Texto de Estudo: Provérbios 4:10-15Provérbios 4:20-27

Na semana passada, observamos que os capítulos 1 a 9 de Provérbios estão organizados em 10 palestras. A lição de hoje inclui parte do que podemos chamar de Aula 6 (Provérbios 4:10-19) e toda a Aula 7 (Provérbios 4:20-27). A divisão entre os versos 1-9 e 10-19 é marcada por ordens típicas – Ouve, filho meu (cf. 1:8; 4:1) – e pela mudança temática de adquirir sabedoria para andar no reto caminho.

A sexta lição pode ser dividida em duas partes iguais: uma admoestação do pai ao filho, para adotar o seu ensino e andar no caminho da sabedoria (vv. 10-13), e uma advertência a não se desviar para perto do caminho dos perversos (vv. 14-17). Um resumo final encerra a lição (vv. 18,19). A sétima lição, por sua vez, admoesta o filho a andar nas veredas da sabedoria, sem se desviar.

O caminho da sabedoria

Os primeiros capítulos de Provérbios consistem numa série de exortações dadas por um pai (Salomão) ao seu filho. Elas comunicam a sabedoria divina, que permitirá ao filho lidar com os dilemas morais da vida. Assim, nosso texto, em estudo, começa com as palavras: Ouve, filho meu, e aceita as minhas palavras (v. 10a).

O mandamento para ouvir é característico na abertura das palestras, em Provérbios. Esse imperativo ocorre sete vezes em Provérbios 1 a 9 e apenas cinco vezes em Provérbios 10 a 31. Ouvir significa ter uma mente aberta para aceitar um ensino e estar disposto a obedecê-lo. A obediência do filho aos ensinamentos do pai trará um resultado significativo: vida longa. Diz o sábio: e se te multiplicarão os anos de vida (v. 10b). O viver sábio fornece todos os ingredientes para uma vida longa e saudável. Portanto, o filho é incentivado a seguir o caminho da sabedoria, por causa das suas bênçãos.

Salomão expressou confiança na instrução paternal, dizendo: No caminho da sabedoria te conduzi e pelas veredas da retidão te ensinei a andar (Provérbios 4:11 KJA). Seu ensino não era meramente teórico, mas exemplar, uma vez que ele falou de "caminhos" e  "veredas". Esses termos indicam uma forma ou estilo de vida. As Escrituras frequentemente falam de caminhar ou de caminho, tanto de forma física (Gênesis 24:48; Êxodo 23:20) quanto espiritual (Deuteronômio 5:33; 8:6). Espiritualmente, o pai conduziu o filho pelo reto caminho da sabedoria (v. 11).

A palavra hebraica para "retidão" significa, figurativamente, o que é moralmente correto. Assim, a expressão "veredas da retidão" tem a ver com a conduta moral, com a integridade. "O caminho da sabedoria" não implica apenas numa maneira de obter conhecimento, mas em observar e praticar o modo como as pessoas sábias vivem. O filho tem uma escolha a fazer: ele pode ouvir as instruções de seu pai sobre o caminho da sabedoria e escolher obedecê-lo ou ele pode optar por seguir seu próprio caminho.

No verso 12, andar e correr são figuras de linguagem que indicam a rotina diária com as suas dificuldades. Quando se caminha, podemos ser embaraçados por algum obstáculo. E a corrida proporciona mais chances de tropeço, já que é mais difícil evitar obstáculos enquanto se move a uma taxa maior de velocidade. Em ambos os casos, a pessoa que toma decisões sábias está em melhores condições de evitar dificuldades. Desta mesma maneira, se você andar sabiamente, nada atrapalhará o seu caminho, e você não tropeçará quando correr (Provérbios 4:12 NTLH).

Quando lemos o verso 13, nossa mente nos conduz ao verso 10. Lá o filho é ordenado a ouvir e aceitar as palavras do pai, com a promessa de uma vida longa. Enquanto o verso 10 faz referência à duração da vida, o verso 13 inclui a ideia de qualidade de vida. A palavra hebraica traduzida como "instrução" inclui as ideias de disciplina, castigo e correção (cf. Provérbios 15:10; Jeremias 2:30). Assim, a instrução deve ser aceita da mesma forma que a sabedoria. A maioria das pessoas não gosta de ser disciplinada ou corrigida. Porém, tal escolha, por mais difícil que seja, resulta em qualidade de vida. Apegue-se, pois, firmemente a ela e não a deixe ir!

O caminho dos maus

Basicamente, existem dois caminhos na vida: o caminho da sabedoria e o caminho dos ímpios (cf. Jeremias 6:16; 18:15). O filho é convidado a trilhar pelo caminho da sabedoria. Por outro lado, o caminho dos maus deve ser evitado por ele a todo custo (v. 14).

Salomão, ao tratar da importância da sabedoria e do bom senso, fala sobre o "caminho do mal" e alerta a respeito dos que deixam as veredas da retidão, para andarem pelos caminhos das trevas; que se alegram de fazer o mal, folgam com as perversidades dos maus, seguem veredas tortuosas e se desviam nos seus caminhos (Provérbios 2:13-15). O caminho dos homens maus parece agradável; porém, é um caminho perigoso e quem por ele anda com certeza terminará mal.

Não foi dito "mantenha a distância devida", mas evita-o; não passes por ele; desvia-te dele e passa de largo (v.15). Isso não é uma opção! Não podemos flertar com o mal. Não devemos nem sequer chegar perto do mau caminho. O filho tem uma escolha a fazer: pode ouvir instruções de seu pai sobre o caminho da sabedoria, escolher segui-lo e ter uma vida longa, com qualidade; ou ele pode optar por seguir o caminho dos maus, cujo fim é a morte (Provérbios 14:12).

Sabedoria como fonte de saúde

Depois de elaborar seu discurso sobre o caminho dos ímpios (vv. 16-19), Salomão começa outro, marcado pelas palavras "meu filho"(v. 20). Ele volta a sublinhar os efeitos benéficos do caminho da sabedoria. Então, na sétima palestra, Salomão usa o corpo e seus vários membros como metáforas para mostrar como "guardar o coração" é a chave para a vida e a saúde espirituais. Vejamos:

1. Ouvido (v. 20). O ouvido é a parte do corpo responsável por capturar as palavras do pai. Por isso, ele pede ao filho: Aos meus ensinamentos inclina os teus ouvidos (v. 20). A imagem é de uma pessoa que se aproxima de outrem a fim de ouvi-lo melhor (cf. o oposto em Atos dos Apóstolos 7:57). Antes que alguém obedeça à Palavra, é preciso primeiro ouvi-la (Romanos 10:17). Porém, ouvir, por si só, não é garantia de compreensão (Atos dos Apóstolos 28:26a). Por isso, no verso 21, o sábio demonstra que não é suficiente apenas ouvir instruções sábias; elas devem ser assimiladas, ponderadas e entesouradas em nosso ser interior.

2. Olhos (vv. 21a, 25). A exortação inclui também um apelo para os olhos: Não os deixes apartar-se dos teus olhos (v. 21a). Total concentração e foco nos ensinos do pai são enfatizados pelo uso da visão. Aqui, a ênfase desloca-se de receber a instrução para retê-la. Porém, mesmo assim, ver não é garantia de perceber (Atos dos Apóstolos 28:26b).

No verso 25 temos um paralelismo: Os teus olhos olhem direito, e as tuas pálpebras, diretamente diante de ti. Os "teus olhos" equivale a "as tuas pálpebras", enquanto "olhem direito" equivale a olhar "diretamente diante de ti". Somos instados a olhar sempre para frente, a mantermos nossos olhos fixos no objetivo a ser alcançado e a não nos desviarmos para os caminhos que conduzem ao pecado. A vigilância é necessária para manter a sabedoria. Assim, os olhos, figurativamente, devem estar alertos para esse perigo.

3. Coração (vv. 21b-23). Salomão escreveu, ainda: Guarda-os no mais íntimo do teu coração. Enquanto os olhos e os ouvidos são portas de entrada na vida de uma pessoa, o coração, figurativamente falando, corresponde à sede dos sentimentos e decisões do ser humano, que no Antigo Oriente era compreendida como a região das entranhas (intestinos).

O coração é a fonte de todas as manifestações exteriores da vida, sejam elas boas ou ruins. Jesus nos ensinou que a boca fala do que está cheio o coração, ou seja, do que está repleto o íntimo (Lucas 6:45). Disse também que do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias (Mateus 15:19 NVI).

Nosso coração dita a maneira como viveremos. É por isso que Salomão disse que, acima de tudo, devemos guardar nosso coração, porque dele procedem as fontes da vida (v. 23). Não é de se admirar, portanto, que o autor de provérbios enfatize que as instruções do pai, se obedecidas pelo filho, proporcionar-lhe-ão saúde física, espiritual e mental para o corpo (v. 22).

Caso nossos desejos estiverem de acordo com os propósitos de Deus, permaneceremos no caminho certo (v. 23). Certifique-se, pois, de que seus desejos conduzem sua vida na direção certa.

4. Boca e lábios (v. 24). Ainda com base na anatomia humana, Salomão aconselha o filho, dizendo-lhe: Desvia de ti a falsidade da boca e afasta de ti a perversidade dos lábios (v. 24). Nada revela o conteúdo do coração tão rapidamente quanto as palavras (cf. Mateus 12:34-37; Lucas 6:45). A palavra hebraica para "perversidade" vem de uma raiz primitiva que significa "torto" ou "torcido" (cf. Provérbios 6:12; 19:1). Na versão "A Mensagem", Eugene Peterson captou bem a ideia original do verso 24, ao parafraseá-lo assim: Não se distraia com conversas maldosas; evite a falsidade, mentiras e fofocas. Não só devemos repudiar esse tipo de conversa, devemos nos afastar dela.

5. Pés (vv. 26, 27). O próximo conselho de Salomão para seu filho é: Pondera a vereda de teus pés. A palavra hebraica traduzida como "ponderar" pode ser empregada em mais de um sentido. Um deles traz a ideia de "pesar em uma balança". Também pode apresentar o significado de avaliar. Temos aqui, portanto, a ideia de fazer uma reflexão. Nesse sentido, a versão inglesa King James (Rei Tiago) apresenta a seguinte tradução para o verso 26: Reflete sobre tuas escolhas e sobre o caminho por onde andas, e todos os teus planos serão bem sucedidos! A remoção de tudo quanto possa servir de obstáculo moral está subentendida. Mas isso ainda não é tudo. O filho também é aconselhado a verificar que seus caminhos sejam "bem ordenados" (v. 26b). A raiz hebraica dessa palavra significa "tornar firme". A pessoa que reflete sobre suas escolhas, ao longo da jornada da vida, andará em chão firme e, por isso mesmo, será bem-sucedida.

Enquanto o verso 26 nos diz o que devemos fazer, o verso 27 nos diz o que não devemos fazer. Não devemos nos desviar nem para a direita nem para a esquerda, se quisermos andar no caminho da sabedoria. Por fim, vemos ainda que o caminho da sabedoria evita o caminho do mal.

Dois caminhos estão diante de nós: o caminho da sabedoria e o caminho dos perversos. Não há meio termo. Nós escolhemos um ou outro cada vez que fazemos pequenas ou grandes escolhas na vida. Qual deles você tem trilhado? Lembrem-se, as escolhas que fazemos determinarão não só a nossa quantidade de vida, mas, acima de tudo, a nossa qualidade de vida.

 

 

Related Articles

O credor incompassivo
Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas. Mateus 18:35...
Os dois filhos
Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram-lhe eles: O primeiro. Disse-lhes Jesus: Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram...
A dracma perdida
Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? Lucas 15:8...
A dracma perdida
Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? Lucas 15:8...