Texto de Estudo

2 Pedro 1:20-21:

20 Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. 21 Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.

INTRODUÇÃO

Neste trimestre, estudaremos os chamados “Profetas Menores”. Assim são conhecidos os doze menores livros proféticos do Antigo Testamento. O fato de serem chamados “menores” não significa que sejam inferiores ou menos importantes, mas apenas que os rolos que os profetas deixaram escritos não eram volumosos, quando confrontados com os demais livros proféticos. Os estudiosos judeus deram um título alternativo a essa coletânea: “o Livro dos Doze”. Na forma de rolos, geralmente eram escritos em um único volume. 

No decorrer dos estudos, veremos que, apesar de antiquíssimos, estes livros tratam de questões relevantes para os nossos dias e servem de edificação espiritual a todo o povo de Deus. Entre os temas tratados, temos: a família, a sociedade, a política e a espiritualidade. Na atual conjuntura, os profetas são um verdadeiro esteio da sabedoria divina para a Igreja de Cristo, pois nos encorajam a militarmos pela causa de Cristo.

 

SOBRE OS PROFETAS MENORES

Os chamados “Profetas Menores” – Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias – viveram em um período de tempo que vai do oitavo ao quinto século a.C., tendo sido alguns deles contemporâneos. O período abrangeu o domínio de três potências mundiais: Assíria, Babilônia e Pérsia. Entretanto, a mensagem anunciada por cada um deles é ainda atual e pungente para os nossos dias, pois traz princípios e advertências voltados para questões sociais, políticas, familiares e espirituais que se aplicam à realidade de cristãos de todas as épocas, além de conterem muitas profecias relativas ao Messias que viria, que já se cumpriram na pessoa de Jesus Cristo, e são atestadas nos Evangelhos. 

Essa estrutura atual que temos em nossas Bíblias vem da Bíblia Hebraica e, posteriormente, da Vulgata Latina. A Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento) apresenta nos seis primeiros livros uma disposição diferente da Hebraica, dispondo-os assim: Oséias, Amós, Miquéias, Joel, Obadias e Jonas. A expressão “Profetas Menores” é de origem cristã, pelo volume do texto ser menor em comparação aos de Isaías, Jeremias e Ezequiel, conforme explica Agostinho de Hipona (345-430 d.C.), em sua obra ”A cidade de Deus”. Na literatura judaica, essa coleção é classificada como ”Os Doze” ou ”Os Doze Profetas”. Essa informação é confirmada desde o ano 132 a.C., quando da produção do livro apócrifo de Eclesiástico (49:10), escrito por Jesus ben Sirac, no 2º século a.C.; este livro mostra que eles eram bastante estimados no judaísmo. Por isso o citamos como registro histórico, e não, obviamente, como obra inspirada. É também corroborada pelo Talmude (antiga literatura religiosa dos judeus) e ratificada pela obra Contra Apion do historiador judeu Flávio Josefo (37-100 d.C.). Na Bíblia hebraica, eles estão contidos em um só volume e foram provavelmente agrupados dessa forma por volta de 425 a.C., por Esdras e a chamada Grande Sinagoga, um grupo formado por 120 doutores da Lei. 

 

A ATUALIDADE DA MENSAGEM DOS PROFETAS MENORES

O autor da carta aos Hebreus inicia afirmando que Deus falou no passado por meio dos profetas (Hebreus 1:1). A mensagem destes ainda tem relevância para os nossos dias, posto que Paulo diz que “tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar” (Romanos 15:4 NVI). Em outra carta, referindo-se ao Antigo Testamento, ele diz que “toda a Escritura é inspirada por Deus” (2 Timóteo 3:16), servindo para a nossa edificação espiritual, ou seja, ela “é útil para nos ensinar o que é verdadeiro, e para nos fazer compreender o que está errado em nossa vida; ela nos endireita e nos ajuda a fazer o que é correto” (2 Timóteo 3:16-17, BV).

Os evangelistas e o Senhor Jesus afirmam o cumprimento das Escrituras dos profetas (Mateus 26:56; Lucas 24:47; João 1:45). Jesus ressaltou que toda a mensagem da Lei e dos Profetas é cumprida em sua regra áurea (Mateus 7:12). Tiago e Paulo frisaram que a mensagem dos profetas de Israel é essencialmente a mesma da Igreja (Atos dos Apóstolos 15:15-17; 26:22,23). A mensagem dos profetas do Antigo Testamento é de máxima importância para a vida espiritual do cristão, pois apresenta a revelação a respeito de Deus, da salvação e da vinda do Messias. 

A mensagem dos profetas não era apenas preditiva. Esses homens de Deus eram, sobretudo, pregadores morais e éticos, vigias, sentinelas levantados pelo Senhor para despertar e exortar suas respectivas gerações. Durante as dominações assíria, babilônica e persa, Deus levantou esses homens para ora conclamar o povo de Israel ao arrependimento, ora reanimá-los; e, em suas exortações proféticas, eles denunciaram e combateram contundentemente a corrupção, o abuso de autoridade, a injustiça social, a idolatria e o arrefecimento espiritual e a frouxidão moral do povo, o que atesta a atualidade premente dessas exortações para os nossos dias, ou melhor, para todas as épocas. 

Importa destacar que o conhecimento das condições socioeconômicas, políticas e religiosas da época dos profetas são indispensáveis à compreensão da mensagem profética. Quando as referidas condições se assemelham às nossas, não obstante a passagem dos séculos, então os profetas de ontem falam hoje, e o Antigo Testamento se atualiza de uma maneira notável e também proveitosa. 

Interessante notar que os nomes dos profetas, dados como títulos dos seus livros, coincidem com a mensagem central que eles pregavam. Há, realmente, uma coincidência muito grande entre o significado dos nomes dos profetas e a mensagem anunciada por eles. Sua mensagem já está, em boa parte, no sentido dos seus nomes.

 

OS PROFETAS MENORES E O MESSIAS

Os escritos dos Profetas Menores também são notabilizados por suas mensagens messiânicas e escatológicas, de maneira que eles concluem o Antigo Testamento com um clima de esperança e expectativa em relação à vinda do Messias e trazendo vislumbres do seu reinado milenar sobre a Terra. São, portanto, uma excelente porta de entrada para os livros neotestamentários.

Esses homens foram escolhidos por Deus para cumprir uma missão: conduzir o povo à presença e à vontade de Deus. Suas mensagens enfatizavam a natureza de Deus, o pecado e o arrependimento, a predição e a esperança messiânica. Os temas abordados por eles têm relação com o Dia do Senhor e com os atributos de Deus. Suas mensagens eram dirigidas ao povo de Israel e Judá. Contudo, notamos que essas mensagens são ainda para os nossos dias.

Muitas são as profecias relativas ao Messias que aparecem nas páginas dos Profetas Menores. Senão, vejamos.

No livro de Oséias, lemos que o Messias seria o Filho de Deus e seria chamado do Egito (Os 11:1; c/c Mateus 2:13-15), e venceria a morte (Os 13:14; c/c 1 Coríntios 15:55-57). Em Joel, foi predito que o Messias ofereceria a salvação para todos (JI 2:32; c/c Romanos 10:12-13). Em Amós, é anunciado que Deus faria com que o céu escurecesse ao meio-dia, como ocorreu na morte do Messias (Amós 8:9; c/c Mateus 27:45-46). Em Miquéias, é predito que o Messias nasceria em Belém (Miquéias 5:2; c/c Mateus 2:1-2), que seria o Servo de Deus (Miquéias 5:2; c/c João 15:10) e que veio da eternidade (Miquéias 5:2; c/c Apocalipse 1:8). Em Ageu, é predito que o Messias visitaria o segundo Templo (Ageu 2:6-9; c/c Lucas 2:27-32) e que seria descendente do governador Zorobabel (Ageu 2:23; c/c Lucas 3:23-27).

Em Zacarias, o Messias seria Deus encarnado e habitaria entre o seu povo (Zacarias 2:10-11; c/c João 1:14), seria enviado por Deus (Zacarias 2:10-11; c/c João 8:18-19), seria o descendente do governador Zorobabel (Zacarias 3:8; c/c Lucas 3:23-27), seria chamado de o Servo de Deus (Zacarias 3:8; c/c João 17:4), seria sacerdote e rei (Zacarias 6:12-13; c/c Hebreus 8:1), recebido com alegria em Jerusalém (Zacarias 9:9; c/c Mateus 21:8-10), visto como Rei (Zacarias 9:9; c /c João 12:12-13), justo (Zacarias 9:9; c/c João 5:30), traria a salvação (Zacarias 9:9; c/c Lucas 19:10), seria humilde (Zacarias 9:9; c/c Mateus 11:29), apresentado a Jerusalém montado num jumento (Zacarias 9:9; c/c Mateus 21:6-9), seria a pedra de esquina (Zacarias 10:4; c/c Efésios 2:20), seria rejeitado por Israel (Zacarias 11:10; c/c Lucas 19:41-44), traído e trocado por 30 moedas de prata (Zacarias 11:12; c/c Mateus 26:14-15), as 30 moedas de prata seriam lançadas na Casa do Senhor (Zacarias 11:13; c/c Mateus 27:3-5) e usadas para comprar o campo do oleiro (Zacarias 11:13; c/c Mateus 27:6-7), o corpo do Messias seria transpassado (Zacarias 12:10; c/c João 19:34), ele seria um com Deus (Zacarias 13:7; c/c João 14:9) e seus discípulos se dispersariam (Zacarias 13:7; c/c Mateus 26:31-56).

Em Malaquias, é anunciado que um mensageiro prepararia o caminho para o Messias (Malaquias 3:1; c/c Mateus 11:10), que o Messias apareceria subitamente no Templo (Malaquias 3:1; c/c Marcos 11:15-16), que seria o mensageiro da Nova Aliança (Malaquias 3:1; c/c Lucas 4:43), que o precursor do Messias viria no espírito de Elias (Malaquias 4:5; c/c Mateus 3:1-2) e que esse precursor converteria muitos à justiça (Malaquias 4:6; c/c Lucas 1:16-17).

 

DIVISÃO DOS LIVROS

Os Profetas Menores podem ser divididos em três grupos, no âmbito do período histórico: profetas de Israel; profetas de Judá e profetas pós-exílicos de Judá. Também podem ser divididos em pré-exílicos (antes do exílio babilônico) e pós-exílicos (depois do exílio babilônico). Os profetas pré-exílicos são Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque e Sofonias. Os profetas pós-exílicos são Ageu, Zacarias e Malaquias. Muitos deles foram contemporâneos e algumas profecias foram proferidas ao mesmo tempo.

Outra forma de organizar esses livros é observando para o público que se dirigiam. Assim, podemos dividi-los em livros com mensagens direcionadas ao Reino de Judá (Joel, Miquéias, Habacuque e Sofonias), livros com mensagens específicas para o Reino de Israel (Amós e Oséias), livros com mensagens para as nações (Jonas, Naum e Obadias) e livros com mensagens dirigidas aos judeus remanescentes do período pós-exílio (Ageu, Zacarias e Malaquias). Os profetas do Reino de Israel profetizaram no oitavo século; os de Judá no oitavo e sétimo séculos; e os pós-exílicos no sexto e quinto séculos.

 

CONCLUSÃO

Os profetas, inspirados por Deus, olharam para o futuro, mas também para os seus próprios dias. Eles denunciaram os pecados do povo quando este se desviava dos caminhos do Senhor. Os profetas nos mostram que o povo de Israel (e nós também) precisava se arrepender de seus pecados, para finalmente, serem aceitos por Deus. Portanto, estudar os profetas menores é um dever dos cristãos que desejam ter sua vida alinhada com a vontade de Deus no que tange a vida pessoal e práticas diárias.

Nas próximas lições, será apresentado um estudo panorâmico de cada um dos doze livros citados, examinando o contexto histórico de cada profeta, o propósito de suas mensagens e a aplicação delas para os nossos dias e para a nossa vida. Esperamos que esta série de estudo abençoe a sua vida de forma especial e desperte-o a aprofundar-se ainda mais no estudo dos Profetas Menores.