Texto de Estudo

Tiago 1:9-10:

9 Mas glorie-se o irmão abatido na sua exaltação, 10 E o rico em seu abatimento; porque ele passará como a flor da erva.

INTRODUÇÃO

Valorar é uma experiência humana que se encontra no centro de nossa vida. Em todas as nossas ações buscamos valores positivos e fugimos dos negativos. Assim, recriminamos quem rouba ou abusa do poder e apreciamos determinadas músicas que ouvimos. A valoração tem o objetivo de orientar a ação prática, pois nenhum ser humano é indiferente aos valores. Sempre somos afetados de algum modo. Assim, os valores servem para orientar-nos nas escolhas que fazemos cotidianamente.

Os valores são parte da herança cultural da comunidade a que pertencemos. A diversidade de costumes entre os povos demonstram que as experiências de valoração variam conforme a cultura e época. No entanto, Deus proporcionou à humanidade valores eternos que transcendem épocas e culturas. Nós, filhos do Deus altíssimo, a partir do estudo da Bíblia, devemos conhecer esses valores e praticá-los todos os dias, a fim de sermos sal e luz para este mundo em trevas.

Os capítulos que estudaremos hoje na epístola de Tiago trazem valores eternos importantes para a nossa vida cotidiana, principalmente no relacionamento entre irmãos. Vejamos quais são eles.

 

CULTIVANDO VALORES ETERNOS

Tiago, em sua epístola, denuncia a decadência nos relacionamentos entre os irmãos que estavam sendo perseguidos no primeiro século da Era Cristã. Observa-se a falta de maturidade diante das dificuldades, pois murmuravam constantemente pela condição que passavam e pela aparente ausência de Deus. Verifica-se o preconceito aos irmãos de condição mais humilde. Essa atitude preconceituosa dos ricos em relação aos pobres revela que a riqueza também era alvo das provações para aqueles irmãos. Diante dessa fragilidade espiritual do povo, Tiago escreve essa carta a fim de exortar, corrigir e ensinar àqueles irmãos perseguidos.

Nos versos 9 a 11, do capítulo 1, Tiago nos ensina um precioso valor: a vida espiritual não deve ser guiada pela condição econômica em que nos encontramos. As questões financeiras são provações dificílimas que testam o nosso caráter cristão. A pobreza não pode servir como justificativa para nos afastar da comunhão dos irmãos ou murmurarmos contra Deus. Ao mesmo tempo, Tiago nos alerta que o rico também tem suas provações, como, por exemplo, lidar com a avareza, o orgulho, a soberba e a tentação de colocar sua confiança em seu poder aquisitivo.

Por isso, ele nos ensina que a pessoa de condição humilde deve se gloriar na sua dignidade (1:9). O adjetivo grego tapeinos indica alguém de condição abatida, e pode se referir ao status social ou à condi¬ção espiritual. No pensamento secular, esse termo era usado como pobre ou desprezado. Mais tarde, seu emprego no pensamento cristão veio a ser no sentido de manso, pobre de espírito. Aqui, por causa do contraste com o rico, no verso seguinte, signifi¬ca alguém de baixa condição social, alguém de um nível social baixo, pobre, desprovido e desamparado. Daí a ideia de abatido (ARC). 

O pobre tem sua honra diante de Deus. Nesse sentido, ser pobre não é pecado. Existem cristãos que são de condição pobre. Porém, Tiago não os está elogiando por isso. Por outro lado, existem cristãos que são de condição rica. Igualmente, Tiago não os está condenando pelo fato de serem ricos. Na verdade, está ensinando qual deve ser a atitude do cristão para com as pos¬sessões materiais. As duas ideias se harmonizam na discussão objetiva aqui empreendida por ele.

Tiago diz que o rico deve gloriar-se na sua insignificância (1:10), referindo-se que não devemos colocar nossa confiança na riqueza, na segurança financeira, pois do contrário estaremos longe de entender quais são os verdadeiros valores do cristianismo, que tem como cerne a dependência completa do nosso Pai Eterno. Ser rico também não é um pecado. O centro da questão exposta por Tiago não está no quanto possuímos de bens, mas onde depositamos a nossa confiança.

Nestas duas exortações, a palavra-chave é “gloriar-se”. A palavra grega traduzida “glorie-se” pode significar jactar-se ou regozijar-se. Assim, quando um irmão de condição humilde se gloria ou se regozija na sua exaltação, esta o leva espontaneamente a louvar o Senhor. Ao mesmo tempo, o rico que se gloria na sua fragilidade humana louva a Deus. De fato, o ato de gloriar-se não deve ter bases seculares, sem louvar ao nosso Deus. Assim, Tiago enfatiza que não importa a condição financeira, cada servo de Deus deve gloriar-se em sua condição.

Tiago vem combater a ilusão contemporânea, segundo a qual a realização está no ter. Puro engano! A realização está no ser. Diz o sábio: “O bom nome vale mais do que muita riqueza; ser estimado é melhor do que ter prata e ouro” (Provérbios 22:1 NTLH). Entretanto, no último século o ser se dissociou do ter. As pessoas tentam chamar a atenção pelo que possuem e não pelo que são. O conteúdo intelectual das pessoas é diminuído e valoriza-se apenas a forma.

Nos dias atuais, há um grande número de pessoas para quem não basta ter, têm que parecer possuir. Daí a razão do endividamento exagerado, para que tenham acesso a determinados bens de consumo que são símbolo de riqueza e que os destaquem socialmente. Infelizmente, os cristãos não estão imunes a essa problemática social. Para muitos, as bênçãos terrenas são focadas no ter e não naquilo que sou, na transformação que Deus realizou em minha vida.

Quais são os seus valores? Essa é uma pergunta sobre a qual vale a pena refletir, pois os nossos valores acabam estabelecendo a nossa agenda, prioridades e procedimentos. Ao invés de se envergonhar por ser pobre, mantenha o tesouro da dignidade. A busca de bens, por quaisquer que sejam os meios, tem arruinado nossa sociedade. “Seja bem-sucedido economicamente, custe o que custar!” Esta é a filosofia que parece nortear o mundo de hoje. Nós, cristãos, precisamos ser coerentes com a nossa fé, mesmo correndo o risco de sermos chamados de “ultrapassados”. Devemos sustentar nossos princípios. É me¬lhor ser um pobre honesto e em paz com a consciência e com Deus do que ser um rico desonesto e não ter paz e glória moral. Isto não significa que todo rico é desonesto. Significa, sim, e precisamos reafirmar isto, que a honra deve ser preferida à desonra, mesmo que esta traga riquezas e aquela, pobreza. Os cristãos precisam reafirmar a superio¬ridade dos valores morais e espirituais à nossa geração, que vive engolfada num materialismo pragmático. 

No verso 11, Tiago emprega uma metáfora, dizendo: “Porque o sol se levanta com seu ardente calor, e a erva seca, e a sua flor cai, e desaparece a formosura do seu aspecto”. O texto nos remete ao livro do profeta Isaías 40:6-8, no qual o profeta traz uma mensagem de consolação ao povo de Judá que estava cativo na Babilônia, dizendo que o tempo de escravidão havia se completado. A expressão “o povo é erva” refere-se à humanidade, mais particularmente aos caldeus, cujo momento histórico estava passando, e Babilônia, tal como a erva, secando. O quadro que Tiago usa a fim de imprimir essa ideia na mente de seus leitores é o de um fenômeno dramático, observado na Palestina. As anêmonas e as ciclamens florescem maravilhosamente pela manhã, mas, à medida que o sol vai subindo e o dia se torna mais quente, elas vão pendendo, murcham e acabam morrendo. No final da tarde, as flores que havia pouco estavam em pleno viço agora não mais existem e não renascerão. 

Tiago diz que a glória do rico é passageira, “porque ele passará como a flor da erva” (1:10). Ele compara o caráter efêmero do rico à transitoriedade dessas flores e conclui: “Da mesma forma o rico murchará em meio aos seus afazeres” (1:11, NVI). Se a confiança do rico estiver depositada nos bens materiais, ele murchará. Secará. Será reduzido a nada. Daí a necessidade de se humilhar diante de Deus.

 

A INEFICÁCIA DO PODER ECONÔMICO

É possível que, mediante uma leitura superficial dos versículos 1 a 6, do capítulo 5, alguém conclua equivocadamente que Tiago está falando contra as riquezas. Há outras passagens que demonstram que não é isso o que está sendo dito (cf. Dt. 8:18; Pv. 10:22; 1Tm. 6:17). É Deus quem dá a força para ganhar dinheiro, é a bênção de Deus que enriquece, é Deus quem dá riqueza para o aprazimento. Se a riqueza fosse uma coisa errada, esses textos não a estariam retratando, com estas palavras, como bênção de Deus.

Não é contra a riqueza em si que Tiago está falando. O que percebemos, nessa passagem, é que as finanças revelam muito sobre o coração humano, “porque onde está o teu tesouro, ali está o teu coração” (Mt. 6:21). Não é onde está o coração que você coloca o seu dinheiro, mas o contrário. Se, por um lado, riqueza pode ser o resultado da bênção de Deus, por outro, percebemos que riqueza pode também ser um meio de se afastar da presença de Deus.

Tiago discursa sobre a insignificância das riquezas, não a insignificância dos ricos. Ele se dirige aos ricos avarentos, injustos e os alerta que o dinheiro não conseguirá comprar a salvação; ao mesmo tempo em que não terá valor quando Cristo voltar. Portanto, a denúncia que Tiago faz é o perigo quando amamos o dinheiro, pois conduz a ação maldosa. O dinheiro em si não é o problema. Paulo escreveu a Timóteo dizendo que “o amor do dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (1 Timóteo 6:10).

Assim, Tiago denuncia a vaidade dos ricos que acham que a vida consiste em acumular bens. O convite feito para que haja choro e lamento é frequentemente usado pelos profetas para descrever a reação dos perversos quando chegar o dia do Senhor (cf. Isaías 13:6; 15:3; Amós 8:3).

Nesta seção, Tiago faz três denúncias sobre a riqueza ostentada por alguns membros da igreja e que os colocam sob o juízo de Deus.

Em primeiro lugar, Tiago diz como a riqueza foi adquirida. O que estavam fazendo alguns cristãos, a quem Tiago escreveu essa carta? No versículo 4, está dito: “Vejam, o salário dos trabalhadores que lhes ceifaram os campos, e que por vocês foi retido com fraude, está clamando contra vocês” (NVI). Havia cristãos que não estavam pagando o serviço devido ao trabalhador. Não só estavam atrasando, mas também fraudando, ou seja, pegando parte do salário para si. Esse é o pecado que Tiago condena: aquisição de riquezas obtidas pela retenção de salários. O rico egoísta obteve sua riqueza mediante a injustiça. 

No versículo 6, Tiago diz como eles agiam: “Vocês têm condenado e matado o justo, sem que este ofereça resistência” (NVI). A palavra “condenado”, aqui, é uma evidência clara de que eles estavam levando ou deixando levar o caso para a justiça. Portanto, é razoável supor que aqueles senhores não estivessem cumprindo suas responsabilidades para com os seus funcionários. E o que o pobre podia fazer já que não tinha como se defender? Como o rico tinha condições de contratar um advogado esperto e influente, continuava sem quitar seus compromissos. Mas, Tiago faz uma séria advertência aos ricos dizendo que “o lamento dos ceifeiros chegou aos ouvidos do Senhor dos Exércitos” (5:4, NVI). Deixar de pagar os direitos e o salário justo àqueles que prestam serviço para você constitui pecado. Todo ganho deve ser honesto, assim como deve ser pago todo débito honesto.

Em segundo lugar, Tiago mostra como a riqueza foi empregada. No versículo 5, é dito: “Vocês viveram luxuosamente na terra, desfrutando prazeres, e fartaram-se de comida em dia de abate” (NVI). A expressão “luxuosamente” aqui tem o significado de viver uma vida bastante tranquila, desfrutando do bom e do melhor. Tiago diz isso para pessoas que haviam lesado as finanças dos seus funcionários. A palavra “prazeres” sugere alguém que está em busca de esbanjamento. Estas duas palavras juntas sugerem a ideia de uma vida sem autonegação e sem resistência ao pecado quando este promete prazer e conforto.

Portanto, Tiago está aqui denunciando o mau uso das riquezas por meio de uma vida desmedida, que foca na vida terrena em detrimento da eternidade. O rico egoísta usou sua riqueza em seu exclusivo benefício. Sua vida foi empregada em deleites e em dissipação, e entregue à desenfreada libertinagem. Portanto, são condenados por terem usado seus bens para gratificar seus próprios desejos, satisfazendo sua luxúria e esquecendo-se de todo dever para com o próximo. 

Autoindulgência é algo próprio de uma vida centrada em prazeres e focalizada em si mesma. Esteja atento, pois pode acontecer de estar cometendo os pecados de ganho injusto e de autoindulgência. Opulência, autoindulgência e consumismo revelam mais do que qualquer coisa a quem a pessoa realmente ama e serve.

Em terceiro lugar, Tiago diz qual é o destino final da riqueza. Nos versículos 2 e 3, Tiago diz assim: “A riqueza de vocês apodreceu, e as traças lhes corroeram as roupas. O ouro e a prata de vocês enferrujaram, e a ferrugem deles testemunhará contra vocês e como fogo lhes devorará a carne. Vocês acumularam bens nestes últimos dias” (NVI). Os membros ricos da igreja estavam acumulando bens de tal forma que Tiago foi levado a escrever esses versículos assim duros. Possivelmente, a riqueza a que Tiago se refere neste capítulo deve ser compreendida como cereais e azeite. Eles foram acumulados de tal forma a ponto de estragarem, enquanto poderiam ter sido usados para alimentar os famintos, mas infelizmente se tornaram inúteis.

A expressão “as traças corroeram as suas roupas” aplica-se aos armários abarrotados de roupas que são usadas raramente e que são um lugar propício para traças. Eles tinham tantas roupas, que elas estavam apodrecendo no armário. Tiago considera moralmente errado acumular roupas desse modo, tendo em vista que há tanta gente muito necessitada pelo mundo afora.

E não era só isso! Tiago diz que havia ainda outro erro: eles tinham também amontoado prata e ouro. Naquele tempo, quando se cunhavam moedas, o metal não era tão puro como pode ser hoje, de forma que o material podia ser corrompido. Era o que estava acontecendo com eles: acumulavam tanto que não eram capazes de consumir o montante acumulado, e o dinheiro enferrujava. Ao dizer que o “fogo lhes devorará a carne”, Tiago afirma que eles experimentarão a ira de Deus. Assim como o rico da parábola do “Rico e Lázaro”, ele terá de sofrer as consequências das decisões feitas na terra. 

Tiago é taxativo sobre a falta de generosidade e sobre o mau uso dos recursos financeiros que prejudicam os que mais necessitam. No dia do julgamento, a ferrugem do ouro e da prata será chamada por Deus para testemunhar contra os ricos que não usaram suas riquezas com generosidade.

Fora da vontade de Deus, os bens não passam de coisas. Quando, porém, nos sujeitamos a sua vontade e usamos o que ele nos dá para lhe servir, essas coisas transformam-se em tesouros, e passamos a investir na eternidade. O que fazemos na Terra é registrado no céu; Deus cuida do "livro caixa" e paga os juros. Como é triste ver pessoas acumulando tesouros "nos últimos dias" em vez de "ajuntar tesouros no céu". A Bíblia não desestimula a prática de poupar e nem mesmo de investir, mas condena o acúmulo de riquezas de origem injusta. 

 

CONCLUSÃO

Tiago nos ensina, nestes versos, que devemos cultivar valores que provêm de Deus e que nos proporciona uma vida espiritualmente saudável. Na busca pela sobrevivência neste mundo capitalista, seremos levados a priorizar a obtenção dos bens materiais que nos distancia de um relacionamento fiel com Jesus.

 Ao mesmo tempo, essa lição nos exorta sobre nosso relacionamento com o próximo. Diante das denúncias de Tiago, faça uma avaliação de suas atitudes. Sou egoísta? Pratico a solidariedade? Priorizo os valores corruptos desse mundo ou os celestiais? Ore e peça orientação ao nosso Deus para que o sirvamos com fidelidade!

 

 

 

 

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