Texto de Estudo

Obadias 1:15:

15 Porque o dia do SENHOR está perto, sobre todos os gentios; como tu fizeste, assim se fará contigo; a tua recompensa voltará sobre a tua cabeça.

INTRODUÇÃO

O livro de Obadias representa um dramático exemplo da resposta de Deus a qualquer um que maltrate seus filhos. Deus retribui as ações arrogantes do homem no devido tempo.

Obadias é o menor livro do Antigo Testamento, com apenas 21 versículos. O fato de ser o menor não significa que é menos importante. Há lições grandiosas contidas neste livro e que precisam ser exploradas. Há alertas solenes que precisam ser ouvidos. Há juízos severos que precisam ser evitados. O livro de Obadias tem uma mensagem urgente, oportuna e necessária para a família, para a igreja e para as nações. 

Quando a Igreja sofre nas mãos de seus inimigos, ela precisa voltar-se para a profecia de Obadias e renovar a sua fé no Deus justo ali revelado. Ele se preocupa com o seu povo perseguido e, por trás das circunstâncias presentes, sempre trabalha por ele.

 

AUTORIA E DATAÇÃO

Além do nome do profeta, que significa “servo do Senhor” ou “adorador do Senhor”, nada mais se sabe sobre Obadias, e as poucas tradições que falam sobre ele não são dignas de confiança.  Esse era um nome bastante comum no Antigo Testamento, sendo que há pelo menos outros 12 homens assim chamados, quatro deles relacionados ao ministério no templo (1 Crônicas 9:16; 2 Crônicas 34:12; Neemias 10:5; 12:25), mas nenhum corresponde ao profeta cuja obra foi preservada.  Portanto, o profeta em tela não se confunde com o Obadias de 1 Reis 18:3-16.

Embora Obadias seja um livro minúsculo, muitos eruditos creem que não foi um único autor que o produziu por inteiro, e que partes do livro vieram de diferentes épocas. A maioria dos eruditos, entretanto, defende que Obadias é o autor do livro. 

Existe um problema muito sério com respeito ao período da redação da “visão de Obadias”. Segundo indícios internos do livro, sabe-se que ele estava na cidade de Jerusalém quando os edomitas participaram do ataque contra a cidade e maltrataram os sobreviventes dessa investida invasora (vv. 10-14). Entretanto, os estudiosos não apresentam um consenso quanto à época em que ocorreram estes acontecimentos. A ideia tradicional é que essas colocações dizem respeito à invasão de Judá e à destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, em 586 a.C.  De acordo com o salmista, os edomitas encorajaram os babilônios quando o exército de Nabucodonosor destruiu a cidade santa (Salmos 137:7), mas não há nenhuma evidência de que os edomitas tenham, de fato, entrado em Jerusalém naquela ocasião, nem tentado impedir os judeus de fugir. 

Entretanto, outros estudiosos do Antigo Testamento acreditam na possibilidade de que esse evento narrado por Obadias possa ser colocado em uma data anterior. Segundo eles, houve quatro invasões significativas de Jerusalém: a primeira foi realizada por Siraque em 926 a.C (1Re. 11:14-25); a segunda pelos filisteus e árabes, entre 848-841 a.C., durante o governo do fraco rei Jeorão (2Cr. 21:8-10, 16-17; Joel 3:3-6; Amós 1:6); a terceira pelo rei Jeoás de Israel, durante o governo de Amazias, rei de Judá, em 790 a.C. (2Re. 14:11-14); a quarta pela Babilônia entre 606-586 a.C. (2Re. 24-25).  Para estes, o melhor é situar a redação do livro no reinado de Jeorão (853-841 a.C.).

 

CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS

Após o complexo título do versículo 1, o livro pode ser subdividido, tanto sob o aspecto temático quanto formal, em duas partes.

Na primeira seção (vv. 2-15) Deus faz, por meio do profeta, o anúncio do juízo contra Edom, e exige deste uma prestação de contas por sua soberba originada de sua segurança geográfica, e por ter-se regozijado com a derrota de Judá. O juízo divino vem sobre eles. Da sua posição de soberba e falsa segurança, Deus irá derribá-lo (vv. 2-4). A terra e o povo serão saqueados e espoliados (vv. 5-9). Por quê? Por causa da violência que Edom praticou contra seu irmão Jacó (v. 10), porque se regozijou com o sofrimento de Israel e juntou-se com seus atacantes para roubar e violar Jerusalém no dia da sua calamidade (vv. 11-13) e porque impediram a fuga do povo de Judá e os entregou aos invasores (v. 14). A segunda seção (vv. 15-21) refere-se ao dia do Senhor, quando Edom será destruído juntamente com todos os inimigos de Deus, ao passo que o povo escolhido (Sião e Israel), será salvo, e seu reino triunfará. Apesar do julgamento pelo qual Israel passou, Obadias deixou claro que a nação se ergueria novamente, e que possuiria a terra dos filisteus e dos edomitas, e que iria se alegrar com o reino do Senhor (vv. 19-21). 

Os nove primeiros versículos deste livro fazem paralelo íntimo com partes de Jeremias 49 embora a sequência do material seja diferente (cf. vv. 1-4 c/c Jeremias 49:14-16; vv. 5,6 c/c Jeremias 49:9-10; vv. 8,9 c/c Jr. 49:7-22). A questão é: Qual o profeta que usou o outro? Talvez, o mais aceitável é que ambos os escritores usaram uma profecia anterior e bem conhecida. Sem dúvida que a atual disposição deste livro é obra de Obadias e que se trata de um oráculo do Senhor (v. 1). 

 

CONTEXTO HISTÓRICO

Para que se possa entender o livro de Obadias, é preciso entender o contexto em que o profeta está inserido.

Jacó e Esaú, os dois filhos de Isaque, tiveram descendentes que, séculos mais tarde, formaram as nações de Judá e Edom. As relações entre estas duas nações sempre foram marcadas de grande hostilidade. A inimizade começou quando os dois irmãos gêmeos Esaú e Jacó se dividiram em disputa (cf. Gênesis 27:32-33). Os descendentes de Esaú se estabeleceram numa área chamada Edom, situada ao sul do mar Morto, enquanto os descendentes de Jacó destinaram-se à terra prometida, Canaã, e se tornaram o povo de Israel. Assim é que Esaú é chamado de “o pai dos edomitas” (Gênesis 36:9).

Com o passar dos anos, numerosos conflitos se desenvolveram entre os edomitas e os israelitas. Essa amarga rivalidade forma o fundo histórico da profecia de Obadias. Ao longo do período de cerca de 20 anos (605-586 a.C.), os babilônios invadiram a terra de Israel e fizeram repetidos ataques à Jerusalém, a qual foi finalmente devastada em 586 a.C. Os edomitas viram essas incursões como uma oportunidade para eliminar sua amarga sede contra Israel e se juntaram aos babilônios contra seus parentes e ajudaram a profanar a terra de Israel.

Os edomitas passaram a ser chamados de “idumeus” em 126 a.C. Herodes, o Idumeu, conquistou Jerusalém em 37 a.C., e se tornou rei da palestina. Eles sempre mostraram seu desprezo pelos judeus quando os governaram, autorizados pelos romanos. Herodes, o Grande, perseguiu a Jesus (Mateus 2:16). A seguir, Herodes Antipas perseguiu João Batista (Lucas 3:19). Herodes Agripa I perseguiu a igreja (Atos dos Apóstolos 12:1), e Atos dos Apóstolos 26 nos mostra o encontro entre Herodes Agripa II e o apóstolo Paulo. No ano 70 d.C., Jerusalém foi destruída pelos romanos; à sua frente estavam membros da família herodiana (edomita). Os judeus foram dispersos e os edomitas acabaram liquidados pelos romanos. Desapareceram para sempre, cumprindo-se o que disse Obadias: “Ninguém mais restará da casa de Esaú” (v. 18). Os edomitas nunca mais se reergueram desde então. 

 

MENSAGEM PRINCIPAL

Como descendentes de Esaú (Gênesis 25:19-27:45), os edomitas tinham um parentesco de sangue com Israel e eram guerreiros robustos, impetuosos e orgulhosos. Pertenciam a uma nação que, por estar no alto da montanha, parecia ser invencível. De todos os povos, deveriam ser os primeiros a se apressar para ajudar seus irmãos do Norte, Israel. Entretanto, ao contrário, apreciavam com maligna satisfação os problemas de Israel, capturavam e devolviam os fugitivos ao inimigo e até saqueavam os seus campos. Por causa de sua indiferença em relação a Deus, por terem-no desafiado, e também pelo orgulho, covardia e traição aos seus irmãos de Judá, os edomitas foram condenados e destruídos. Este é o princípio da retribuição.

A mensagem de Obadias é um brado de Deus às nações, às instituições humanas, às igrejas, alertando a todos nós que Deus resiste ao soberbo, e o mal que praticamos contra os outros cairá sobre nossa própria cabeça.

O núcleo da profecia de Obadias é dirigido aos edomitas, por estarem sob o juízo de Deus em virtude da crueldade para com Israel nos dias do seu sofrimento (v. 10). Os crimes de Edom são citados na ordem de progressão do seu horror (vv. 11-14). Porém, o Senhor não permitirá que fique sem castigo o que Edom fez, e o que os edomitas fizeram vai cair sobre as suas próprias cabeças. No entanto, Obadias progride do geral para o particular, do juízo de Deus sobre Edom para o “dia do Senhor”, que vai significar o seu juízo sobre todas as nações, inclusive Israel, e o estabelecimento do reino do Senhor (v. 21).

Para uma melhor análise da profecia bíblica, o uso da expressão “dia do Senhor” precisa ser considerado. Amós 5:18-20, a primeira passagem onde encontramos seu uso no sentido mais abrangente, demonstra que esta expressão já fora padronizada no vocabulário popular.

Para o povo hebreu, o “dia do Senhor” significava o dia quando Yahweh haveria de intervir, a fim de colocar Israel acima das demais nações, independente da fidelidade de Israel para com Ele. Acreditavam que nesse dia, Yahweh se ergueria para desbaratar todos os seus inimigos e salvar Israel de um modo espetacular. Entretanto, Amós declara que o dia do Senhor significa juízo também para Israel. O que Amós acrescentou ao termo não foi a ideia de um julgamento qualquer, mas sim a de um julgamento moral. Outros profetas, conscientes dos pecados de outras nações, como também dos de Israel, declararam que o dia do Senhor virá contra nações específicas como castigo por terem subjugado o povo de Deus, podendo-se destacar a Babilônia (Isaías 13:6 9), o Egito (Jeremias 46:10), Edom (Obadias 15), e muitas nações (Joel 2:31; 3:14; Obadias 15). 

 

EDOM, O PROFANO

Ao trocar sua herança por um prato de lentilhas, Esaú demonstrou seu desprezo pelas coisas espirituais (Gênesis 25:30; Hebreus 12:16). Alguém já disse que essa foi a refeição mais cara da história. Por ser um homem profano, era materialista. Os valores espirituais não tinham importância para ele. Essa mesma atitude é seguida por seus descendentes, que também se tornaram profanos e materialistas. Embora tivessem divindades, foram essencialmente irreligiosos, vivendo para comer, saquear e vingar-se. 

Obadias descreve Edom como um povo orgulhoso (v. 3), violento (v. 10), pronto para regozijar-se com a desventura de um irmão (v. 12), e matando traiçoeiramente fugitivos (v. 14). Edom fará uma colheita amarga de seus atos truculentos e será submetido a julgamento (vv. 2,3,7,8) e, apesar disso, será possuído e governado por Yahweh (vv. 19-21). 

 Edom habitava no monte Seir, uma cordilheira de montanhas rochosas. Ali estava a capital Petra, a inexpugnável cidade edomita. Do alto de suas rochas escarpadas, os edomitas se vangloriavam de colocar o seu ninho entre as estrelas (v. 4). Jamais aquela fortaleza havia sido saqueada. Eles se sentiam seguros, blindados por uma fortaleza natural. Mas Deus diz por meio do profeta Obadias que, ainda que eles colocassem o seu ninho entre as estrelas, de lá seriam derrubados (v. 4). A soberba é a sala de espera do fracasso. Onde o orgulho levanta sua bandeira, a derrota fragorosa é inexoravelmente imposta. A arrogante cidade dos edomitas foi tomada, seus bens foram saqueados, seu povo foi disperso e eles colheram exatamente o que plantaram. O mal que eles despejaram sobre a cabeça dos judeus caiu sobre a sua própria cabeça. Assim como o povo de Edom foi destruído por causa de seu orgulho, todos os que desafiam a Deus também serão aniquilados. 

 

A RETRIBUIÇÃO DIVINA

Retribuição significa “pagar na mesma moeda”. Tal princípio acha-se na Lei de Moisés (Êx 21:23-25; Levíticos 24:16-22; Deuteronômio 19:21). Os pecados de Edom foram orgulho e crueldade. A soberba econômica e política, associada a uma posição geográfica privilegiada fez dos edomitas um povo altivo e soberbo. Além da soberba, Edom entregou-se à crueldade, associando-se aos caldeus na matança do povo de Judá, seus parentes chegados. Essa atitude abriu feridas no coração de seus irmãos e também atingiu o coração de Deus. A retribuição divina não se fez esperar. O mal que Edom fez a Judá caiu sobre a sua própria cabeça.

A vida é uma semeadura e, por isso, colhemos o que plantamos. Aqueles que plantam o mal colhem o mal. Aqueles que semeiam vento colhem tempestade. Aqueles que semeiam na carne, da carne colhem corrupção. Aquilo que fazemos aqui determinará nosso destino amanhã. Querer fazer o mal e receber o bem é zombar de Deus, e de Deus ninguém zomba (Gálatas 6:7).

O castigo de Edom foi profetizado por Obadias de forma segura: “... porque o Senhor o falou” (v. 18). Essa expressão é como a assinatura do Eterno, que afirma a verdade da profecia. Uma vez que Yahweh falou, essas declarações têm autoridade e são seguras.

Edom não agiu com urbanidade nem com fraternidade em relação aos judeus. Eles olhavam para os judeus como inimigos. Não defenderam seus irmãos nem choraram pela tragédia que sobre eles se abateu. Antes, vibraram com sua ruína e participaram de sua pilhagem. Esse gesto não apenas fez amargar a vida dos judeus, mas provocou a ira de Deus. Foi a quebra desse princípio do amor fraternal que levou Edom à sua derrota final e definitiva. 

A derrota de Edom não procede de homens, mas de Deus. Sua sentença de morte não foi lavrada num tribunal da terra, mas no tribunal do céu. A inescapabilidade de sua derrota não se deve ao juízo dos homens, mas à sentença de Deus, que é irrevogável e inapelável (v. 18). Não há um tribunal superior a quem recorrer. O tribunal de Deus é a última instância, e sua sentença é definitiva e final. Insurgir-se contra Deus e contra seu povo é marchar rumo a uma derrota inevitável, inexorável e irreversível.

Em 312 a.C., os árabes nabateus expulsaram os edomitas do seu reduto próximo ao mar Vermelho, capturando a capital dos idumeus, Sela, e rebatizando-a como Petra. Segundo a profecia de Obadias, os seus descendentes vieram a se estabelecer no Neguebe e, por meio de casamentos com outros povos, tornaram-se os idumeus. Herodes, o Grande, veio desta linhagem, de modo que nela e em Jesus podemos ver, por outro ângulo, a luta e o contraste entre edomitas e israelitas. Em 70 d.C, Tito destruiu tanto os idumeus (edomitas) como os israelitas, fazendo os primeiros desaparecer definitivamente da história. 

Os edomitas pensaram que estavam ajudando a colocar uma pá de cal sobre Judá. Eles pensaram que a Babilônia estava no controle da situação e que eles eram seus coadjuvantes na empreitada de destruir Jerusalém. Mas as rédeas da história não estão nas mãos dos poderosos deste mundo. Quem está assentado na sala de comando do universo é o Deus Todo-poderoso. É Deus quem conduz a história para o seu fim glorioso, quando seu povo será exaltado e glorificado. 

 

CONCLUSÃO

Deus julgará e punirá com rigor a todos os que maltratarem seu povo. Podemos confiar em sua vitória final. Ele é nosso defensor e podemos ter a certeza de que fará com que a verdadeira justiça prevaleça. Todos os que são orgulhosos um dia ficarão perplexos ao descobrirem que ninguém está isento da justiça divina. Não podemos desafiar as leis naturais, muito menos ignorar as espirituais, sem sairmos ilesos. A retribuição é inevitável.