A Humildade de Paulo

Texto de Estudo: Filipenses 4:10-23

Paulo terminou a sua carta aos filipenses por onde começou. Aqueles irmãos tinham se mostrado generosos em seu apoio financeiro, reconhecendo as necessidades de Paulo e as crises de toda a ordem pelas quais ele passava. Eles queriam aliviar pelo menos suas dificuldades financeiras, até onde isso lhes fosse possível, pelo que lhe tinham enviado dinheiro em diversas ocasiões.

Ora, neste ponto, Paulo faz uma pausa a fim de agradecer a essas doações. A última ocasião em que os filipenses tinham enviado auxílio financeiro a Paulo fora quando da vinda de Epafrodito, o qual agora retornaria a eles como portador da presente epístola, bem como seu representante, autorizado a corrigir alguns problemas que afligiam aquela comunidade cristã.

Paulo não tinha o costume de receber ajuda financeira da parte de outras igrejas, exceto a dos filipenses e, por isso, esperou até o fim desta epístola para mencionar as doações recebidas mais diretamente, embora já tivesse feito menção no início (Filipenses 1:4-5). Dessa forma, podemos perceber uma demonstração da delicadeza dos sentimentos de Paulo: adiou a menção da dádiva, porque não queria que a questão parecesse ser demais importante para ele, como se estivesse motivado pela cobiça.

Paulo, também, raramente falava de suas necessidades, mas quando as tinha ele a admitia. Não havia um orgulho sutil em sua personalidade que o prejudicasse pela falta de "coisas". Ele não fingia ser o que não era. Ele vivia dentro de suas posses, e quando tinha falta de alguma coisa, não as fazia de orgulhoso para não aceitar ajuda8. Por isso ele regozija-se "uma vez mais", o que indica a pluralidade das doações enviadas (2 Coríntios 11:8-9).

A Suficiência de Paulo

Paulo conservava uma atitude de desprendimento: "não por causa da pobreza" (v. 11a). Assim, a apreciação de Paulo pela ajuda dos filipenses não é expressa por causa de um senso de necessidade. Sua humildade e honestidade caminham juntas (Atos dos Apóstolos 20:33-34).

Paulo tinha, ainda, uma capacidade inusitada para adaptar-se a várias situações e circunstâncias e ainda refletir contentamento (v. 11b). As "situações" sobre a quais Paulo escreveu aqui envolviam suas necessidades materiais, tendo "fartura, como fome", tendo "abundância como escassez" (v. 13).

O segredo de Paulo era sua profunda confiança em Jesus Cristo (v. 14). Fortalecido em Cristo, Paulo podia enfrentar qualquer situação que envolvesse necessidades materiais e ainda manter uma atitude positiva e vitoriosa para com as circunstâncias da vida. Esse fortalecimento que nos vem da parte de Cristo, não apenas nos confere forças, mas também transforma nossos próprios seres para que compartilhem de Sua natureza, o que permite que nos tornemos mais fortes em nós mesmos, embora isso se deva inteiramente à Sua graça.

A Gratidão de Paulo

Paulo era grato pelo apoio financeiro que os filipenses prestaram constantemente à obra do evangelho e às suas necessidades pessoais (vv. 14-17). A igreja de Filipos não apenas enviava dinheiro para Paulo, mas também consolo. Ela não apenas supria suas necessidades físicas, mas também emocionais e espirituais.

Aqueles cristãos haviam demonstrado a regra da preocupação fraternal, a lei do amor, o princípio normativo da família de Deus. Havia, porém, uma razão mais profunda para a sua gratidão: o investimento e a dedicação excepcional no tocante a dar (Provérbios 11:25; Provérbios 19:17). Parece que havia uma transação mútua, de duas mãos, entre a Igreja e o apóstolo. Ela investia riquezas materiais e recebia riquezas espirituais. Os filipenses deram e eles também receberam bens espirituais da parte de Paulo (1 Coríntios 9:3-14; Romanos 15:26-27).

Assim, Paulo conclui que a dádiva era, na realidade, um investimento lançado como crédito na conta dos filipenses, um investimento que lhes pagava dividendos cada vez mais valiosos (v. 19). Ou seja, receberiam a recompensa por parte do Senhor (Atos dos Apóstolos 20:35).

É importante destacar que Paulo coloca toda ênfase de sua alegria no Senhor, não na generosidade dos filipenses. Ele sabia que os crentes de Filipos eram apenas os instrumentos, mas que o Senhor era o inspirador. Ele tinha profunda consciência que a providência de Deus, às vezes, opera por meio das pessoas. Assim, Deus supriu suas necessidades por meio da Igreja. Ele agradece a Igreja pela provisão, mas sua alegria está no provedor.

A gratidão é uma atitude que traz alegria para quem a manifesta e para quem a recebe. Precisamos desenvolver essa atitude no meio da Igreja.

O Reconhecimento de Paulo

Paulo dá prosseguimento à sua metáfora mercantil, dizendo que a substância real do donativo dos cristãos filipenses era a simpatia e o amor fraternal; e isso servia de oferta especialmente fragrante a Deus; porquanto aquele que dessa maneira serve a seus irmãos na fé, serve a Deus (vv. 18-23). Amamos a Deus por meio de nossos irmãos, sendo essa a maneira pela qual todos os homens possam demonstrar amor a Deus (Tiago 2:14-17; 1 João 3:18; I João 4:20-21).

A igreja de Filipos não ofertava com pesar nem por constrangimento. Ela fazia da oferta ao apóstolo um culto a Deus. Ela enviava o sustento de Paulo com alegria tal como se estivesse oferecendo a Deus um sacrifício aceitável e aprazível. A contribuição missionária era um ritual de consagração, um tributo de louvor a Deus feito com efusiva alegria e, uma liturgia que subia ao céu como um aroma suave e agradável a Deus.

William Barclay diz que Paulo usa palavras que fazem do dom dos filipenses não um presente para ele mesmo, mas um sacrifício para Deus. Chama-o de "aroma suave". Esta expressão era comum no Antigo Testamento para um sacrifício aceito e bem visto por Deus. É como se o aroma do sacrifício fosse agradável ao olfato de Deus (Gênesis 8:21; Levítico 1:9,13,17). A alegria de Paulo em receber oferta não está no que esta significava para ele, mas no que significava para eles. Não que Paulo deixasse de apreciar o valor do dom em seu favor, nem que ele desestimulasse o que eles faziam por ele; mas o que mais o alegrava é que esse mesmo dom era uma oferta agradável a Deus9.

Paulo não poderia ter tributado melhor louvor aos doadores. Os donativos são "aroma de suave perfume", uma oferenda apresentada a Deus, grata e muito agradável a ele. São comparáveis à oferta de gratidão de Abel (Gênesis 4:4), de Noé (Gênesis 8:21), dos israelitas quando no estado de ânimo correto apresentavam seus holocaustos (Levíticos 1:9-13,17) e dos crentes em geral ao dedicar suas vidas a Deus (2 Coríntios 2:15-16), como fez Cristo, ainda que de uma maneira única (Efésios 5:2).

Paulo não podia recompensar pessoalmente aos cristãos filipenses, mas o seu Senhor podia (v. 19). Os cristãos filipenses deram de sua pobreza, como um sacrifício, e estavam limitados acerca de quanto e quanto poderiam dar (2 Corintios 8:1-5). Com Deus, entretanto, não há tais limitações. Os cristãos filipenses poderiam esperar com uma esperança bem fundada, de que haveriam de prosperar extraordinariamente, por terem sido tão generosos com o seu dinheiro para a causa do evangelho (v. 19). Saiba que nenhuma dádiva faz o doador mais pobre. A riqueza divina está aberta para os que amam a Deus e ao próximo. O doador não se faz mais pobre, senão mais rico, porque seu próprio dom é a chave que lhe abre os dons e as riquezas de Deus.

Como cristãos precisamos aprender a depender de Deus e demonstrar gratidão por aqueles que Deus levanta para cuidar de nossas necessidades.

 

 

8 GETZ, Gene A. A estatura de um cristão: estudo em Filipenses. São Paulo: Vida, 1986, p. 94,95.

9BARCLAY, William. The letters to the Philippians, Colossians, and Thessalonians. Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 2003, p. 101.

 

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