Não há limite, para quem Deus usa
Texto de Estudo: Juízes 3:15-25, Juízes 3:29-30
Depois de quarenta anos de paz, o ciclo de Israel estava começando novamente. Dessa vez, seu pecado tinha os tornado subservientes de Eglom, rei de Moabe. Por dezoito anos os israelitas sofreram sob esse regime despótico, até que começaram a clamar ao Senhor. Sua súplica foi ouvida por Deus e Ele enviou-lhes um libertador na pessoa de Eúde, a quem a Bíblia descreve como um homem canhoto.
Eúde foi um libertador improvável por várias razões. Ele não tinha o caráter normalmente possuído por aqueles que Deus usa para cumprir Seus propósitos. Ele era enganoso, desonesto, traiçoeiro e brutal. Além de ser canhoto. A implicação disso é que ele não estava limitado em sua mão direita.
Canhotismo parece ter ocorrido frequentemente na tribo de Benjamim (que ironicamente quer dizer "filho da mão direita"), fazendo com que alguns pensem que isso era induzido artificialmente, porque essa tribo amarrava o braço direito de suas crianças, ensinando-as a desenvolver agilidade com a mão esquerda, para dar-lhes uma vantagem no combate físico (cf. 1Crônicas 12:1,2; Juízes 20:16). Uma vantagem para Eúde é que os guardas do palácio não revistavam seu lado direito em busca de armas.
Com que frequência, em nossas igrejas, passamos o olho por alto por pessoas simplesmente porque não se encaixam em nossas qualificações? A Bíblia está cheia de exemplos de pessoas que fracassaram perante o escrutínio humano, mas foram usadas poderosamente por Deus: Davi, o último filho de Jessé; o apóstolo Paulo, outrora perseguidor dos cristãos; Moisés, o assassino fugitivo. E, permita-nos ousar mencionar nosso Senhor Jesus Cristo, que foi duramente criticado pelos nativos de sua cidade natal (Mateus 13:54-55).
É uma tragédia, quando perdemos o propósito de Deus por causa de noções pré-concebidas. Às vezes, nossos objetivos pessoais, ambições egoístas ou nepotismo nos levam a afastar nosso povo e nossa igreja do que Deus quer fazer em nosso meio.
Não há limite para os métodos de Deus
Eúde foi enviado a Eglom com um tributo. Essa missão deu-lhe a oportunidade de tomar uma ousada iniciativa pessoal. Ele, de boa vontade, arriscou sua vida, sem nenhuma consulta ao seu povo. Ele levava consigo um punhal de dois gumes, pequeno o bastante para esconder sob sua roupa e longo o suficiente para dar conta de Eglom.
Princípios significativos de liderança são reforçados a partir do exemplo de Eúde. Líderes devem ver as coisas antes que seu povo as veja. Líderes devem sentir os fardos antes que seu povo os sinta. Líderes devem assumir compromissos antes que seu povo os assuma, ainda que seu povo nunca os assuma.
Eglom era notório por sua obesidade. Na verdade, seu nome deriva da palavra "touro" e também do termo "redondo". Ele era o bezerro engordado, pronto para o abate. O tributo levado a ele pode ter sido um produto agrícola, significando sua cobiça (simbolizada por sua obesidade). Ele não estava ciente do perigo que enfrentava, quase como um animal tolo. Sua amplitude o tornava indefensável para seu oponente.
Eúde atiçou a curiosidade de Eglom e induziu-o a aceitar a mensagem secreta que alegava ter para ele. Além disso, a declaração de que a mensagem era de Deus sem dúvida fez com que Eglom ficasse desejoso de aceitá-la. Eglom estava tão cego, para receber o presente velado, que dispensou sua guarda pessoal. Foi ingênuo, descuidado e guloso.
Ao se levantar de seu assento, para receber a mensagem, o rei moabita foi pego desprevenido pelo habilidoso Eúde, que sacou a espada de sua coxa direita, com sua mão esquerda, e a cravou no estômago de Eglom. A mensagem para Eglom era um punhal de dois gumes e o rei moabita certamente entendeu. Com o rei morto, Israel podia, então, conquistar o povo moabita.
Israel foi libertado por meio de uma abordagem extremamente incomum. Seu líder tomou a iniciativa de eliminar o rei inimigo. Ele lançou mão de um esquema que era enganoso e desonesto, mas isso assegurou o livramento da nação. E mais uma vez eles puderam experimentar a salvação de Deus.
É muito fácil, para nós, confinar e restringir o Senhor às nossas noções de como as coisas devem funcionar. Tendemos a nos tornar dogmáticos sobre a experiência que tivemos com o Senhor e esperamos que tudo aconteça da maneira como ocorreu em ocasiões anteriores. O desafio é para que retiremos Deus da caixa de nossa herança, nossos confortos e nossas ideias. Muitos de nós confinamos o Senhor à estreiteza de nossas experiências e precisamos nos mover além de nossas cercanias familiares para ver que Ele é especialista em agir fora de nossa perspectiva limitada.
Se você enfrenta um problema semelhantemente impossível, retire força do fato de que Deus faz mesmo coisas extraordinárias para nos ajudar a sermos aqueles que superam. Ele nunca se atrasa em cuidar de nossas preocupações. Ele é ilimitado nos recursos que pode tornar disponíveis para nós. Ele fará o sobrenatural para cumprir Seus propósitos e trabalhar em nosso favor.
Uma dificuldade teológica
Como Deus pode usar um homem que manifestou tais maquinações e atividades traiçoeiras? Deus perdoou a sua façanha oportunista e violenta? Exceto pelo versículo 28, não há sequer uma pista de que o coração de Eúde tivesse qualquer sensibilidade espiritual ou de que ele tivesse um senso do chamado divino. Alguns podem argumentar que Deus, pelo Seu silêncio, não estivesse de acordo com as táticas tortas de Eúde. Outros replicam que, embora Deus não tenha sido creditado como tendo responsabilidade direta pelo ato, Ele assegurou que nenhuma complicação ocorresse para evitar a execução do plano.
O que está claro é que Deus foi capaz de usar um indivíduo falho para cumprir Seu propósito, sem endossar essas falhas. Na verdade, esse é um dos temas do Antigo Testamento: Deus usou pessoas a despeito de suas falhas. O assassinato secreto de Eglom, cometido por Eúde, pode não ter sido o meio preferido de Deus para o livramento, mas Ele pode tornar tais situações bênçãos. Deus é especialista em redimir o que os seres humanos corrompem. Em toda a Bíblia Deus usou indivíduos muito menos piedosos do que Eúde para administrar Sua justiça. A intervenção de Deus, no passado, assegurou a Israel a ajuda presente em tempos de tribulação. O mesmo vale para nós.
Eúde estava disposto a arriscar tudo por Deus. Ao passo que sua ousadia é exemplar, seu método não é uma receita para que apliquemos quando enfrentarmos oposição. O povo de Deus deve sempre buscar o caminho da integridade. Esse é o seu ideal.