso existir uma predisposição para seguir a Cristo. Jesus falou de quatro tipos de ouvintes: os endurecidos, os superficiais, os ocupados e os receptivos. Muitos querem apenas o glamour do evangelho; mas, não, a cruz. Desejam os milagres e, não, a renúncia. Almejam prosperidade e saúde; mas, não, arrependimento. Querem o paraíso na terra; e, não, a bem-aventurança no céu. 

Jesus falou que o homem que construir uma torre sem calcular o custo, ou o general que for a uma guerra sem avaliar com quantos soldados deve contar, é uma pessoa tola. Precisamos calcular o preço do discipulado, pois não é barato.  Como disse Billy Graham, “a Salvação é de graça, mas o discipulado custa tudo o que temos.”.  

A expressão Se alguém quer vir após mim revela uma proposta abrangente. Jesus não se limita a oferecer a oportunidade de segui-lo a uma elite espiritual, mas a todos que quiserem. O evangelho não é exclusivo; na verdade, é inclusivo e destinado a todas as classes, sem distinção de cor, idade, sexo, etnia. Nesse sentido, qualquer um poderá ser discípulo de Jesus.

Além disso, a mesma expressão revela a necessidade de uma resposta voluntária, pois Jesus concede-nos o benefício da livre escolha: a decisão é nossa. Ele não quer que o sigamos por força ou violência, mas por amor à sua pessoa e ao Evangelho. 

2.Negue-se a si mesmo: Negar-se, por sua vez, sugere a primeira exigência do discipulado. O que significa negar a si mesmo? É ter, sobretudo, completa submissão ao senhorio de Cristo, ou seja, o ego não pode ter autoridade.  Eis uma condição indispensável a quem almeja ser um verdadeiro discípulo de Cristo. 

Essas palavras proferidas por Jesus são confrontantes. Nem todas as pessoas propõem-se a abrir mão do orgulho, da soberba, da presunção, da autoconfiança. Poucos aceitam descer do pedestal. Muitos gostam de ser servidos, mas somente uma minoria dedica-se a servir. Todos pecam, mas nem todos confessam o seu pecado. Quando negamos a nós mesmos, renunciamos a própria vontade pela vontade do Mestre e damos-lhe toda a prioridade sobre nossa vida. Negar-se a si mesmo não significa, apenas, negar o material; mas, sim, entregar-se inteiramente a Cristo e compartilhar de sua humilhação e morte. É render-se a Cristo e tomar o firme propósito de obedecer à sua vontade. Essa consagração definitiva é seguida de um negar-se a si mesmo diário, ao tomarmos a cruz e segui-lo.  Cristo, dando-nos exemplo, negou-se, assumindo a forma de servo (Filipenses 2:5-11). 

3.Tome a sua cruz: A terceira expressão de Jesus é por demais impactante, não só para nós, mas, especialmente, para os contemporâneos. Hoje, a cruz simboliza o amor e o sacrifício. Mas, naquele tempo, era uma das formas mais horríveis de castigo. Não era educado falar sobre a crucificação nos círculos sociais romanos mais refinados. Na verdade, nenhum cidadão romano poderia ser crucificado, pois tal morte terrível era reservada aos inimigos de Roma.  

Os contemporâneos de Jesus, ao ouvirem a expressão “tome a sua cruz” pensavam num instrumento cruel de tortura e morte e imaginavam a morte pelo método mais agonizante e jamais conhecido. Eles pensaram nos miseráveis criminosos condenados que pendiam nas cruzes, à beira da estrada”.  Portanto, não faz sentido associar a expressão a uma doença, a uma pessoa problemática, ou a uma situação estressante do dia-a-dia. O ato de tomar a cruz não provém de uma circunstância, mas de uma escolha. Quem almeja ser discípulo de Jesus condiciona-se, voluntariamente, a carregar a sua cruz no dia a dia. 

A expressão significa, portanto, enfrentar a vergonha, a perseguição e o abuso que o mundo lançará sobre quem optar por seguir contra a corrente, a quem disser “não” às propostas tentadoras do maligno. Tomar a cruz é trilhar o caminho do sacrifício, mesmo que o final seja a morte. Paulo escolheu a cruz: Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro (Filipenses 1:21). E nós, o que escolheremos?  

4.Siga-me: Por fim, Jesus traz à tona a sua última exigência concernente ao discipulado: Siga-me, disse ele. A abnegação e a cruz conduzem o discípulo a ninguém menos que Cristo. Seguir Jesus é imitá-lo, é ser parecido com ele, é agir da mesma forma que ele. É isso que o verdadeiro discípulo faz: imita o seu mestre. Seguir a Cristo é fazer o que ele faria em nosso lugar; é amar o que o Mestre ama e aborrecer-se com o que também se aborrece. É viver a vida sob sua perspectiva. 

Seguir Jesus, porém, não é uma atividade esporádica; urge que seja corriqueira, habitual, diária e contínua. Lucas 9:23 diz: ... dia a dia tome a sua cruz e siga-me (grifo nosso). Não podemos perder tempo com outro alvo que não seja seguir o Senhor. Quem quer ser discípulo dele não pode esquecer-se disso. Seguir homens e mulheres carismáticos, e não Jesus, é um erro que muitos cometem, lamentavelmente. Seguir Jesus não é uma atividade secundária, mas prioritária. 

Em certa ocasião, um dos discípulos pediu a Jesus permissão para sepultar o pai. A resposta do Mestre foi: Segue-me, e deixe aos mortos o sepultar os próprios mortos (Mateus 8:22). Só Jesus, e mais ninguém, é prioridade para o discípulo. O contrário não tem respaldo bíblico. Portanto, não voltemos atrás ao negar a nós mesmos, carregar a cruz e seguir a Cristo, pois o discipulado, como vimos, apresenta exigências. Motivados pelo amor a Jesus e a seu evangelho, devemos aceitá-las de bom grado. 

Jesus apresenta aos discípulos duas formas de encarar a vida: 

 

Negar-se a si mesmo                           Viver para si mesmo

Tomar a sua cruz                                 Ignorar a cruz

Seguir a Cristo                                 Seguir o mundo

Perder a vida por ele                         Salvar a vida por si mesmo

Abandonar o mundo                          Ganhar o mundo

Manter sua alma                                 Perder sua alma

Participar das recompensas e da glória      Perder as recompensas e a glória

 

COLOCANDO EM PRÁTICA

As exigências do discipulado têm muito a ver com o caráter que devemos ter. De um modo geral, costuma-se não fazer diferença entre caráter e reputação. Chamamos pessoas de “má-reputação” de “sem-caráter”. A principal diferença, contudo, pode ser medida assim:

• Reputação = o que as pessoas pensam acerca de nós;

• Caráter = o que somos, independentemente do que pensem sobre nós. 

Dessa forma, pode haver pessoas de boa reputação, mas sem caráter. Um bom exemplo eram os fariseus. No entanto, não há como ter caráter e não ter boa reputação, ainda que em meio à perseguição. Deus não quer nos tornar pessoas de boa reputação; e, sim, de caráter. O discípulo de Jesus não deve chamar a atenção pelas roupas, beleza ou riquezas. De fato devem se destacar dos outros pelo caráter que cultivam. Em outras palavras, o destaque é por serem iguais a Jesus e terem o caráter do Mestre (1Cor 11:1).

Em Atos dos Apóstolos 16:1-2, vemos que o apóstolo Paulo, chegando a Listra, uma cidade da região da Galácia, encontrou um discípulo (Timóteo) de quem os irmãos davam bom testemunho, tanto em Listra quanto em Icônio. Ou seja,  Timóteo era considerado alguém de caráter e de bom testemunho em ambas as  cidades. Seu caráter era conhecido dentro e fora de casa. 

Como havia bom testemunho nas duas cidades diferentes, podemos ter certeza de que Timóteo não tinha atitudes diferentes em lugares diversos. Em 2 Coríntios 2:14-17, Paulo fala que os cristãos devem ser como o bom perfume de Cristo, em todo o lugar. O que é um perfume? É um cheiro agradável e penetrante, exalado de uma substância aromática. Não é algo que se vê, mas que se percebe. É algo que “sai de dentro para fora”. É isso que Paulo tenta informar aos irmãos, em Corinto: “vocês devem ter um comportamento tão bonito, tão irrepreensível, que cause o mesmo efeito de um bom perfume”.

Entretanto, um caráter renovado em Cristo envolve muito mais do que pagar as contas em dia, honrar compromissos, ser bom pai/filho ou boa mãe/filha. Muitas pessoas conseguem ser tudo isso, sem serem regeneradas. A peça-chave no perfume de Cristo é a integridade; e ela inclui um sério compromisso com a verdade como reflexo da ação sobrenatural de Deus em nossa vida. Ela nasce como consequência de nossa resposta à ação divina: consideração, admiração e amor por Deus! Ninguém conseguirá ter uma vida íntegra (de caráter) sem compreender que precisa amar a Deus com todo o coração, toda a alma, força e entendimento (Marcos 12:30). Em outras palavras, o caráter será consequência de nosso amor por Deus e de seu trabalhar em nossa vida.

 

CONCLUSÃO 

 

Em nossos dias, temos presenciado muita gente que participa de igrejas e cultos, realizando apenas uma prática religiosa, sem estabelecer um relacionamento profundo com Deus. Essas pessoas só buscam as bênçãos que Deus pode oferecer, mas não se dispõem a tomarem sua cruz, dia a dia, e negarem-se a si, respondendo à ação sobrenatural de Deus em suas vidas. Isso não é ser discípulo de Cristo!

O estudo de hoje chegou ao fim, mas o desafio continua. Como vimos, negar a si mesmo, carregar a cruz e seguir a Jesus são exigências do discipulado. Sabendo disso, somos desafiados, nesta semana, a refletir sobre cada uma das exigências, praticando-as, diariamente. Se o seu ego tem falado mais alto, sujeite-o a Cristo e lute contra a arrogância. Se você tem sido tentado a se conformar com o mundo, não ceda. Nade contra a maré. Sujeite-se e carregue a sua cruz. Se o seu caráter não tem sido semelhante ao de Jesus, submeta-se à transformação. Faça o que ele faria; pense semelhante a ele.