Texto de Estudo
Sofonias 3:1-2:
1 AI da rebelde e contaminada, da cidade opressora! 2 Não obedeceu à sua voz, não aceitou o castigo; não confiou no SENHOR; nem se aproximou do seu Deus.
INTRODUÇÃO
O primeiro verso do livro de Sofonias nos dá a ficha do profeta. Sofonias é um dos profetas chamados menores. Seu nome em hebraico, “Zephaniah”, significa “Yahweh escondeu”. Esse homem não foi um pregador comum. Ele era tetraneto do rei Ezequias, um dos governantes mais famosos de Judá. O sangue real corria em suas veias, mas, mais importante ainda, ele tinha a mensagem de Deus nos lábios. Sofonias viu além da superfície. Ele viu o coração das pessoas e soube que o fervor religioso delas não era sincero. As reformas foram superficiais. O povo livrou-se dos ídolos que tinham em casa, mas não dos que tinham no coração. Os governantes da terra ainda eram gananciosos e desobedientes, e a cidade de Jerusalém era a fonte de todas as perversidades da terra. Mesmo hoje, falta discernimento a muitos cristãos, por essa razão a mensagem de Sofonias é atual.
Exerceu o seu ministério no tempo de um dos maiores reis de Judá, Josias, que reinou em Judá, entre 640-609 A.C. Durante o reinado desse rei houve um grande avivamento (2 Crônicas 34:3-7; 29-33). No entanto, o ministério de Sofonias não foi exercido no momento mais admirável da vida de Judá. De acordo com Coelho Filho, o seu ministério aconteceu no começo do reinado de Josias, época em que ainda havia resquícios dos vícios de reis anteriores – Manassés e Amom, tempo de grande declínio moral e espiritual. Assim, a mensagem do profeta é, em primeiro lugar, de duro juízo, para depois ser de esperança.
O objetivo deste breve comentário, de natureza essencialmente pastoral, é mostrar Deus como o supremo juiz, não somente do seu próprio povo, mas de todas as nações, após paciente espera de arrependimento. Mas também um Deus de esperança, que tem planos para o seu povo e para todos os povos.
DEUS É JUIZ DE TODA A TERRA
A mensagem geral do livro é de que Deus julga a todos indistintamente. A linguagem de Sofonias, como porta-voz do juízo de Deus sobre Judá, e sobre o mundo, é forte. Observe-a: “consumirei” (v. 2), “consumirei” (v. 3), “estenderei a minha mão”, “exterminarei” (v. 4).
As primeiras palavras de Deus são de juízo, dirigidas inicialmente a todos os seres vivos (vv. 2-3), afunilando então até chegar a seu próprio povo, Judá, e mais especificamente aos habitantes de Jerusalém (vv. 4-6). Não somente são identificados os que serão punidos, mas também são indicados alguns de seus pecados. O Senhor apresenta-se como alguém pessoalmente envolvido no julgamento que faz, o qual será completamente devastador. Assim, logo após a apresentação do profeta de Deus no verso 1, teríamos um duplo anúncio de juízo universal. Essa interpretação faz coro com a mensagem restante do livro, que trata não somente do juízo de Deus sobre Judá, mas também sobre todos os povos.
Deus começa o seu juízo pelo seu próprio povo. Ele não somente salva e recompensa, mas também disciplina o seu próprio povo, pelos pecados que comete. Vemos aqui alguns motivos do juízo divino sobre Judá.
1. Deus condena a idolatria (v. 4). Dois deuses muito adorados por povos vizinhos à Judá pervertiam a fé religiosa do povo de Deus. Um desses deuses era Baal (nome genérico do deus dos canaanitas). O outro era Milcom (deus de vários povos – cananeus, amonitas, fenícios e cartagineses). O culto a Baal praticava a licenciosidade, visto que sacerdotisas prostitutas eram suas ministras. Milcom ensejava o sacrifício de crianças (Levíticos 18:21-27,28). Ambos os cultos representavam, respectivamente, licenciosidade (imoralidade) e crueldades (crime).
2. Deus condena o sincretismo religioso (v. 5). Além disso, havia o culto ao “exército do céu”, que parece ser um culto astral da Assíria. Israel e Judá foram grandemente afetados por tal culto, característico de nações do oriente (2 Reis 21:3-5; 23:5,6; Jeremias 7:17-18; 44:17-19,25). “Os que sobre os eirados adoram o exército do céu, e os que adoram ao Senhor e juram por ele e também por Milcom”. O que é isso senão sincretismo religioso? Á semelhança dos atenienses, nos dias de Paulo, parece que não queriam incorrer no erro de deixar de fora nenhum deus (Atos dos Apóstolos 17:16-22,23)! A expressão “quemarins” (v.5, RC) é a forma plural do hebraico komer, que é utilizada aqui em referência a sacerdotes pagãos. Trata-se de ministradores dos ídolos. Ou seja, alguns sacerdotes haviam aceitado a ideia de ministrar também em altares erguidos a deuses pagãos. Ainda hoje, tal prática se repete quando obreiros do Senhor acham nada demais trazer para a igreja, para sua liturgia e para as mensagens a serem pregadas na Casa do Senhor, elementos e recursos do culto pagão. Isso é sincretismo religioso, é misturar o santo com o profano, a luz com as trevas.
3. Deus condena os que deixam de segui-lo (v. 6). Entre os habitantes de Judá também havia aqueles que deixavam de seguir o Senhor. Há também aqueles que se afastaram do Senhor e se tornaram totalmente indiferentes a ele. Deus não aceita divisão de devoção nem mesmo o abandono da fé verdadeira. Temos, então, três tipos de pessoas que estão sob o julgamento do Senhor e correm perigo em “o dia do Senhor”: 1) Os indiferentes que levam a vida sem se preocupar com as coisas espirituais; 2) Os desviados que se afastaram de uma experiência anterior; e 3) os divididos que com a boca dizem servir a Deus, mas ao mesmo tempo honram outro deus como rei de suas vidas e não prestam submissão total ao Senhor. Ou Deus é o Senhor de tudo ou não é o Senhor de nada.
4. Deus julga de maneira especial as classes que detém o poder (vv. 7-13). Embora o juízo de Deus recaia sobre todos, independentemente de classe social, algumas classes, por causa de suas responsabilidades e privilégios serão objeto especial da condenação divina. Privilégios acarretam grande responsabilidade. São as classes que detém o poder. “Os oficiais e os filhos do rei”, representavam a classe política. Moravam no palácio. Eles vestiam “vestiduras estrangeiras”, o que denota influência da cultura e costumes da cultura de outros povos.
O julgamento divino recai também sobre a classe religiosa. A expressão “sobem o pedestal dos ídolos” presume que o que é dito aqui se refira à classe religiosa. Ao que parece esta expressão sempre esteve associada ao templo (1 Samuel 5:5) e represente uma superstição vinda da religião dos filisteus. Seria isso um modismo introduzido na religião de Israel, advindo de uma religião pagã?
Os comerciantes não escapam do juízo celestial. Os empresários que tinham o seu comércio na “porta do peixe”, que moravam na parte mais elevada da cidade, os que mexem com a prata, mas que desdenhavam do Senhor, dizendo “o Senhor não faz bem nem faz mal” (v. 12). Era um panorama tão contemporâneo quanto alarmante. Quer para o bem, quer para o mal, achavam que Deus não agiria. Para eles, a deidade estava ausente ou adormecida - um ateísmo prático.
4. Deus julga num tempo determinado (vv. 14-18). Esse juízo aconteceria num dia terrível, que Sofonias, fazendo coro com outros profetas, denomina de “dia do Senhor”. É o profeta que mais usa esta expressão (1:7,8,9,10,14,15,18; 2:2,3; 3:8). Este dia não precisa ser interpretado necessariamente como um dia, literalmente falando, mas sim um período em que Deus exerce o seu juízo. No caso de Judá, esse dia (período) começou no ano 605 A.C. e terminou em 587 A.C. A intervenção de Deus, seja na história, seja no final, no Grande Juízo, sempre será um dia dramático, especialmente para os que não estiverem preparados. Deus nunca julga por nada. O seu arbitramento sempre vem após aviso e um longo período de paciência e espera. Também o seu veredito sempre vem como consequência do pecado praticado, como visto nos versos anteriores deste capítulo.
O poder econômico (e nenhum outro poder) não poderá fazer alguma coisa quando o juízo de Deus se abater sobre os que são objetos da sua intervenção soberana. A devastação de Judá (e/ou do mundo) seria muito grande. No caso de Judá, somente os pobres ficariam na terra. As riquezas seriam levadas. A agricultura totalmente devastada. O povo totalmente humilhado.
É mister observar que Deus julga, mas dá ampla oportunidade para o arrependimento. Os três primeiros versos do capítulo 2 nos falam de uma chamada de Deus a Judá ao arrependimento. Deus nunca condena sem antes dar chance ao pecador de se arrepender. Ele não tem prazer em condenar, punir, ou castigar. Somente o arrependimento nos porá debaixo da proteção divina.
DEUS JULGA AS DEMAIS NAÇÕES PELOS SEUS PECADOS (2:4-15)
O profeta cita quatro nações pagãs como exemplos dos julgamentos iminentes. Duas são pequenas e estão perto de Judá. Os filisteus, mencionados em primeiro lugar, estão na verdade na Palestina. As outras duas são grandes e estão longe. A Assíria, mencionada por último, era a grande ameaça ao povo de Deus nos dias de Sofonias. Esta nação destruíra o Reino do Norte e conduzia o Reino do Sul à ruína. As quatro são inimigas de Israel em direção ocidental, oriental, sul e norte.
1. Deus julgaria a Filístia (vv. 4-7). Deus lida com os pecados das nações, não para que Judá se glorie sobre outras nações, mas para que lhe sirva de lição. Seria injusto se Deus julgasse o seu povo e fizesse vistas grossas aos pecados das outras nações. Os filisteus foram um dos maiores inimigos do povo de Deus. Quatro das suas maiores cidades seriam objetos do juízo de Deus: Gaza, Asquelom, Asdode e Ecrom.
2. Deus julgaria Moabe e Amom (vv. 8-11). Moabe e Amom eram descendentes de Ló. Os crimes dos Amonitas eram graves. Incluía saques, crueldade contra grávidas, incineração de corpos, algo muito, grave para os judeus (Amós 1:13; 2:1-3); adoravam a Baal. Moabe também adorava o mesmo deus. Como castigo, tornar-se-iam como Sodoma e Gomorra – seriam destruídas. Essas cidades, pelo seu pecado e destruição se tornaram épicas na literatura profética do Antigo Testamento.
3. Deus julgaria o Egito (v. 12). Segundo Coelho Filho, os etíopes ocupavam o Egito nessa época. É possível que já estivessem sob o juízo de Deus – ocupação estrangeira. Os etíopes eram inimigos duros e numerosos. Somente um versículo neste capítulo é dedicado à mensagem do Senhor aos povos do sul, os etíopes. E uma mensagem bem áspera e, como é Deus quem está falando, seu julgamento será inevitável.
4. Deus julgaria a Assíria (vv. 13-15). A Assíria era uma grande potência naqueles dias. Terror das pequenas nações – cruel; a mais cruel de todos os impérios do oriente. Destruiu o Reino do Norte – Israel (2 Reis 17). Sofonias antecipa os acontecimentos de Naum, sobre a queda de Nínive. Já estava em declínio, nessa época. Alguns dos seus pecados são aqui aludidos: a) Empáfia: “Eu sou a única, e não há outra além de mim” (v. 15); a Babilônia, mais tarde, também usaria da mesma empáfia (Isaías 47:8). São palavras que Deus usou para si. Só Deus é autossuficiente; b) Nínive, a sua capital, desdenhava da cultura dos outros povos. Hoje isso também existe. Como resultado, Nínive hoje jaz em ruínas. Quem passa por ela meneia a cabeça (v. 15). O juízo de Deus recairia ali de maneira repentina, tornando toda aquela região útil apenas como pastagem.
DEUS JULGA, MAS TAMBÉM PROMETE RESTAURAÇÃO (3:1-20)
O julgamento de Jerusalém volta a ser abordado ao final do livro. Deus inicialmente destaca que o povo de Israel, infelizmente, não dava ouvidos aos seus alertas (Sofonias 3:2), nem mesmo diante do cumprimento de outros castigos divinos profetizados sobre outras nações (Sofonias 3:6-7). Ademais, a descrição que Deus faz da corrupção das principais autoridades civis e religiosas do povo demonstra o terrível estado daquela nação: príncipes e juízes corruptos e opressores, profetas levianos e aleivosos, aproveitadores, enganadores; e sacerdotes profanos e que violentam a Lei (Sofonias 3:3-4).
No entanto, a profecia de Sofonias termina com uma mensagem de esperança, de restauração. A última parte da profecia de Sofonias é muito importante porque o julgamento que Deus exerce, seja sobre o seu povo e/ou sobre as nações, não é um fim em si mesmo. Deus julga, mas o seu julgamento também significa purificação e restauração. Seria duvidoso um Deus que só condena. Não! Deus é Deus que, na sua justiça, condena e purifica, mas que também é cheio de graça, para restaurar a sorte daqueles que permanecerem fiéis a ele ou daqueles que se convertam pela sua mensagem de arrependimento.
O leitor, ao ler esse capítulo (bem como outras partes desse livro), talvez se pergunte se tudo aqui se relaciona aos dias do profeta, ou seja, a um futuro próximo, não muito longínquo, como o cativeiro babilônico e sua restauração, ou a um futuro distante, seja aos dias de Jesus, ou ainda além dos nossos dias. A linguagem empregada é, por vezes, tão idealizada que nos leva a pensar que esses dias ainda não aconteceram. A menos que não se interprete literalmente o que está escrito. Parece-nos que, nos escritos proféticos, sempre haverá essa dupla (ou tripla) aplicação, ou seja, material que se relaciona a eventos que aconteceriam, e já aconteceram, e profecias que ainda haverão de acontecer.
1. Deus restaurará as nações (v. 9). No verso 9 temos a conversão de todos os povos ao Senhor. Deus não está interessado apenas na restauração dos fiéis do povo de Israel. Antes da morte de Cristo na cruz, havia uma enorme diferença no relacionamento de judeus e gentios entre si e com o Senhor. Porém, o muro de separação foi derrubado (Efésios 2:11), e ambos podem participar das bênçãos espirituais que vêm pela fé em Cristo. "Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" (Romanos 10:12-13). O milagre da graça de Deus será demonstrado na era do reino quando as nações gentias crerem e adorarem o Deus de Israel. O mundo todo é objeto do amor divino (João 3:16; 1 Timóteo 2:4). Naquele dia, todas as nações, tribos e povos, de todas as línguas estarão diante de Deus, louvando-o e ao Cordeiro pela sua salvação (Apocalipse 7:9-10).
2. Deus restaurará o remanescente de Israel (vv. 10-20). Aqui fala da restauração do remanescente de Israel, em vários aspectos: a) os dispersos serão congregados novamente (v. 10); a culpa e os rebeldes serão eliminados da vida do povo de Deus (v. 11); só ficarão aqueles que confiam no Senhor (v. 12); e estes viverão em plena santidade, sendo apascentados pelo Senhor (v. 13).
Encontramos aqui uma lição prática para nosso tempo, a qualquer um do povo de Deus que tenha se afastado da vontade do Senhor e passado por sua disciplina. Se nos chegarmos a Deus com um coração quebrantado, tendo confessado nossos pecados, o Senhor nos receberá. Ele nos amará e até cantará para nós. Trará paz a nosso coração, nos renovará "no seu amor". Sem dúvida, nossa desobediência causa sofrimento e, por vezes, levamos conosco as cicatrizes dessa desobediência para o resto da vida. Porém o Senhor nos perdoará (1 João 1:9), esquecerá nossos pecados e nos restaurará à sua amorosa comunhão. William Culbertson, falecido presidente do Instituto Bíblico Moody, às vezes terminava suas orações públicas dizendo: "E, Senhor, ajuda-nos a suportar as consequências dos pecados perdoados e a terminar bem". Mesmo depois de perdoado, o pecado tem consequências, pois ainda que Deus, em sua graça, nos purifique, em sua soberania ele diz: "Você colherá aquilo que semeou".
Os versos 14-17 formam um belíssimo salmo ou cântico. A ênfase é no júbilo. Não é para menos, visto o que foi profetizado anteriormente. Vários motivos de júbilo são aqui mencionados: a) as sentenças contra Israel seriam afastadas, bem como os seus inimigos; a presença do Rei de Israel no meio do seu povo e o término do mal seriam uma realidade (v. 15); o medo daria lugar à proteção feita pelo poderoso Senhor, ao amor renovado e ao regozijo.
Por último, após o cântico antecipado de regozijo, Sofonias termina o seu livro enumerando mais algumas promessas ao remanescente de Israel (vv. 18-20). Nas palavras de Baker: “A profecia não termina com a jubilosa reação do povo diante da bondade de Deus (vv. 14-17), mas com outras bênçãos prometidas por Deus. Haverá alívio da opressão, da separação e do sofrimento, tudo isso é substituído pelo repatriamento, pela ovação e pela abundância.”
CONCLUSÃO
“Diz o Senhor”. E este um voto solene da parte de Deus. Ele faz o que promete. Sofonias começa e termina sua profecia com a forte convicção de que é o Senhor quem está falando. A implicação disso é bastante clara: ouçam e vivam!
Quanta coisa para pensar e ponderar! Vejas as perguntas abaixo e reflita sobre o que você estudou nessa lição.