Texto de Estudo

Neemias 1:4:

4 E sucedeu que, ouvindo eu estas palavras, assentei-me e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus.

INTRODUÇÃO

A oração é um dos principais temas do livro de Neemias. Ela é o segredo para o sucesso do copeiro que se torna governador. A oração de Neemias, no primeiro capítulo, é a primeira de 12 orações registradas no livro. O livro começa e termina com uma oração. A lista começa com uma oração na Pérsia e termina com uma oração em Jerusalém.  As orações de Neemias estão cheias de adoração (Neemias 8 e 9), ação de graças (Neemias 12), confissão (Neemias 1 e 9) e petição (Neemias 1 e 2). Há orações de angústia, alegria, proteção, dependência e compromisso. É uma história de paixão, compromisso e persistência em orações pessoais e comunitárias. A oração dá uma perspectiva a Neemias, que amplia seus horizontes, aguça sua visão e supera suas ansiedades.

A vida pública de Neemias foi um reflexo de sua vida pessoal, que, por sua vez, foi uma vida mergulhada em oração. Sua devoção a Deus, sua dependência dele para tudo, e seu desejo de glorificar a Deus são ímpares. Neemias foi bem sucedido porque dependeu de Deus. Ele sabia que apenas um empreendimento iniciado em oração e banhado em súplica do princípio ao fim é susceptível de ser bem sucedido, como foi a reconstrução dos muros de Jerusalém. 

Na lição de hoje, vamos aprender um pouco mais com o exemplo de Neemias sobre os principais atributos de um intercessor.

 

PREOCUPAÇÃO COM O PROBLEMA

Neemias era o copeiro do rei Artaxerxes (v. 11). Seu trabalho consistia em provar o vinho do rei, antes de servi-lo, para se certificar de que não estava envenenado. Como copeiro real, Neemias ocupava uma posição de grande privilégio e responsabilidade. Ele tinha acesso íntimo à realeza, posição política e um lugar para viver no palácio. Era um trabalho com muitas vantagens que lhe proporcionava tudo o que precisava. Neemias tinha uma vida bem sucedida e segura.

Não obstante, quando Hanani, um de seus irmãos, regressou de Judá com um grupo de judeus, Neemias lhe perguntou “pelos judeus que escaparam e que não foram levados para o exílio e acerca de Jerusalém” (v. 2). A palavra “perguntar” significa “pedir ou exigir uma resposta”. Apesar de sua alta posição e de viver uma vida bastante confortável em Susã, Neemias demonstrou certo interesse e preocupação para com o que acontecia na cidade de Jerusalém. Ele queria saber sobre o restante do povo e sobre a real condição da cidade amada. 

Este é um ponto muito importante, pois é muito fácil ficarmos alheios e despreocupados com os problemas à nossa volta. Algumas pessoas preferem não pensar em coisas referentes à sua própria vida, quanto mais “perder tempo” para saber o que está acontecendo na vida de outros, pois esta informação pode implicar certas responsabilidades.  É bem provável que Neemias nunca houvesse ido a Jerusalém. Porém, ele tinha ouvido histórias sobre a cidade santa e sabia que seus antepassados haviam sido levados cativos, quando Babilônia a destruiu. Ele estava fazendo o que Jeremias instruiu os exilados a fazerem: “Lembrem-se do Senhor numa terra distante, e pensem em Jerusalém” (Jeremias 51:50 NVI).

Enquanto pensava em Jerusalém, Neemias ouvia o breve relatório de seu irmão, que lhe dizia que os sobreviventes estavam em grande miséria e desprezo, que o muro de Jerusalém estava em ruínas e que as portas haviam sido queimadas pelo fogo (v. 3). À medida que tentava imaginar a vergonha da cidade de Davi, ele mal podia suportar. A frase “grande miséria e desprezo” (v. 3) significava que as pessoas estavam “quebradas e caindo aos pedaços”. As más notícias que recebeu podem ser resumidas em três palavras: remanescente, ruínas e opróbrio.

Ao questionar seu irmão, talvez Neemias tivesse esperança de que os judeus houvessem começado a trabalhar outra vez e de que a cidade estivesse finalmente restaurada. Afinal, sem muros e sem portas, a cidade ficava exposta ao escárnio e ao ataque inimigo.  Entretanto, Neemias ficou consternado pela complacência do povo de Jerusalém. Eles estavam vivendo em ruínas e aceitavam essa realidade. Estavam dispostos a viver ao redor da devastação, ao invés de se preocupar o suficiente para fazer algo sobre a sua situação.

Nada irá mudar em nossa vida, na vida de nossa igreja, em alguma situação em particular, em nossa nação, enquanto não nos preocuparmos com o problema. Alguns de nós nos tornamos complacentes com a maneira como nossa vida está seguindo. Estamos vivendo com entulho e isso sequer nos incomoda mais. Estamos dispostos a permitir que Deus faça alguma reconstrução? Se assim o for, é preciso que nos preocupemos com o problema e ouçamos os fatos, mesmo que não queiramos ouvi-los.

Quando Neemias terminou de ouvir o relatório, ele sentou-se e chorou (v. 4). O significado por trás destas palavras é que ele “lamentou e sentiu profundo pesar”. Isto é similar ao que nosso Senhor Jesus fez quando ele clamou e chorou ao ver o coração endurecido dos habitantes de Jerusalém (Lucas 19:41). Neemias não apenas chorou e lamentou, ele também jejuou. Na Antiga Aliança, os judeus tinham o dever de jejuar apenas uma vez ao ano, no Dia da Expiação (Levíticos 16:29), mas Neemias absteve-se da comida por vários dias.  De fato, quando as diferentes datas no livro são comparadas, elas revelam que ele chorou, jejuou e orou por vários meses! Tudo isso são sinais de humildade e mostram sua profunda preocupação com o problema. Ele sabia que alguém deveria fazer algo para salvar a cidade de Jerusalém e estava disposto a ir até lá.

O que você precisa reconstruir hoje? Estão suas defesas derrubadas de tal maneira que algumas práticas e pecados controlam sua vida? Antes de pedir a Deus para reconstruí-las, você precisa se preocupar com o problema!

 

CONVICÇÃO SOBRE O CARÁTER DE DEUS

Neemias era, acima de tudo, um homem de muita oração.  Por isso, após demonstrar sua preocupação com o assunto, ele se pôs a orar e a jejuar. O conhecimento dos problemas do seu povo levou Neemias a orar a respeito do assunto. O conhecimento de um problema nos responsabiliza diante de Deus e dos homens. 

Em sua oração, Neemias expressa suas convicções sobre o caráter de Deus. Um intercessor aproxima-se de Deus com um profundo senso de reverência. Neemias começa a sua intercessão adorando a Deus. Você adora a Deus por quem ele é e não pelo que ele faz. Por isso, no verso 5, Neemias o chama de “Senhor”. Em outras palavras, ele reconhece a soberania de Deus. No verso 6, ele refere-se a si mesmo como servo do Senhor. Então declara que o Senhor é o “Deus dos céus”. Ele reconhece que seu Deus está além do reino terreno e acima de todos os outros deuses. Em seguida, refere-se ao Senhor como “grande e terrível” (v. 5), digno de nosso louvor e adoração. Deus merece ser honrado, respeitado e temido por todos, por conta de quem ele é. Finalmente, Neemias descreve Deus como aquele que cumpre as suas promessas, pois é “fiel à aliança e misericordioso com os que o amam e obedecem aos seus mandamentos” (v. 5, NVI). Deus é verdadeiro, fiel e nele podemos confiar.

Neemias sabia que não estava se dirigindo a outro homem, mas ao Deus dos céus. Seu chefe, o rei, era grande e temível na terra, o mais poderoso! Mas, comparado a Deus, Artaxerxes não era nada! Neemias estava em Susã e sua preocupação estava na distante Jerusalém. Mas ambas as cidades – uma  rica e outra pobre; uma forte e outra fraca; uma orgulhosa e outra quebrada – eram  apenas partículas de poeira debaixo da grande abóbada celeste de Deus. Quando nos achegamos a Deus em oração, precisamos colocar todas as coisas na perspectiva adequada. 

Devido à sua convicção acerca do caráter divino, Neemias sabia que Deus não apenas era capaz, mas também estava desejoso de responder à sua oração. Porém, ele também sabia que não merecia que Deus o tratasse favoravelmente. É por isso que a próxima frase de sua oração é uma confissão de pecados.

CONFISSÃO DOS PECADOS 

Após se preocupar com o problema e expressar suas convicções sobre o caráter de Deus, Neemias é levado a admitir suas próprias transgressões e os pecados do seu povo (vv. 6,7). Porém, uma coisa é estar preocupado e até mesmo ter uma firme convicção de quem Deus é. Outra coisa completamente diferente é, de fato, confessar. Muitos não chegam a tanto. Há pessoas que se sentem mal pelo pecado, sentem remorso, preocupam-se porque as coisas não estão indo bem. Têm uma teologia correta, sabem que a situação é complicada e que Deus é bom, mas hesitam em tomar o próximo passo.

Neemias firmemente suplica a Deus que ouça a oração do seu servo (v. 6), o que, em hebraico, significa literalmente “ouvir de forma inteligente e com muita atenção”. Há três elementos-chave em sua oração de confissão dos pecados.

Em primeiro lugar, a oração de Neemias foi marcada pela intensidade. Esmagado pela preocupação com o pecado do seu povo e suas consequências, e com temor pelo caráter de Deus, Neemias investiu tempo em uma prolongada petição e intercessão. Ele orou dia e noite, gastando cada segundo de seu tempo na presença de Deus. Isso é muito semelhante à atitude do salmista: “Ó Senhor, Deus da minha salvação, dia e noite clamo diante de ti” (Salmos 88:1).

Em segundo lugar, a oração de Neemias foi marcada pela honestidade. Ele não tentou inventar uma desculpa pelo pecado do seu povo. Observe que Neemias usou o pronome “nós” e não “eles” e, assim, se identificou com os pecados de uma geração que sequer havia conhecido. De fato, ele assumiu a sua culpabilidade. Ele examinou o registro sombrio do fracasso passado e presente dos judeus, e sabia que não estava isento de culpa. Teria sido tão fácil olhar para trás e culpar os antepassados pelo opróbrio de Jerusalém, mas Neemias fez uma introspecção e culpou a si mesmo!  É muito fácil culparmos os outros, não é mesmo? Precisamos aprender com Neemias e confessar honestamente: “Senhor, sou culpado. Não só desejo fazer parte da solução. Eu confesso que faço parte do problema”. 

Em terceiro lugar, a oração de Neemias foi também marcada pela urgência. Neemias reconheceu que o pecado não é apenas uma teimosa recusa em obedecer a certas regras, mas também é um ato desafiador de rebelião pessoal agressiva contra um Deus santo. Ele sabia que o povo de Israel tinha agido de “forma corrupta e vergonhosa” contra Deus (v. 7, NVI). Ele não tentou suavizar o pecado, antes reconheceu que todos eram culpados ante Deus.

Tentar esconder nossos pecados de Deus é tarefa impossível. Ele sabe tudo sobre eles! E, segundo Moisés, “estejam certos de que vocês não escaparão do pecado que cometeram” (Números 32:23 NVI). Todo pecado, todas aquelas coisas que temos feito descaradamente, os descuidos cometidos, ou aquilo que deixamos de fazer sabendo que deveríamos ter feito, devem ser identificados, confessados e, em seguida, abandonados (Provérbios 28:13). Você está tentando esconder alguma coisa hoje? É melhor confessar agora do que esperar até que seu pecado seja exposto!

CONFIANÇA NAS PROMESSAS DE DEUS

Embora Neemias tenha despendido tempo em quebrantamento e confissão, ele não chafurdou em um exame introspectivo prolongado de suas falhas e das de seus compatriotas. Ele apercebeu-se do que fizera errado e, em seguida, expressou rapidamente a confiança nas promessas de Deus (vv. 8-10).

Nesta parte da sua oração, Neemias evoca as palavras de Moisés sobre o perigo da apostasia de Israel e a promessa da misericórdia divina. Suas palavras compõem um hábil mosaico das grandes advertências e promessas contidas no Antigo Testamento, com citações vindas dos livros de Levíticos, Deuteronômio, 1 Reis, 2 Crônicas e do Salmos 130

Qual a promessa que Neemias estava reivindicando? Era uma promessa dupla. Primeiro, se eles desobedecessem, então seriam enviados para uma terra estranha. Isso já acontecera. Segundo, quando o tempo de cativeiro terminasse, Deus os levaria de volta a Jerusalém e os protegeria. Eles ainda estavam esperando que isso se cumprisse. Neemias orou dizendo: “Senhor, a primeira parte é verdadeira. Nós lhe desobedecemos e fomos para o cativeiro. Mas Senhor, tu prometeste levar-nos de volta à nossa terra e proteger-nos lá; e isso ainda não se cumpriu. Eu peço que esta promessa, que tu nos fizeste, se cumpra”. 

Alguém já calculou que existem mais de sete mil promessas de Deus, de maneira explícita, subentendida e desdobrada, na Bíblia. Há promessas para todas as situações, para todas as circunstâncias, para todas as necessidades. Quanto mais conhecermos a Palavra de Deus, mais hábeis estaremos para orar com confiança nas promessas divinas. O apóstolo João diz: “Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: se pedirmos alguma coisa de acordo com a sua vontade, ele nos ouve” (1 João 5:14 NVI).

Você é tão confiante nas promessas de Deus quanto Neemias era? Se Deus disse algo em sua Palavra, você pode acreditar e reivindicar. Neemias sabia que Deus cumpriria sua aliança de amor com seu povo. Ele também sabia que, apesar de Deus não precisar de sua ajuda, ele estava pronto para comprometer-se a se envolver.

 

COMPROMETIMENTO DE ESTAR ENVOLVIDO

A progressão na oração de Neemias é clara. Sua preocupação sobre o problema levou-o ao quebrantamento. Enquanto estava chorando e jejuando, expressou sua convicção no caráter de Deus. Quando se concentrou na grandeza e magnitude de seu santo Deus, rapidamente foi relembrado de sua fraqueza e, então, clamou em confissão.

Depois de Neemias reconhecer e confessar a depravação da nação, ele orou confiantemente nas promessas de Deus. Isto o levou a comprometer-se a estar envolvido na resposta de Deus. Vemos isto no verso 11: “Ouve agora a minha oração e as orações de todos os outros teus servos que têm prazer em te adorar. Faze com que eu tenha sucesso hoje e que o rei seja bondoso comigo” (NTLH).

Alguém afirmou, com razão, que orar não é conseguir que a vontade do homem seja feita no céu, mas que a vontade de Deus seja feita na terra. No entanto, a fim de que sua vontade se cumpra na terra, ele precisa de pessoas que estejam dispostas a serem usadas por ele. 

Enquanto Neemias orava, sua preocupação por Jerusalém tornou-se maior e sua visão sobre o que precisava ser feito tornou-se mais clara. Quando oramos, o Senhor nos diz o que fazer, quando fazê-lo e como fazê-lo, sendo que tudo isso é importante para que a vontade de Deus se cumpra.

Neemias não orou para que Deus enviasse alguém. Ele simplesmente disse: “Eis-me aqui Senhor, envia-me a mim!”. Ele sabia que teria que se aproximar do rei e solicitar uma licença de três anos de ausência. Por isso pediu a Deus que lhe desse sucesso. Ele queria que Deus fosse adiante dele, quando fosse fazer seu pedido ao rei. Ele estava reivindicando outra promessa bíblica: “Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do Senhor; este, segundo o seu querer, o inclina” (Provérbios 21:1). Outra lição importante é que não importa a profissão que tenhamos, cada um de nós é capaz de servir a Deus. Assim como Neemias utilizou seu cargo para interceder por seu povo, nós podemos utilizar a profissão que temos para servir a Deus.

Mais uma vez, Neemias avalia a situação, é movido de preocupação e então é movido à ação. A melhor medida de nossa preocupação é se estamos ou não dispostos a nos envolvermos. Martin Luther King disse: “Ore como se tudo dependesse de Deus. Então trabalhe como se tudo dependesse de você”.

 

CONCLUSÃO

Neemias foi um grande intercessor porque viveu perto de Deus. Quando ouviu o relato da miséria e do desprezo em que viviam seus irmãos e da vulnerabilidade de Jerusalém, ele se compadeceu e, mais do que isso, ouviu um chamado. Ele compreendeu que Deus poderia fazer algo por seu intermédio e colocou-se à disposição para ajudar. Mas não sem antes colocar-se de joelhos aos pés do Senhor para orar e jejuar. A oração é a ferramenta mais importante que temos para o cumprimento de nossa missão no mundo. As pessoas podem recusar nosso amor ou rejeitar nossa mensagem, mas não têm defesas contra nossas orações.  A oração é indubitavelmente a maior força da terra.

 

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