NOSSA DECLARAÇÃO: “Cremos que a Igreja de Deus é constituída de todos os crentes reunidos pelo Espírito Santo, unidos em um corpo espiritual do qual Cristo é a cabeça. Acreditamos que a igreja local é uma comunidade de crentes organizada numa relação de aliança para adoração, companheirismo e serviço, praticando e proclamando convicções comuns. Ela cresce na graça e no conhecimento de nosso Salvador Jesus Cristo. Cremos no sacerdócio de todos os crentes e procuramos trabalhar juntos para um testemunho mais efetivo”.
~ INTRODUÇÃO ~
Durante a independência das Treze Colônias da América Inglesa, no final do século XVIII, desenvolveu-se um lema nacional: E pluribus unum, do latim, “de todos, um”. Esse princípio retrata o ideal: “vida em unidade na diversidade”. No entanto, parece que tal aspiração humana é uma ideia difícil de ser alcançada. Observando de forma geral, parece que os seres humanos tendem a se organizarem em sociedade e em comunidade, buscando grupos com interesses semelhantes, ideias afins realidades socioeconômicas comuns.
A Igreja de Jesus Cristo é tratada pelas Escrituras por um padrão de unidade na diversidade. Quando a Palavra de Deus ilustra a Igreja como “corpo”, o qual possui muitos membros, fica evidente que, embora diferentes, servem juntos e contribuem para o crescimento do corpo. (I1Co 12:12-31) Aos efésios, o apóstolo Paulo ressalta essa difícil tarefa de estabelecer a unidade entre judeus e gentios.
Nesse sentido, tanto o corpo humano, como o de Cristo são caracterizados pela unidade e, não, uniformidade. Há harmonia, mas não igualdade na forma e nas funções. Se houvesse uniformidade, não haveria corpo. Um só membro não forma o corpo, tampouco por ele responde.
A imagem da Igreja como corpo é muito explorada no Novo Testamento. O apóstolo lembra aos efésios da unidade entre judeus e gentios pelo sacrifício de Cristo: “os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus, por meio do evangelho”. (Efésios 3:6)
Por fim, ao longo da leitura bíblica, vemos que o princípio da redenção exerceu efeito global, alcançando pessoas de todas as “tribos, povos e nações” (Apocalipse 7:9), e estas recebem a chamada da parte de Deus para se congregarem como um corpo, servindo uns a outras em amor, sendo sal e luz nesta Terra.
Nesta seção, consideraremos a Igreja de Cristo e os seguintes temas: aspectos eclesiológicos, a sua unidade e a sua santidade, a Igreja Universal e local, bem como o seu caráter apostólico.
~ ECLESIOLOGIA ~
A doutrina da Igreja faz parte da teologia. Eclesiologia é uma palavra de origem grega, na verdade formada por duas outras: EKKLESIA = igreja; LOGIA = estudo. O termo “igreja” aparece 114 vezes, no Novo Testamento.
A Igreja é, literalmente, uma assembleia, como vemos em Hebreus 10:25 – “Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia.”
De acordo com o Evangelho de Mateus, Jesus foi o primeiro, no Novo Testamento, a chamar Seu povo, dizendo “minha igreja”. (16:18) O termo ekklesia é usado pelo apóstolo Paulo como a assembleia concreta daqueles que foram batizados num lugar específico. As epístolas paulinas estão recheadas de instruções sobre como o cristão deve se comportar nas igrejas. Ao mesmo tempo, como vimos no texto de Hebreus, os escritores do Novo Testamento advertem sobre as consequências maléficas se deixarmos de frequentarmos uma comunidade de crentes em Cristo. A Igreja de Cristo tem quatro atributos que a caracterizam: una, santa, apostólica e universal.
~ A IGREJA É UNA ~
A unidade da Igreja implica que ela, em todas as eras, sendo todas as nações e tribos, seja essencialmente uma. Essa é uma unidade do corpo de Cristo; portanto, uma unidade de Sua cabeça, do Espírito e da fé, de acordo com as Escrituras:
Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um único Espírito. (1 Coríntios 12:12-13)
Assim também em Cristo, nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros. (Romanos 12:5)
Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus é Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos. (Efésios 4:4-6)
Pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da Igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador. (Efésios 5:23)
A verdadeira unidade no Espírito Santo independe da variedade denominacional exterior. O chamado para a unidade, no Novo Testamento, é, portanto, uma ordem para manter a unicidade fundamental da vida que o Espírito concedeu por meio da regeneração. (Efésios 4:3) No estudo eclesiológico, distingue-se a Igreja invisível (todos os eleitos são verdadeiramente um em Cristo) e a visível (um grupo misto que contém regenerados e, invariavelmente, não regenerados). A unidade da Igreja invisível é um fato consumado, concedido com a salvação. Esse entendimento inviabiliza uma questão - a Igreja invisível única deveria achar expressão numa única organização?
Portanto, a unidade implica que todos os pertencentes à Igreja participem da mesma fé, sejam solidamente interligados pelo comum laço do amor e tenham a mesma perspectiva gloriosa do futuro.
~ A IGREJA É SANTA ~
A palavra “santa” significa a procura constante da Igreja pelo aperfeiçoamento e amadurecimento espirituais, “pois o fruto da luz está em toda a bondade, e justiça e verdade”. (Efésios 5:9) Todos os cristãos foram “chamados a serem santos”. (Romanos 1:7) Jesus fundou Sua Igreja terrestre para continuar a Sua obra redentora e santificadora do mundo, sendo a santidade da Igreja derivada da de Cristo. O povo de Deus forma a nação santa. (1 Pedro 2:9) No sentido mais profundo, a Igreja é santa, da mesma forma que todo o indivíduo cristão é santo, em virtude de estar unido a Cristo, separado para Ele e revestido com Sua justiça. Na sua posição diante de Deus em Cristo, a Igreja é irrepreensível e isenta de qualquer mancha moral.
Porém, por questões naturalmente óbvias, isto não significa que os membros da igreja estão livres do pecado. “Santa” diz respeito ao ânimo firme na santidade, no cultivo de objetivos e pensamentos justos e puros, que produz resultados sólidos na caminhada de um agrupamento de cristãos.
A união com Cristo envolve também uma santidade visível de vida. Desse modo, a relação da Igreja com Cristo será expressa no caráter moral e nas características especiais de sua vida e de seus relacionamentos comunitários. Uma igreja santa produz frutos agradáveis ao próximo, gera pessoas amáveis, bondosas, coerentes, doces, amigas, pacientes, moderadas, generosas, apegadas ao bem e amantes da justiça57. – “Seja a amabilidade de vocês conhecida por todos” (Filipenses 4:5)
Assim, desde que as igrejas visíveis locais passaram a ser compostas de crentes e sua semente, pressupõe-se que foram excluídos todos os descrentes e todas as pessoas ímpias. Paulo não hesita em dirigir-se às igrejas como locais de santos.
~ A IGREJA É APOSTÓLICA ~
No início de seu ministério público, Jesus “chamou a Si os Seus discípulos e escolheu 12 dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos”. (Lucas 6:13) Perto do fim, Ele orou “por aqueles que vieram a crer em mim, por intermédio da sua [dos apóstolos] palavra”. (João 17:20) Desde os apóstolos até os dias atuais, o Evangelho que pregaram tem sido passado adiante. Paulo disse aos cristãos efésios que eles foram “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular”. (Efésios 2:20)
É errado entender a apostolicidade como continuidade histórica do ministério, retrocedendo até Cristo e Seus apóstolos, passando por uma sucessão de bispos. Essa interpretação não tem apoio bíblico. Toda a noção da graça de Deus comunicada mediante uma sucessão histórica de representantes da Igreja contraria o caráter da própria graça, conforme os escritos bíblicos. Além disso, como garantia da verdade da mensagem apostólica, a sucessão episcopal evidentemente falhou.
Os apóstolos foram testemunhas do ministério e da ressurreição de Jesus. Eles tiveram o ensinamento direto do Mestre e foram enviados a locais distantes para pregaram o Evangelho. Quando Lucas afirma que as 3.000 almas, que se converteram no Pentecostes, perseveravam nos ensinos dos apóstolos, devemos entender que são os ensinamentos que Jesus transmitiu aos apóstolos e que, depois, estes transmitiram fielmente, sem alteração, a outras pessoas.
Portanto, a sucessão apostólica é, na verdade, a sucessão do Evangelho apostólico. Ou seja, o depósito original de verdade apostólica, aprendida de Jesus, é passado de uma para outra geração: “homens fiéis... para instruir a outros”. (2 Timóteo 2:2) A Igreja é apostólica à medida que reconhece na prática a autoridade suprema das escrituras apostólicas.
Reivindicar o cargo apostólico em nossos dias é compreender erradamente o ensino bíblico e oferece na prática um desafio grave com respeito à autoridade e à finalidade da revelação divina do Novo Testamento.
~ A IGREJA É UNIVERSAL - A IGREJA INVISÍVEL ~
A Igreja é a comunidade de todos os verdadeiros crentes de todos os tempos. Paulo diz: “Cristo amou a Igreja e a Si mesmo Se entregou por ela”. (Efésios 5:25) Nesse verso, o termo Igreja é empregado àqueles por quem Jesus morreu para redimir os que são salvos pela morte do Mestre. E tal redenção atingiu os verdadeiros crentes, desde Adão.
A principal característica da universalidade é porque a Igreja atinge a todos. Distinta do Judaísmo, com seu exclusivismo racial, e do Gnosticismo, com seus exclusivismos cultural e intelectual, a Igreja de Cristo abriu os braços a todos que quisessem ouvir a mensagem e aceitar Seu Salvador, sem levar em conta cor, raça, posição social, capacidade intelectual e antecedentes morais. Ela surgiu como manifestação de fé para todos. (Mateus 28:19; Apocalipse 7:9) A única exigência para admissão é a fé pessoal em Jesus Cristo como Salvador e Senhor, por meio do batismo, porque manifesta o Evangelho da graça (Mateus 28:19; Atos dos Apóstolos 2:38-41).
A evidência escriturística sobre a universalidade da Igreja é abundante:
Pois com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa para salvação. Como diz a Escritura: “Todo o que nEle confia jamais será envergonhado”. Não há diferença entre judeus e gentios, pois o mesmo Senhor é Senhor de todos e abençoa ricamente todos os que O invocam. (Romanos 10:10-12)
Pois Ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a barreira, o muro de inimizade, anulando em Seu corpo a lei dos mandamentos expressa em ordenanças. O objetivo dEle era criar em Si mesmo, dos dois, um novo homem, fazendo a paz. (Efésios 2:14-15)
~ A IGREJA LOCAL – A IGREJA
VISÍVEL ~
Cada verdadeira igreja local, independentemente de denominação, faz parte da Igreja universal, embora nenhuma das locais possa se dizer Igreja universal. Como já visto, o autor dos Hebreus exorta-nos a não deixarmos de congregar-nos nas igrejas locais. (10:25)
Uma igreja local possui uma membresia que caracteriza aquela congregação como um grupo de pessoas específicas e identificáveis àquela denominação. A membresia de uma igreja possui algumas responsabilidades e deveres. Todos os membros, como cristãos, devem ser batizados e participar da Ceia do Senhor. Devem ouvir a Palavra de Deus e obedecer-Lhe. É necessário terem comunhão juntos, regularmente, visando à edificação mútua. Precisam amar a Deus, uns aos outros e aqueles que não fazem parte de sua comunhão. Ademais, devem evidenciar o fruto do Espírito (Gálatas 5:22-23), adorar a Deus em todas as atividades do lar, do trabalho, da comunidade e da vida58.
Os cristãos são membros de uma família, e até mesmo um dos outros. Sem uma vida de amor recíproca, que outro dever de membro de igreja é satisfatório ou vale a pena? O amor obriga-os a evitarem qualquer situação que “tenda a esfriar o amor”. Por esse amor, a natureza do próprio Evangelho é manifestada.
A Igreja deve ser entendida como meio de graça, não porque dá salvação à parte da fé, mas por ser o meio designado por Deus que o Espírito Santo usa para proclamar, ilustrar e confirmar o Evangelho da salvação. Assim, cada igreja local deve buscar a edificação no Evangelho, desenvolvendo objetivos voltados para o discipulado, à evangelização e às missões.
Portanto, os cristãos de hoje têm a responsabilidade de levar o Evangelho a todo o mundo. Essa missão não é apenas do cristão individual, mas também das congregações. Os cristãos juntos podem compartilhar sabedoria, experiência, sustento financeiro, orações, vocações e direcionar tudo isso ao propósito comum de tornar o nome de Deus conhecido entre as nações.
~ CRISTO: A CABEÇA DA IGREJA ~
Jesus Cristo prometeu-nos o Espírito Santo. Por esse Espírito, Ele habita em Seu corpo, a Igreja, não somente no sentido que a representa, e não somente como Seu Senhor, que governa sobre ela, mas também organicamente, como Seu princípio unificador.
Todos os membros da Igreja, como membros de um corpo, participam de Cristo. Todos eles possuem uma mente - a mente de Cristo. (1 Coríntios 2:16) E têm uma vontade: a vontade de Cristo. Um amor os une, o amor de Cristo. Um Espírito os vivifica - o Espírito de Cristo.
A unidade da Igreja não está em um sentido no homem e não pode ser estabelecida pelo homem. Tampouco procede do fato de que os homens congregam-se e concordam sob uma plataforma de princípios, sob uma confissão e governo eclesiástico, e sob certa forma de adoração. A comunhão da Igreja não é estabelecida pelo esforço e pela vontade humana. Somente Cristo estabelece a unidade da Igreja, ou seja, ela é baseada na comunhão com Cristo.
~ CONCLUSÃO ~
Cristo é o Senhor da Igreja. Somente através dEle a Sua Igreja expressa Seus atributos, que são dons e deveres da Igreja. Podemos concluir o estudo com a citação de um teólogo; ele bem resumiu os atributos da Igreja de Cristo:
A Igreja já é uma só, mas precisa se tornar uma só mais visivelmente (...) em fé e prática. A Igreja já é santa em sua fonte e fundação, mas precisa esforçar-se para produzir frutos de santidade em sua peregrinação no mundo. A Igreja já é universal, mas precisa buscar uma medida mais plena de universalidade para assimilar os protestos válidos contra o abuso da Igreja (...) à própria vida. A Igreja já é apostólica, mas precisa se tornar mais conscientemente apostólica, para deixar que o Evangelho reforme e, às vezes, até mude seus ritos e interpretações costumeiros.