Não tomarás o nome de Deus em vão
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- Pr. Renato Sidnei Negri Junior
- Devocionais
Texto de Estudo
Êx 20:7
INTRODUÇÃO
Já aprendemos sobre o senhorio de Deus no primeiro e vimos, no segundo, que nosso Senhor é zeloso e não tolera qualquer manifestação de adoração a imagens esculpidas ou impressas, mesmo que elas tentem representá-lo. As informações sobre cada um dos Dez Mandamentos são fornecidas ao longo do Pentateuco e em muitos casos em toda a Bíblia, e aqui não é diferente. O texto não expressa de maneira explícita, mas deixa claro que diz respeito a tudo o que se refere ao nome de Deus. Há expositores que exageram ao dizer que não é possível saber o que este mandamento quer dizer com as palavras: “Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Êx 20.7; Deuteronômio 5:11). O contexto bíblico esclarece o que Deus está nos ensinando e mostra a abrangência do referido mandamento. Fala sobre o uso de modo trivial do nome divino, proibindo o perjúrio e toda a forma de profanação e blasfêmia do nome do Senhor .
Hoje estudaremos o terceiro mandamento. Analisaremos, então, o que Deus instruiu a respeito do pronunciamento e do uso do seu santo nome. É comum as pessoas fazerem menção ao nome de Deus de uma forma corriqueira e até banal. Outros professam seu nome na legitimidade de filhos. Em que implica tudo isso? Qual o fundamento do terceiro mandamento? Por que a questão do nome é tão importante? O estudo de hoje nos ajudará a entender tais questionamentos.
A QUESTÃO DO NOME
O nome identifica-nos, representa e torna-nos conhecidos. Carregamos nosso nome desde o nascer, até o momento derradeiro da vida. Assim que uma criança vem ao mundo, uma das obrigações dos pais é nomeá-la e registrá-la para que se torne um cidadão frente ao Estado e à sociedade. Alguém sem nome é apenas “alguém”, um anônimo. Na Bíblia, dar um nome a uma pessoa significa muito mais do que dotá-la com um nome próprio. O “nome” equivale à própria pessoa. Não ter nome é não existir, ou ser algo insignificante e desprezível. Dar nome a algo é reconhecer sua existência. Note que a primeira tarefa de Adão foi nomear os animais (Gênesis 2:19-20). Nos tempos bíblicos, pedir que alguém dissesse seu nome era mais do que dizer como se chamava; mas, sim, manifestar sua natureza (Gênesis 32:29; Êx 3:13-14). Também houve casos de mudança de nomes de personagens bíblicos após uma experiência destes com Deus, como Abraão (Gênesis 17:5), Sara (Gênesis 17:15) e Jacó (Gênesis 32:28). Na cultura oriental, o nome representa a personalidade de uma pessoa; por vezes, conta sua história e mostra sua reputação.
E o nome de Deus? Em primeiro lugar, devemos entender que a palavra “deus” é um substantivo definindo um ser superior e, não, um nome. Como cristãos, por sabermos que Deus é um só, acabamos por usar o termo como sinônimo do nome e confirmamos isso, colocando o “D” maiúsculo. Mas Deus tem um nome? Apesar de algumas traduções bíblicas usarem a expressão “SENHOR” para designar o Deus de Israel, seu nome, na verdade, é escrito com quatro consoantes (YHWH), cuja pronúncia foi substituída pelos judeus por Adonai (o Senhor), por volta do século IV a. C.. Posteriormente, o tetragrama YHWH sofreu acréscimo das vogais da palavra Adonai, resultando na pronúncia Jeová. Vários indícios, porém, apontam que a pronúncia correta seria Javé. Ou seja, o nome correto de Deus e sua pronuncia perderam-se no tempo.
E por que isso aconteceu? Justamente por causa do terceiro mandamento. Os judeus levavam tão á sério a reverência ao nome do Senhor que, ao lerem os textos bíblicos ou transcreverem os manuscritos, temiam falar/escrever o nome de Deus. Então, pronunciavam ou escreviam, em seu lugar, Adonai. No judaísmo mais recente, a proibição incutida no terceiro mandamento envolvia qualquer uso impensado e irreverente do nome YHWH. Este só era pronunciado uma vez por ano, pelo sumo-sacerdote, ao abençoar o povo no grande Dia da Expiação (Levíticos 23:27). Todavia, apesar desse costume, devemos saber que a Bíblia mostra alguns termos para se referir a Deus. É importante notar, porém, que os termos vão além de uma identificação pessoal; no entanto, revelam suas obras, atributos e natureza. (Conferir tabela adiante.) Não servem simplesmente para diferenciá-lo de deuses pagãos; porque, quando há na Bíblia menção do “nome de Deus”, revela-se o poder, a grandeza e a glória do Deus Todo Poderoso .
A QUESTÃO DO MANDAMENTO
A respeito do terceiro mandamento, é importante perceber que não é, necessariamente, no “falar o nome de Deus” que acontece a transgressão; mas, sim, em utilizar o seu nome sem necessidade. Considerando o possível significado de “vão” (shawe’) ser “vacuidade”, “nulidade” ou “vaidade”, eis três implicações que surgem acerca desse mandamento.
A primeira seria uma proibição, pretendendo evitar que o povo utilizasse o nome de Deus para fins mágicos. Não podemos esquecer o contexto histórico em que Israel estava inserido, como vimos na última lição. Era comum para os pagãos fazer menção do nome de seus deuses, utilizando-os em ofertas para propósitos malignos. A segunda implicação sugere que o nome de Deus não deveria ser profanado por juramentos falsos (Levíticos 19:12), ou por se abandonar a adoração ao Senhor (cf.Levíticos 18:2; 20:3). Assim sendo, em sentido mais amplo, qualquer ação que negasse a centralidade da revelação do Senhor, por meio de sua palavra e de seu nome, significava tomar o seu nome em vão. A terceira alusão refere-se à tendência contínua dos homens de manipular o nome de Deus, usando-o para alcançar seus objetivos privados, roubando-lhe o significado intrínseco.
A segunda parte do mandamento, “o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão”, também tem sua significância. Para entendermos o significado das palavras, que soam tão duras aos nossos ouvidos, precisamos voltar para o versículo dois: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa de servidão”. Em concordância com a forma literária dos acordos pactuais do Oriente Próximo antigo, o pacto de Israel com o Senhor começou com um prólogo, que identificou o autor do pacto: “Eu sou o Senhor, teu Deus”. Nos tratados de suserania da época e daquele lugar, grande atenção era dada aos atos beneficentes do rei para com o vassalo. Dessa forma, não é de se admirar que o pacto do Sinai fosse proclamado tendo esse prólogo histórico, proclamando a ação redentora de Deus para com seu povo : “que te tirei da terra do Egito, da casa de Servidão”. O que tudo isso significa? Que o Senhor, que é o “suserano” do pacto no Sinai, poderia punir os “vassalos” (os israelitas) caso eles quebrassem o pacto, desprezando o ato benéfico do Libertador. No caso do terceiro mandamento, a ruptura da aliança viria se o povo tomasse o nome de Deus em vão. Assim, o castigo seria a punição.
CONTEXTUALIZAÇÃO
A importância desse mandamento reside em não misturar a santidade de Deus com coisas profanas e darmos o verdadeiro valor ao que é do Pai. Afinal, Deus é santo; e “ser santo” é um atributo divino básico, com prioridade a Deus e, consequentemente, ao seu nome. No idioma hebraico, “ser santo” deriva da palavra qadash que, por sua vez, é oriunda de qad, que significa “cortar”, “separar”. Sendo assim, santidade em Deus significa que ele é distinto de sua criação, exaltado acima dela, em majestade infinita, e separado de todo o mal moral, isto é, o pecado. Essa definição indica a plenitude da excelência moral de Deus, pois ele é moralmente perfeito.
Quanto deve valer o nome de Deus? Quando não vivemos de forma digna o compromisso cristão, nós representamos mal e sujamos o nome do nosso Senhor. Paulo falou sobre isso a alguns judeus que, por causa de mau comportamento, faziam com que o nome de Deus fosse blasfemado entre os gentios (Romanos 2:24).
No Novo Testamento, quando a segunda pessoa da Trindade fica exposta em Jesus, podemos ver o Mestre condenando aqueles que usam seu nome de maneira leviana ou errada. Jesus advertiu aqueles que ficariam surpresos ao descobrirem que usaram seu nome em vão (Mateus 7:21-23). Notemos que o texto falava de cristãos professos (“Senhor, Senhor”, eles chamaram-no), e alegaram insistentemente que haviam profetizado, feito milagres e expulsado demônios em nome de Jesus. Mas haviam usado o seu nome em vão.
Em nossa vida, portanto, devemos sempre estar cientes do fato de que somos representantes do Pai celestial. Quando nos envolvemos em escândalos, consequentemente incluímos Deus nas acusações que o mundo faz. Quando usamos as logomarcas cristãs, como o símbolo do “peixe” em um cartão de visita, em adesivos ou camisetas para encobrir nossa desonestidade, isso se reflete no próprio caráter de Deus. Ao realizarmos um trabalho de forma não satisfatória, estaremos dando oportunidade ao ceticismo. Nossa motivação à excelência na educação, no trabalho, nos relacionamentos e em casa deve ser a santidade da reputação de Deus. Estamos “lá fora”, no mundo, como representantes escolhidos de seu governo. Tudo o que fazemos reflete-se no nosso chefe de Estado, pois somos seus embaixadores neste mundo (2 Coríntios 5:20).
Também quebramos o terceiro mandamento quando não tememos o nome do Senhor. Se admitimos a existência divina, mas a nossa fé é “da boca pra fora”, tomamos o seu nome em vão. Certa vez, Jesus disse: “todo aquele que ouve as minhas palavras e não as pratica é como o homem insensato” (Mateus 7:26). Falar a respeito de Deus, e não viver segundo ele, é uma profanação pior do que a prática da linguagem obscena. A fé inoperante é pura hipocrisia; é vã. Precisamos entender que Deus é santo, maior do que tudo. Seu nome deve ser respeitado, sem ser emaranhado com brincadeiras, juramentos falsos, enganações, como, infelizmente, observa-se na sociedade mundana. Igualmente triste é algumas igrejas utilizarem o nome de Deus de uma forma simplista demais.
O que não pode ser esquecido é que a segunda parte do mandamento analisado é uma séria advertência: Deus não terá por inocente quem usar seu nome de maneira frívola, e Cristo ratifica tais palavras, dizendo para aqueles que usaram “seu nome” mal intencionadamente: “...nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mateus 7:23).
CONCLUSÃO
Ao fazer a revisão sobre terceiro mandamento, percebemos o quanto o nome do nosso Senhor é blasfemando e usado para enganar, atualmente. E, o pior, isso ocorre em muitas igrejas que se dizem cristãs. Que importância damos ao nome de Deus e a nosso testemunho cristão? As pessoas que nos vêm percebem a santificação divina por nosso intermédio e em nossa comunidade? Você gostaria que pessoas de má reputação usassem o seu nome para conseguirem créditos ante a sociedade? E se dissessem que tem uma amizade com você, mas na verdade não têm? Ninguém gosta disso; muito menos Deus. Que o Senhor acompanhe cada um de nós e auxilie-nos sempre a honrar o compromisso de filhos de Deus. Que Jesus Cristo seja sempre para nós aquele “Nome sobre todo nome” (Filipenses 2:9). Amém!