Texto de Estudo
Mateus 7:13:
13 Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela;
INTRODUÇÃO
Estamos caminhando para a reta final de nossos estudos sobre o Sermão da Montanha. Muitos comentaristas têm sugerido que, estritamente falando, a parte principal do Sermão termina no versículo 12, e, a partir do versículo 13, começam as aplicações e advertências finais, ou a conclusão propriamente dita, momento em que ele exorta seus ouvintes a tomarem consciência da importância e da necessidade de colocarem em prática suas instruções na vida diária.
A partir de então, Jesus enfatiza mais fortemente do que antes a necessidade da escolha. Há que se escolher entre o reino de Satanás e o reino de Deus; a cultura prevalecente ou a cultura cristã. De fato, cada ação da vida confronta o homem com uma decisão iniludível, diante da qual ele não pode permanecer impassível. Sempre deve escolher entre um caminho ou outro (cf. Deuteronômio 30:15-20; Josué 24:15; Jeremias 21:8). É esta decisão que Jesus põe diante dos ouvintes nesta passagem em estudo. Assim sendo, analisemos a mesma de forma mais detida.
DUAS PORTAS E DOIS CAMINHOS
Ao final do seu sermão, Jesus deu um conselho a seus discípulos, dizendo-lhes: “Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram” (vv. 13-14, NVI).
Dois caminhos são traçados resumidamente e contrastados, sendo cada um descrito por seus marcos visíveis e por seu fim. Eles conduzem da vida presente à do além-túmulo. Um deles conduz através duma porta estreita que, vista de fora, não tem nada que a recomende. Comparativamente, poucos encontram esta estrada. Está tão deserta que facilmente pode ser perdida. De outro lado, há uma avenida larga, ampla, espaçosa e extensa, com muitos fatores convidativos e que impelem a progredir nela. Ao seu fim há um portal amplo e imponente. Mas esta estrada e este portão, com todas as qualidades que os recomendam, com todos os convites para satisfazer-se no viver livre e desenfreado do mundo, conduz à destruição. Seu fim é a condenação eterna.
O que se nota de imediato nestes versículos é a natureza absoluta da escolha que se nos apresenta. Todos nós preferiríamos ter muito mais opções do que uma só, ou, melhor ainda, gosta¬ríamos de fundi-las todas em uma religião global, elimi¬nando assim a necessidade de qualquer escolha. Porém, Jesus des-carta o nosso sincretismo condescendente. Ele não nos permite as confortáveis soluções que propomos. Em lugar disso, ele insiste que, afinal de contas, há uma só escolha, porque só há duas possibilidades.
Um dos caminhos é fácil. As palavras gregas platus e euruchóros significam, juntas, largo, espaçoso e confortável. Alguns manuscritos combinam estes sentidos e chamam o caminho de “largo e confortável”. Há muito espaço nele para a diversidade de opiniões e a frouxidão moral. É o caminho da tolerância e da permissividade. Não tem freios nem limites de pensamento ou de conduta. Os viajantes deste caminho seguem as suas próprias inclinações, isto é, os desejos do coração humano em sua degradação. Superficialidade, egoísmo, hipocrisia, religião mecânica, falsa ambição, condenação; estas coisas não precisam ser aprendidas ou cultivadas. É preciso esforço para resistir a elas, e nenhum esforço para praticá-las. Por isso o caminho é largo é fácil. O caminho difícil, por outro lado, é estreito. Seus limites são claramente demarcados pela Palavra de Deus.
Jesus disse que a porta que leva ao caminho difícil é estreita. É preciso procurar para encontrá-la. É fácil errar. A palavra grega plyés indica a entrada de um edifício ou a porta do muro de uma cidade. Em relação a todo espaço ao redor do edifício ou da cidade, a porta era estreita. É interessante observar aqui que, no trecho paralelo em Lucas 13:24 a palavra grega utilizada é outra, thyras, uma palavra comum que indica a porta de uma casa, isto é, uma porta ainda mais estreita do que aquela. Por outro lado, a porta que leva ao caminho fácil é larga, pois é só uma questão de tomar o caminho fácil. Evidentemente, não há limites para a bagagem que po¬demos levar conosco. Não precisamos deixar nada para trás, nem mesmo nossos pecados, a justiça própria ou o orgulho.
O caminho do mundo, dos incrédulos, daqueles que não são discípulos do Reino, é fácil de ser percorrido, pois tem amplo espaço para receber todos os tipos de pessoas, com muitas e diferentes ideias sobre os alvos e valores da vida. As multidões podem caminhar livremente por esse caminho espaçoso. Esse caminho é tão espaçoso que diversos indivíduos podem viajar por ele sem atrapalhar uns aos outros, e mesmo sem notar outros viajantes.
Entrar pela porta implica na decisão de viver ou de cumprir certos propósitos. A porta, pois, aponta para a escolha, boa ou má, que uma pessoa faz nesta presente vida. O caminho, quer apertado, quer espaçoso, implica num modo de ser, de viver, ou seja, num modo de vida. Muitos cristãos não se atentam para o padrão de conduta requerido por Jesus, no Sermão da Montanha, e acabam por não fazer a sua vontade. Jesus disse: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me” (Mateus 16:24). Paulo disse: “Já estou crucificado com Cristo e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20). A fim de entrar pela porta estreita, temos que nos desfazer de muitas coisas: o pecado, a ambição egoísta, a cobiça e, até mesmo, se for necessário, a família e os amigos, pois ninguém pode seguir a Cristo sem antes negar-se a si mesmo. A porta estreita é, pois, a porta da abnegação e da obediência. Como encontrá-la? Jesus disse: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo” (João 10:9). Alguns costumam dizer: “Todos os caminhos levam a Deus”. Isso não é verdade! Foi Jesus quem disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). Ou seja, não há outra porta nem qualquer outro caminho que conduza ao Pai. Alguns até pensam que já entraram pela porta estreita, mas Jesus lhes dirá naquele dia: “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7:23). E isso porque é possível conhecer a linguagem correta, acreditar intelectualmente nas doutrinas, obedecer às regras e, ainda assim, não ter a salvação.
Portanto, é evidente que nosso Senhor não emprega o método utilizado por muitos pregadores avivalistas que falam como se a obtenção da salvação fosse uma das coisas mais fáceis do mundo. Jesus, ao contrário, descreve a entrada no reino como algo que, por um lado, é muito desejável, mas que, por outro lado, não é de modo algum fácil. A porta da entrada é estreita. Ela tem de ser encontrada. E o caminho ao qual ela está ligada é apertado.
DOIS TIPOS DE TRANSEUNTES
Aqueles que escolhem a porta larga e o caminho espaçoso são chamados “muitos”. E aqueles que entram pela porta estreita e viajam no caminho apertado são chamados “poucos” (v. 13). O caminho largo e fácil é um lugar de muita atividade, frequentado por pedestres de todo tipo. O caminho estreito e difícil que leva à vida, entretanto, parece ser comparativamente mais deserto, pois “são poucos os que acertam” (v. 14). Isso está em sintonia com o que Jesus diria depois aos seus discípulos: “Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos” (Mateus 22:14).
Muitos buscam caminhos rápidos e fáceis na trajetória de sua vida. É natural ao ser humano caído gostar da porta larga e do caminho espaçoso. É o caminho aparentemente bonito, atraente aos olhos e que parece ser verdadeiro (Provérbios 14:12). Porém, os discípulos de Cristo evitam esta estrada larga e convidativa, por ser o caminho da carne, do mundo e do diabo. É natural preferir o que é amplo e espaçoso, de fácil acesso, em lugar do que é estreito e apertado. E também é natural seguir a multidão em vez de seguir uns poucos. Cuidado! Há certo ditado que diz que “a maioria sempre tem razão”. Ora, é sem dúvida que a maioria nem sempre tem razão. A fé não pode ser julgada por estatísticas, pois nem sempre a maioria tem razão. Só porque “todos fazem” alguma coisa, não quer dizer que estão fazendo o que é certo! Na verdade, às vezes é justamente o contrário!
Uma palavra de advertência se faz necessária aqui. Não devemos especular, a partir deste contraste entre os poucos e os muitos, que os remidos serão poucos. Esta passagem bíblica deve ser comparada com a visão que João teve dos remidos diante do trono de Deus, onde havia uma “grande multidão que ninguém podia enumerar” (Apocalipse 7:9). Deveríamos, portanto, ser sábios e não nos preocupar com essas questões especulativas, como o próprio Senhor Jesus deu a entender em outra ocasião, quando alguém lhe perguntou: “Senhor, são poucos os que são salvos?” Mas ele negou-se a satisfazer essa curiosidade, e apenas lhe respondeu: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita” (Lucas 13:23-24).
É verdade, porém, que se comparado à população global, o povo de Deus sempre foi minoria neste mundo, e não é difícil descobrir por que: a porta que conduz à vida é estreita, e o caminho é solitário e penoso. É possível andar no caminho espaçoso e levar conosco bagagens de pecado e de desejos mundanos. Mas, se tomarmos o caminho estreito, teremos de abrir mão de todas essas coisas (Lucas 9:23). Muitas pessoas que creem em Jesus Cristo nunca deixam o caminho largo e tudo o que ele oferece. Têm uma vida cristã fácil que não exige coisa alguma. Jesus diz que o caminho estreito é difícil. Não se pode escolher duas estradas e tomar dois rumos diferentes ao mesmo tempo.
DOIS DESTINOS
Há somente dois destinos para a humanidade. Isto pode ser visto na figura de linguagem empregada pelo salmista no Salmos 1 onde encontramos as duas alternativas para os seres humanos: os que “prosperam” e os que “perecem”. Moisés também tornou isso explícito, ao dizer para o povo de Israel: “Vê que proponho hoje a vida e o bem, a morte e o mal... a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas…” (Deuteronômio 30:15-19; Jeremias 21:8).
Semelhantemente, Jesus ensinou que o caminho fácil, cuja entrada é a porta larga, “conduz para a perdição” (v. 13). Perdição é o destino final desse caminho. Os que entraram pela porta larga e agora trilham o caminho espaçoso estão indo rumo à destruição. O Senhor não definiu o que queria dizer com isso, e presumivelmente a natureza exata desse termo está tão além de nosso entendimento finito quanto a natureza exata do céu. Mas a terrível palavra “perdição” (gr. apōleia) é empregada no Novo Testamento no sentido de “destruição” dos homens ímpios e a consequente perda da vida eterna (cf. 2 Pedro 3:7; Apocalipse 17:8-11). É um futuro horrível demais para se contemplar sem lágrimas. Portanto, o caminho espaçoso é o caminho suicida. Por outro lado, o caminho difícil, ao qual se chega pela porta estreita, conduz à vida eterna.
O caminho largo é o caminho da grande massa, por onde trilham todos os que andam o caminho do eu, a rota do pecado, que é o afastamento de Deus. Diretamente oposto ao caminho da massa, do eu, da autoafirmação, da estrada larga, está o caminho dos poucos, a via crucis, da estrada estreita. Mas essa via, que direciona radicalmente nossa vida para o trilho estreito do caminho apertado, é o único caminho que conduz à vida eterna. E, por estar em jogo a vida eterna, é tolice olhar em volta à procura da estrada larga. Estando em questão a vida eterna, nenhum sacrifício é grande demais para ser feito para a conquista do alvo.
CONCLUSÃO
Jesus contrasta dois caminhos, duas portas, dois destinos. Ambas as portas estão abertas e convidando as pessoas. Uma abre sobre uma rua larga e cheia de gente que caminha para a destruição eterna. A outra porta abre-se para um caminho estreito e escassamente povoado que conduz à vida eterna.
De acordo com as palavras de Jesus, há apenas dois caminhos: o difícil e o fácil (não existe um caminho do meio), nos quais se entra por duas portas, a larga e a estreita (não existe outra porta), que terminam em dois destinos, a destruição e a vida (não há uma terceira alternativa). Pela graça de Deus, aquele que trilhar o primeiro caminho, inevitavelmente haverá de passar pela porta que conduz à vida; é igualmente certo, porém, que aquele que se mantém no segundo caminho eventualmente haverá de entrar pela porta que conduz à destruição.