Texto de Estudo

Neemias 10:28-29:

28 E o restante do povo, os sacerdotes, os levitas, os porteiros, os cantores, os servidores do templo, todos os que se tinham separado dos povos das terras para a lei de Deus, suas mulheres, seus filhos e suas filhas, todos os que tinham conhecimento e entendimento, 29 Firmemente aderiram a seus irmãos os mais nobres dentre eles, e convieram num anátema e num juramento, de que andariam na lei de Deus, que foi dada pelo ministério de Moisés, servo de Deus; e de que guardariam e cumpririam todos os mandamentos do SENHOR nosso Senhor, e os seus juízos e os seus estatutos;

INTRODUÇÃO

A primeira reforma promovida por Neemias foi de ordem estrutural. A cidade de Jerusalém passou por uma grande reforma física, econômica e social. Os muros foram reconstruídos e as portas edificadas; os ricos devolveram os bens que haviam tomado dos pobres. Os sacerdotes retornaram ao zelo da Casa de Deus. Já a segunda reforma, a mais importante, foi de ordem espiritual. Surgiu do desejo de conhecer a Palavra de Deus. O povo começou a estudar a Bíblia e a orar, e os resultados vieram: choro, confissão dos pecados e desejo de acertar-se com Deus.  O benefício da leitura da Palavra de Deus promoveu o avivamento experimentado pelo povo de Deus, fazendo com que os israelitas assumissem um compromisso de obedecer ao Senhor e à sua Palavra. Compromisso esse assumido de forma pública, verbal e escrita.

É sobre isso que estudaremos na lição dessa semana.

 

CELEBRANDO A FESTA DOS TABERNÁCULOS

Nosso texto de estudo compreende um fato muito importante da história do povo de Deus. O evento em questão estava sob a liderança de Esdras, que atuava como mestre da Lei. Os fatos podem ser conhecidos com propriedade nos capítulos 8 a 12. E no meio desses capítulos está a celebração contida no capítulo 10, que é nosso texto de estudo.

O capítulo 8 nos diz que houve a mobilização de todo o povo para a celebração da Festa dos Tabernáculos depois que Esdras fez a leitura da Lei diante deles. Isso ocorre na sequência da narrativa sobre a reconstrução dos muros de Jerusalém, coordenada por Neemias no meio de muitas dificuldades e oposições. Então, a chegada do período de festa foi muito bom, pois essa certamente foi uma oportunidade para o povo expressar sua gratidão a Deus durante as celebrações.

A Festa dos Tabernáculos, também conhecida como Festas das Tendas, das Colheitas, ou simplesmente Sucôt (tendas em hebraico) rememorava a peregrinação do povo de Israel pelo deserto quando do êxodo do Egito. Como o povo de Israel naquela ocasião abrigava-se em barracas ou tendas devido a sua constante movimentação por aquela difícil região, então, na posteridade, para refletir sobre as lições desse período, os judeus passavam a morar em tendas durante o período dessa comemoração. Também foi nesse período que o povo de Israel recebeu de Deus a dádiva da Lei por meio de Moisés. Na liturgia judaica, a Lei de Deus tem lugar especial nas celebrações da Festa dos Tabernáculos. 

A leitura da Lei é obrigatória. Afinal de contas, a Lei foi dada por Deus ao povo na saída do Egito, e, por conseguinte, é uma espécie de condição para a validade da aliança que Deus fez com os israelitas. A aliança que eles tinham com Deus era de suma importância. Por isso vê-se a decisão de se submeterem à autoridade das Escrituras. Eles sabiam que não podiam esperar bênçãos de Deus sem obediência à sua Palavra. As Escrituras eram sua carta de alforria. O povo não buscava milagres, não estava atrás de prosperidade e saúde, nem procurava os atalhos do misticismo. Eles entraram em aliança para andar na Lei de Deus, para cumprir os mandamentos do Senhor. O grande projeto de vida deles era a obediência. Eles queriam reforma de vida!  A festa fazia parte de sua aliança  e tem até hoje um aspecto muito alegre, terminando com uma dança em que são carregados os rolos da Lei após sua leitura completa durante as celebrações.

A Festa dos Tabernáculos, registrada a partir de Neemias 8 teve início logo após a leitura do Livro da Lei feita por Esdras. Nessa leitura, houve um clima de bastante comoção por parte do povo. Talvez movidos pela experiência de tomar conhecimento da Palavra de Deus, contavam ainda com a ajuda de Esdras, que, ao ler, traduzia e explicava a Palavra ao povo – fato ressaltado em Neemias 8:8. Ali, naquele momento, o povo teve conhecimento de que Deus havia ordenado a celebração dessa festa e explicado também como deveriam celebrá-la. Nos dias subsequentes à festa, a leitura da Lei era sempre realizada. No capítulo 9, nos é contado que todo o povo se humilhou diante de Deus numa cerimônia de confissão.

 

ASSUMINDO COMPROMISSOS COM DEUS

Como efeitos da celebração, encontramos no capítulo 10 todo o povo e suas lideranças reafirmando o compromisso com Deus e com sua Lei e preceitos. Em Neemias 9:38 é dito que eles estabeleceram uma aliança fiel e, depois que a escreveram, selaram essa aliança. Em seguida, no capítulo 10, nos versículos 2 a 27, apresenta-se uma lista de nomes de pessoas que participaram dessa cerimônia. Do versículo 28 em diante, há o delineamento do compromisso. Essa narrativa expressa, além de um sentimento e desejo de mudança em termos gerais, uma série de aplicações práticas específicas que podem ser vistas concretamente aqui nesses versos. 

O problema econômico é um aspecto interessante nessas aplicações práticas. O fim dos casamentos mistos, a guarda do sábado, do ano sabático, a disposição do tributo anual do templo, dos dízimos e das primícias, representavam condições antieconômicas da Lei e que, por sua aplicação, juntas diminuíam a capacidade rentável do povo em até 40%.  Desse modo, a intenção demonstrada naquele período festivo representaria ter que arcar com uma considerável redução na renda. E isso certamente representava uma dificuldade muito grande para a manutenção e realização do compromisso que o povo mostrava querer firmar.

Agora, não era só o desejo latente que era visto, mas rigorosamente a celebração desse comprometimento em termos legais no ato de selar o compromisso. As consequências de um compromisso assim seriam sensíveis a qualquer pessoa do povo. Literalmente, o povo estava disposto a arcar com os custos de seu compromisso.

O compromisso que os judeus assumiram na ocasião pode ser assim resumido: 1) que não contraíssem matrimônio com os pagãos (v. 30); 2) que não participassem do comércio no sábado e em dias sagrados (v. 31); 3) que garantissem o sustento adequado dos funcionários do templo e a manutenção de suas atividades, fazendo regularmente suas contribuições estipuladas (vv. 32-39), uma decisão que eles resumiram da seguinte forma: “Não negligenciaremos o templo de nosso Deus” (v. 39). 

 

O COMPROMISSO NOSSO DE CADA DIA

O livro de Neemias no ensina que devemos fazer o trabalho de Deus por completo, para servirmos alegremente ao lado de outros cristãos, para sermos fortes e resolutos quando há oposição, para nos entregarmos a ele em obediência amorosa e constantemente conservarmos nossa vida pura, para que Deus a use. Ensina-nos que devemos cuidar para que cumpramos os propósitos de Deus todos os dias, e isso se dá por meio da aceitação da Lei de Deus como propósito a ser atingido e cumprido por nós. 

Os fatos ocorridos em Judá, durante a liderança de Neemias e orientação de Esdras, deixaram algumas lições importantes para o povo de Deus. A celebração do compromisso de obedecer à Lei de Deus e a seus estatutos e preceitos é, por natureza da fé bíblica, uma condição básica para a vida do cristão. A fidelidade, além de ser expressa por palavras e sentimento devocional, também precisa ser materializada em aplicações específicas da vida cotidiana, pois isso faz com que sejam reforçados os propósitos por meio de uma mediação experiencial, onde todos, cristãos ou não, podem ver e conhecer os valores que norteiam a vida dos fiéis.

Na Festa dos Tabernáculos eram rememorados os motivos da peregrinação pelo deserto, e não a peregrinação por si só. Ora, no período do deserto, o povo de Israel contou apenas com o auxílio de Deus para superar aquele tempo difícil e escasso. Na teologia dos profetas, o deserto tornou-se um paradigma para o relacionamento entre Deus e o povo (Os 2:14-23). Esse relacionamento foi visto a partir da correção divina sobre aqueles do povo que viviam dispostos à rebeldia e falta de fé (Ezequiel 20:35-39). Ali, naquele tempo e lugar, o povo devia experimentar a providência e cuidados divinos. Também é memorável para os profetas o fato de que no deserto o povo não buscou outros deuses nem tampouco praticou a corrupção e violência. Deus foi, em termos gerais, suficiente a eles no deserto. Esse tempo de dependência, ensino, cuidado e juízo, que proporcionava o arrependimento, era sempre lembrado na festa.

O lugar da Lei na Festa dos Tabernáculos era obviamente devido ao fato de que no início da aliança entre Deus e o povo, Deus lhes deu a Lei para que vivessem de acordo com a sua vontade. Antes de uma pura obrigação, era uma providência que ensinava ao povo como agradar a Deus em seu dia a dia. Na saída do Egito, e depois na peregrinação pelo deserto, a Lei era um meio pelo qual o povo passava também a conhecer Deus. 

Nas igrejas cristãs, não há o costume de celebrar a Festa dos Tabernáculos, mas nem por isso os propósitos ali evidenciados deixam de ser privilegiados. Os retiros espirituais tem em sua essência a mesma motivação dessa festa. Ali, nos retiros, a Igreja concentra-se no estudo da Palavra, na meditação devocional sobre os temas da vida que a Bíblia ensina. Todos têm a oportunidade de avaliar a situação presente e tomar uma decisão, firmar um propósito de mudança ou melhora em seu estilo de vida. Consequentemente, muitos renovam seus votos de fidelidade a Deus, assim como vemos no texto do nosso estudo, em que, após as celebrações da festa, o povo pôde renovar seus votos a fim de construir uma vida melhor e aprazível a Deus. E essa não foi a primeira vez que isso aconteceu. No livro de Josué, lemos que, após se estabelecerem na terra de Canaã, todo o povo de Israel se reuniu para mais uma vez reafirmar a aliança com Deus (Josué 24).

A experiência da reforma espiritual, em Neemias 10 está vinculada ao desejo latente do adorador em agradar a Deus. E, à medida que esse adorador se percebe em desconformidade com a Lei de Deus, um constrangimento lhe arrebata em direção ao arrependimento e imediata disposição de reafirmar seu compromisso. Um avivamento ou reforma espiritual iniciado por essas motivações tem possibilidade de causar grande impacto na vida do cristão e da igreja. Antes de tudo, reforma e avivamentos são celebrações que rememoram aquilo que Deus já fez por nós, sendo também o reconhecimento de tudo o foi feito como sendo bom, até mesmo a correção, porque nos foi necessária.

 

CONCLUSÃO

A condição de peregrina como paradigma da igreja de Cristo nos leva a buscar constantemente um aprofundamento no relacionamento com nosso Deus. Na medida em que caminhamos, buscamos cumprir, em cada passo dado, os propósitos firmados diante de Deus em compromisso de fé e lealdade. E há sempre tempos e oportunidades propícias para reafirmação desses votos e também para corrigir os caminhos. 

Infelizmente, na nossa caminhada, vamos fazendo algumas concessões, que a princípio não nos custam nada e até mesmo nos trazem algum tipo de benefício, mas que, ao longo do tempo, parecem contribuir para o distanciamento de Deus. Conta-se que, em certa igreja, havia um homem que sem¬pre terminava suas orações pedindo: “E, Senhor, remove as teias de aranha da minha vida! Remove as teias de aranha da minha vida!”. Um dos membros da igreja se cansou de ouvir aquele pedido insincero semana após semana, pois não via mudança alguma na vida daquele homem. Assim, na semana seguinte, quando ouviu o homem fazer o mesmo pedido em sua oração, lhe interrompeu dizendo: “E, Senhor, aproveite e mate a aranha!”.  A Bíblia nos ensina que é sempre tempo de fazermos uma reforma espiritual em nossa vida e na igreja. Para isso, abandonemos as concessões e nos agarremos aos princípios da Lei de Deus. Apliquemo-nos em sermos obedientes em tudo, custe o que custar!

 

 

 

 

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