Texto de Estudo

João 13:35:

35 Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.

 

INTRODUÇÃO

O mundo greco-romano do primeiro século apresentava uma grande variedade de líderes religiosos, filosóficos e políticos; cada qual apresentando seguidores comprometidos com seus ensinos, causas e crenças. Embora fossem utilizados vários termos para designá-los, “discípulo” era um dos mais comuns. 

Ao lermos o Novo Testamento, podemos constatar que os seguidores de Jesus não eram conhecidos como “evangélicos”, “crentes” ou “cristãos”, como são nominados hodiernamente. Na verdade, Cristo chamou aqueles que o seguiam, de “discípulos”. Na Grande Comissão, o objetivo da missão mundial era fazer “‘discípulos’ de todas as nações”. (Mateus 28:19).

A palavra “discípulo” , em nosso idioma, normalmente designa “seguidor”, “adepto” ou “estudante” de um líder religioso ou mestre.  Os discípulos de Jesus não eram meros aprendizes de conceitos filosóficos, ou puramente teológicos. Jesus não fez discípulos trancando-os em uma sala de aula; Ele ensinava-lhes por intermédio de sua vida. Assim, um discípulo de Cristo é aquele que aprende a viver como e com o seu mestre. Ou, como disse Ray Fairchild: “Discípulo é aquele que permite que Cristo viva sua vida através dele.”.  Desse modo, na lição de hoje, iremos nos ocupar com o que significa de fato ser um discípulo de Jesus.  

CARACTERÍSTICAS DE UM DISCÍPULO VERDADEIRO

Como visto antes, discípulo é proveniente do termo grego mathetes e significa “aquele que se esforça por seguir os ensinamentos de alguém”. Sendo assim, o discípulo de Cristo é o que não apenas adere a seus ensinamentos, mas também se esforça por segui-los, colocar em prática o que aprendeu do mestre e fazer outros discípulos para Cristo.

No evangelho de João, um termo usado muitas vezes por Jesus é “sereis meus discípulos...”, ou “sois meus discípulos...”. Por exemplo, nos textos de João 8:31 13:31-35, 15:1-8, Jesus utilizou tal expressão indicando como seus seguidores poderiam “ser” verdadeiros discípulos. Portanto, pode-se presumir que, nesses textos, têm-se as características de um discípulo de Jesus. Vejamos quais são elas:

1. Permanecer na Palavra. Certa feita, enquanto ensinava no templo, Jesus falou desta característica básica do discipulado: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos (João 8:31). Mas o que será que Jesus estava querendo dizer? É muito simples. Para ele, permanecer tem o significado de aderir a seu ensino, orientar a vida por ele.  Os ensinos de Jesus são a cartilha de seus discípulos. Afinal, um discípulo verdadeiro está em sintonia com a instrução do seu mestre.  Mais do que isso, sua instrução torna-se, indissoluvelmente, regra de fé e prática do discípulo.  

Portanto, permanecer tem o mesmo sentido de obedecer; apenas permanece na Palavra de Jesus aquele que obedece a ele. Essa é uma característica inconfundível em um discípulo de Cristo. Todavia infelizmente, a obediência à Palavra parece não ser prioridade no meio “evangélico”.  Alguns cristãos utilizam o método “mergulhe e pule” em termos de obediência à Escritura: mergulham nas promessas e pulam as ordens.  Preferem enfatizar as bênçãos, os benefícios do discipulado e negligenciam por completo a marca de um verdadeiro discípulo: a obediência.

Tragicamente, muitos se dizem seguidores de Jesus; contudo, sequer conhecem ou estudam sua Palavra. Como, então, poderão obedecer-lhe? Não se engane: se desejamos ser discípulos de Jesus, temos apenas um modo de fazê-lo - obedecendo a seus mandamentos. É ilusão, ou mesmo audácia, desejar ser um discípulo sem a obediência. 

Nos dias de Jesus, aqueles que nele criam, entregavam-se para serem discípulos. E, ao serem admitidos em sua escola, Cristo estabelecia uma regra: Ele não reconheceria ninguém, exceto os que permanecessem em sua Palavra. Isso indica que há muitos que professam ser discípulos de Cristo, mas que não o são verdadeiramente. Trata-se apenas de uma aparência, um nome. 

2. Amar uns aos outros: A segunda característica mor dos discípulos de Cristo é a capacidade de amar. Jesus preparava-os para a sua partida. Ele já lhes havia garantido: “Vou estar com vocês apenas mais um pouco”. (João 13:33 NVI). Sabendo, portanto, que pouco tempo restava, tratou de lhes ensinar como poderiam se tornar seus discípulos: “Se tiverem amor uns pelos outros, todos saberão que vocês são meus discípulos.” (João 13:35 NTLH). Eis a inconfundível e peculiar característica dos discípulos de Cristo: o amor. 

A responsabilidade de todos que são discípulos de Cristo é amar uns aos outros, como Cristo os amou. No texto original, o termo amor (e correlatos) é usada 12 vezes, em João 1 a 12; enquanto que, em João 13 a 21, aparece 44 vezes!  É a palavra-chave do ensinamento de Cristo sobre o que é ser seu discípulo. Os atos de amor de seus seguidores falam mais alto do que qualquer discurso ou pregação. Esses atos são o distintivo dos verdadeiros discípulos.

Sim; o amor é a mais poderosa pregação que existe. É a prova irrefutável de que pertencemos a Jesus Cristo. Tertuliano (155-220 d.C.), um patriarca da Igreja, comentou que os pagãos diziam uns aos outros sobre os cristãos: “Já reparou como amam uns aos outros?”. Assim sereis meus discípulos, garantiu Jesus, se tiverdes amor uns aos outros. 

Jesus disse que esse era um novo mandamento (João 13:34). O adjetivo "novo", no versículo 34, não se referia a algo “cronologicamente novo”. Desde o tempo do Antigo Testamento, o amor sempre foi importante para o povo de Deus, pois a ordem divina era: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Levíticos 19:18). Antes, referia-se a “algo inédito ou original”; era o oposto de “desgastado”. 

A morte de Cristo na cruz daria novo poder e significado ao amor (João 15:13). Com a vinda do Espírito Santo, o amor teria novo poder na vida dos discípulos.  A novidade, a revolução causada por Jesus, consistia na dimensão desse amor: Amem uns aos outros, assim como eu os amei (João 13:34, grifo nosso). Ser discípulo é imitá-lo, e isso inclui amar, como ele amou, com a mesma intensidade, com a mesma disposição.

Encontramos inúmeras pessoas religiosas que participam ativamente de suas igrejas, mas cujas vidas nem de longe têm qualquer semelhança com a vida de Cristo.  Se somos discípulos, devemos aprender a tratar as pessoas com respeito e consideração, com o cuidado e a graciosidade com que Jesus tratá-las-ia.  Por quê? Porque o amor é a característica de um discípulo de Jesus.

3. Produzir frutos. Ainda outra questão ecoa: Qual a característica de um discípulo? Mais uma vez, Jesus oferece-nos uma bela resposta: “Nisto é glorificado meu Pai: que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.” (João 15:8). Os discípulos de Jesus, então, são aqueles que dão fruto; aliás, “muito” fruto.  

É mister que entendamos sobre o que Jesus disse. João 15 aborda a alegoria da “Videira e dos ramos”. Nosso Mestre diz que ele é a videira verdadeira; por conseguinte, podemos concluir que existam as falsas. Os discípulos são comparados aos ramos dessa videira. Ele diz claramente que nenhum ramo pode dar fruto de si mesmo (v. 4) e conclui: “... vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim” (v. 4b – NVI). “Se alguém permanecer em mim, e eu nele, esse dará muito fruto” (v. 5 – NVI). Aqui, temos o segredo para a frutificação.

Produzir fruto, neste texto, é ser semelhante a Jesus e refletir o seu caráter. Deus é glorificado quando Jesus é refletido na vida dos seus discípulos, e é dessa maneira que estes provam ser verdadeiros discípulos do mestre da Galileia. O segredo para refleti-lo não é outro, senão, permanecermos nele, e ele em nós. 

Um “ramo de videira não tem vida, nem utilidade se não continuar ligado à videira. A seiva viva que flui pelo caule capacita-o a produzir uvas”.  É assim com o discípulo de Jesus. A palavra-chave é permanecer, usada 11 vezes, em João 15:1-11. “Permanecer” significa manter a comunhão com Cristo de modo que ele trabalhe em nossa vida e, por meio dela, a fim de produzir frutos. Sem dúvida, isso inclui a obediência à Palavra de Deus a fim de que nada sirva de empecilho para a comunhão com o Senhor (João 15:3), e a obediência a ele em amor (João 15:9 10). 

Como saber se “permanecemos em Cristo”? Sentimos algum sentimento especial? Não; mas há evidências específicas que se mostram de maneira clara e inconfundível. Em primeiro lugar, quando permanecemos em Cristo, produzimos frutos (João 15:2). Em seguida, sentimos o Pai “podando-nos” para que possamos dar mais frutos (João 15:2). O cristão que permanece em Cristo recebe respostas para suas orações (João 15:7) e experimenta um amor cada vez mais profundo por Cristo e por outros cristãos (João 15:9 12, 13). Ele também experimenta alegria (João 15:11). 

Essa relação de permanência é natural para os ramos e para a vinha, mas deve ser cultivada na vida cristã, pois não se desenvolve automaticamente. Permanecer em Cristo exige adoração, meditação na Palavra de Deus, oração, abnegação e serviço, mas é uma grande alegria! Começando a cultivar essa comunhão mais profunda com Deus, não temos desejo algum de voltar à vida superficial do cristão indiferente.

Com relação aos frutos a serem produzidos, vale ressaltar que muitas vezes a palavra resultados aparece nas conversas entre obreiros cristãos; porém, na verdade, não se trata de um conceito bíblico. Uma máquina ou um robô pode dar resultados, mas é preciso haver um organismo vivo para produzir frutos. Essa produção exige tempo e cultivo; uma boa colheita não aparece de um dia para o outro. 

É preciso lembrar que os frutos não são consumidos pelos ramos; e, sim, aproveitados por outros. Não se devem produzir frutos para agradar a si mesmo, mas para servir aos outros. Devemos ser o tipo de pessoa que "alimenta" os semelhantes com nossas palavras e com nossas obras. 

A Bíblia fala de vários tipos de frutos espirituais. Damos frutos quando somos parte da colheita (João 4:35-38); ao crescermos em santidade e em obediência (Romanos 6:22). Paulo considera as ofertas dos cristãos frutos de uma vida consagrada (Romanos 15:28). “O fruto do Espírito” (GI 5:22, 23) é o caráter cristão que glorifica a Deus e mostra a realidade de Cristo a outros. Até mesmo nossas boas obras e nosso serviço nascem dessa vida de permanência em Cristo (CI 1:10). O louvor que vem do coração e dos lábios também é fruto para a glória de Deus (Hebreus 13:15).  E, por fim, discípulos verdadeiros geram outros discípulos. Ou seja, levam outras pessoas a Cristo (Romanos 1:13). Talvez nenhum de nós tenha confessado e pedido perdão a Deus por não ter produzido outros discípulos. E é bom lembrar que, se tão natural quanto uma macieira produzir maçãs, é um discípulo produzir outro, se você não o faz, há que se duvidar de sua verdadeira identidade.

Muitas dessas atitudes podem ser falsificadas pela carne; porém, mais cedo ou mais tarde, as falsificações são descobertas: o verdadeiro fruto espiritual traz sementes para mais frutos. As imitações criadas pelo ser humano são mortas e incapazes de reprodução. Todavia, os frutos produzidos pelo Espírito reproduzem-se sucessivamente; haverá frutos, mais frutos e muitos frutos.

 

COLOCANDO EM PRÁTICA

 

Há pelo menos duas atitudes que todo o discípulo verdadeiro de Cristo precisa colocar em prática:

1. Imitar o mestre. Todo o discípulo é chamado para “aprender as palavras, os atos e o estilo de vida do seu mestre”.  A palavra-chave do discipulado cristão é “imitação”. Um genuíno discípulo de Cristo é aquele que o imita. Ser discípulo de Jesus implica aprender com sua humildade e mansidão, negar o mundo e permitir que seu caráter seja moldado à semelhança do Mestre. É preciso admitir que essa característica tem sido esquecida pelos cristãos modernos... No entanto, se você propõe-se a ser discípulo de Cristo, deve estar disposto a imitá-lo, a amar as pessoas como ele amou, a viver em santidade, a orar, a perdoar, a fazer discípulos e a ajudar os necessitados como ele o fez. Seja um discípulo: imite a vida de Jesus. 

2. Obedecer ao Mestre. Uma característica dos cristãos pós-modernos é a completa aversão à obediência, à rejeição à lei e aos mandamentos do Senhor. “Estamos no tempo da graça”, dizem. Esquecem-se de que a graça capacita-nos à obediência e, não, à desobediência. Isso nos lembra o que Jesus disse: “Nem todo o que me diz ‘Senhor, Senhor!’ entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mateus 7:21). Não basta ir à igreja, cantar, ofertar etc. É preciso obedecer aos mandamentos de Cristo. “Muitos dirão a Jesus: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas?’ E ele dir-lhes-á: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7:22-23). Não se engane: um verdadeiro discípulo obedece aos mandamentos de Jesus. 

 

 

CONCLUSÃO 

 

Ser um discípulo de Cristo é o mais fascinante e desafiador projeto de vida. Estudamos, hoje, sobre o que significa ser um discípulo e quais são suas características. O desafio desta semana será aferir essas características em nossa vida. Há perguntas que precisamos responder com sinceridade como “Temos dado os frutos que Deus espera de nós?”, ou “Temos feito discípulos como Jesus fazia?”.