Texto de Estudo 

2 Timóteo 3:16

INTRODUÇÃO

A Bíblia é sem dúvida alguma o maior livro de todos os tempos, devido à sua antiguidade, à sua circulação total, ao número de línguas para as quais já foi traduzida, à sua extraordinária grandeza como obra literária e à sua extrema importância para toda a humanidade.

Devido à sua importância histórica e à sua forma de divulgação, a Bíblia atingiu o status de maior best-seller e todos os tempos. Mais de seis bilhões de cópias da Bíblia completa ou porções já foram vendidas ou distribuídas.De igual forma, as traduções bíblicas trazem números impressionantes. Há duzentos anos, a Bíblia como um todo ou partes dela estava disponível em apenas 68 idiomas. Hoje se calcula que ela já tenha sido traduzida em 2.527 idiomas e dialetos.2 Ademais, há projetos em andamento em outras 600 línguas, sendo 500 delas pela primeira vez. Isto cobre mais de 90% da população mundial. Nenhum outro livro está tão presente em nosso mundo como a Bíblia.3 14 Estudos Bíblicos Nosso objetivo no estudo de hoje é o de aprendermos um pouco mais sobre este precioso livro sagrado.

A COMPOSIÇÃO DA BÍBLIA

Bíblia é uma palavra de origem grega escrita no plural – biblos – e significa “livros”, ou, para ser mais exato,“rolos”. Desta forma, diz-se que a Bíblia é um conjunto de livros agrupados em um único volume.

O termo “Bíblia” não se encontra nas Escrituras. Ali encontramos os seguintes títulos: Palavra de Deus (Hebreus 6:5); Livro do Senhor (Isaías 34:16); Escrituras (João 5:39); Palavra de Cristo (Colossenses 3:16); Palavra da Verdade (2Tm:15), entre outros. Segundo consta, foi o teólogo cristão Orígenes quem, por volta de 250 d.C., usou pela primeira vez o termo “Bíblia”, para designar os livros do Novo Testamento. Depois, por volta do ano 800 d.C., o termo entrou no latim, para designar o conjunto dos livros sagrados. A Bíblia, como a conhecemos, foi escrita por cerca de 40 autores, num período aproximado de 1.600 anos. De acordo com Vilson Scholz: 

A Bíblia é um livro bem humano, escrita por pessoas que usaram linguagem de homens, não de anjos. Mas ao mesmo tempo ela afirma - e assim a Igreja o confessa - que é a Palavra de Deus, a palavra que Deus inspirou. Ela é, como se diz em certa língua indígena, “a fala de Deus no papel”.

Paulo diz que toda a Escritura é “inspirada por Deus”(2 Timóteo 3:16,17). Todavia, não são raras as vezes que alguns cristãos indagam: “O que significa inspiração da Bíblia?”. Necessita-se, portanto, compreender o significado do termo “inspiração”, pois a convicção de que a Bíblia é a palavra inspirada de Deus constitui um dos principais fundamentos da fé cristã.

Em sua segunda carta, Pedro diz que “homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1:21). A palavra grega traduzida por “movidos” pode também ser entendida como “guiados, carregados, levados”. Portanto, homens foram movidos ou guiados pelo Espírito Santo para escreverem as Escrituras. O termo “inspirado”, por sua vez, é a tradução do vocábulo grego theópneustos, que literalmente significa “respirado por Deus para fora”. A ideia é que Deus “expirou” as Escrituras Sagradas. De acordo com Paulo, a Escritura é um produto divino e deve ser encarada como tal (2 Timóteo 3:16-17).

Inspiração significa, então, a influência divina exercida sobre os escritores da Bíblia, de modo a comporem e a registrarem a Revelação de Deus ao homem, a fim de preservá-los de erros em seu ensino, sem eliminar, no entanto, suas personalidades e estilos literários. Portanto, a inspiração ao escrever a Bíblia não transformou aqueles homens em meras máquinas, mas os inspirou no sentido de empregarem todos os seus conhecimentos, estilo, cultura, sem, contudo, cometerem erros, pois pela influência do Espírito Santo foram guardados de quaisquer erros, enquanto eram instrumentos de Deus na escrita das Escrituras. Assim, defendemos que a Bíblia é infalível naquilo que nos ensina em matéria de fé e prática cristã.

Precisamos entender também o conceito de revelação. Revelação é um ato divino pelo qual Deus se dá a conhecer de modo redentor à humanidade decaída. Há o que chamamos de revelação geral, que se refere ao fato de Deus se fazer conhecido na criação, na consciência humana e na história. Isso tem implicações importantes. A manifestação de Deus nas coisas que foram criadas é a razão pela qual ninguém será capaz de se queixar, no dia do juízo, que não conhecia a Deus.

A revelação especial refere-se à revelação de Deus que nos chega por meio da Bíblia e da vida de Jesus Cristo. É por meio da revelação especial, como dada nas Escrituras, que recebemos a graça salvadora. Por essa razão afirmamos não ser possível alguém receber a graça salvadora de Cristo à parte das Escrituras Sagradas.Somente por meio dela compreendemos nosso estado de miséria diante de Deus, a grande salvação que recebemos por meio do sacrifício de Cristo e a nova vida no poder do Espírito na qual somos inseridos. A revelação geral mostra que Deus existe, mas somente a revelação especial pode nos levar à salvação em Cristo. 

AS PRINCIPAIS DIVISÕES DA BÍBLIA

A Bíblia é composta por 66 livros. Desses, 39 livros encontram-se no Antigo Testamento e foram escritos originalmente em hebraico; e algumas porções dos livros de Daniel e Esdras, em aramaico. Vinte e sete livros se encontram no Novo Testamento, escritos originalmente em grego. Apesar disso, os livros bíblicos, em conjunto, constituem apenas uma única obra inspirada por Deus.

Estes livros, de Gênesis a Apocalipse, constituem o cânon da Bíblia, ou seja, aqueles livros que foram escolhidos e catalogados pela Igreja nos primeiros séculos da era Cristã. A escolha desses livros específicos e a rejeição de muitos outros evidencia que o Autor divino não só inspirou a sua escrita, mas também cuidou meticulosamente da sua compilação e da sua preservação no catálogo sagrado. As bases em que se fundamentava a escolha de alguns livros e a rejeição de outros foram, na verdade, três: a cristocentricidade, a biblicidade e a apostolicidade dos escritos sagrados.

O agente qualificador de um livro, para ocupar lugar no cânon do Antigo ou do Novo Testamento, não é o simples fato de ser antigo, informativo, ou de fazer muito tempo que é lido, valorizado e aceito pelo povo de Deus, mas sim que tenha a autoridade de Deus para aquilo que diz. Em síntese, o que realmente qualificou os livros que hoje compõem a Bíblia foi a autoridade de Deus, e não apenas critérios humanos. Se realmente foi Deus quem inspirou as Escrituras, então o próprio Deus também deve ter sido o selecionador.

Comumente as Sagradas Escrituras são divididas em Antigo e Novo Testamento. Estes títulos têm a sua origem na leitura de 2 Coríntios 3:14 que em algumas versões bíblicas, a exemplo da Almeida Corrigida e Revisada Fiel, lemos assim: “Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por Cristo abolido” (grifo do autor). Alguns, após uma simples leitura deste versículo, concluem que o “Velho Testamento” foi abolido por Jesus Cristo e que, portanto, não precisamos mais obedecer às normas que ali se encontram. Todavia esta interpretação é incorreta.

A palavra “testamento” corresponde à palavra hebraica berith, que originalmente significa “pacto, aliança, acordo, convênio, contrato”, e designa a aliança que Deus fez com o povo de Israel no Monte Sinai (Êx 24:1-8; 34:10- 28). Tendo sido esta aliança quebrada pela infidelidade do povo, Deus prometeu uma nova aliança (Jeremias 31:31-34), que deveria ser confirmada com o sangue de Cristo (Mateus 26:28). Os escritores neotestamentários denominam a primeira aliança de antiga (Hebreus 8:13), em oposição à nova (2 Coríntios 3:6-14). Os tradutores da Septuaginta verteram a palavra hebraica berith para a palavra grega diatheke, embora não houvesse correspondência entre elas, já que berith designa “aliança”, denotando um compromisso bilateral (contrato), enquanto diatheke tem o sentido de “última disposição dos próprios bens”, o que chamamos de “testamento”. Portanto, implica num compromisso unilateral.

O termo “testamento” veio até nós por meio do latim, quando São Jerônimo, em sua primeira versão latina da Septuaginta, traduziu a palavra grega diatheke por testamentum.Mais tarde, ao traduzir toda a Bíblia para a língua latina, ele manteve a mesma palavra testamentum, equivalendo ao hebraico berith – aliança, concerto –, quando, na verdade, a palavra não tinha essa significação no grego. De acordo com os linguistas, a palavra grega para “contrato”, “aliança”, deveria ser suntheke, por traduzir melhor o hebraico berith.

As denominações “Antigo Testamento” e “Novo Testamento”, para as duas coleções dos livros sagrados, começaram a ser usadas somente no final do século II d.C., quando os Evangelhos e outros escritos apostólicos foram considerados parte do cânon sagrado, passando a designar, a partir de então, a coleção dos escritos que contém os documentos escritos respectivamente durante a primeira e a segunda aliança. Portanto, o apóstolo Paulo não estava se referindo às Escrituras hebraicas e gregas. Antes, estava ele se referindo ao antigo pacto da Lei, registrado por Moisés no Pentateuco e que constitui apenas uma parte das Escrituras pré-cristãs. Por este motivo ele disse no próximo versículo: “sempre que se lê Moisés”.

A subdivisão da Bíblia em capítulos e versículos, na forma como conhecemos hoje, não foi feita pelos escritores originais, mas foi uma adição realizada em momentos diferentes da história. A divisão das Escrituras em versículos foi estabelecida por estudiosos judeus, chamados de massoretas, os quais dedicavam suas vidas à recitação, preservação e cópia das Escrituras, bem como à formulação da gramática hebraica e de técnicas didáticas de ensino do texto bíblico. Foram eles que, entre os séculos IX e X, primeiro dividiram a Escritura hebraica em versículos.

A primeira divisão da Bíblia em capítulos foi realizada por Stephen Langton, arcebispo da Cantuária, no século XIII, que fez as marcações dos mesmos por meio de uma sequência numérica em algarismos romanos nas margens dos manuscritos. Por fim, em 1551, o impressor francês Robert d’Estienne dividiu uma edição grega do Novo Testamento em versículos. No ano de 1553 foi publicada a primeira Bíblia completa com as atuais divisões de capítulos e versículos.

A CLAREZA DA BÍBLIA

Qualquer pessoa que tenha começado a ler e a estudar a Bíblia já percebeu que alguns trechos são mais fáceis de entender do que outros. Embora devamos admitir que alguns trechos no início pareçam difíceis de compreender, a Bíblia foi escrita de tal modo que todas as coisas necessárias para a salvação e para nossa vida cristã e nosso crescimento são muito claramente demonstradas.

Quando se estiver examinando as Escrituras, é bom ter em mente que, além da esfera que limita o objetivo primário para o qual a Bíblia como uma revelação foi dada por Deus, existem aspectos incompletos. A Bíblia não é um tratado de ciência natural ou de história. É uma declaração plenária de Deus com referência a ele mesmo e às suas obras.

O apóstolo Paulo afirma que a capacidade de entender as Escrituras corretamente é mais uma capacidade moral e espiritual que intelectual: “Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente” (1 Coríntios 2:14). Assim, embora a Bíblia em si mesma seja escrita com clareza, ela não será entendida corretamente por aqueles que não estão desejosos de receber seus ensinos. A Escritura é capaz de ser entendida por todos os descrentes que vão lê-la sinceramente buscando salvação e pelos crentes que a lerão procurando a ajuda de Deus para entendê-la. Isso acontece porque, em ambos os casos, o Espírito Santo opera vencendo os efeitos do pecado, que de outra forma fariam a verdade parecer loucura (1 Coríntios 1:18-25; 2:14).

Em Provérbios 2:3-5 lemos: “E, se clamares por inteligência, e por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do SENHOR e acharás o conhecimento de Deus”. Aqui está a condição para entendermos o conteúdo da Palavra de Deus. A compreensão das Escrituras requer mais do que o entendimento humano, requer a direção do Espírito Santo, que a deu. O Espírito Santo não muda as palavras das Escrituras de forma alguma. Ele não faz com que elas, de forma sobrenatural, tornem-se palavras de Deus, pois sempre o foram. No entanto, ele muda o leitor das Escrituras, fazendo com que percebam que a Bíblia é diferente de qualquer outro livro que já leram, pois ali estão as palavras do próprio Deus.

A existência de muitas discordâncias a respeito da interpretação adequada de algumas doutrinas bíblicas no decorrer de toda a história demonstra que nem todos os crentes haverão de concordar em todos os ensinos da Escritura. Não obstante, o problema não está na Bíblia, mas em nós mesmos. Afirmamos que todos os ensinos da Escritura são claros e passíveis de ser entendidos, mas também reconhecemos que as pessoas muitas vezes, por causa de seus defeitos, entendem erroneamente o que está claramente escrito na Escritura. Mas em nenhum caso somos livres para dizer que o ensino da Bíblia sobre qualquer assunto seja confuso ou não seja passível de ser entendido corretamente. Em nenhum caso devemos pensar que as discordâncias persistentes sobre algum assunto no decorrer da história da Igreja signifiquem que não sejamos capazes de chegar à conclusão correta sobre a questão. Antes, se a preocupação genuína a respeito de tal assunto surge em nossa vida, devemos sinceramente buscar a ajuda de Deus e, então, ir à Escritura, pesquisando com toda a nossa aptidão e crendo que Deus irá nos capacitar para termos o entendimento correto. Assim, à medida que crescermos na vida cristã, adquirindo mais conhecimento da Escritura, e, conforme gastarmos mais tempo estudando-a, haveremos de entendê-la melhor.