Texto de Estudo

Mateus 6:19:

19 Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam;

 

INTRODUÇÃO

Nas lições passadas fomos direcionados ao importante assunto das atitudes ou reais motivações do coração e de como elas perfazem as manifestações exteriores de justiça ou piedade. Na lição de hoje, Jesus apresenta o tema das riquezas e a relação que temos com elas, algo direcionado para aquilo que muitos chamariam de “secular”. É como se ao falarmos de esmolas, oração e jejum estivéssemos na esfera “religiosa”, e ao falarmos de dinheiro estivéssemos na esfera “secular” ou “mundana”.

Sem sombra de dúvidas este é um grande engano, pois quando se trata do Reino de Deus e da abrangência de seus valores fica claro que Jesus não põe limites. Nossa perspectiva deve ser integral. Por isso, as riquezas também estão relacionadas à vida do piedoso. Não dá para fazer uma separação. Os três tópicos que veremos a seguir (vv. 19-21, 22-23 e 24) colocarão o assunto “riqueza” em pauta. Veremos também que se trata de questões relativas ao grau de atenção e comprometimento que damos a algo ou alguém.

 

TESOUROS NA TERRA – QUAL A DESVANTAGEM?

Jesus disse aos seus ouvintes: “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam” (v.19). Seguindo o padrão anterior, quando tratou de outros temas, o Senhor começa destacando o sentido negativo da coisa. Que iremos acumular bens aqui na terra é fato. Não é necessariamente sobre isso que Jesus está tratando. O ponto nevrálgico aqui é o “onde”. Onde está a riqueza desejada pelo nosso coração? Então Jesus propõe dois possíveis lugares: a terra e o céu. No comparativo, Jesus deixa sobressair as desvantagens de armazenamento.

O primeiro local de armazenamento é a terra, onde fincamos nossas raízes, sonhamos e trabalhamos para concretizar estes sonhos. O mundo é retratado na perspectiva bíblica como nossa morada passageira. Estamos apenas peregrinando por aqui. É essencial que o discípulo pondere bem sobre onde vai investir todas suas energias, e o que vai controlar seus interesses. Os tesouros que são acumulados na terra sofrerão prejuízos naturais ou por intervenção de terceiros. 

No que se refere aos bens naturais, está em foco a desvalorização ocasionada pela deterioração. O primeiro agente citado por Jesus é a traça. Este é um bem conhecido destruidor. Em Isaías 50:9 e 51:8, como também em Jó 4:19 este tipo de inseto é usado como símbolo de destruição. O segundo agente é a ferrugem.  A oxidação é um fenômeno muito bem conhecido por nós. Sabemos dos seus efeitos. A outra ameaça às riquezas acumuladas na terra é a ação dos ladrões. Mesmo Jesus tendo usado um verbo tão específico quanto “cavar”,  a ideia presente é de que o ladrão vasculha até encontrar o que está procurando. O roubo, pois, se constitui assim numa grande ameaça às riquezas terrenas.

Estaria Jesus descartando uma atitude preventiva? Estamos sendo instigados pelo Senhor a fazer voto de pobreza? Não! A sabedoria dos antigos já propunha princípios de cautela e atitudes previdenciárias para que outros erros não fossem cometidos. O sábio faz a Deus o seguinte pedido: “Não me dês pobreza” para que não “venha [eu] a furtar e profane o nome de Deus” (Provérbios 30:7-9). O pregador aponta para o planejamento de poupar para o futuro como algo bom e sábio (Eclesiastes 11:2).

A questão não é possuirmos riquezas, e sim as riquezas nos possuírem. O sábio também já alertara que o grau de preocupação ou atenção que se dispensa às riquezas é proporcional a quantidade destas riquezas. Ele diz: “Quem ama o dinheiro jamais dele se farta. E quem ama a abundância nunca se farta da renda; também isso é vaidade [...]. Doce é sono do trabalhador, quer coma pouco, quer coma muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir” (Eclesiastes 5:10 12). Claro que esses princípios são genéricos, pois haverá situações em que não serão aplicáveis. Todos aqueles que quiserem seguir Jesus devem guardar esta exortação. Há um grande perigo em nos concentrarmos de tal forma que venhamos a trabalhar para nós mesmos, investindo assim nesta realidade temporal.

A grande força do ensinamento de Jesus aqui atravessa as épocas. O fato de possuirmos todos os recursos terrenos não nos isenta dos problemas neste mundo, nem mesmo de perder estes mesmos bens. Ainda que uma parte permaneça por meio desta vida, nada podemos levar conosco para a outra. Jó estava bem certo quando disse: “Nu saí do ventre da minha mãe, e nu voltarei” (Jó 1:21). 

 

TESOUROS NO CÉU – QUAL A VANTAGEM? 

O contraponto é: “Mas ajunteis para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam” (v.20). Jesus deixa bem claro que a questão não é se devemos ou não acumular tesouros. É fato que buscaremos fazer algo para viver bem, ter o suficiente para o futuro, enfim. A questão é o que buscaremos. E, dependendo de onde estiver aquilo que buscamos, sofreremos ou não prejuízos. Jesus está instigando os discípulos, e a nós também, a sermos sábios em nossas escolhas. Pela perspectiva do Reino, as pessoas mais ricas da terra são aquelas que investem no céu! As riquezas da terra são passageiras, mas as dos céus são eternas e incorruptíveis. Essa é a vantagem.

Que tesouros são esses? São aquelas bênçãos que nos foram reservadas no céu (1 Pedro 1:4), que são celestiais em seu caráter, mas das quais já desfrutamos de um antegozo mesmo agora. Pensemos em nossa posição com Deus como pessoas completamente perdoadas (Mateus 6:14), nas orações respondidas (7:7), no nosso nome arrolado no céus (Lucas 10:20), no amor do Pai (João 16:27), nas boas-vindas, não só às mansões celestiais, mas também ao próprio coração do Salvador (João 14:2-3), numa participação plena na paz de Cristo (João 14:27), na sua própria alegria (João 15:11), na sua própria vitória (João 16:33) e na habitação interior e permanente do Espírito Santo (João 14:16 26; 15:26).  Todos estes e mais outros que poderíamos acrescentar não sofrem ameaças de avarias naturais ou empregadas pelo homem. Eles também não perdem seu brilho. Nas palavras do apóstolo Pedro, são “uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros” (1 Pedro 1:4). Nota-se claramente que as naturezas dos dois tesouros são distintas.

O Senhor Jesus disse categoricamente: “Porque, onde está o teu tesouro, aí estará também teu coração” (v. 21). Aqui está a conclusão de Jesus. Uma breve exortação, uma breve conclusão. O coração, na linguagem bíblica, é a sede do pensar e do sentir, da alma do ser humano. Perceba que ambos os tesouros requerem que o coração esteja nele. Jesus deseja que ponderemos antes de investir. É possível termos ao mesmo tempo bens materiais e os tesouros celestiais? Sim. Mas colocar estas coisas na ordem em que elas precisam estar é o verdadeiro teste para todo e qualquer discípulo de Cristo. Foi ele que disse: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e sua justiça, e todas estas coisas serão acrescentadas” (v. 33). Neste caso, a ordem dos fatores altera o resultado!

 

A LÂMPADA DO CORPO

Jesus passa da comparativa durabilidade dos dois tesouros para o benefício relativo de duas condições. O contraste agora é entre uma pessoa cega e uma pessoa que tem visão, e, consequente¬mente, entre as trevas e a luz em que elas respectivamente vivem: “São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!” (vv. 22-23).

Esta passagem parece estar fora de contexto. O que ela tem a ver com o assunto das riquezas? O relato evangélico neste ponto quer chamar a atenção para o fato de como a luz ou as trevas tem acesso à alma da pessoa. A linguagem aqui é puramente metafórica.

A atribuição aos olhos como porta de entrada para o pecado era algo bem conhecido pelos antigos (cf. Jó 31:1). Talvez esteja aqui a relação com o ponto precedente. Seria natural que o desejo pelas riquezas fosse atiçado pela visão. A estrutura do pensamento de Jesus é apresentada em condicionais “se”, da mesma forma como ele apresentou aquelas ideias em 6:14-15. Aplicada ao problema de possessões materiais, a lição pode ser que, se a pessoa divide a sua atenção entre Deus e as coisas materiais, talvez não esteja focalizando bem nenhum dos dois.

Ainda a palavra grega haplous, “bons”, tem significado singular, e é empregada, algumas vezes, em relação à generosidade (cf. Tiago 1:5; Romanos 12:8; 2 Coríntios 8:2). “Maus” traduz a palavra grega ponéros, algumas vezes utilizada para a disposição mesquinha, rancorosa (cf. Mateus 20:15). Assim entendida, Jesus ensina que a pessoa generosa (olhos bons) anda na luz, mas a pessoa mesquinha (olhos maus) anda nas trevas. 

 

OS DOIS SENHORES

Jesus agora direciona seus ouvintes a pensarem a quem estão realmente servindo, ao dizer-lhes: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (v. 24). O alerta de Jesus agora está relacionado ao grau de compromisso (ou seja, o tempo dedicado) a um Senhor.

Interessantemente Jesus precisa personificar o dinheiro nesta passagem bíblica. Este arranjo presta-se bem a dois objetivos. Primeiro, a pôr um equilíbrio na sentença e no arranjo do discurso, pois se Deus é uma pessoa, as riquezas passam a ser. Em segundo lugar, ao personificar as riquezas (Mamon), Jesus queria impactar seus ouvintes com a realidade que por muitos passam despercebidas: a devoção dada às riquezas chega mesmo a ganhar contornos de adoração a alguém.

Assim como um senhor tem total domínio sobre seu escravo ou servo, o mesmo acontece aqui. No entanto, a reflexão que Jesus está propondo vai além desses pontos. Na realidade, o que Jesus está querendo mostrar é que não dá para servir a dois senhores ao mesmo tempo. As consequências é que o servo logo vai aborrecer ou gerar desagrado a um ou ao outro senhor.

A linguagem forte referente a “amar” e “odiar”, empregada por Jesus, tem o objetivo apenas de enfatizar a natureza radical da vida discipular. Quando Jesus diz odiar, ele quer dizer amar menos. Ou seja, nós podemos deduzir que o ódio não precisa estar presente, mas apenas uma intensidade diferente de amor.

As exigências do discipulado são altas. A salvação veio de graça, mas o discipulado custa caro! A lógica do ensinamento de Jesus é convincente por demais. Um servo até poderia estar na casa de dois senhores, se assim pudesse, para servir-lhes durante o dia. Mas estes senhores não teriam o serviço total deste servo naquele mesmo dia. Podemos ratear nosso serviço, mas Deus não quer ratear seu senhorio! A decisão é nossa, e as consequências também! 

 

CONCLUSÃO

Tudo que estudamos nesta lição vai além das riquezas materiais em si. A principal lição é que o discipulado é algo que se assume sem ressalvas. Em boa parte das vezes em que as Escrituras tratam de riquezas ou dinheiro há relação com algum tipo de tensão ou polêmica. O dinheiro, assim com outros elementos presentes na vida de qualquer ser humano, tem se tornado um elemento de distração. Ou melhor, de foco errado. A avareza, por exemplo, não é uma doença fácil de ser diagnosticada por nós mesmos. O desejo, por mais leve que seja em querer gerir esta vida, sem levar em conta o compromisso com Deus, é perigosíssimo. Por isso, o Senhor nos dá a sentença: quem é rico segundo os ditames da riqueza é pobre para com Deus (Lucas 12:21).

 

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