Texto de Estudo

Apocalipse 4:2:

2 E logo fui arrebatado no Espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono.

INTRODUÇÃO

O capítulo 4 de Apocalipse demonstra a soberania de Deus sobre o universo. As cenas e figuras que surgem nesta visão focam a adoração a Deus pelo seu poder e obras criativas. Seres celestes, cuja identidade é muito discutida, tributam louvor a Deus sem cessar; com os quatro seres viventes. Vinte e quatro anciãos se unem em louvor e adoração celestiais. A cena é de majestade e deslumbramento, e fornece um contraste marcante à sombria realidade do juízo divino. 

Terror, destruição e medo são muitas vezes associados às revelações que João recebeu de Deus na Ilha de Patmos. No entanto, o estudo aprofundado e dirigido pelo Espírito Santo nos proporciona a compreensão de um livro que foi escrito para dar esperança e encorajamento aos salvos em Jesus revelando que a causa de Cristo em nada é perdida. 

Na lição de hoje veremos que não importa quão temíveis ou incontroláveis as forças do mal parecem ser na terra, elas não podem anular ou esconder o fato de que, por trás do palco, Deus está governando o universo, no seu trono. Não há acaso nem falta de controle. O futuro está nas mãos de Deus. 

 

A SALA DO TRONO DE DEUS 

O início do capítulo 4 faz referência à visão de João no capítulo 1 de Apocalipse: “Depois destas coisas…” (4:1). Esta expressão pode significar uma segunda visão ou a segunda parte de sua visão. Nela, a figura central é o trono de Deus. O cenário mudou da terra para o céu, de igrejas terrenas, em suas lutas, para o trono de Deus.

Em sua visão celestial, João viu que diante dele havia “uma porta aberta no céu” (4:1, NVI). A porta aberta permitiu que João olhasse para dentro. Somente a abertura da porta do céu pode permite-nos ver as coisas futuras reveladas por Deus. O conhecimento sobre as coisas vindouras não é alcançado por magias ou leitura dos astros, nem mesmo por profecias humanas. Nós não podemos conhecer nada do futuro da humanidade, a menos que Deus o revele para nós. 

O chamado de João veio por meio de uma voz “como de trombeta”: a voz de Cristo Jesus (1:10). A promessa é que ele mostrará a João “as coisas que depois destas devem acontecer” (4:1, ARC). Esses acontecimentos começarão em 6:1. Em seguida, João diz que imediatamente se viu “tomado pelo Espírito” (4:2, NVI), ou como preferem alguns tradutores, foi “arrebatado em espírito” (ARC). Neste instante, João não vê pelos olhos físicos nem escuta pelos ouvidos naturais. A partir daqui, João tem uma visão do sobrenatural.

João viu um trono no céu e o glorioso Deus assentado nele. Trono é lugar de autoridade, honra e julgamento. O trono significa o poder e a presença de Deus. É o símbolo da soberania inabalável de Deus. As revelações dadas a João nesta visão mostram que Deus é soberano e vitorioso. O Criador do universo está no controle de tudo e conduzirá a história até a consumação final.

A palavra “trono” aparece 230 vezes em toda a Bíblia. Das 51 passagens do Novo Testamento em que aparece a palavra grega thronos, 37 estão no livro de Apocalipse e 13 só neste capítulo 4, sendo, portanto, mais frequente aqui do que em qualquer outra porção do mesmo. Ao longo do capítulo 4, João utiliza diversos termos que centralizam o trono de Deus: “sobre o trono”, “ao redor do trono”, “a partir do trono”, “diante do trono”, “meio do trono”. 

O trono de Deus é o centro do universo. Ali se decide a história e o curso dos acontecimentos. Na visão do Apocalipse, tudo na vida acontece em volta do trono, e fora dele não há nada que possa acontecer e ser ainda conhecido, clamado ou entendido como algo que vem da parte de Deus. O trono é o centro do universo, por isso ele tem que ser também o centro de nossa vida. 

Em sua visão, João diz que aquele que estava assentado no trono “era, na aparência, semelhante à pedra de jaspe e de sardônica” (4:3). Diante da majestade daquele que está assentado no trono, João só pôde descrevê-lo pelo brilho de pedras preciosas: a pedra de jaspe é a mais cristalina e a mais pura. A luz irradia com abundância por essa pedra. O sardônico tem cor avermelhada, a mais translúcida que existe. É possível que o jaspe represente a insuportável brancura da pureza de Deus; que a cornalina represente a sanguinolenta ira divina e que a esmeralda represente sua misericórdia, a única coisa que nos torna possível defrontar com a pureza e a justiça de Deus.  O Deus entronizado é santo e justo!

Ao redor do trono há um arco-íris com aparência de esmeralda. Em Gênesis, o arco-íris é símbolo de graça e misericórdia de Deus e da sua aliança com seu povo, segundo a qual não mais o destruiria (Gênesis 9:8-17). Com base nisso, alguns intérpretes afirmam que este arco-íris visto por João simboliza a bondade e a aliança de Deus com a Igreja. Ainda que o juízo final venha sobre a humanidade, a Igreja de Cristo será poupada. A misericórdia, que se renova a cada manhã, é oferecida por Deus antes de ele derramar o seu juízo sobre a terra.  Há, porém, quem entenda que não se trata de uma alusão ao arco-íris da aliança, posto que aqui o arco é verde como a esmeralda, e não multicolorido. Nosso autor quer sem dúvida notar que, mais do que um arco, é um alo, uma auréola, algo esplendoroso. Nesse caso, indicaria a glória e a santidade divinas (cf. 10:1; Ezequiel 1:28). 

João diz que “do trono saem relâmpagos, vozes e trovões” (4:5). Esses fenômenos naturais que interrompem intermitentemente o ambiente já tremendo sugerem as manifestações visíveis e audíveis da presença de Deus no Sinai, quando a lei foi dada (Êx 19:16). Na poesia hebraica, as trovoadas sugerem a presença e a majestade de Deus (1 Samuel 2:10). Em geral, tais exibições de fenômenos naturais são usadas para descrever teofanias (Ezequiel 1:13; Salmos 18:13; Jó 37:2-5). São comuns no Apocalipse (16:18) e em ordem diferente (8:5). 

Ainda, “diante do trono, ardem sete tochas de fogo, que são os sete Espíritos de Deus” (4:5). Estas sete lâmpadas se relacionam com as lâmpadas de Zacarias (4:2,10), que eram os olhos do Senhor, mas não são os sete candeeiros (1:14). Elas são os sete espíritos (1:4) e simbolizam o Espírito Santo. Entre João e o trono havia uma superfície nivelada, provavelmente de pedras semipreciosas, “parecido com um mar de vidro, claro como cristal” (4:6). Os tronos dos reis frequentemente tinham superfícies como esta diante deles. Provavelmente, João estava aludindo à passagem de Êxodo 24:10. 

 

OS VINTE E QUATRO ANCIÃOS

João diz que “ao redor do trono, há também vinte e quatro tronos, e assentados neles, vinte e quatro anciãos vestidos de branco, em cujas cabeças estão coroas de ouro” (4:4). Esses tronos estão ao redor e não no centro. O Senhor está assentado sobre um alto e sublime trono (Isaías 6:1). Ele reina sobre todos.

Os 24 anciãos aparecem frequentemente no livro de Apocalipse. Eles estão assentados ao redor do trono, vestidos com túnicas brancas e levam coroas (4:4; 14:3); rendem homenagem com suas coroas, colocando-as diante do trono (4:10); adoram e louvam continuamente (5:11,14; 7:11; 11:16; 14:3; 19:4); trazem a Deus as orações dos santos (5:6); um deles consola João quando este se sente triste (5:5); um deles age como intérprete de uma das visões (7:13). 

Quem são eles? Alguns exegetas identificam os 24 anciões em uma corte angélica que cerca a Deus (1Re 22:19). Porém, é pouco provável que sejam anjos, pois, em Apocalipse 7:11 os anciãos se distinguem dos anjos. Sugeriu-se que os 24 anciãos representam simbolicamente os 24 turnos de sacerdotes (1 Crônicas 24:5-18). Outros sugerem que os 24 anciãos representam os 12 patriarcas e os 12 apóstolos reunidos, simbolizando os dois pactos do povo de Deus.  Para boa parte dos estudiosos, é mais provável que estes anciãos representem a comunidade da antiga e nova aliança, isto é, a Igreja perfeita e consumada. Uma vez que havia 12 tribos em Israel e 12 apóstolos, talvez o número 24 simbolize a inteireza do povo de Deus.

Nessa visão, o fato dos anciãos estarem assentados no trono simboliza a autoridade e o poder concedidos à Igreja de Cristo. Os vestidos brancos referem-se à redenção que atingiu os homens. Essas vestiduras brancas são promessas aos fiéis em Cristo. A totalidade da Igreja que adora e louva a Deus entronizado é representada pelo número 24. Já as coroas de ouro simbolizam honra, prestígio e autoridade dos salvos.

 

OS QUATRO SERES VIVENTES

João vê, ainda, “no meio do trono e à volta do trono, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás” (4:6). Os quatro seres viventes servem a Deus como mensageiro. São cheios de vida, sempre alertas e inteligentes. São cheios de olhos na frente e por trás de modo que nada escapa à sua atenção. 

Os quatro seres viventes se assemelham aos de Ezequiel, mas João foi bem original na maneira de usá-los. As quatro faces dos querubins de Ezequiel eram as de um homem, um leão, um boi e uma águia (1:10). Os seres viventes do livro de Apocalipse eram como um leão, um touro, um homem e uma águia voando (4:7). João seguiu Isaías 6:2 ao dar a cada uma das criaturas seis asas (4:8). Os olhos estão por diante e por detrás, dando a entender que podem perceber qualquer coisa, em qualquer direção. 

Quem são esses quatro seres viventes? Há várias interpretações sobre quem eles sejam e qual é a função deles. Para alguns, eles representam os quatro Evangelhos. Para outros, eles representam a totalidade da natureza. E, para outros ainda, eles representam seres angelicais. O número quatro provavelmente advém dos quatro pontos cardeais.

A importância desses seres é expressa na referência a eles, feita por João, em 14 ocasiões diferentes. No verso 8, podemos observar que eles proclamam sem cessar os seguintes atributos de Deus: santidade, onipotência e eternidade. O céu é o lugar de celebração, louvor e glorificação do nome de Deus. A primazia destes quatro entes resulta de sua posição (4:6), do grande número de olhos, de sua função de líderes da oração (4:9; 5:8,14), bem como de sua intervenção nos mais importantes acontecimentos do exercício da soberania pelo Cordeiro (6:1-8; 15:7). 

Os quatro seres viventes cantam o Trisagion: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, que era, e que é, e que há de vir” (4:8). E quando os seres viventes deram glória, honra e ações de graças àquele que estava sentado no trono; os 24 anciãos se prostraram diante dele, depositaram suas coroas diante do trono e o adoraram, cantando: “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas” (4:11).

Ao comparar o cântico dos quatro seres viventes e dos vinte e quatro anciãos (4:11), observam-se diferenças relevantes. Os quatro seres viventes glorificam a santidade de Deus, o seu poder, o seu exclusivo e sai eternidade, enquanto os anciãos glorificam a Deus por sua obra da criação. Deus é celebrado como criador e como rei do universo. Além disso, em vez da expressão “ações de graças” (4:9), o cântico contém a expressão “poder”. 

A última seção do versículo 11 nos leva a interpretar que a vontade de Deus é a causa da criação, e o Senhor Jesus é o agente dessa criação. Este mundo não veio à existência por sua própria evolução, mas por Deus exercer sua vontade, expressa pelo autor da Carta aos Hebreus: “Pela fé entendemos que os mundos, pela palavra de Deus, foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente” (11:3). Esta conclusão é adequada ao relato da sala do trono de Deus: Deus é soberano em sua criação. 

 

CONCLUSÃO

O trono e o Entronizado são a centralidade da visão que João recebeu de Deus. Tudo acontece a partir do trono. O trono é o centro do Universo. Graça e juízo emanam dele. Toda a adoração, louvor e glória são dirigidos ao Entronizado. Ao nosso Deus seja a honra e a gloria, pelos séculos dos séculos. Amém!