Texto de Estudo

 Jeremias 23:5

INTRODUÇÃO

A dominação persa marca o contexto da profecia de Zacarias. Provavelmente seu pano de fundo sejam os distúrbios que principiaram depois da morte de Cambises, em 522 A.C., motivados pela sucessão do trono persa. A política desse império previa a restauração dos cultos dos povos dominados. Ao patrocinar o culto local, esperava conseguir algum consenso, pelo menos dos sacerdotes, para sua administração. É claro que esse conceito de tolerância não pode ser levado ao pé da letra. Não se tratava de consideração legítima pelos outros, mas sim da percepção que o império mundial poderia ser mais bem dominado de maneira duradoura. Qual a situação dos judeus nessa nova ordem política? O povo de Deus continuava dominado. O desejo de libertação, acompanhado de esperança, ainda era extremamente necessário. É nesse contexto que a mensagem de Zacarias se faz presente.

 

AUTORIA E DATAÇÃO

O nome Zacarias significa “Yahweh se lembra”. Este era um nome popular no Antigo Testamento. Ali encontramos mais de 300 pessoas designadas com este nome. Contudo, o escritor deste livro se identifica como “Zacarias, filho de Berequias, filho de Ido, o profeta” (1:1; Esdras 5:1; Neemias 12:12-16). Ido, o profeta, também era líder de uma família de sacerdotes. Zacarias nasceu em Babilônia e pertencia à tribo de Levi. Provavelmente retornara do exílio juntamente com os demais judeus (Neemias 12:1-4,16).  Dessa forma, ele ocupou os dois ofícios, sacerdote e profeta (Neemias 12:1-4,7,10,12,16). 

O profeta aparece tanto como filho de Berequias (1:1) quanto filho de Ido (Esdras 1:1; 6:14).  A palavra “filho”, entretanto, em hebraico, pode significar também neto ou descendente.  Assim, o autor estaria referindo-se a si mesmo em seu livro como filho de Berequias, enquanto Esdras faz referência a seu avô. A expressão “jovem”, que aparece diretamente em 2:4 e indiretamente em 2:8 (“enviou-me”), sugerem que Zacarias era um jovem adulto quando retornou do exílio. 

A datação do livro é um ponto igualmente importante no estudo do texto. Três passagens em Zacarias ajudam a fixar sua data de composição: 1:1,7; 7:1. Essas datas vão do “oitavo mês do segundo ano de Dario” (520 A.C.) até o nono mês do quarto ano do mesmo rei (518 A.C.). Seu ministério assim se estenderia por pelo menos dois anos, entre 520-518 A.C. Há também a possibilidade de que esse ministério tenha sido um pouco mais longo, talvez até a dedicação do templo, ou mesmo depois. 

 

CONTEXTO HISTÓRICO

O ambiente no qual Zacarias desenvolveu seu ministério foi o do retorno do cativeiro babilônico. Ao assumir o trono, “para que se cumprisse a palavra do Senhor, falada por intermédio de Jeremias”, Ciro, rei dos medos e persas, decretou que todo o povo de Judá que estava cativo subisse para edificar a casa do Senhor (Esdras 1:1-4). Além disso, todos os utensílios do templo, que estavam em Babilônia foram enviados de volta a Jerusalém (Esdras 1:7-11).

A reconstrução de Jerusalém deu-se em um ambiente de temor, por causa dos “povos das outras terras” (Esdras 3:1-3). Nesta época, havia em Jerusalém uma população mista, resultante da ação dos assírios. Esses desejaram participar da reconstrução do templo. Essa proposta, contudo, foi recusada e essa população mista, habitantes da província de Samaria - que mais tarde seriam conhecidos como samaritanos - se tornaram hostis aos judeus de tal forma que a obra foi interrompida por cerca de 18 anos, e em 520 A.C. o templo ainda estava em ruínas (Esdras 4:1-5). 

Mais do que um abandono na construção do templo pela oposição sofrida, Jerusalém enfrentava uma “época de penúria econômica” que impedia que a obra progredisse.  Além disso, havia paralisia moral que aceitava como normais condições que exigem mudanças drásticas.  É nessa ocasião que o profeta Ageu começa a atuar em seu ministério profético no segundo ano de governo do rei persa Dario I, em 520 A.C.  Nesta época de paralisia, sua tarefa específica foi a de induzir os judeus a renovarem sua obra no templo. A situação piorou ainda mais, pois, ao invés de trabalharam pela Casa do Senhor, os judeus se desviaram daquilo que deveria ser sua prioridade e se concentraram na construção de suas próprias casas (Ageu 1:4). 

Pouco tempo depois de Ageu, talvez apenas dois meses depois, surge o profeta Zacarias.  O texto bíblico diz: “Ora, o profeta Ageu e o profeta Zacarias, filho de Ido, profetizaram aos judeus que estavam em Jerusalém, em nome do Senhor Deus de Israel, que estava sobre eles” (Esdras 5:1).

Zacarias desempenhou papel fundamental para a tarefa de conclusão do templo. Nos dias de hesitação que se seguiram à segunda mensagem de Ageu, Zacarias prestou inspiração de reforço para o grupo de esforçados judeus.  Sua primeira tarefa foi ajudar o profeta Ageu a fazer com que os homens terminassem o templo.  

 

ESTRUTURA E MENSAGEM

O livro de Zacarias divide-se em duas partes principais. A primeira parte (1-8) começa com uma exortação aos judeus para que voltem ao Senhor, para que também o Senhor se volte a eles (1:1-6).

Enquanto encorajava o povo a terminar a reedificação do templo, o profeta Zacarias recebeu uma série de oito visões noturnas (1:7-6:8), garantindo à comunidade judaica em Judá e Jerusalém que Deus cuida do seu povo, governando o seu destino. As cinco primeiras visões transmitiam esperança e consolação, mas as últimas três apontavam para um juízo. A quarta visão contém uma importante profecia messiânica (3:8,9). A cena da coroação em 6:9-15 é uma profecia messiânica clássica do Antigo Testamento. Duas mensagens (7 e 8) fornecem perspectivas presentes e futuras aos leitores originais do livro.

A segunda parte (9-14) contém dois blocos de profecias apocalípticas. Cada um deles é introduzido pela expressão: “Peso da palavra do Senhor” (9:1; 12:1). O primeiro “peso” (9:1-11:17) inclui promessa de salvação messiânica para Israel, e revela que o Pastor-Messias, que levaria a efeito tal salvação, seria primeiramente rejeitado e ferido (11:4-17; cf. 13:7). O segundo “peso” (12:1-14:21) focaliza a restauração e conversão de Israel. Deus prediz que Israel pranteará por causa do próprio Senhor “a quem traspassaram” (12:10). Naquele dia, uma fonte será aberta à casa de Davi para a purificação do pecado (13:1); então Israel dirá: “O Senhor é meu Deus” (13:9). E o Messias reinará como Rei sobre Jerusalém (14).

O livro de Zacarias é o mais messiânico dos livros do Antigo Testamento, em virtude de suas muitas referências ao Messias, que ocorrem em seus 14 capítulos. Somente Isaías, com seus 66 capítulos, contém mais profecias a respeito do Messias do que Zacarias.

Zacarias revela um exemplo notável de ironia divina ao prever a traição do Messias por 30 moedas de prata, tratando-as como “esse belo preço em que fui avaliado por eles” (11:13). A profecia de Zacarias a respeito do Messias no capítulo 14, como o grande Rei-guerreiro reinando sobre Jerusalém, é uma das que mais inspiram reverente temor em todo o Antigo Testamento. Além disso, Zacarias profetizou a respeito da morte expiatória de Cristo pelas mãos dos judeus, que, no tempo do fim, levá-los-á a prantearem-no, arrependerem-se e serem salvos (12:10-13:9; Romanos 11:25-27).

Mas a contribuição mais importante de Zacarias diz respeito às suas numerosas profecias concernentes a Cristo. Os escritores do Novo Testamento citam-nas, declarando que foram cumpridas em Jesus Cristo. Entre elas estão: 1) ele virá de modo humilde e modesto (9:9; 13:7; Mateus 21:5; 26:31, 56); 2) ele restaurará Israel pelo sangue do seu concerto (9:11; Marcos 14:24); 3) será pastor das ovelhas de Deus que ficaram dispersas e desgarradas (10:2; Mateus 9:36); 4) será traído e rejeitado (11:12,13; Mateus 26:15; 27:9,10); 5) será traspassado e abatido (12:10; 13:7; Mateus 24:30; 26:31, 56); 6) voltará em glória para livrar Israel de seus inimigos (14:1-6; Mateus 25:31; Apocalipse 19:15); 7) reinará como rei em paz e retidão (9:9,10; 14:9,16; Romanos 14:17; Apocalipse 11:15); e 8) estabelecerá seu reino glorioso para sempre sobre todas as nações (14:6-19; Apocalipse 11:15; 21:24-26; 22:1-5).

Para Zacarias, somente a mudança genuína de coração traria o favor divino (1:1-6). Mas o profeta vai além, ele faz mais que uma exortação à reconstrução. Naqueles dias de incerteza, o profeta tinha uma mensagem confortadora. Por meio de uma série de visões noturnas, veio a certeza renovada de que Deus, que mantém vigilância sobre o mundo inteiro, havia prometido a restauração de Jerusalém. 

O livro de Zacarias chama a atenção pelo seu alto teor escatológico. Ele transcende os limites da situação do momento, dos problemas de sua época, para falar da restauração final, permanente. Em seu ofício ele trata de temas referentes ao início de uma era escatológica final e à organização da comunidade escatológica, como também trata de questões práticas de sua época. 

 

PROMESSA DE RESTAURAÇÃO

O livro de Zacarias trata da restauração espiritual do povo de Israel e da sua cidade capital, Jerusalém – não só no tempo de Zacarias, mas mais especificamente no tempo do fim, depois da vinda do Messias. Descreve também os julgamentos de Deus sobre os seus inimigos, e torna-se claro que eles são também os inimigos de Israel.

O profeta começa seu livro dizendo: “No oitavo mês do segundo ano de Dario, a palavra do Senhor falou a Zacarias…” (1:1). Este verso revela a ocasião, a fonte divina e o agente humano que agiu no chamamento inicial ao arrependimento. O dia específico do oitavo mês, que começou em 27 de outubro de 520 A.C., é significativo, pois o profeta judaico datou a sua profecia de acordo com o reino de um monarca gentio. Isto constituiu lembrança a todos os ouvintes de Zacarias que o tempo dos gentios estava em curso, e que nenhum descendente de David estava no trono em Jerusalém. Ainda mais, Zacarias, ao escutar a palavra de Deus, foi apenas a pessoa que pronunciou esta profecia e não a sua fonte (2Pd 1:21). Como profeta, ele era simplesmente um servo e um enviado, chamado e ungido para levar ao povo à Palavra de Deus.

Numa única noite, Zacarias teve uma série de oito visões que foram interpretadas por um anjo e que descrevem o futuro de Israel. Deve-se notar que estas visões foram recebidas por Zacarias quando se encontrava perfeitamente acordado – não foram sonhos. Ele até ficou exausto por causa das visões e adormeceu, apenas para ser acordado pelo anjo (4:1). Nas visões, as bênçãos de Deus para Israel atravessam os séculos desde a reconstrução do templo nos dias de Zacarias, até à restauração do reino de Israel sob o Messias.

As exortações que se seguem nos capítulos 7 e 8 são a resposta divina a um questionamento do povo, apresentado, em todo o seu contexto, nos três primeiros versículos do capítulo 7. Uma delegação de Betel, formada por representantes do povo, queria saber se os judeus deveriam continuar ou parar o jejum anual que realizavam em memória à queda de Jerusalém. A resposta divina é clara: o que Deus queria mesmo era a obediência do povo, o compromisso com a justiça, a observância da sua vontade (Zacarias 7:8-14). 

A chave para a plena restauração de Israel é a volta de Deus a Sião. Pois indica a ocasião em que Cristo voltará, em glória, para implantar o seu reino sobre as nações. Nesta ocasião, a presença divina fará de Jerusalém a cidade da verdade e da fidelidade. E o monte do Senhor será santo, ou seja, separado à sua adoração.

 

PROMESSAS DE GLÓRIA POR MEIO DA TRIBULAÇÃO

As profecias dos capítulos 9 a 14 foram escritas por Zacarias muito tempo depois das primeiras profecias registradas no início do seu livro. Nessa época, inclusive, o profeta Ageu já era, sem dúvida, falecido.

Se os primeiros oito capítulos, especialmente os seis primeiros, foram escritos no período de 520 A.C. a 518 A.C., essa última parte foi escrita por volta dos anos 480 A.C. 470 A.C. Aqui, já não estamos mais diante de um jovem Zacarias, mas do ancião Zacarias, o profeta. Tudo leva a crer que, por essa época, a nova geração do povo já não era sensível à voz de Deus como nos dias de Zorobabel e Josué, posto que Jesus lembra que Zacarias, já idoso, acabou assassinado “entre o santuário e o altar” pelos seus colegas oficiais do Templo (Mateus 23:25).

Nos capítulos de 9 a 10, Zacarias profetiza sobre como Israel sobreviverá durante o Império Greco-Macedônico; e no capítulo 11, o tema é Israel em um contexto mais messiânico. Os capítulos 12 a 14 são dedicados totalmente ao Reino do Messias.

 

CONCLUSÃO

O livro de Zacarias começa com um chamado ao arrependimento, mas termina com a visão de uma nação santa e de um reino glorioso. Zacarias foi um dos heróis de Deus que ministrou num tempo complicado e num lugar difícil, mas encorajou o povo de Deus ao mostrar-lhes visões daquilo que Deus planejou para o seu futuro. Deus é zeloso para com Jerusalém e o povo judeu e cumprirá suas promessas.

O livro do profeta Zacarias é também um registro pungente acerca do plano de Deus para Israel no que diz respeito ao final dos tempos e, portanto, um forte testemunho de que o Deus de Israel é o Senhor da História.