Texto de Estudo

Tiago 5:8:

8 Sede vós também pacientes, fortalecei os vossos corações; porque já a vinda do Senhor está próxima.

INTRODUÇÃO

No final da carta de Tiago, aparece por cinco vezes a palavra paciência. Esta palavra é a tradução do termo grego makrothumeo, e transmite a ideia de alguém que tem um espírito paciencioso, que não perde o ânimo e que persevera pacientemente e bravamente ao sofrer os infortúnios e aborrecimentos na vida. Interessante é que Tiago começa sua carta com uma chamada à perseverança sob as provações (1:2-4) e termina exortando os cristãos a serem pacientes até à vinda do Senhor (5:7,8). Mas como podemos experimentar esse tipo de paciência até Jesus voltar? No estudo de hoje, veremos que Tiago dá três exemplos de paciência para encorajar os cristãos até a volta do Senhor Jesus.

 

A PACIÊNCIA DO LAVRADOR

Tiago conclama os cristãos oprimidos a serem pacientes. Essa paciência precisa durar até a vinda do Senhor, porque esse acontecimento desfará as cadeias das aflições e propiciará a tão almejada recompensa. Evidentemente, os cristãos a quem Tiago se dirige achavam que já estava passando o tempo da vinda de Jesus (cf. 2 Pedro 3:4 9). Tiago procura dar-lhes a certeza de que a aparente demora devia ser enfrentada como paciência, usando uma analogia da vida agrícola da Palestina. 

Então ele diz: “Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas” (5:7). Se uma pessoa é impaciente, ela nunca deve ser um agricultor. A ideia da ilustração é a condição climática mencionada na expressão “as primeiras e as últimas chuvas”.

O agricultor teria que aguardar suas colheitas até que tivessem caído a chuva temporã e a chuva serôdia. A Escritura fala frequentemente da chuva temporã e da chuva serôdia, porque na Palestina elas eram de suma importância para o agricultor (cf. Deuteronômio 11:14; Jeremias 5:24; Joel 2:23). Nas primeiras chuvas, na chuva temporã, era a ocasião para se semear o grão. Ela caía em fins de outubro e princípios de novembro. Sem ela, a semente semeada não germinaria absolutamente. E as últimas chuvas, a chuva serôdia, caíam entres os meses de abril e maio. Elas estimulavam o crescimento para o amadurecimento da colheita.  O fazendeiro palestino dependia destas duas chuvas, e não podia colher o que plantara antes das últimas chuvas. 

O agricultor necessita de muita paciência para aguardar até que a natureza faça sua obra. O cristão, por sua vez, necessita de muita paciência para aguardar até que Cristo venha. Por isso, Tiago aconselha: “Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima” (5:8). Tiago está argumentando que, se um fazendeiro pode esperar pelo grão com paciência, eles deviam ser capazes de persistir até a vinda do Senhor, ou que Deus, da mesma forma como o fazendeiro, está esperando pela colheita, e os cristãos devem estar cônscios de que a demora não é preocupação de Deus, e, portanto, devem ter paciência. 

Tiago assegura aos cristãos que “a vinda do Senhor está próxima” (5:8). À luz desta realidade indubitável de que Jesus voltará, os cristãos devem renovar a sua coragem e confiança, e o segredo é: “fortalecei o vosso coração” (5:8; cf. 1 Tessalonicenses 3:13). Durante essa espera, os cristãos têm que confirmar sua fé. Não devem desesperar-se nem desanimar-se pelos contratempos ou pela situação desfavorável em que se encontram. Antes devem perseverar com coragem!

Da mesma forma, o desânimo dos cristãos não deveria expressar-se em queixas e murmurações. Tiago, no verso 9, diz assim: “Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas”. A palavra “queixar” significa literalmente suspirar. O que Tiago está dizendo é que eles não deveriam culpar os outros pelos problemas que estavam enfrentando. As decisões a respeito de quem realmente é o culpado, em última análise, cabem ao Juiz, isto é, Deus ou Cristo, que está prestes a aparecer (cf. Marcos 13:29; Mateus 24:33).

 

A PACIÊNCIA DOS PROFETAS

A exortação à paciência é reforçada por Tiago com a recordação de que os cristãos não estavam numa situação peculiar porque estavam sofrendo. A justiça não isentara, no passado, os justos, das dificuldades da vida. Eles deveriam tomar “por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do Senhor” (5:10). Tiago encoraja os cristãos a usarem alguns modelos de conduta que devem tomar como exemplo de sofrimento e paciência. 

Ele lembra a seus leitores que os profetas e os homens de Deus, que eram tão privilegiados e que “falaram em nome do Senhor”, nunca poderiam ter feito sua obra e dar seu testemunho se não tivessem padecido pacientemente. Os profetas foram homens que andaram com Deus, ouviram a voz de Deus, falaram em nome de Deus, mas passaram também por grandes aflições. Eles trilharam o caminho estreito das provas e foram pacientes. Privilégio e provas caminharam juntos na vida dos profetas. Privilégio e sofrimento, sofrimento e ministério caminharam lado a lado na vida dos profetas. 

Isaías não foi ouvido pelo seu povo. Ele foi serrado ao meio. Jeremias foi preso, jogado num poço e maltratado por pregar a verdade. Daniel sofreu ameaça e perseguição por causa da sua fidelidade a Deus, a ponto de ser jogado na cova dos leões. Ezequiel também foi duramente perseguido. O escritor aos Hebreus diz que alguns foram torturados; outros, por sua vez, foram escarnecidos e açoitados, foram algemados e levados às prisões. Outros, ainda, foram apedrejados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, necessitados, afligidos, maltratados, errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra (Hebreus 11:35-38). Estêvão denunciou o sinédrio, dizendo: “A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que dantes anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e homicidas” (Atos dos Apóstolos 7:52).

Jesus disse que quando nos injuriarem e nos perseguirem, quando formos caluniados por sua causa, devemos alegrar-nos e ficar felizes, “porque assim perseguiram aos profetas que foram antes de vós” (Mateus 5:11-12). Quando você estiver enfrentando sofrimento, não coloque em dúvida o amor de Deus, pois pessoas que andaram com Deus como você também passaram pelas aflições. Seja paciente! O apóstolo Paulo diz que “na verdade todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2 Timóteo 3:12). Nem sempre a obediência a Deus produz vida fácil!

Então, Tiago lembra aos seus leitores que o próprio Jesus havia dito que o homem que suportasse até o fim seria bem-aventurado, porque receberia a salvação. Por isso, “eis que temos por felizes os que perseveraram firmes” (5:11; cf. Mateus 24:13).

 

A PACIÊNCIA DE JÓ

Entre os que serviam como modelo a ser imitado pelos cristãos, encontrava-se Jó: “Tendes ouvido da paciência de Jó…”. O exemplo clássico de Jó era popular no primeiro século, para ilustrar as bênçãos de Deus sobre o sofredor fiel. Tiago facilmente presume que o leitor conhece Jó, de quem eles teriam que ter ouvido com frequência, nos discursos da sinagoga. Jó é considerado nas Escrituras Hebraicas um exemplo de fé e retidão, junto com Noé e Daniel (cf. Ezequiel 14:14-20).

Diz a Palavra que “Jó era íntegro e reto, temente a Deus, evitando o mal” (Jó 1:1). Jó era um homem piedoso, justo, próspero, bom pai, sacerdote da família, preocupado com a glória de Deus. O próprio Deus dá testemunho a seu respeito. Não obstante, ele perdeu todos os seus bens, todos os seus filhos e também a sua saúde (Jó 1:22; 2:10). Jó perdeu o apoio da sua mulher e o apoio dos seus amigos.

Lembremo-nos de que a paciência de Jó não foi passiva, mas ativa. A palavra usada com relação à atitude de Jó não é makrothumeo, mas sim hypomone, uma palavra que descreve não uma paciência passiva, mas sim a ação de perseverar, de sofrer, de suportar calma e heroicamente as provações, sem se deixar abater. Perseverança, portanto, não é apenas paciência ou passividade. Não é uma atitude passiva. Pelo contrário, é uma atitude dinâmica.

Jó questionou, protestou, argumentou, chorou, lamentou, discutiu com Deus. Contudo, seu mérito foi nunca abandonar a fé e a confiança em Deus, mesmo sem compreender plenamente a causa do seu sofrimento.  Jó se queixou, mas permaneceu leal e fiel a Deus em seus sofrimentos. O fato notável com relação à Jó é que, apesar de sua corrente de perguntas, apesar das agonizantes dúvidas que rasgavam seu coração, nunca perdeu a fé em Deus, a ponto de dizer: “Ainda que ele me matar, nele esperarei” (Jó 13:15). A grandeza de Jó reside no fato de que, apesar de tudo, nunca deixou de aferrar-se à fé, e sua fé estava posta em Deus. A submissão de Jó não é uma submissão servil, passiva e cega. Jó lutou, interrogou e questionou; às vezes, chegou até a desafiar. Mas a chama de sua fé nunca se extinguiu em seu coração.  O objetivo final dos sofrimentos é determinar a perseverança, sem que a fé fraqueje, e nisso ele serve como exemplo a ser imitado por nós. 

Muitos cristãos sofrem calados, recalcando sua dor, temendo que qualquer manifestação de sentimento seja vista como falta de fé. Confundem confiança com sofrimento passivo. Não foi assim a conduta de Jó. Não foi passivo. Mas no meio da dor que o esmagava, apegou-se a Deus. Pode haver uma fé que nunca em sua vida se queixou nem questionou; mas maior ainda é a fé que, torturada por interrogantes, mesmo assim ainda crê. 

Tiago não apenas ressalta o sofrimento do patriarca, mas também o “fim que o Senhor lhe deu” (5:11). Em Jó 42:12 lemos: “Assim, abençoou o Senhor o último estado de Jó mais do que o primeiro”. Deus restaura a sorte de Jó, dando-lhe o dobro dos bens. Deus recompensa aquele que permanece fiel nas tribulações. Vale a pena perseverar. Não ficamos abandonados e somos recompensados. A causa disso é que “o Senhor é cheio de compaixão e misericórdia” (5:11, NVI). A frase é um eco do Salmos 103:8. É por causa dele mesmo, do seu caráter, que ele nos socorre.

A ideia que Tiago está expressando é clara: se eles permanecerem fiéis e não cederem à tentação de abandonar Deus, na crença de que ele é menos do que um Deus de amor e misericórdia, eles verão por si mesmos a bondade de Deus, como Jó viu, e por fim serão capazes de louvar a Deus por sua bondade e compaixão. 

Esses atributos do Senhor deveriam servir de âncora e fundamento para aqueles cristãos perseguidos. À semelhança do que aconteceu com Jó, depois de suportar pacientemente o sofrimento injusto, eles também haveriam de receber misericórdia da parte de Deus. Que aguardassem, portanto, com paciência, o dia do Senhor.

 

CONCLUSÃO

O tópico é encerrado com o versículo 12: “Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não, para não cairdes em juízo”. É nítida a semelhança do pensamento de Tiago com os ensinamentos de Jesus (Mateus 5:34-37). Era comum, naquela época, uma pessoa tomar as coisas santas como avalistas de suas palavras, jurando por elas. Em meio ao sofrimento pelo qual estavam passando, aqueles cristãos oprimidos poderiam ser tentados a fazer juramentos precipitados, como geralmente ocorre em situações assim. Entretanto, para Tiago, assim como o cristão deve ter um falar seguro, no qual não haja lugar para murmuração, não deve empenhar desnecessariamente a palavra. A sua preocupação quanto a este assunto é porque não deseja que os cristãos “caiam em juízo”.

Qual de nós ainda não passou por alguma aflição? Quantos não se perdem na avalanche de problemas que o mundo causa? Em qualquer circunstância, a dignidade do cristão deve permanecer. Sob perseguição, ele é perseverante. Em aflição, ele não murmura. Em qualquer momento, sua palavra é verdadeira.

Haverá momentos na vida em que pensamos que Deus nos esqueceu. Não obstante, se nos aferrarmos aos restos da fé, no fim da vida também nós veremos que Deus é muito bondoso e muito misericordioso.