Texto de Estudo

Efésios 4:11-13:

11 E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, 12 Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; 13 Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo,

INTRODUÇÃO

Dentre os dons ministeriais, concedidos por Deus com vistas à edificação e “aperfeiçoamento dos santos”, nas igrejas locais, está o de “mestre” ou “doutor”. Não é um dom muito reconhecido em geral, nas comunidades cristãs, por falta de entendimento acerca do seu valor, ou até por preconceito contra esses termos. Isso se deve à visão que se tem do que é ser dotado de capacidade para o exercício desse dom ministerial, tão importante quanto os demais dons de Deus. Ou pelo “ar de superioridade” que alguns demonstram no exercício desse dom.

Em parte, também percebe-se que, em muitos casos, os mestres ou doutores não têm a devida humildade no exercício do dom que Deus lhes concedeu. Alguns, ressaltamos, portam-se com diletantismo ou soberba, pelo fato de serem intelectualmente mais galardoados do que outros. Há, no entanto, os mestres, ou doutores, que a despeito de seu elevado grau de conhecimento bíblico, teológico e secular, são humildes e sinceros, colocando-se como servos a serviço das igrejas.

A atividade primordial do mestre, doutor ou ensinador é cuidar do ensino fundamentado da Palavra de Deus. É tão importante que a Bíblia requer que haja dedicação ao exercício desse dom, “...se o seu dom é servir, sirva; se é ensinar, ensine;” (Romanos 12:7). Talvez seja uma das grandes falhas em muitos ministérios, nas igrejas, a falta de dedicação ao ensino. Há pessoas que querem ensinar sem o mínimo preparo para essa atividade. Nos tempos pós-modernos, mais do que nunca, existe a necessidade de bons ensinadores. Há questionamentos e problemas que não havia há alguns anos. O avanço das ciências, das tecnologias, as questões da bioética, as mudanças rápidas no comportamento social provocam questões que exigem não só o conhecimento bíblico e teológico, mas também secular. 

O mestre precisa ter o cuidado de não se considerar superior ao pastor ou dirigente de uma congregação, pelo fato de ter mais conhecimento que a média dos obreiros. Humildade, modéstia, sabedoria e equilíbrio são qualidades indispensáveis aos que são dotados por Deus de mais capacidade para se dedicarem ao ensino. Mais cuidado ainda deve ter o mestre, pois dele será requerido mais, como diz Tiago: “Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor” (Tiago 3:1).

Observo que na passagem aos Efésios 4:11-13, Paulo coloca este dom lado a lado com o dom de pastorear. Em meu ministério pastoral, de mais de 35 anos, certamente acredito que os pastores devem também ser mestres, mas nesta lição quero olhar especificamente o dom do ensino. 

Este dom pode ser exercitado em várias configurações. Encontramos professores em escolas públicas, faculdades e universidades, bem como em outros locais, mas as referências do apóstolo Paulo são especificamente feitas para o uso na igreja. Assim, meus comentários ficarão confinados no modo como este dom é efetivamente utilizado dentro da igreja.

 

O DOM ESPIRITUAL DO ENSINO

Tenho apreciado especificamente os escritos de um teólogo batista do sétimo dia, que escreveu extensivamente sobre o dom do ensino. O Dr. Wayne Rood tem sido muito útil para mim, na compreensão da singularidade do ensino na educação cristã da igreja. Ele afirma: “O conteúdo do cristianismo é especial porque é criativo em seu próprio entendimento.  Na educação cristã da igreja local, Deus se revela – infinito, eterno, santo e absoluto. Através do estudo da vida de Jesus, o Cristo, como registrada na Bíblia, nos encontramos entrando em um relacionamento com o Deus Todo Poderoso, criador do universo”. 

À medida que o dom espiritual do ensino é exercitado no contexto da igreja, os membros individuais se encontram em um diálogo que é único. Eles se encontram não somente em diálogo com o professor e o conteúdo material, mas é nesta interação que eles frequentemente se encontram em diálogo direto com Deus. O professor, cheio do Espírito, capacita este diálogo para o aluno.

A palavra Mestre, nas Escrituras, tem o sentido de designar “uma pessoa que é superior às outras, em poder, autoridade, conhecimento ou em algum outro aspecto”.  No hebraico, a palavra 'adon que dizer “soberano” ou “senhor”. A palavra “rab” designa um “professor comum”. Com relação a Jesus, foi usada a palavra “rabi” (cf. João 4:31), indicando que ele era um mestre superior. As pessoas chamavam de “meu mestre”, “meu Senhor”, a quem tinha esse título. Jesus recebeu esse tratamento diversas vezes (João 1:38-49; 3.2,26). Quando Jesus ressuscitou, Maria usou a palavra “raboni”, quando o reconheceu. “Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer Mestre)!” (João 20:16). Em seus ensinos, “O Senhor Jesus proibiu o uso deste termo entre os discípulos por causa do orgulho e da exaltação pessoal com que era utilizado entre os fariseus (Mateus 23:7-8).”  

Podemos afirmar também que, embora nem todos tenham o dom de ensinar, é verdade que todas as pessoas “ensinam” em algum sentido da palavra ensinar. Mesmo quem nunca sonharia em ensinar uma classe de escola bíblica lê histórias bíblicas para seus próprios filhos e explica-lhes o significado –na verdade, Moisés ordenou aos israelitas que fizessem exatamente isso com os filhos (Deuteronômio 6:7), explicando-lhes as palavras de Deus enquanto estivessem assentados em casa ou andando pelo caminho. Dessa forma, devemos dizer por um lado que nem todos têm o dom de ensino. Mas por outro lado devemos dizer que há alguma capacidade geral relacionada ao dom de ensino que todos os cristãos possuem. Outra maneira de expressar isso seria dizer que não há nenhum dom espiritual que todos os fiéis possuam, mas há uma capacidade geral semelhante a todo dom que todos os cristãos têm. 

 

O DIÁLOGO: FERRAMENTA INDISPENSÁVEL AO MESTRE

Diálogo, para o professor da fé cristã, estabelece um encontro entre duas pessoas, com ambas querendo mais do que somente discussão sobre uma ideia, mas que estão juntas buscando um relacionamento com Deus. E, à medida que buscam juntos esse relacionamento singular, são confrontadas por Jesus Cristo, que demonstra que Deus é mais do que somente outra pessoa; Deus é, de fato, um ser que transcende tempo, espaço e personalidade. Para entrar neste relacionamento, o professor e o aluno são confrontados com alguns outros conceitos que certamente serão produtivos, além de animadores. 

O primeiro destes conceitos é amor, não no sentido dos filmes românticos ou de comédia romântica, ou das manchetes de jornais. Mas no sentido bíblico, radial, como é definido nos atos de Deus com e para os humanos. O amor Ágape (de Deus) é contrastado com eros (amor físico, entre um homem e uma mulher) ou philia (amor fraternal, entre familiares). O amor ágape é o amor que não busca dominar a pessoa amada, mas capacitar nela um amor do mesmo tipo. Este amor não é oposto à ira de Deus, mas está incluído nela, pois em Deus parece que o juízo tem exatamente o mesmo propósito do amor: criar amor.

O segundo destes conceitos é pessoa, e é usado aqui para falar de um indivíduo em relacionamento com outro humano. Ser uma pessoa é estar em atuação dinâmica e refletir um relacionamento mútuo com todas as coisas – objetivo, subjetivo, corporativo e divino.

O terceiro conceito de diálogo é experiência, que já pode ser entendido em sua definição. A educação cristã é a estruturação da experiência através da imaginação e da expressão que possibilita a comunicação completamente aberta entre humanos, o que os ajuda a superar a separação e os muros que limitam a experiência comunitária.

O quarto conceito é encontro, porque descreve o evento no qual o homem entra em um relacionamento com Deus. Um encontro é a reunião que implica o impacto de sair de uma distância e uma separação, que traz à tona uma unidade na qual o sujeito formal e o objeto são transcendidos e a verdade emerge. É um encontro criativo do humano limitado com o Deus ilimitado através da encarnação na qual Jesus Cristo aparece para a salvação de humanos. Neste encontro, a comunicação acontece em muitos níveis e em muitas variedades, a maioria delas superficiais, causais e ambíguas. A comunicação, contudo, é definida por esse relacionamento no qual há um contato real que é um encontro olho no olho e de coração a coração.

O quinto conceito que ajuda a definir o diálogo é comunidade. É uma palavra importante, valorizada e corajosamente preservada pelos primeiros cristãos sob o nome grego “Koinonia”. Também incluída neste termo está a palavra ativa “comunhão”, referindo-se à prática de estar junto. A comunidade cristã celebra a comunhão, a união de todas as coisas em Deus. O professor cheio do Espírito precisa compreender que tal comunhão é parte do diálogo, e sua celebração é uma função do ensino e da comunidade.

Diálogo (o ensino e aprendizagem do cristianismo) é pessoal, o sexto conceito que ajuda a definir o diálogo. Diálogo é algo que caracteriza a existência humana. A posição cristã é que humanos são pessoas porque estão relacionadas a quem Deus é, se não a Pessoa que ele é, ao menos a base da existência humana. Ela contém o pensamento de Deus se voltando para o homem e a resposta do homem a essa atenção de Deus. No nível humano, diálogo é uma oportunidade oferecida por um humano a outro de ser pessoal, ou seja, de decidir como reagir a outra pessoa. Ambos os participantes estão se tornando pessoas, e o diálogo resultante é uma interação pessoal.

O sétimo conceito relacionado ao diálogo é distância. Há coisas que dividem pessoas umas das outras. Há forças na cultura moderna que alienam pessoas umas das outras, de sua sociedade, de seu mundo físico, na verdade, de si próprias. Há diferenças de idade, experiência e conhecimento construídas na vida que caracterizam todo ensino e aprendizagem. Abismos não precisam ser abertos, eles estão em toda parte; não precisam ser descobertos e entendidos. Para o cristão, o modelo é a revelação de Deus, de si mesmo. Assim, o abismo entre o infinito e o finito não deve ser eliminado, mas ser ligado pela tentativa direta de estabelecer um relacionamento.

O oitavo conceito que está relacionado ao diálogo cristão é movimento. Não há oportunidade para mudança sem movimento. Movimento pode ser uma atitude interna de mudança ou uma intenção, e pode ser tão real a ponto de ser acompanhado por uma tensão muscular, uma aceleração do pulso e um sabor físico de sal. Mudança implica mover-se ao desconhecido, um empreendimento de fé. Pode envolver atos reais de amor e fé. O primeiro movimento é iniciativa, e é um ato de amor. Uma vez que os abismos estão sempre presentes, alguém deve assumir o risco de agir primeiramente. Todos os professores conduzidos pelo Espírito são ouvintes e observadores, sempre atraindo reação por sua consciência plena. O segundo movimento é resposta, e é sempre um ato de fé. O ato mais pessoal e íntimo é escolher responder. Vale a pena esperar e entender o ato de convidar. Há tantas barreiras e inibições na vida moderna a serem superadas, que a resposta é uma habilidade a ser cultivada, e requer o Espírito Santo ativo no processo.

E não podemos esquecer que o diálogo cristão requer conteúdo especial, o novo conceito. Conteúdo é o elo que une pessoas e as mantém unidas. A abordagem de Deus ao homem foi um Verbo, uma encarnação, na pessoa de Jesus Cristo. Jesus vindo ao mundo como homem foi um ato pleno de significado. O estabelecimento e a manutenção de diálogo entre seres humanos dependem de um conteúdo que se estende através das minúcias da experiência individual até os interesses definitivos de alegria, liberdade, verdade, ansiedade, culpa e estranhamento. O “conteúdo” que definitivamente apoia o diálogo não é um sinal, mas a própria presença de Deus.

O décimo conceito é criativo. Por ser iniciado pelos atos de Deus, o Criador, o diálogo cria sua própria realidade. O professor cheio do Espírito, à medida que se envolve no processo do diálogo, descobrirá dentro de si mesmo talentos e recursos que nunca soube que possuía. Também descobrir-se-á em atividades e riscos que nunca sonhou em assumir. Diálogo é, portanto, não somente o dom da tradução ou da transmissão; é um método de descoberta, um processo de aprendizagem para todos os envolvidos.

E finalmente, o décimo-primeiro conceito de diálogo é redentor. Todo o conteúdo bíblico é a evidência de que o propósito e a realização divinos em Deus se relacionar com o homem são a necessidade humana de salvação. É importante tornar claro o fato de que o diálogo entre seres humanos é redentor porque Deus está ativo “onde dois ou três estiverem reunidos” em seu nome, transmitindo o diálogo inter-humano, contribuindo para o diálogo divino-humano. Onde quer que o diálogo seja introduzido na presença de Deus, cura espiritual, cura emocional e cura mental acontecem. O professor cheio do Espírito deve estar preparado para participar desta possibilidade.

 

O PAPEL DOS MESTRES

A necessidade do ensino da Palavra de Deus requer pessoas preparadas para ministrá-la com sabedoria, graça e unção da parte de Deus. Diante disso, vem o papel dos mestres e doutores. São pessoas que se dedicam ao ensino (cf. Romanos 12:7). Eles não se consideram superiores aos demais irmãos, pelo fato de terem recebido o dom de ensinar. Mas pela dedicação constante ao estudo e à pesquisa bíblica, reúnem informações e subsídios, extraídos das Escrituras, para compartilhar com toda a igreja.

Como afirmei acima, quando o pastor da igreja local reúne em si a condição de pastorear e ensinar, a igreja é bem servida com o ensino bem fundamentado que atende às necessidades espirituais dos cristãos. Mas, como foi dito antes, nem todo pastor é mestre. Mas todos são apascentadores, que zelam, cuidam, vigiam e protegem o rebanho de Cristo aos seus cuidados. Os mestres, doutores ou ensinadores, que recebem o dom de ensinar, podem (e devem) cooperar com a liderança da igreja na ministração de estudos valiosos e profundos para a edificação dos cristãos. A importância do Dom do Ensino na igreja é ímpar, pois Igrejas sem mestres são igrejas fracas espiritualmente. Em nossa sociedade atual, permeada pelo pós-modernismo, deve-se reconhecer a importância e a necessidade do ministério do ensino. É por meio do ensino sadio, sistemático, racional e inspirado pelo Espírito Santo que a igreja se justifica contra as falsas doutrinas e que se fortifica contra os ataques espirituais de Satanás.

 

REQUISITOS PARA SER UM BOM MESTRE

Um bom ensinador, mestre ou doutor é pessoa que, usada por Deus, na unção do Espírito Santo, pode muito contribuir para a edificação espiritual e moral dos cristãos. Para ser um bom mestre, na igreja, são necessários alguns requisitos:

•Os cristãos que têm o dom de ensinar buscam a verdade incessantemente. 

•Os que têm o dom para serem Mestres estudam diligente e profundamente as Escrituras, como um arqueólogo que cuidadosamente peneira artefatos de civilizações passadas, na esperança de encontrar respostas para as inúmeras perguntas. 

•A paixão de um Mestre por descobrir e validar a verdade é louvável, mas ele não deve tornar-se tão focado em sua missão que perde o equilíbrio em sua perspectiva sobre o seu papel. 

•Os Mestres ajudam a manter a Igreja focada na verdade. Eles estão alertas para a falsa doutrina e de forma alguma apoiam experiência sobre a autoridade das Escrituras. 

•Um Mestre, instintivamente, questiona qualquer coisa que pareça imprecisa, e, geralmente, a dúvida o motiva a buscar as respostas necessárias para estabelecer a verdade.

•É necessário que a pessoa com este dom apresente-se a Deus, pois as Escrituras recomendam: “Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar, que maneja corretamente a palavra da verdade” (2 Timóteo 2:15a). Um bom mestre deve ser um obreiro aprovado por Deus, e não apenas nas faculdades de teologia ou seculares. O que ensina deve ser aprovado:

oNo testemunho pessoal (1 Timóteo 4:16; 2 Timóteo 4:5).

oNa vida familiar (SI 128.1).

oNa vida social (Mateus 5:16).

oNa igreja (Eclesiastes 5:1-2).

•“Que não tem de que se envergonhar.” (2 Timóteo 2:15b). Quem é mestre precisa ser exemplo dos fiéis (1 Timóteo 4:12). Deve ter uma vida íntegra, para não ser alvo de acusações por parte dos que o ouvem ou dos de fora da igreja. Se um ensinador dá escândalo compromete seu nome, sua imagem e seus ensinos.

•“Maneja corretamente a palavra da verdade...” (2 Timóteo 2:15c). Esse requisito é muito importante, porque o mestre ou doutor é o homem que faz uso da Palavra de Deus para ministrar o ensino à igreja. Seu manual de ensino é a Bíblia Sagrada. Ele deve conhecer bem a Palavra para poder preparar estudos, mensagens e reflexões a serem compartilhadas, verbalmente ou por escrito, para a edificação da igreja. 

 

CONCLUSÃO

O dom ministerial de mestre ou doutor é de fundamental importância para a edificação dos crentes, em todas as igrejas. Ao lado dos outros dons ministeriais, contribui para o fortalecimento da fé cristã, propiciando conhecimentos bíblicos e teológicos, que preparam os discípulos de Jesus. Ser mestre ou doutor não é sinal de superioridade diante dos que não possuem tais dons. Significa mais responsabilidade diante de Deus. Se você tem esse dom, sirva, humildemente, à igreja de Cristo.