Texto de Estudo

Neemias 9:2:

2 E a descendência de Israel se apartou de todos os estrangeiros, e puseram-se em pé, e fizeram confissão pelos seus pecados e pelas iniqüidades de seus pais.

INTRODUÇÃO

A ênfase no livro de Neemias é de reconstrução, não apenas dos muros de Jerusalém, mas principalmente a reconstrução de uma nação quebrada, decadente, que se encontrava em grande apuro e miséria; era esse seu desafio.

No capítulo 9 de Neemias, encontramos uma das mais belas orações de confissão de toda Bíblia. Israel fez uma retrospectiva de sua história e viu o quanto pecara, mas também viu o quanto Deus é bom. Numa atitude de contrição e quebrantamento, o povo olhou para o passado, a fim de ver onde tinha caído e de não repetir mais os mesmos erros. 

Na lição de hoje, vamos refletir sobre os resultados do reavivamento que o povo israelita experimentou após a reconstrução dos muros de Jerusalém.

 

RESULTADOS DE UM AVIVAMENTO GENUÍNO 

O capítulo 9 de Neemias faz a transição entre a Festa dos Tabernáculos (8:13-18) e a aliança feita pelo povo diante de Deus (9:38-10:39), que produziu grandes mudanças. Neemias, falando sobre as consequências do reavivamento, toca em quatro pontos importantes. Senão, vejamos:

1. Quebrantamento espiritual. Neemias diz que a festa já havia terminado, mas o povo ainda permanecia na cidade e desejava ouvir mais da palavra de Deus. Havia fome da Palavra. Os banquetes transformaram-se em jejum e as vestes festivas foram trocadas por pano de saco (v. 1). À medida que a Palavra os convencia da culpa, os judeus sentiam cada vez mais a necessidade de se confessar a Deus.

O arrependimento está intimamente ligado a uma profunda tristeza pelo pecado e a um desejo intenso de mudança. Por isso, quando confrontados com seus pecados, os filhos de Israel “se reuniram, jejuaram, vestiram pano de saco e puseram terra sobre sua cabeça” (v. 1, NVI). O povo jejuou e cobriu-se com pano de saco. Esse é um sinal de tristeza (Gênesis 37:34), humilhação (1 Reis 21:27), desespero (2 Reis 19:1) e angústia (Ester 4:3). O gesto de por terra sobre a cabeça completava a expressão de tristeza e arrependimento. Essas reações eram o resultado de um profundo e genuíno reavivamento espiritual, que vinha da alma, de um coração arrependido e contrito. Este avivamento não provocou apenas movimentos, cânticos e celebrações festivas, mas, principalmente, arrependimento e confissão de pecados.  Pecado e alegria são coisas incompatíveis (Salmos 32:3-4); não há espaço para a alegria enquanto o pecado não confessado reside no coração do crente.

Isso nos serve de lição, pois vivemos em um contexto religioso em nosso país onde se valoriza muito os “avivamentos” que promovem apenas o ativismo religioso, sem produzir mudanças; prioriza-se muito o movimento do corpo, mas não se mexe com a alma. Conforme diz o adágio popular, há “muito trovão e pouca chuva”. Mas aqui vemos todo um povo que sentia a miséria de seus pecados, e por isso demonstraram profundo desespero, profunda tristeza. 

2. Separação de tudo que Deus condena. Os sinais do arrependimento também foram acompanhados de atitudes concretas. O povo de Israel tomou decisões firmes e de grande significado espiritual. Na verdade, o avivamento produzido pela Palavra sempre vem acompanhado de atitudes que o refletem.

O texto informa que “os descendentes de Israel se separaram de todos os estrangeiros” (v. 2, BV). Não se trata de alienação, de viver sem contato ou sem se relacionar com pessoas “descrentes”, como muitos assim creem. Havia mandamento do Senhor quanto a isso “Não andeis nos costumes da gente que eu lanço de diante de vós” (Levíticos 20:23). Os estrangeiros aos quais o texto faz menção são os cananeus, um povo envolvido com todo tipo de idolatria e práticas pecaminosas, e com quem o povo de Israel se misturara desde a saída do Egito, por meio de casamentos mistos. Essa mistura levou o povo de Israel à idolatria. Esdras enfrentou esse problema e determinou a despedida das mulheres estranhas (Esdras 10). Entretanto, a mistura ainda se observava nos dias de Neemias. 

Assim, quando o avivamento chegou, o povo apartou-se dos po¬vos estranhos e de seus deuses. Tomaram essa decisão porque lhes fora ensinado por meio da leitura e explicação da Palavra de Deus que tal prática era abominação ao Senhor.

3. Confissão de pecados. O povo também dedicou algum tempo à confissão de seus pecados (v. 2) e buscou o perdão do Se¬nhor. A comemoração anual do Dia da Expiação havia passado, mas os adoradores sabiam que precisavam ser constantemente purificados e renovados pelo Senhor. 

Um elemento fundamental no processo de arrependimento é a confissão de pecados. Não se trata apenas de um reconhecimento superficial de culpa, mas sim de expor o pecado, sem reservas. É admitir para si mesmo seus erros e procurar corrigi-los (quando possível). Um bom exemplo é a confissão do Rei Davi: “Então reconheci diante de ti o meu pecado e não encobri minhas culpas” (Salmos 32:5 NVI). Confessar é declarar-se culpado diante de Deus. O povo de Israel estava agora assumindo diante de Deus que havia pecado, e eles não só confessaram suas culpas, mas também a de seus antepassados; ou seja, reconheceram que estavam repetindo os mesmos pecados cometidos por seus pais. Eles assumiram a culpa, reconhecendo seus pecados e admitindo que o mal que havia caído sobre eles era fruto de suas transgressões e de seus ancestrais.

4. Valorização da Palavra. Neemias diz que o culto que aconteceu no dia 24 daquele mês foi diferente e especial: houve três horas de pregação e três horas de oração de confissão (v. 3). O reconhecimento da culpa e a consequente confissão só se tornaram possíveis depois que ouviram e refletiram sobre a Palavra de Deus. Esta tem sido, ao longo do tempo, a responsável pelos mais notáveis despertamentos espirituais.

Se quisermos experimentar um verdadeiro reavivamento espiritual, precisamos começar por dar primazia à Palavra de Deus em nossa igreja, em nossa família e em nossa vida. O conhecimento das Escrituras provocou um claro entendimento da ação de Deus na História. Deus está ativo na história do seu povo e na história das nações. 

 

ADORAÇÃO E EXALTAÇÃO A DEUS

Um momento marcante nesse capítulo é a oração conduzida pelos levitas. Eles se posicionaram “no estrado dos levitas”, provavelmente o mesmo púlpito de madeira construído para Esdras (Neemias 8:4), ou semelhante a ele. Era um local de destaque, pois além de traduzir a leitura do livro da Lei, eles também conduziram as orações.

Alguns elementos dessa oração são destacados como segue:

1. Exaltando o Deus Criador (v. 6). A revelação bíblica se inicia com essa grande verdade, afirmando ser o Senhor o criador dos céus e da terra (Gênesis 1:1), em contraste com os ídolos dos povos pagãos que eram simplesmente criados pelo homem, ou seja, produtos de suas mãos ou simplesmente de sua imaginação (Salmos 115:4-8; Isaías 44:9-20). Essa grande verdade permeia toda a revelação de Deus. A adoração a Deus repousa sobre o fato de ele ser o criador de todas as coisas (Ap. 4:11). Depois de tanto tempo envolvido na adoração aos falsos deuses, Israel tributava novamente ao Senhor a glória devida ao seu nome; era uma oração de adoração acima de tudo.

2. Exaltando o Deus que se revelou a Abraão (vv. 7,8). A origem histórica, religiosa e étnica de Israel encontra suas raízes bem firmadas em Abraão e na aliança que fora estabelecida com ele por Deus.

A leitura da Palavra do Senhor trouxe à memória de um povo o significado de sua existência. Também a menção ao chamado de Abraão era uma confissão da fidelidade de Deus à promessa feita ao patriarca, bem como a seu cumprimento por meio de todo cuidado para com seus descendentes, enquanto lembrava-se ao povo que todos estavam ali não pelo favor de um rei, mas pela promessa de Deus a Abraão.  A aliança com Deus é feita com base na inexpugnável rocha da Palavra, de modo a guardá-la. O compromisso é andar, guardar e cumprir os mandamentos, juízos e estatutos da Palavra.

3. Exaltando o Deus que livrou a Israel no Egito (vv. 9-11). A história da nação de Israel está diretamente ligada ao êxodo: ela depende desse acontecimento, ela só existe porque Deus livrou o povo de Israel da escravidão e abriu o mar para que ela atravessasse. Foi um grande feito: ou Israel passou pelo mar ou Israel não existe, pois toda sua história repousa nesse acontecimento. Na história do êxodo, Deus é lembrado pelo seu caráter libertador e ao mesmo tempo justo, pois ele julgou o Egito por sua soberba, arrogância, idolatria e sua crueldade em oprimir Israel.

Embora estivesse experimentando a libertação do cativeiro babilônico, aquela geração não sabia dos feitos realizados pelo Senhor durante o livramento da escravidão no Egito, não tinha consciência de que seus pais atravessaram pelo meio do mar seco, cujas águas formaram duas muralhas (Êx 14:21-22). 

4. Exaltando o Deus que guiou seu povo no deserto (vv. 12-15). Os 40 anos no deserto foram de constante provisão de Deus para seu povo. Os levitas destacam aqui alguns episódios. A coluna de fogo durante a noite e a nuvem durante o dia (v. 12) eram a presença e a proteção de Deus, dando-lhes direção - no deserto eles jamais foram abandonados pelo Senhor. Receberam leis justas e mandamentos bons (v. 13); essas leis e mandamentos eram o código de moral e ética que Deus entregava ao seu povo. Mas, além disso, era a revelação da vontade de Deus para seu povo, era Deus se fazendo conhecer por meio de sua Palavra revelada. Israel não tivera juízos retos, leis verdadeiras e estatutos e mandamentos bons desde que fora escravizado no Egito. A revelação da Palavra era a base sendo lançada para o início de uma nação com identidade própria e regida por um governo teocrático. O “teu santo sábado lhe fizeste conhecer” (v.14).

Não devemos jamais esquecer que ali estava um povo escravo, sem direitos, sem o favorecimento da lei e principalmente sem descanso. E Deus não apenas lhes deu um dia para cessarem suas atividades de trabalho, mas lhes fizera conhecer seu valor e seu significado. Não se tratava apenas do sábado, sétimo dia da semana, separado por Deus para descanso, mas, acima de tudo, um dia que trazia à memória do povo de Israel que o Senhor é o Deus verdadeiro, pois ele é o criador de todas as coisas e, consequentemente, tudo lhe pertence (Êx 20:8-11).

No deserto, não faltou nem pão nem água, pois Deus proveu o maná do Céu, e a água saia da rocha (v.15); era a provisão de Deus para garantir a sobrevivência de seu povo até que ele pudesse chegar à terra prometida. Além do alimento para o corpo, o povo teve também o alimento para sua vida espiritual, pois o Senhor lhe deu do “seu Espírito” para lhe ensinar. Mesmo não sendo mencionado por Moisés, compreendemos hoje que a revelação de Deus por meio de suas Leis foi por inspiração do seu Espírito (2 Pedro 1:21). E foi assim que Deus sustentou seu povo no deserto, lugar onde as chances de sobreviver são mínimas. Suas vestes não envelheceram nem seus pés incharam; na verdade, as suas sandálias cresciam junto com seus pés. Deus fez seu povo vitorioso: conquistaram reinos, cresceram em número e se tornaram fortes e poderosos, vencendo batalhas mesmo não tendo as mínimas condições para isso; foram vencedores em tudo. O segredo de suas conquistas era a fidelidade de Deus, a força que vinha do Senhor.

5. Relembrando a desobediência dos seus antepassados (vv. 16-23). Ao relembrar a desobediência das gerações passadas, o povo pôde ver que a índole deles era de orgulho e endurecimento diante de Deus. Era comum o povo esquecer-se das maravilhas realizadas por Deus. Mas ainda assim Deus não os desamparara ao longo dos séculos, em razão da promessa feita a Abraão, Isaque, Jacó e a Davi.

6. Relembrando a conquista de Canaã (vv. 24,25). Os levitas ainda relembram mais fatos da história de Israel: a conquista da terra de Canaã, onde viram Deus cumprir suas promessas. A posse da Terra Prometida era fruto das bênçãos de Deus, das vitórias que alcançaram sobre povos muito mais numerosos que eles pela mão de Moisés, de Arão e de seus exércitos. Não conquistaram a terra por causa dos seus generais, capitães nem por suas estratégias bélicas, mas venceram e destruíram os inimigos porque Deus estava com eles. 

7. Relembrando a ingratidão do povo (vv. 26-30). Diante de tantas vitórias, êxitos e sucessos, qual foi a resposta do povo ao longo dos séculos? Obstinação, rebelião, des¬prezo à lei do Senhor, assassinato dos profetas e prática de grandes abominações que incluíam lançar seus filhos no fogo, sacrificando-os aos demônios, adoração aos deuses estranhos e casamento com mulheres cananeias.

Na oração, eles reconhecem que muitos profetas foram enviados da parte do Senhor para corrigi-los em tempos de apostasia e desobediência. No entanto, os judeus se mostraram indiferentes e rebeldes, e “obstinadamente deram de ombro, endureceram cerviz e não quiseram ouvir” (v. 29). Não é de se admirar quando vemos que muitas pessoas se comportam da mesma maneira. São abençoadas, prosperam com a graça de Deus, têm paz e segurança, mas por qualquer apelo do mundo deixam de lado a Palavra de Deus.

O que se destacou na história do povo de Israel foi o contraste entre este e Deus: o Senhor sempre estendeu a mão, mas o povo sempre se rebelou (Isaías 65:2). Desprezaram o Senhor, foram idólatras, fizeram tudo o que os outros povos faziam, envolveram-se em casamentos com os cananeus. Cometeram todo tipo de pecado, inclusive lançando seus filhos ao fogo em sacrifício aos demônios. Isso foi o pano de fundo para que os que vieram do cativeiro compreendessem que a causa de seu declino como nação e que seu próprio cativeiro tinham raízes em sua constante rebeldia. Isso nos ajuda a entender que Deus não quer o mal para seu povo, mas somente o bem, tanto é que aqueles remanescentes estavam ali ainda devido às misericórdias do Senhor (v. 31).

8. Relembrando e suplicando a misericórdia de Deus (vv. 31-37). Os levitas agora voltam sua atenção ao Senhor, e a oração ganha um tom de “grito” de socorro. É pedido que o Senhor “leve em consideração tudo o que já nos aconteceu” (v. 32).  Reconhecem que Deus é justo, que havia colocado seu povo em uma terra espaçosa, que eles tiveram tudo “para dar certo”, e, no entanto, estavam em apuros, sendo agora escravos em sua própria terra (v. 36). Quanta decadência! Eles produziam para os outros, trabalhavam para outros usufruírem de seu trabalho. Uma numerosa nação reduzida a um pequeno povo. Cerca de seis milhões de judeus entraram na terra de Canaã. Daquela multidão só restavam agora cinquenta mil, ou seja, menos de 1%.  Esse é o resultado do pecado!

 

O POVO APRENDE E RECOMEÇA 

Em meio ao arrependimento e quebrantamento de coração, o povo fez um concerto com o Senhor. Estabeleceram uma aliança de fidelidade; uma decisão bastante séria, pois ela foi “selada” (v. 38). Isso denota seriedade, pois não era um compromisso apenas de lábios, da boca pra fora. Em nosso contexto, diríamos que foi “assinado, carimbado e registrado em cartório”. Havia agora o desejo de fazer certo, de não mais repetir os erros do passado.

 

CONCLUSÃO

Não resta dúvida de que os pecados cometidos pelo povo de Deus o entristecem. E mais, deixam Deus irado. Os pecados “mortais” de Israel tiveram suas raízes no conformismo com o mundo de sua época. Os cristãos deveriam ser mais cuidadosos quanto a isso. A indiferença, a ingratidão, a soberba, a vontade de ser igual à maioria, a forma como nos relacionamos com este mundo, a influência de nossa cultura e a maneira sutil com que o diabo e o mundo nos seduzem são os “abismos que chamam outro abismo” (Salmos 42:7).

São muitas as lições que temos aprendido como resultado deste estudo. Uma delas consiste em saber que não há mudança de atitude, quando não há arrependimento e confissão. Na oração de confissão e contrição, Israel faz uma retrospectiva de sua história e descobre que respondeu à bondade e misericórdia de Deus com ingratidão e rebeldia. Esse exercício de memória fez Israel crescer espiritualmente, como notaremos, mais claramente, no próximo estudo. Aquele que não recorda o erro do passado está condenado a revivê-lo.  Portanto, querido estudante, sempre relembre a sua história e a história do povo de Deus, para aprimorar os acertos e não repetir os erros.

Os remanescentes que estavam com Neemias receberam a chance de recomeçar, reconstruir, refazer tudo, e assim o fizeram. Como tem sido seu relacionamento com Deus? Existe algo que precisa reconstruir? Hoje é o dia de recomeçar. Por meio do arrependimento e confissão sincera, estabeleça hoje seu “concerto de fidelidade ao Senhor”.

 

 

 

 

Related Articles

CONFESSANDO OS PECADOS A DEUS, Sábado
Neemias 9:1-5: 1 E, NO dia vinte e quatro deste mês, ajuntaram-se os filhos de Israel com jejum e com sacos, e traziam terra sobre si. 2 E a...
CONFESSANDO OS PECADOS A DEUS, Sexta-Feira
Hebreus 12:1-10: 1 PORTANTO nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que...
CONFESSANDO OS PECADOS A DEUS, Quinta-Feira
2 Coríntios 7:2-10: 2 Recebei-nos em vossos corações; a ninguém agravamos, a ninguém corrompemos, de ninguém buscamos o nosso proveito. 3 Não digo...
CONFESSANDO OS PECADOS A DEUS, Quarta-Feira
Lucas 15:8-11: 8 Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a...