Texto de Estudo

Tiago 3:2:

2 Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo.

INTRODUÇÃO

 Até aqui, Tiago explicou duas características do cristão maduro: ele é paciente em meio às tribulações (Tiago 1) e pratica a verdade (Tiago 2). Nesta seção, ele trata da terceira característica do cristão maduro: controla sua língua. 

As palavras que proferimos podem ser bênção ou maldição, palavras que edificam ou palavras que arrasam. É contra essa dupla possibilidade que Tiago nos adverte. O poder das palavras é um dos maiores poderes que Deus deu. O ser humano pode usar a língua para louvar a Deus, orar, pregar a Palavra e levar os perdidos a Cristo. Um privilégio e tanto! Mas também é capaz de usar a mesma língua para contar mentiras que podem arruinar a reputação de uma pessoa ou magoá-la profundamente. A capacidade de proferir palavras corresponde à capacidade de influenciar a outros e de realizar tarefas grandiosas; no entanto, não lhe damos o devido valor. 

 

I – NEM TODOS DEVEM SER MESTRES.

Tiago começa com um conselho. Qual? “Meus irmãos, somente poucos de vocês deveriam se tornar mestres na Igreja, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com mais rigor do que os outros” (v. 1). Ao que parece, todos na congregação desejavam ensinar e ser líderes espirituais. Talvez estivessem impressionados com a autoridade e o prestígio dos cargos de liderança, esquecendo a tremenda responsabilidade e a prestação de contas que implicam! Os que ensinam a Palavra serão julgados com maior rigidez! Os mestres devem usar a língua para compartilhar a verdade de Deus, e é fácil pecar com a língua. Além disso, os mestres devem praticar o que ensinam, pois, de outro modo, seus ensinamentos não passarão de hipocrisia. Não é difícil imaginar os danos que um mestre pode causar por se mostrar despreparado ou por sua vida não condizer com seus ensinamentos. 

Tiago diz se você quer ser mestre, se você quer ser líder, tome cuidado, não é que você não deva almejar uma posição de liderança, se Deus lhe deu essa capacidade, esse dom, mas saiba de uma coisa, o líder vai ter um juízo maior. 

Ensinar era uma profissão altamente estimada e respeitada na cultura judaica, e muitos judeus que abraçaram o cristianismo queriam ser professores. Tiago os advertiu dizendo que embora seja bom ter a aspiração para ensinar, a responsabilidade dos mestres é grande porque suas palavras e seu exemplo afetam a vida espiritual das outras pessoas.

 

II. QUAL É O PODER DA LÍNGUA? 

Para responder a essa pergunta, Tiago faz uso de quatro comparações. As duas primeiras comparações apresentam um ponto em comum: o pequeno controla o grande, a parte controla o todo.

Tanto o que dizemos quanto o que não dizemos é importante. O dano que a língua descontrolada pode causar é comparado a um fogo devastador. As palavras infundadas e odiosas são prejudiciais porque espalham rapidamente a destruição, e ninguém pode deter os resultados após serem proferidas. As palavras bem ditas produzem vida para os que a ouvem, edificam, reatam relacionamentos, firmam alianças, promovem paz e união e crescimento para a comunidade cristã.

Então, Tiago diz que se você controla sua língua, você controla o seu corpo inteiro; se você domina sua língua, você domina o seu corpo todo, e então você domina sua vida.

1. A língua tem o poder de conduzir. O poder da fala tem a capacidade de dirigir tanto para o bem quanto para o mal. Para exemplificar seu ensino, Tiago usa duas figuras para mostrar o poder da língua para dirigir, o freio e o leme.

“Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam”. Este pequeno mecanismo utilizado no meio equestre garante aos que praticam a montaria segurança e controle do seu animal, já que este, por sua natureza, dispensa impulsiva força. O cavalo é classificado como um animal de grande porte e, dependendo da raça, pode variar sua altura entre 1,50 m até 1,80 m e seu peso entre 200 kg e 800 km. O freio é uma pequena peça (aproximadamente 25 cm de comprimento por 11 cm de largura) aliada ao bridão  que se encaixa na boca do animal para que atenda às orientações do cavaleiro. Uma peça de poucos centímetros é capaz de controlar e conduzir um animal de quase 1 tonelada. 

“Tomem também como exemplo os navios; embora sejam tão grandes e impelidos por fortes ventos, são dirigidos por um leme muito pequeno (...)”. O tamanho e o peso de um leme são desprezíveis, se comparado ao tamanho e o peso de um grande navio, mas ele tem como função direcionar essa gigantesca embarcação. De acordo com a vontade do timoneiro, o leme vira o navio para a direita ou para esquerda. O navio vai para onde o leme o dirige.

Quando a nossa fala é direcionada para o mal está cheia de amargura, ciúme, ambição, egoísmo, preocupações e desejos terrenos, pensamentos e ideias não espirituais, desordem e males. Mas quando ela é conduzida pela sabedoria divina e pelo poder do Espírito Santo, fluem de nós palavras que promovem pureza, paz, consideração pelos outros, edificação, misericórdia, sinceridade, bondade e amor.

O freio e o leme têm o poder de dirigir, o que significa que afetam a vida de outros. Um cavalo disparado ou um naufrágio podiam causar ferimentos e até mesmo ser fatais para pedestres e passageiros. As palavras que proferimos afetam a vida de outros. 

O que Tiago está dizendo é que se nós não controlarmos a nossa língua, nós seremos como um transatlântico sem leme e sem direção. Se não controlarmos nossa língua, vamos nos arrebentar nos rochedos, vamos nos destruir e vamos ainda destruir quem está perto de nós, porque a língua tem poder de dirigir para o bem ou para o mal. 

Assim como o leme arrasta o navio e o freio direciona o cavalo, da mesma forma a língua tem este poder – direcionar e conduzir o corpo inteiro. Para onde sua língua o tem levado? Qual a direção que ela tem dado à sua vida?

2. A língua tem o poder de destruir. A língua não tem apenas o poder de dirigir, mas também tem o poder de destruir. Tiago lança mão de outra figura, a figura de uma fagulha, que põe e incendeia uma floresta.

Considerem que esta comparação de uma pequena fagulha incendiando uma grande floresta diz respeito não só à imagem de devastação causada na paisagem, à morte da vegetação, mas também ao resultado irreversível desta tragédia. É impossível obter o mesmo aspecto, ou a mesma condição de vida que existiam anteriormente ao incêndio. Mesmo sendo uma pequena fagulha, o fogo é devastador, destruidor, alastra-se com facilidade e consome tudo, restando apenas cinzas.

O fogo, depois que se agiganta e alastra torna-se indomável e deixa atrás de si grande devastação. Assim é o poder da língua. Um comentário maledicente se espalha, a boataria medra e a fofoca se infiltra; como labaredas de fogo, a fofoca vai se alastrando e provocando destruição. Assim como o fogo cresce, espalha, fere, destrói e provoca sofrimento, prejuízo e destruição, assim também é o poder da língua. Muitas vezes, fazem-se comentários acerca de uma pessoa, ou de uma determinada situação, em um tom jocoso, em tom de brincadeira, mas não podemos imaginar o que uma palavra irrefletida, mal colocada, pode provocar na vida de uma pessoa. E, então, Tiago está nos alertando que a língua tem de igual modo o poder destruidor. Tiago diz no versículo 6 que a língua é fogo. Ele não disse que é como fogo, mas é fogo. Tiago faz uma afirmação categórica. Ele diz também que a língua é um mundo de iniquidade. A língua corrompe. Mais do que isso, a língua contamina, fermenta, joga uma pessoa contra a outra. 

Não ousemos ser descuidados com as palavras, pensando que mais tarde teremos oportunidade para nos desculpar, porque mesmo agindo desta forma as cicatrizes permanecerão. Algumas palavras faladas com ira podem destruir um relacionamento que levou anos para ser construído. Antes de falar, lembre-se de que as palavras são como o fogo – você não pode controlar nem consertar o dano que elas podem causar.

3. A língua é indomável. Nos versos 7 e 8, Tiago diz que o homem com o seu gênio consegue domar as aves, os répteis e os peixes, consegue domar o que está no ar, na terra e na água. Mas ninguém conseguiu domar a língua, isso é impressionante: “Mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal” (v. 8).

Se ninguém pode controlar a língua, porque devemos nos importar tentando fazê-lo? Embora não consigamos ter um controle perfeito deste pequeno órgão, o Espírito Santo nos ajuda a desenvolver o domínio próprio. Não estamos lutando contra o poder da língua com nossas próprias forças. O Espírito Santo nos dá um crescente poder para monitorar e controlar tudo o que dissermos. Ele nos lembrará do amor de Deus e falaremos a verdade, só o que for necessário e de forma gentil.

4. A língua é incoerente. Outra lição deste texto é que não pode haver duplicidade na palavra do cristão (vv. 11,12). Tiago usa três exemplos para ilustrar o seu ensino:

A primeira ilustração é a fonte que jorra água: “Por acaso pode a mesma fonte jorrar água doce e água amarga?” (v. 11). A resposta é não! Uma fonte não pode produzir dois tipos de água. Da mesma maneira, a língua de um cristão não pode produzir dois tipos de palavras, a de bênção e a da maldição. “Com a língua bendizemos o Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. Da mesma boca procedem a bênção e a maldição. Meus irmãos, não pode ser assim” (v. 9,10).

A segunda ilustração empregada por Tiago é a da árvore que produz frutos segundo a sua espécie: “pode uma figueira produzir azeitonas ou uma videira, figos?” (v. 12). Cada árvore produz frutos segundo a sua espécie, de acordo com a sua natureza. 

A terceira ilustração, semelhante à primeira, mas com uma variação diz: “Da mesma forma, uma fonte de água salgada não pode produzir água doce” (v. 12). Uma fonte que só produza água amarga não é errada em si mesma. Pode ser uma fonte medicinal, de águas sulfurosas. Nesta última ilustração, a fonte só jorra uma qualidade de água, potável ou não potável. Não importa qual seja, mas é uma só. A fonte salgada não produz água doce e vice-e-versa.

A mesma língua que usamos para falar dos outros é a mesma língua que usamos para louvar a Deus no culto. A mesma língua que usamos para glorificar ao Senhor com nossos cânticos e orações usamos também para ferir de morte uma pessoa criada à imagem de Deus. A língua não apenas é incoerente, mas também contraditória. 

Nossa fala contraditória frequentemente nos confunde. Às vezes, nossas palavras são corretas e agradáveis a Deus; porém, às vezes, são violentas e destrutivas. Quais destes padrões de fala refletem nossa verdadeira identidade? Fomos criados à imagem de Deus, mas nossa língua tende a dar um retrato da nossa natureza pecaminosa. Deus trabalha para nos transformar de dentro para fora. Considerem as palavras do Senhor Jesus “a boca fala, do que o coração está cheio”. Quando o Espírito Santo purifica um coração, ele concede o domínio próprio para que o crente saiba o que falar, quando falar e falar com propósito.

 

II – O PECADO DA MALEDICÊNCIA

Tiago, nos versículos 11 e 12, do capítulo 4, mais uma vez volta ao assunto do uso correto da língua. Agora, fala declaradamente contra a fofoca, maledicência, difamação etc., mas de um novo ponto de vista: associa a maledicência com o julgamento. Ele corrige esse grave pecado mostrando algumas coisas:

1. Como devemos considerar uns aos outros como irmãos. Tiago chama seus leitores de “irmãos” para lembrar-lhes de que são da mesma família. E adverte aqueles irmãos que “não critiquem nem falem mal uns dos outros” (v. 11, A21). Vocês já perceberam que quando se trata de falar mal do outro, o outro nunca está presente para se defender? Não existe motivo para gerarmos maldições em nossa vida através da maledicência. Quando alguém vier falando de outro irmão, ignore, fuja ou exorte. Mas não seja um participante ativo, nem um ouvinte passivo deste pecado e injustiça. Diante de Deus, falar mal de um irmão é algo imoral e incorreto. Tiago diz enfaticamente: não fale mal do outro irmão. Afinal, somos uma só família, e nossas diferenças foram cravadas na cruz, tornamo-nos um só corpo, por meio do sacrifício de Jesus Cristo.

2. Como devemos considerar a Lei. Tiago diz no verso 11: “Quem fala contra o seu irmão ou julga o seu irmão, fala contra a Lei e a julga”. Se falarmos mal, nós quebramos o preceito da lei que devíamos obedecer. Jesus resumiu a lei como o amor a Deus e ao próximo (Mt. 22:37-40), e Paulo disse que o amor demonstrado ao próximo satisfaria plenamente a lei (Rm. 13:6-10). Quando falhamos em amar, estamos, na verdade, infringindo a lei de Deus. A Palavra de Deus funciona como um espelho. Quanto mais olhamos para ela mais vemos quem somos. Quando tiramos os olhos da Palavra de Deus, passamos a observar mais a vida e o comportamento dos outros. Por isso, quanto menos fixamos nossos olhos na Palavra de Deus, mais os fixamos nos outros e maior facilidade teremos de nos tornar maledicentes. Falar mal dos outros é uma forma de revelar que estamos olhando pouco para a Bíblia.

3. Como devemos considerar a Deus. Leiam agora a primeira parte do verso 12: “Há apenas um Legislador e Juiz,...” (v.12a). Deus é o legislador, o sustentador da vida e o juiz. Quando falamos mal do irmão pecamos contra Deus.

Tiago está dizendo que Deus é o único que faz as leis e o único juiz. Só ele pode salvar ou destruir. Nós só podemos ver o pecado, mas não podemos fazer algo eficaz contra ele, enquanto Deus pode vê-lo e definir a sentença do pecador. Se houver arrependimento, há salvação; se não houver, há condenação, e Deus promete que vai fazer justiça a todos nós. Ele vai julgar o mundo através de Jesus (At. 17:31). Quando tomamos a frente disso, estamos tomando um lugar que só pertence a Deus.

Se o ato de falar mal é claramente visto como pecado, o ato de julgar também deve ser visto desta forma, porque é a usurpação de algo nobre que traz embutida a autoridade que só pertence a Deus e foi prometida por Deus. Devemos ter a consciência de que julgar os irmãos é passar por cima da autoridade de Deus; porque ele proibiu julgar, só ele tem direito de julgar. E já prometeu que vai julgar.

 4. Como devemos considerar a nós mesmos. Tiago nos adverte que quando falamos mal do irmão, colocamo-nos numa posição de superioridade. Observe o que diz a parte final do verso 12: “Mas quem é você para julgar o seu próximo?”. Não somos melhores do que ninguém. Somos apenas discípulos em processo de crescimento. Quanto mais consciente de minhas falhas e limites, mais estarei disposto a crescer e a melhorar. Jesus Cristo enfatizou: “Ou como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o argueiro que está no teu olho, não atentando tu mesmo na trave que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão.” (Lucas 6:42). Discípulo que deseja a maturidade é o discípulo que busca o referencial em Jesus e busca a perfeição em si mesmo, sem exigir dos outros. Quem precisa melhorar sou eu. Eu, estando mais firme com Cristo, saberei amar e auxiliar meus irmãos em suas falhas pessoais.

 

CONCLUSÃO

Quando Jesus transforma o coração, as mudanças começam a aparecer em todas as áreas da nossa vida, tanto em atitudes quanto em palavras. Às vezes, essas mudanças demoram. Mas geralmente uma fonte cristalina tem que produzir palavras cristalinas.

Você já reparou no poder que as palavras têm de fazer bem ou mal? Consegue se lembrar de uma vez em que você foi desmontado por uma palavra maldita? Por outro lado, lembra-se de alguma vez em que alguém falou uma palavra de encorajamento que mudou toda a sua perspectiva de vida? Você tende a abençoar ou a amaldiçoar?

Tiago compara a língua com uma árvore e seu fruto. A árvore fala de fruto e fruto é alimento. Fruto renova as energias, a força, a saúde e dá capacidade para viver. Nós podemos alimentar as pessoas com uma palavra boa, uma palavra vinda do coração de Deus, uma palavra de consolo. Fruto também fala de um sabor especial. Nós podemos dar sabor à vida das pessoas pela maneira como nos comunicamos. 

A natureza humana tenta nos impelir a fofocar, resmungar, criticar, xingar, blasfemar, julgar. Mas foi por isso que Jesus veio para este mundo. A morte e a ressurreição de Jesus tiveram como alvo a salvação daqueles que depositam sua confiança (fé) nele para a vida eterna, e o efeito desta salvação, operada em nós pelo poder do Espírito Santo, produz transformação na vida, no coração, na mente e até na língua de todos os que têm Cristo como seu Senhor e Mestre.