Estudo Texto

Neemias 6:3:

3 E enviei-lhes mensageiros a dizer: Faço uma grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse, e fosse ter convosco?

INTRODUÇÃO

No estudo anterior, vimos um sério problema interno da população israelita que voltou do cativeiro. Na realidade, o capítulo 5 do livro de Neemias é uma espécie de parênteses, pois a sequência cronológica do capítulo 4 é retomada no capítulo 6. Neste capítulo 6, Neemias nos informa que as investidas dos inimigos externos, vindas por parte de Sambalate, Tobias e Gesém, ainda continuavam a todo vapor. Ele não encontrava descanso. Antes era atacado por todos os lados. E, desta vez, os inimigos de Neemias usaram outros métodos. Unidos, os adversários conspiravam com sutileza e falsidade. No estudo de hoje, veremos como Neemias enfrentou essa dura oposição à obra de Deus.

 

O INIMIGO DISFARÇADO COM A DIPLOMACIA

O capítulo 6 começa com Neemias informando que a árdua obra de reconstrução do muro havia acabado em tempo recorde (v. 1). Neemias é detalhista a ponto de dizer que nenhuma brecha havia ficado. Talvez tenha dito isso para revelar que a obra fora finalizada por completo, mesmo tendo sido acossado por tantas ameaças.A única coisa que faltava era a instalação das portas, mas isso não seria problema. Problema mesmo foi quando a notícia do término das obras do muro chegou aos ouvidos de Sambalate, Tobias e Gesém.

O primeiro estratagema utilizado pelos inimigos de Neemias foi a diplomacia. Sambalate e Gesém enviaram uma correspondência, convidando a Neemias para que fosse até o Vale de Ono, localizado a 32 km ao norte de Jerusalém,próximo a uma das aldeias, para se reunir com eles (v. 2).  Este lugar foi escolhido porque tinha uma distância igual tanto para quem vinha de Samaria (norte) como para quem vinha de Jerusalém (sul).  Mesmo assim, para ir a este lugar, Neemias gastaria mais de um dia de viagem. Havia também o fator geográfico: este local ficava próximo às fronteiras de Samaria e Asdode;portanto, em território do inimigo.

Contudo, este não foi o principal motivo para a recusa de Neemias. Neemias “sentiu no ar” o cheiro da conspiração. E mais, ele estava muito ocupado com a grande obra que Deus lhe tinha encarregado (v. 3). Por que a interromperia? Neemias sabia gerenciar suas prioridades. Estava ciente do comentário que andava sendo feito:“As suas mãos largarão a obra, e não se efetuará” (v.9). 

Os inimigos de Neemias não recuaram. Usaram das mais baixas estratégias para convencê-lo: a insistência e a mentira. Por quatro vezes enviaram o mesmo pedido. E também por quatro vezes Neemias recusou (v. 4).

Realmente os inimigos de Neemias estavam decididos a acabar com o governo,já que eles não conseguiram impedir a reconstrução do muro, apesar do imenso esforço que fizeram. Restava destruir o líder de toda aquela restauração do estado de Israel.

Então, Sambalate resolveu enviar uma quinta correspondência (v. 5). Desta vez, a calúnia deu corpo àquela mensagem. Neemias foi informado de que tanto a população de outras localidades quanto chefes de estado veiculavam rumores de que ele intentava assumir o reinado sobre os judeus e se revoltar contra o Império Persa (vv. 6,7). Esta falsa diplomacia é muito difícil de ser detectada. Quem não acataria uma informação tão privilegiada como esta? Se tais rumores chegassem aos ouvidos de Artaxerxes, Neemias estaria em maus lençóis. Aí,de fato, toda a obra chegaria ao fim, pois o Imperador teria todo o direito de interrompê-la, uma vez que ela estava adquirindo caráter de motim.

Devemos lembrar que mesmo com Jerusalém totalmente reconstruída e com a vida da população voltando ao normal, os judeus ainda seriam vassalos do Império Persa. Teriam a cidade de pé, mas não teriam sua independência. Porém, Neemias revelou mais uma vez suas qualidades. Não se abalou. Ele se apegou a três coisas para não ceder a esta investida: ele estava com a verdade, estava compromissado com a obra de Deus e estava compromissado com a oração (cf. vv. 8,9).

Neemias enfrentou as calúnias de duas formas: em termos acentuadamente práticos,negou o rumor a Sambalate, que era a própria fonte (v. 8); e orou: “Agora, pois, ó Deus, esforça as minhas mãos” (v.9). Em outras palavras, pediu a Deus que o capacitasse para ignorar a fofoca e o ajudasse a prosseguir como inspirador, organizador e supervisor, até que a reconstrução fosse terminada. Ele entendeu que o real objetivo do boateiro era desmoralizá-lo junto ao povo, provocando medo com relação ao que Artaxerxes poderia fazer se todos fossem adiante e completassem os muros. 

Conosco acontece o mesmo. O diabo tenta criar distrações com o fim de nos fazer romper nosso compromisso com Deus. Porém, não devemos ser românticos. Às vezes, o inimigo se finge de amigo. Nem sempre ele nos tenta com uma mentira escancarada. O diabo é capaz de fazer um convite mortal parecer um convite amigável, pois está sempre querendo ganhar nossa confiança. Basta um descuido e tudo o que fizemos para o Senhor pode ser em vão se não ficarmos atentos aos ardis do diabo.

 

O INIMIGO DISFARÇADO DE RELIGIOSIDADE

As investidas continuavam. E desta vez a estratégia do inimigo era mais sutil. O suborno é uma tática antiga e ainda se mostra muito eficiente. Um profeta mercenário quis enganar Neemias (vv. 10-13). Sambalate e Tobias sabiam que Neemias era muito prudente e qualquer contato direto com ele ou qualquer coisa que pudessem dizer não abalariam sua confiança. Então fizeram algo cruel e baixo. Pediram a um “homem de Deus” para mentir.

Sob a orientação dos adversários, Semaías tentou ser o mais persuasivo possível. Ele convidou Neemias para se esconder na Casa do Senhor, mais especificamente, para ficar no meio do Templo (possivelmente no Santo dos Santos), pois a vida de Neemias estava em risco. Agora era um “profeta” que estava dizendo isso. Como não confiar? A estratégia de Semaías foi muito forte, porque ele se valeu dos elementos gravidade e pressa: “porque virão matar-te; aliás, de noite virão matar-te” (v. 10). Sem sombra de dúvidas, isso abalaria e preocuparia qualquer pessoa que estivesse na mesma posição de Neemias.

Entretanto, Neemias também não deixou se enganar. E isso pelas seguintes razões: primeiro, ele era um homem comprometido com as normas de Deus. Ele sabia que não tinha permissão para entrar no Templo, pois não era sacerdote. Além disso, nesse momento, Neemias revela sua humildade:“E quem há, como eu, que entre no templo para que viva?”(v.11). Segundo, Neemias era comprometido com a obra de Deus. Terceiro, Neemias sabia que não podia abandonar a obra para se esconder. Isso seria a ruína da missão que lhe havia sido dada. Neemias havia sido testado quanto a sua confiança. Agora, foi testado quanto ao seu caráter.

A junção de todos esses fatores permitiu que Neemias percebesse a fraude por trás daquela orientação. Sambalate e Tobias não conseguiram entrar na cidade, mas deram um jeito de infiltrar suas idéias e propostas. Porém, Neemias conseguiu escapar desta emboscada.

É de se lamentar o fato de um “profeta” ter vendido sua consciência e sua alma por algum dinheiro. Neemias destaca também a participação de alguns profetas e da profetisa Noadia que procuravam atemorizá-lo (v. 14). O fato de o nome dela ter sido citado significa que tinha alguma relevância naquela situação.

Depois de recusar a proposta de Semaías, Neemias mais uma vez faz uma breve oração,notificando a Deus que o objetivo de tudo aquilo era causar-lhe temor (v. 14). E por que Neemias ora? Porque ele sabia que sua vida estava nas mãos de Deus. Ele não poderia confiar em sua própria esperteza e inteligência. 

Precisamos pedir todos os dias a Deus que nos capacite para identificar as falsificações do diabo, incluindo aquelas que vêm com a máscara da religiosidade. Não é à toa que as Escrituras nos advertem sobre a possibilidade de o inimigo se fazer passar por um anjo de luz. Que ardiloso é o inimigo de nossas almas! Ele consegue se travestir de santidade para nos enganar. Ele se propõe até a ser nosso conselheiro! Já imaginou isso? Que Deus nos livre de tais estratégias.

 

O INIMIGO DISFARÇADO DE UM CONSELHO DE NOBRES

A terceira estratégia usada pelos inimigos de Neemias foi a frequente comunicação entre os nobres de Judá e Tobias (vv. 17-19). Antes disso, a narrativa nos situa no tempo ao dizer o mês em que o muro ficou pronto e quanto tempo isso levou (v. 15).

Perceba que esta porção da narrativa gera certa reversão no enredo de nosso drama. Antes era o povo que estava com Neemias que vivia atemorizado. Agora, o verso 16 diz que “todas as nações vizinhas ficaram atemorizadas” (NVI). Veja como se reverteu a situação. Antes, a confiança dos inimigos era tão excessiva que viram os judeus como“fracotes” (Neemias 4:3). Porém, bastou a obra ser concluída para Deus infundir tal temor nos corações dos inimigos de Israel,os quais“decaíram muito no seu próprio conceito” (v.16).Isso significa que até a alto-estima dos opositores ficou abalada. O mais maravilhoso disso tudo é que nenhuma glória veio para Neemias ou para os honrados trabalhadores. O autor faz questão de centralizar toda a atenção na intervenção divina (v. 16). A Deus seja toda a glória! 

Em seguida, Neemias relata outro truque sórdido utilizado por seus inimigos. Perceba que Neemias não enfrentava apenas uma ameaça externa. Havia também os aliados da oposição que estavam plantados dentro da cidade. Eram homens de posse, de influência. Eram nobres respeitados, pois faziam parte de uma das mais importantes tribos de Israel. Neemias nos informa sobre uma extensa e frequente troca de correspondências entre os nobres de Judá e Tobias (v. 17).

A influência alcançada por Tobias dentro do redil israelita se devia ao fato de ser ele genro de Secanias (v. 18). Derek Kidner nos explica isso melhor: 

 

A família de sua esposa, os descendentes de Ara, é mencionada em Esdras 2:5 e embora nem Secanias nem este Mesulão possam ser identificados, sabemospor meio de 13:4 que Tobias tinha laços familiares com a família sacerdotal ou sumo-sacerdotal de Eliasibe, provavelmente pelo casamento. Embora semelhantes elos e lealdades fossem suficientemente embaraçosos em si mesmos, agora ficamos sabendo quão ativamente eram explorados por intrigas, conversas persuasivas, transpirações de informações confidenciais, e cartas ameaçadoras. Tudo isto, além das pressões externas já descritas, submetiam Neemias ao ataque de quase todos os lados. Tinha sido um teste digno dele, e ainda não acabara. 

 

Neemias também captou a verdadeira intenção por trás de tudo aquilo. Ele também diz que “Tobias escrevia cartas para me atemorizar”(v. 19). Que momentos difíceis passaram Neemias!

Os nobres de Judá eram desleais, delatores e interesseiros. Faziam questão de falar bem de Tobias ante Neemias (v.19). Tobias era o adversário mais sagaz que os judeus tinham. Ele exalava conspirações insidiosas à distância. Mesmo assim, os nobres de Judá o respeitavam e se submetiam a ele. Que triste realidade enfrentou o servo de Deus! Como Neemias deve ter se incomodado!

Religiosidade mascarada, profecias corrompidas e alianças políticas não poderiam deixar de incomodar alguém tão comprometido com a retidão, justiça e obediência a Deus. Porém, Neemias não fez caso das cartas nem das ameaças e continuou trabalhando até que as obras estivessem concluídas. Afinal, seu trabalho foi feito “por intervenção do nosso Deus” (v. 16), e quando Deus começa uma obra, ele a leva até o fim (Fp. 1:6).

 

 

 

CONCLUSÃO

A reconstrução dos muros de Jerusalém, sob a liderança de Neemias, traz-nos preciosas lições sobre o valor, a natureza e a conduta correta de um líder que sabe administrar em tempos de crises. Que os líderes e os liderados compreendam o valor da liderança concedida por Deus. É indispensável que os líderes busquem o dom de discernir os espíritos, a fim de que não sejam enganados pelos inimigos.

Construir é difícil. Reconstruir também é muito árduo.Contudo, mais difícil ainda é realizar uma obra de grande porte quando os edificadores estão cercados de inimigos infiltrados nas fileiras dos que querem trabalhar.Os piores inimigos não são os que estão fora da Igreja, mas os que surgem e se desenvolvem dentro da própria comunidade cristã. Há pessoas que se infiltram no meio do povo de Deus com o propósito de prejudicar a obra do Senhor Jesus.

Para vencermos os nossos desafios hoje precisamos nos valer das mesmas ferramentas de Neemias, quais sejam: temor a Deus, caráter, coragem, vida de oração, espírito grato e uma percepção ampla de que tudo está nas mãos de Deus. Sabemos que não passaremos por situações hostis apenas uma vez. A batalha ainda não acabou. Apenas quando Jesus voltar, ela terá fim. Deus cuidará de ti, em cada dia proverá. Ele sabe de nossas lutas. Não vos atemorizeis. Maior é o que está em nós do que o que está no mundo! 

 

 

 

 

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