Texto de Estudo: Provérbios 15:21-33

 

Nas lições anteriores, observamos que os primeiros nove capítulos de Provérbios podem ser vistos como uma longa introdução à coleção de provérbios no restante do livro. Vimos, também, que as 10 "palestras” de Provérbios 1 a 9 giram em torno do tema “dois caminhos” (a justiça e a perversidade) e da importância da sabedoria em vez da loucura.

Nossa lição desta semana vai mostrar-nos que os valores bíblicos precisam ser ensinados de forma diligente. Veremos que os maiores valores giram em torno da importância de andarmos com sabedoria por meio do entendimento e de conselhos efetivos.

Sabedoria X Tolice

A palavra “provérbio” denota uma regra de conduta ou um princípio fundamental da verdade. Essas regras ou princípios quase sempre são transmitidos por meio da comparação. Por isso mesmo, a principal característica da primeira parte do livro de Provérbios (10:1-15:32) é o paralelismo antitético. Isso significa que a segunda linha do provérbio contrasta com o pensamento da primeira linha, ou seja, as duas linhas expressam a mesma ideia a partir de ângulos opostos. O tema proeminente é a diferença entre a sabedoria do justo e a insensatez do ímpio.

O sábio e o tolo são frequentemente contrastados em Provérbios. Se a sabedoria for nossa meta, vale a pena conhecermos as características e os resultados que os sábios obtêm em suas escolhas, em contraposição aos tolos.

Quais são, então, as características dos sábios? Vejamos algumas delas.

1. Eles sempre fazem aquilo que é moralmente correto. O verso 21 diz que a insensatez alegra quem não tem bom senso (NVI). A ironia aqui é que a pessoa que carece de entendimento de alguma forma encontra alegria em abraçar a loucura (cf. Provérbios 12:23). A palavra traduzida como “insensatez” provém da raiz hebraica ’eviyl, que significa “ser idiota, estúpido, louco”.6 O “louco”, de Provérbios, não é somente uma pessoa mentalmente desequilibrada ou ausente de juízo. Pode ser, também, uma pessoa moralmente deficiente. Refere-se a alguém que despreza a sabedoria e a instrução (cf. Provérbios 15:5). Quando damos as costas à sabedoria de Deus, somos mais do que meramente tolos. De fato, nossa moralidade torna-se suspeita. 7

Uma vez que o tolo é “destituído de sabedoria”, ele realmente encontra alegria na sua estultícia. Ele sente prazer em ser um rebelde, um desajustado, nunca parando para examinar as consequências de suas ações (Provérbios 12:15). Pelo contrário, um homem de entendimento procede com retidão (Provérbios 15:21 NVI). “Entendimento” tem parentesco com a sabedoria. Em Provérbios, refere-se a uma visão moral que se manifesta de maneira prática. “Andar retamente” implica viver segundo padrões piedosos, sem desvios. Portanto, os verdadeiramente sábios preocupam-se em fazer com que os seus pensamentos, palavras e obras sejam controlados, sinceros e santos. Embora o tolo possa zombar desse tipo de integridade, os resultados opostos das duas vidas justificam o viver sábio.

2. Eles sempre ouvem conselhos sábios. Assim como uma criança deve ouvir o bom conselho de seu pai ou mãe, assim também na vida adulta é uma boa ideia ouvir sábios conselhos. O verso 22 e seus paralelos (11:14; 12:15; 20:18; 24:6) nos encorajam a solicitar conselhos ativamente. Procure-os, porque onde não há conselho fracassam os projetos. É óbvio que nem todos os planos feitos unilateralmente falharão. Da mesma forma, ouvir vários conselheiros não garante que o conselho será sábio (cf. 1 Reis 12:1-16). Não obstante, solicitar a opinião de “vários conselheiros” conduz-nos a uma maior probabilidade de sucesso. 8

3. Suas palavras são sempre oportunas. Lemos em Provérbios 15:20 que um filho sábio alegra a seu pai, quando aceita e coloca em prática os seus bons conselhos. Agora somos lembrados que adultos sábios se alegram em procurar bons conselhos (v. 22) e em dizer a palavra apropriada na hora certa (v. 23). A sabedoria é necessária para adequar o nosso falar à ocasião (cf. Provérbios 25:11). Este é um dos mais destacados princípios da comunicação: saber escolher a hora e a situação para dialogar, para encorajar, para conversar. Lamentavelmente, muitas pessoas não sabem fazer essa escolha.9 Por isso, dar uma resposta adequada àquele que necessita de uma orientação, no momento certo, é motivo de alegria para o sábio.

4. Eles sempre buscam uma maneira piedosa de vida. O sábio sempre procura andar no caminho da vida, que o leva para cima, para evitar a descida à sepultura (v. 24). Mais uma vez vemos a perspectiva bidirecional de Provérbios (cf. Provérbios 1:15; 10:17). O contraste nesse provérbio, naturalmente, é a direção ascendente e descendente. Ao andar no caminho da vida, o sábio evita o caminho oposto, o da morte prematura, resguardando-se de todas as coisas indesejáveis.

Consequências da perversidade

Os próximos cinco versículos constituem-se de contrastes entre o ímpio e o piedoso. Neles, o sábio deixa bem claro que Deus despreza o modo de vida dos ímpios.

1. Os ímpios serão destruídos por Deus. O primeiro contraste indica que o Senhor derruba a casa do orgulhoso, mas mantém intactos os limites da propriedade da viúva (v. 25, NVI). No Antigo Oriente, os proprietários de terras costumavam marcar os limites de suas terras com amontoados de pedras. Quem movesse esses marcos do lugar original estaria correndo o risco de ser condenado por furto de terras (cf. Provérbios 22:28 23:10; Jó 24:2; Deuteronômio 19:14). Porém, alguns homens poderosos alteravam lentamente o lugar dessas pedras, para que seu ato perverso fosse imperceptível, apropriando-se das terras de viúvas e pessoas pobres. No devido tempo, o Senhor destruirá os opressores e restaurará a propriedade das viúvas e dos órfãos (cf. Provérbios 23:10-11; Isaías 5:8).

2. Os ímpios são abomináveis a Deus, por causa dos pensamentos maus. O versículo 26 contrasta os pensamentos dos ímpios com as palavras agradáveis dos puros em relação ao Senhor. Deus conhece os vis pensamentos dos ímpios antes mesmo de eles proferirem algo. As maldades surgem dos maus pensamentos. As pessoas más concebem à noite os planos que pretendem realizar no dia seguinte (Salmos 36:4; Miquéias 2:1). Essas intenções constituem uma abominação repugnante ao Senhor, e Ele pune os maus por causa de suas conspirações bem como por seus atos. Porém, Deus se apraz com as palavras dos puros, pois são agradáveis aos Seus ouvidos (cf. Provérbios 16:24).

3. Os ímpios têm problemas familiares, por causa da ganância. A atenção agora se volta para aquele que é ávido por lucro desonesto e, por causa disso, frequentemente coloca sua família em apuros (v. 27, NVI). Ganância e corrupção sempre andam de mãos dadas (cf. Provérbios 17:23; 18:16). É bem conhecida a história de como a cobiça de Acã foi responsável pela morte de toda a sua família em Jericó, e isso nos serve de alerta e exemplo contra toda tentação de avareza (Josué 7:14-26). Semelhantemente, jamais devemos oferecer ou ceder a subornos, pois o final dessas antigas e desonestas práticas é sempre terrível (Provérbios 17:8; 28:16; Deuteronômio 16:19; 1 Samuel 12:3; Eclesiastes 7:7; 1 Timóteo 6:10).

4. Os ímpios, com seus discursos perversos, estão alienados de Deus. Os versículos 28 e 29 nos ensinam duas lições sobre os discursos do justo e do ímpio. Em primeiro lugar, aqueles que temem a Deus ponderam suas respostas. Porém, os ímpios não pensam antes de falar, porque não se importam com as consequências de suas palavras. É necessário falar, mas é importante pensar primeiro. Você planeja cuidadosamente o que vai dizer ou despeja seus pensamentos sem qualquer preocupação com o impacto que poderão causar?10 Lembre-se de que nossas palavras podem ser destrutivas (cf. Provérbios 11:11). Em segundo lugar, Deus está longe dos ímpios tagarelas, porque o que eles dizem está longe de ser saudável! Por contraste, Deus ouve e atende a oração dos justos (cf. Salmos 145:18; Provérbios 15:8).

Evidências da sabedoria

Os versos 30 a 33 demonstram três evidências que uma pessoa verdadeiramente sábia manifesta em sua vida e no seu contato com as pessoas.

1. O sábio promove a saúde e o bem-estar. Primeiro, ele tem um olhar luminoso (TEB) que produz uma profunda alegria na pessoa (v. 30a). Em segundo lugar, a boa notícia fortalece até os ossos (v. 30b). Literalmente “engorda os ossos”, isto é, a pessoa. Naqueles tempos, ser gordo era sinônimo de ser uma pessoa saudável, uma ideia que hoje rejeitamos.

2. O sábio é uma pessoa aberta ao aprendizado. Ter ouvidos que atendem à repreensão (v. 31) é um sinal de que se é ensinável. Apenas uma pessoa sábia pode ouvir uma repreensão, alterar seu comportamento e, como resultado, tornar-se uma pessoa melhor (Provérbios 9:8-9). A pessoa verdadeiramente sábia é aquela que aprendeu a aceitar instrução em todas as áreas da sua vida (cf. Provérbios 13:18; 15:5,10). Quando alguém está disposto a ser instruído, aceitando a repreensão, adquire entendimento (v. 32b). Aqueles que se rendem à disciplina e à correção são os mais felizes na Terra! Porém, o que rejeita a instrução menospreza a própria alma (v. 32a). Aceitar ou rejeitar a correção é questão de sobrevivência ou suicídio!

3. O sábio demonstra ser uma pessoa humilde e temente a Deus. A frase “temor do Senhor” (v. 33) é encontrada muitas vezes em Provérbios. De fato, o temor ao Senhor é o fundamento de todos os provérbios. Um temor saudável de Deus é necessário para se criar em nosso coração um sentimento de humildade e reverência em Sua presença.

Humildade é paralela ao temor do Senhor, neste texto: O temor do Senhor ensina a sabedoria, e a humildade antecede a honra (v. 33, NVI; cf. Provérbios 11:2; 22:4). Deus honra a pessoa sábia, mas a humildade precede à honra (cf. Provérbios 18:12). É por essa razão que o apóstolo Pedro afirmou: Revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte (1 Pedro 5:5-6).

Lembre-se: humildade e temor do Senhor andam de mãos dadas. Quem teme a Deus renuncia a toda autossuficiência e rende-se totalmente a Ele.

 

 

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