Texto de Estudo

Jonas 4:10-11:

10 E disse o SENHOR: Tiveste tu compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer, que numa noite nasceu, e numa noite pereceu; 11 E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que estão mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?

INTRODUÇÃO

O profeta Jonas é um dos meus personagens favoritos da Bíblia. Não sei o porquê, mas tenho uma ligação forte com ele e sua história. Acho este pequeno livro da Bíblia de uma riqueza impressionante.

O tema do livro de Jonas enfatiza que a misericórdia e a compaixão de Deus estendem-se para além de Israel, incluindo as nações pagãs, desde que se arrependam. Sendo assim, é dever de Israel testificar perante elas a fé verdadeira; negligenciar essa tarefa pode levar a nação, como foi o caso de Jonas, às águas profundas da aflição e do castigo.  Creio que o mesmo é verdade para a igreja hoje. Temos a obrigação de testemunhar nossa fé e do amor de Cristo. Precisamos anunciar o evangelho a um mundo perdido para que pecadores se arrependam e sejam salvos. Se falharmos nisso, podemos enfrentar o mar bravio!

 

CARACTERÍSTICAS HISTÓRICO-ESTRUTURAIS

Jonas é, certamente, um profeta bem diferente dos demais chamados de “menores”. Ele teve um chamado missionário, e fez o que foi possível para fugir dessa vocação divina. Depreende-se neste livro uma tríplice mensagem: demonstrar a Israel (Reino do Norte) e às nações pagãs a magnitude e a ampliação da misericórdia divina através da pregação do arrependimento; demonstrar, através da experiência de Jonas, até que ponto Israel (Reino do Norte) decaía de sua vocação missionária original, de ser luz e redenção aos que habitam nas trevas (Gênesis 12:1-3; Isaías 42:6-7; 49:6) e lembrar ao Israel apóstata que Deus, em seu amor e misericórdia, enviaria à nação, não um único profeta, mas muitos fiéis, que entregariam sua mensagem de arrependimento.

O nome Jonas (Yônãh), segundo Hilmar Furstenau, significa “manso como uma pomba, feroz como um leão”. Esse profeta aparece na Bíblia em 2 Reis 14:25 como aquele que predisse que as conquistas de Jeroboão II (793-753 a.C.) teriam grande alcance. Sua cidade natal era Gate-Hefer, e era da tribo de Zebulom, no norte de Israel.

Jonas viveu num período em que Israel corria o risco de ser extinto como nação. Como diz 2 Reis 14:27. “Ainda não falara o Senhor em apagar o nome de Israel de debaixo do céu”, mas estava perto de tomar tal decisão. Além disso, aquele era um tempo de quase total socialização da pobreza. Naquele tempo, “não havia nem escravo nem livre” (2Re 14:26), pelo fato de que as classes sociais se tinham quase que unificado, tendo a classe média desaparecido por completo, e diminuído muito a riqueza privada, se bem que as pessoas de posse não haviam desaparecido totalmente. Em outras palavras: havia uma minoria rica realmente rica (2Re 15:20). O empobrecimento radical dos pobres era alarmante. Paradoxalmente era tremenda a expansão militar, e Israel atingira um nível bastante estável de segurança nacional. Jeroboão II restabelece as fronteiras e conquista espaços pela via das forças armadas; enquanto isso, a angústia social do povo era horrível. Não havia o menor vislumbre ou esperança de mudanças radicais, pois não se contava com ninguém que socorresse Israel (2Re 14:26). Em consequência de tal situação, Jonas se transformou num profeta extremamente politizado; por conseguinte, ideologizado. 

A mensagem do livro de Jonas é como uma pérola escondida. Para encontrar essa pérola, temos de observar o jeito de o autor narrar a sua história. A mensagem não está numa única frase do texto, mas no todo do enredo e das palavras e, não raro, nas entrelinhas.  

O livro contém 48 versículos distribuídos em quatro breves capítulos. Apesar de começar com estrutura profética (1:1), a mensagem é apresentada em estilo biográfico. Não deixa, contudo, de ser uma profecia da história de Israel, ao mesmo tempo em que anunciam o ministério, a ressurreição e a obra missionária de Cristo (Mateus 12:39-41; 16:4). O tema principal do livro é a infinita misericórdia de Deus e a sua soberania sobre todas as nações.

Nos quatro capítulos de seu relato, Jonas apresenta as experiências por que passou e as lições que aprendeu. Vejamos:

 

A INDIFERENÇA DO PROFETA

Os três primeiros versos do livro apresentam o assunto do livro todo. Deus envia um mensageiro a Nínive para pregar contra ela. Este envio desencadeia uma série de ações por parte de Jonas. A ordem divina transforma-se numa história que somente termina no último versículo do livro.  Acontece que o profeta, em vez de ir para Nínive, correu na direção oposta. Ele fugiu “da presença do Senhor”, o que significa que negligenciou seu chamado de profeta. 

Ele sabia que não poderia fugir da presença do Senhor (SI 139:7ss), porém podia renunciar ao seu chamado e parar de pregar. Ele tornou-se um profeta desobediente. No capítulo um vemos que o profeta Jonas foi indiferente:

a) Ao seu chamado. A palavra do Senhor a Jonas foi uma ordem: “Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela” (1:2). Sem dúvida, esta era uma tarefa para a qual Jonas não tinha absolutamente o coração disposto. Era como pedir hoje a um israelense que levasse a palavra de Deus ao Iraque.  Nínive, cidade fundada por Ninrode, situava-se ao leste do Rio Tigre, cerca de 880 quilômetros de Samaria, capital do Reino do Norte. Jonas precisaria caminhar de 24 a 32 quilômetros por dia para chegar a Nínive em um mês. A cidade era grande e protegida por dois muros, um externo e outro interno. A muralha interior tinha 1,5 metros de largura por 3 metros de altura.  O muro externo da cidade tinha 96 km de extensão, 30 metros de altura e uma largura suficiente para três carroças conduzidas lado a lado. Havia 50 torres de 60 metros de altura para o serviço de vigilância realizado pelas sentinelas. 

Era de se esperar que um profeta do Senhor, ao receber uma ordem direta dele, estivesse disposto a obedecer. Vemos que Jonas dispôs-se, mas não para obedecer. Ele levanta-se, desce ao porto de Jope e compra um bilhete para Társis, situada a quatro mil quilômetros a oeste de Jope, na costa da Espanha.  O texto diz, literalmente, que Jonas paga o “salário” do navio, o que nos leva a inferir que ele é um homem de posses que pode dispor, de uma hora para outra, de uma quantidade de dinheiro suficiente para levá-lo a um dos lugares mais distantes do globo, numa viagem que, na época, poderia durar mais de meio ano.  Não lhe foi difícil encontrar um meio de transporte em sua tentativa de fugir do seu chamado. Todas as vezes que queremos fugir de Deus, nosso inimigo rapidamente providencia o meio de transporte.

Talvez, pelo fato de conhecer a crueldade dos assírios, Jonas tenha relutado, pois seu próprio povo já tinha sofrido muito nas mãos deles e, naquele tempo, seus exércitos ameaçavam Israel. Seu livro mostra a resistência desse profeta ao propósito divino de evangelizar a raça mais cruel do mundo da época. Nisto vemos que o inexplicável amor de Deus para com Nínive não encontra eco no coração de Jonas. Foram os preconceitos de Jonas que o levaram a fugir da Missão que Deus lhe havia ordenado. Vejamos quais são:

•Preconceitos políticos: Os ninivitas eram velhos inimigos de seu povo;

•Preconceitos raciais: Os ninivitas eram gentios e não pertenciam ao povo escolhido (Israel);

•Preconceitos religiosos: Os ninivitas eram um povo tão idólatra e pagão que nem devia ser perdoado.

Será que tais preconceitos não encontram eco também em nosso coração? Quantas vezes os nossos preconceitos nos impedem de sermos úteis a Deus. Eles, às vezes, sufocam o amor às pessoas, aniquilam nossa compaixão, obscurecem nossa visão, secam as fontes da nossa espiritualidade e empobrecem nossa mensagem. Jonas conhecia muito bem Nínive e a odiava porque sabia de suas crueldades, e também conhecia a Deus e seu amor, e sabia que ele é misericordioso e grande em benignidade (4:2) e com certeza iria dar uma oportunidade de conversão aquele povo pagão. 

Assim como Jonas, há muitos tentando fugir do seu chamado, negligenciando uma voz interior que não se cala. Tentam ir para Társis quando seu lugar é em Nínive. É certo que, como Jonas, na maioria das vezes não é fácil obedecer e cumprir com o chamado. Às vezes é necessário deixar a tranquilidade de nossa terra para rumarmos em direção ao lugar que Deus nos quer usar. 

b) Ao destino de seus colegas de embarcação. Jonas embarca e enquanto curtia sua viagem, deitado no porão do navio, Deus envia uma forte tempestade que abala a embarcação em que ele estava: “Mas o SENHOR mandou ao mar um grande vento, e fez-se no mar uma forte tempestade, e o navio estava a ponto de quebrar-se... Jonas, porém, desceu ao porão do navio, e, tendo-se deitado, dormia um profundo sono” (1:4-5). A tempestade que surge no mar é tão violenta que ameaça quebrar a embarcação. Os marinheiros ficam tomados de pavor e reagem trabalhando e cada um buscando o seu deus, orando ao seu deus. Diante disso o que faz o nosso profeta? Parecia que a história não era com ele, o mundo desabando e ele lá, no porão, dormindo. Os pagãos orando, e ele, que conhecia o único Deus verdadeiro, lá, indiferente, não foi capaz sequer de levantar um clamor pela vida de seus colegas de barco. Jonas tenta fugir de Deus e cai dentro de uma fervorosa reunião de oração. Talvez em navio nenhum do mundo se tenha orado tanto quanto naquele navio em que ele se encontrava.

Jonas dormiu o sono da negligência, o mesmo sono que grande parte dos evangélicos estão dormindo. O navio estava para quebrar-se por causa da tempestade e da força das ondas, e Jonas continuava dormindo. Os marinheiros estavam desesperados, clamando cada um ao seu deus, e ele silencia. Não seria esta a realidade do nosso mundo hoje? Uma tempestade, um mundo de pernas para o ar, de valores invertidos, casamentos destruídos, drogas, alcoolismo, depressão, etc. Uma tempestade incontrolável. O texto bíblico diz que os marinheiros clamavam cada um ao seu deus. Assim estão os seres humanos, desorientados, buscando seus próprios recursos, e totalmente impotentes diante da realidade que os assombra. A solução está em nossas mãos: O poder do Evangelho. Aonde o evangelho chega, mudanças acontecem. Sabe qual é o problema, então? Aqueles que têm nas mãos o poder do evangelho estão dormindo, enquanto as pessoas estão desesperadas correndo para todos os lados.

c) Ao destino dos ninivitas. Ao tentar fugir para Társis, Jonas é indiferente ao destino dos Ninivitas. Ele sabia o que iria acontecer com eles. Sabia também que se eles se arrependessem Deus os perdoaria. Jonas foge de sua missão porque queria que a má cidade de Nínive realmente fosse destruída. Ele quer evitar que sua pregação leve ao arrependimento dos ninivitas e, por conseguinte, à anulação da pena.  Jonas é uma mostra do povo judeu do seu tempo. Um povo que desejava ver o julgamento de Deus contra seus inimigos. Um povo que deseja ser conhecido pelo nome de Deus, mas que foge da vontade desse Deus quando ela é manifesta. Fala também de um povo que precisava aprender que as nações podem ser perdoadas por Deus, e que ele se importa com o bem-estar das nações, e não apenas de Israel. 

A lógica de Jonas era, por assim dizer, baseada naquilo que Deus disse: “Vou destruir Nínive se a cidade não se arrepender”. Se Jonas não vai lá pregar, a cidade não vai se arrepender e Deus a destruirá. Mas Deus não pensava assim. Ele desejava que Jonas fosse cumprir sua missão. Quantos de nós somos como ele. Sabemos o que acontecerá àqueles que não se arrependerem, mas muitas vezes nos calamos e não falamos do maravilhoso amor de Deus. Quantas vezes temos sido indiferentes ao destino eterno de pessoas ao nosso redor?

 

O ARREPENDIMENTO DO PROFETA E O PERDÃO DE DEUS

Por conta da indiferença do profeta, Deus envia uma grande tempestade que força os marinheiros a jogarem Jonas ao mar. O profeta, então, recebe a disciplina da mão amorosa de Deus. Ele reconhece que foi a mão do Senhor que o lançou no mar, não a dos marinheiros (2:3). É importante que reconheçamos o trabalho do Senhor quando somos disciplinados. 

Ao ser lançado ao mar, Deus prepara um grande peixe que tragasse Jonas. A língua hebraica não dispõe de termo técnico para “baleia”. Essa palavra é usada como resultado de uma interpretação tradicional que atravessou séculos. As Escrituras Hebraicas empregam dag gadol, “grande peixe”, uma vez (1:17; 2:1), e simplesmente dag, “peixe”, três vezes (1:17; 2:1,10). Nesta situação inusitada, ele arrepende-se de seus pecados (2:9) e em fé pede perdão ao Senhor por seus pecados. 

Deus purificou Jonas e deu-lhe outra chance. De acordo com Hebreus 12:5-11, há várias maneiras de o cristão responder à disciplina do Senhor: podemos menosprezá-la, como Jonas fez durante três dias, e recusarmos a confessar; podemos desanimar e desistir; ou podemos sofrer a disciplina do Senhor, confessar os pecados e crer nele para fazer com que tudo redunde para o nosso bem e para a glória dele. Rebelar-se contra a mão de Deus é procurar problema. Jonas submeteu-se, orou e confiou, e o Senhor perdoou-o.

 

A GRANDE MISERICÓRDIA DE DEUS

A palavra-chave do capítulo 3 é “misericórdia”. Jonas finalmente vai à grande cidade a fim de pregar a mensagem do Senhor. A mensagem dele é breve e dura “Daqui a quarenta dias Nínive será destruída” (Jonas 3:4). Essa pregação resultou:

1. A conversão dos ninivitas (3:8,9). Apesar de toda a maldade, os ninivitas receberam a advertência do profeta e creram em Deus (3:5). O termo hebraico usado é 'aman, o mesmo usado para descrever a fé de Abraão em Gênesis 15:6; isso significa que eles depositaram toda a sua confiança em Deus, mesmo tendo recebido uma mensagem de condenação. Caso tivessem ouvido o Evangelho, o que não teriam feito? A conversão dos ninivitas começou com o povo e depois chegou ao rei, o qual expediu um decreto de penitência geral. A reação do rei de Nínive foi muito distinta do procedimento dos reis de Israel, que em raríssimas ocasiões consideraram a exortação dos profetas. Para demonstrar seu arrependimento sincero, os ninivitas se uniram, desde os da mais alta classe social até os mais humildes, na busca da misericórdia de Deus. Para mostrar isso empregaram os símbolos da época: fizeram um jejum e vestiram-se de panos de saco (3:5). Esse costume era empregado em momentos de dor e tristeza (2 Samuel 3:31; Jeremias 6:26), de luto (Ester 4:1-3), de arrependimento (Neemias 9:1; Jó 42:6) e de humilhação (Daniel 9:3-5).

2. O “arrependimento” de Deus. A própria linguagem do Antigo Testamento é uma linguagem antropopática e antropomórfica,  em que Deus adapta sua incompreensibilidade à frágil compreensão da criatura. A palavra hebraica para arrependimento é noham. É usada para indicar tanto o arrependimento humano quanto o arrependimento de Deus no Antigo Testamento. 

É do conhecimento de todos que a Bíblia fala do arrependimento de Deus. Mas como o arrependimento de Deus deve ser entendido? Será que o arrependimento humano serve de parâmetro para o arrependimento de Deus? O arrependimento de Deus é o mesmo dos homens? Deus realmente se arrepende? Quando a Bíblia apresenta textos onde Deus se arrepende de algo e muda sua intenção para com o homem, “evidentemente é só a maneira humana de falar. Na realidade a mudança não é em Deus, mas no homem e nas relações do homem com o Senhor”.  Em suma, o arrependimento de Deus não ocorre por causa de qualquer mudança nele, mas por causa de nossa mudança para com ele. O curto relato do livro de Jonas serve como prenúncio da graça salvadora para todas as nações (Tito 2:11). Os ninivitas foram salvos pela graça, pois “creram em Deus” (3:5) e “se converteram do seu mau caminho” (3:10). As obras foram consequência da sua fé no Deus de Israel.

Jesus usou Nínive para ilustrar um ponto importante (Mateus 12:38-41). Durante três anos, ele pregou para aquela geração e reforçou sua mensagem com milagres; contudo, eles não se arrependeram nem creram. Os ninivitas ouviram um sermão de poucas palavras de um pregador, e aquele sermão enfatizava a ira, não o amor. Eles, porém, arrependeram-se e foram perdoados. Os judeus ouviram o Filho de Deus durante três anos, ouviram a mensagem de perdão do Senhor, contudo se recusaram a se arrepender. Com certeza, a condenação deles será a maior. 

 

VALORES INVERTIDOS E A LIÇÃO DE DEUS

O Senhor mandou o profeta Jonas entregar uma das mais duras e curtas mensagens proféticas descritas no Antigo Testamento: caso não se arrependessem, ainda em 40 dias, Nínive seria subvertida. Após esta exortação, os ninivitas se arrependeram de suas perversidades e foram poupados do juízo divino. Nunca um pregador teve tanto sucesso em um único sermão! No entanto, em lugar de encontrarmos um jubiloso pregador, vemos um pregador desobediente, raivoso com as pessoas e com Deus. Lá está ele sentado do lado de fora da cidade, tentando sentir-se confortável e, na verdade, esperando que o julgamento de Deus caísse sobre o povo. Eis uma coisa surpreendente: o Senhor manda um grande avivamento como resultado da pregação de um homem que nem mesmo ama as pessoas para quem prega.

Tudo isso acontece porque os valores de Jonas não estavam em sintonia com os valores divinos. Ele amou mais uma pequena planta do que toda a cidade de Nínive. Entretanto, o livro de Jonas também nos ensina que o propósito de Deus é sempre usar de misericórdia para com as pessoas que invertem os valores espirituais movidas pela ignorância. O Senhor não executa seu juízo sem antes conscientizar o homem de seus erros. A população de Nínive quase foi destruída pela ignorância, mas escapou da ira de Deus porque se arrependeu de seus maus caminhos e voltou-se para o Criador.

Se por um lado os ninivitas costumavam inverter os valores por serem ignorantes, por outro, Jonas inverteu os valores espirituais por ser um homem egocêntrico. Ele deu mais importância ao amor à sua nação, Israel, e aos sentimentos pessoais de vingança do que ao amor do Senhor e aos seus propósitos de salvação para Nínive. O profeta chegou a irritar-se por Deus ter perdoado aquela cidade. Para ele, um arqui-inimigo de Israel não poderia ser alcançado pela compaixão do Senhor (4:2,3).

Hoje em dia há uma inversão de valores tanto no campo moral quanto no espiritual. Essa inversão pode acontecer quando:

a) Valorizamos demais o que tem pouco valor. Jonas dá um “excelente” mau exemplo disso, basta ver o valor que ele dá à aboboreira que não lhe custou (valia) nada. Em minha jornada de fé estou cansado de ver crentes se queixando de não terem tempo para ler a Bíblia, mas gastam horas na frente da TV, do Computador etc. Pesquisas apontam que, em média, os brasileiros gastam 82 horas por semana em frente ao televisor ou na internet.  Creio que se fizessem uma pesquisa dessas somente entre os evangélicos, talvez o resultado não seria muito diferente. Mas, tempo para leitura bíblica a maioria alega não ter. É interessante notar que há pessoas que gastam R$ 200,00/R$ 300,00 ou mais em uma única peça de roupa, mas quando se fala em ofertar na igreja, misericórdia! Tenho observado outros que choram vendo filmes, mas não derramam uma lágrima sequer pelas almas que estão indo para o inferno. Torcem mais para o seu time do que se importam com o reino de Deus.

b) Damos pouco valor ao que tem muito valor. Como estamos reagindo ao sabermos que há milhões morrendo sem Jesus? Como estamos reagindo aos ataques à moral cristã? O povo chamado cristão era considerado até alguns anos como referência de honestidade; hoje ser evangélico está se tornando sinônimo de caloteiro, de mau pagador, de mau caráter. Vivemos numa sociedade em que a fidelidade parece ser uma virtude pré-histórica. A infidelidade conjugal está chegando a níveis intoleráveis. Satanás sabe muito bem que enfraquecendo a família, enfraquecerá a Igreja. E o que nós temos feito em prol de famílias fortes, que resultarão em igrejas fortes? 

 

CONCLUSÃO

O livro de Jonas é diferente dos outros livros dos Profetas Menores. Trata-se de uma narrativa bibliográfica das experiências do profeta, e não de uma coletânea de mensagens proféticas. O tema prioritário do livro é a graça soberana de Deus pelos pecadores, ilustrada na sua decisão de reter o julgamento sobre os culpados, mas arrependidos ninivitas. Há também uma lição teológica importante a ser aprendida observando as respostas de Jonas a Deus. O retrato do autor de Jonas é altamente depreciativo. Os padrões duplos de Jonas fizeram com que as suas ações lhe contradissessem os credos de tom espiritual. Pelo exemplo negativo de Jonas, o leitor aprende a não resistir à vontade e decisões soberanas de Deus. 

Como Jonas, existem muitas pessoas invertendo os valores espirituais, ignorando o poder do evangelho e mostrando-se indiferentes ao chamado do Senhor. Despertemo-nos do sono da indolência, arrependamo-nos dos nossos pecados, priorizemos os valores do Reino de Deus e afastemo-nos da inversão de valores.

Não raro, costumamos reprovar a atitude de Jonas quanto à ordem de Deus. Mas quantas vezes não nos identificamos com Jonas e sua rebeldia quando somos desafiados por Deus a obedecê-lo, e não o fazemos? Jonas é, portanto, um espelho para cada cristão: não precisamos aguardar que Deus aja de forma extrema conosco, como agiu com Jonas quando o conduziu a Nínive na barriga de um grande peixe, para que possamos obedecer a Sua vontade, qualquer que seja o mandado de Deus para nossa vida.