Texto de Estudo

De sorte que disputava na sinagoga com os judeus e religiosos, e todos os dias na praça com os que se apresentavam.

Atos dos Apóstolos 17:17 

INTRODUÇÃO

             O apóstolo Paulo confrontou o mundo dos seus dias. A realidade era dura, pois a crença em Jesus Cristo, sem Sua vida e obra, poderia levar à prisão e à morte.

A visão de mundo da época foi abalada pela resposta que a revelação de Jesus Cristo trouxera: da justificação pela morte na cruz à garantia de vida eterna pela ressureição, passando por uma vida dedicada à obediência e adoração ao Único e Verdadeiro Deus. Tudo isso era novo e estranho àqueles povos. A cruz era loucura para o grego e escândalo para o judeu, conforme o próprio Paulo define:

Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão sendo destruídos, porém para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus. Porquanto está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteligência dos homens cultos...nós, entretanto, proclamamos a Cristo crucificado, que é motivo de escândalo para os judeus e loucura para os gentios. (1 Coríntios 1:18-19, 23, BKJ, grifo nosso)

            O texto para a reflexão e estudo, que se encontra no livro de Atos, capítulo 17:16-34, mostra-nos uma situação de enfrentamento entre a verdade do Evangelho e as velhas práticas religiosas daqueles dias, nos quais a idolatria e os pensamentos dos filósofos gregos prevaleciam em Atenas.

            Atualmente, temos os mesmos desafios ao cristão. Em meio à pluralidade religiosa, ao multiculturalismo e a uma visão de mundo em que relativismo, humanismo, individualismo e demais correntes de pensamentos apresentam-se como saída à sociedade moderna, as doutrinas cristãs aparecem em posição completamente divergente. As respostas dadas pelo cristão, muitas vezes, são tratadas como inadequadas para o que as pessoas acham necessário.

            Assim, algumas questões devem ser colocadas para nossa reflexão. Em meio à pluralidade religiosa, como podemos cumprir a missão de evangelizar pessoas de diversos grupos religiosos que estão ao nosso redor? O que podemos aprender com a experiência de Paulo? Até que ponto a Igreja deve priorizar a evangelização de pessoas dos vários grupos religiosos?

A EVANGELIZAÇÃO E A PLURALIDADE RELIGIOSA.

            O texto relata que, enquanto esperava a chegada dos companheiros em Atenas, o apóstolo Paulo ficou profundamente indignado com a idolatria do povo. A respeito desse tema, ele dissertava na sinagoga para judeus e gregos obedientes a Deus.

Do mesmo modo, falava na praça principal (Ágora), diariamente, a todos que estivessem ali. Era a sua forma de divulgar e apresentar ideias e pensamentos, sempre naquele tempo e lugar. Nas culturas grega e romana, a praça pública representava o local onde tudo acontecia; ali, os anúncios eram dados ao povo e ocorriam discussões de novidades, inclusive religiosas.

Era nesse lugar que o apóstolo foi ouvido por filósofos gregos, representantes de correntes de pensamentos gregos, os estoicos e epicureus. Aqueles começaram a questionar o conteúdo de Paulo, chamando-o de tagarela, falador, pondo em dúvida seu conhecimento do assunto, comparando-o a um papagaio. Ao mesmo tempo, os outros diziam que ele “pregava deuses estranhos”, pois Paulo falava de Jesus Cristo, das Boas-novas e da Ressureição.

Os epicureus eram seguidores de Epicuro, pensador grego, do século III a.C., que entendia que se devia buscar a “ética do prazer” para uma vida de paz, satisfação e de busca do bem. Para isso, era preciso extirpar sentimentos, como paixão, ira, invejas etc. No entanto, naquela época, eles haviam distorcido a filosofia de Epicuro, entendendo que a vida deveria ser apenas a busca pelo prazer.

Os estoicos, discípulos do filósofo grego Zeno, entendiam que a vida era guiada pela razão (logos) da natureza. Deus era representado por todas as coisas da natureza; assim, eram panteístas e idólatras. Para eles, a “natureza” era divina, e tudo nela era deus.

Por desconhecerem e terem curiosidade sobre o assunto apresentado pelo apóstolo, levaram-no ao Areópago para uma reunião. Paulo deveria explicar-se. Por esse fato, podemos ver o impacto e a importância que atribuíram à pregação de Paulo. O Areópago era um lugar entre a praça pública (Ágora) e a Acrópole; ali se reuniam os sábios, que outrora governaram Atenas, para discutirem os assuntos mais importantes à cidade e ao povo. No tempo do apóstolo Paulo, no entanto, o concílio do Areópago cuidava apenas das questões morais e religiosas.

Para aqueles homens, o que dava sentido à existência era uma vida de prazer, dedicada a uma razão guiada pelos próprios sentimentos e pensamentos. Deus era uma ideia materializada nas coisas do mundo. Segundo o relato bíblico, eles eram “curiosos” sobre novidades religiosas e de novas ideias e conceitos, ainda que não concordassem ou entendessem o que Paulo pregava. Assim, o apóstolo colocou a verdade do Evangelho e da Ressureição em confronto com a visão de mundo daquelas pessoas, fazendo o papel de desestabilizador das “certezas”.

E, nesse ponto, podemos olhar para os nossos dias e para a nossa atuação na divulgação do Evangelho. Veremos que devemos enfrentar as idolatrias deste mundo. E mais, devemos compreender que, geralmente, a religiosidade das pessoas está centrada na busca dos próprios prazeres e de bem-estar. A idolatria “mudou de roupa”, mas continua a existir, pois permanece substituindo o Deus verdadeiro pelos “deuses homens” com suas demandas, objetivos e conceitos de sucesso.

Devemos ser os questionadores dos “valores deste mundo religioso” e de suas idolatrias, confrontando-os com a Verdade do Evangelho. Por isso, só podemos evangelizar este mundo de pluralidade religiosa e idolatria com a mensagem pura e simples do Evangelho: Jesus Cristo Vive e é SENHOR!

Entretanto, precisamos de uma estratégia. Qual devemos usar? O que podemos aprender da experiência do apóstolo Paulo?

 

A MELHOR ESTRATÉGIA É A VERDADE.

Num contexto de pluralidade religiosa, a verdade foi e continua sendo a melhor estratégia. O texto bíblico demonstra que o apóstolo Paulo entendia o modo de ser dos atenienses. Quando ele salienta que, por tudo que tinha visto, eles eram muitíssimos religiosos, fica claro que compreendia a forma como criam e viam o mundo.

Ao falar do “Deus Desconhecido”, Paulo usa de muita gentileza e sabedoria. E emprega a expressão “em vossa ignorância” para dizer que Jesus era o Deus que eles adoravam, sem conhecer. O apóstolo usou de sabedoria, gentileza e conhecimento para levar o Evangelho àquelas pessoas. Sem deixar de dizer a verdade, expôs a ignorância deles.

Ao discorrer sobre a fé no Deus verdadeiro, ele responde aos principais pensamentos dos estoicos e epicureus. Contrapondo a ideia panteísta dos estoicos, apresenta Deus como um ser pessoal, criador. Logo em seguida, responde aos epicureus, apresentando Deus como o criador de todas as famílias. Como os atenienses acreditavam que os homens “brotaram da terra”, a explicação de Paulo sobre a criação do homem ia, pelos menos em parte, ao encontro do que pensavam os atenienses. Afinal, Adão é o “homem da terra vermelha” ou “homem”. No mesmo sentido, reforçou a ideia de que todos foram criados por Deus, inclusive os atenienses.

O que podemos observar é que o apóstolo Paulo tinha conhecimento da cultura e da religiosidade daquele povo e utilizou-se disso ao discorrer sobre a verdade do Evangelho. Inferimos que o Espírito Santo usou a erudição de Paulo, pois ele passa a citar frases de grandes intelectuais gregos, enquanto apresenta a verdade do Evangelho e do Deus a quem serve.

Ele entendia ser devedor de todos, pois, como servo do SENHOR, deveria apresentar a verdade do Evangelho a todos. Era seu dever levar a mensagem de amor, de graça e de salvação aos gentios, conforme explica na Carta aos Romanos: “Eu sou devedor, tanto a gregos quanto a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes”. (Romanos 1:14) E, nesse contexto de Atenas, ele estava falando àqueles que eram considerados gregos e sábios. Não havia em Paulo qualquer sentimento de discriminação.

Ele fez questão de dizer que Jesus Cristo era o “Filho do Homem”, título que apontava para Jesus como o Messias. A verdade deve ser dita sempre!

E quanto a nós? Será que devemos ser versados em Filosofia, Sociologia, Antropologia, Geografia, Teologia etc.? Entendo que não necessariamente. O que ocorreu no exemplo do apóstolo é bem específico. Houve a necessidade de que ele apresentasse esse conhecimento para ser entendido e para que as suas colocações fizessem sentido àquele povo. Mesmo assim, não podemos deixar de considerar que é Deus que coloca em nossas bocas o que devemos falar, conforme Nosso Senhor Jesus Cristo declarou: “Porquanto, naquele momento, o Espírito Santo vos ministrará tudo o que for necessário dizer”. (Lucas 12:12)

            O que a Bíblia ensina é que Deus sempre usa nosso conhecimento ou a experiência para podermos falar e testemunhar a pessoas de outras religiões. E é preciso entender que Evangelismo não é cooptar gente para nossa religião, mas é levar a Verdade do Evangelho para todo aquele que precisa do Deus verdadeiro.

O que devemos fazer é conhecer o Deus a quem servimos. Para isso, é necessário dedicação na leitura, estudo e meditação da Sua Palavra, compreendendo o “plano de Deus” em Cristo Jesus. Desse modo, poderemos apresentar a nossa fé com conhecimento e segurança, não havendo do que nos envergonharmos, como disse o apóstolo Paulo a Timóteo.

Além disso, devemos ter discernimento espiritual, que só é dado por Deus, e que depende da intimidade com Ele, a fim de que apresentemos o Evangelho com delicadeza, sabedoria, conhecimento e amor. Sempre é preciso ter em mente que somos servos do SENHOR e devemos cumprir a missão de levar o Evangelho a todos que pudermos, não discriminando-os, em hipótese alguma.

E, assim, como disse Pedro, “Estejam sempre preparados a responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês”. (1 Pedro 3:15 NVI)

 

A EVANGELIZAÇÃO E A PLURALIDADE RELIGIOSA: O RESULTADO DO EVANGELISMO (VV. 32-34)

O que devemos esperar como resultado da divulgação do Evangelho? A resposta está nas Escrituras. O texto estudado apresenta as reações possíveis, principalmente, em se tratando de pessoas com religiões diferentes, cheias de si, que se consideram sábias ou cheias de conhecimento. A zombaria é a arma de quem não quer ou não aceita a mensagem do Evangelho, e foi isso que aconteceu. Segundo o texto, “alguns deles, assim que ouviram falar da ressurreição dos mortos, começaram a dizer zombarias. Outros o dispensaram, dizendo que “em outro momento dariam atenção àquele assunto”.

Assim, é preciso discernir que nem sempre encontraremos uma audiência tal qual a anteriormente descrita... Em Atos dos Apóstolos, mais de 3.000 (três mil) pessoas converteram-se. Não podemos deixar de levar em conta que a abordagem cristã a gente de outra religião traz divergências de visão de mundo e de conceitos. As pessoas têm dificuldade de abandonarem suas convicções.

No caso de Paulo, em Atenas, a Bíblia relata que alguns homens procuraram o apóstolo e juntaram-se a ele. Entre os que creram estava um membro do conselho do Areópago, Dionísio; e uma importante membro da sociedade ateniense, Dâmaris. A Palavra não volta vazia; eis a nossa certeza!

CONCLUSÃO

A partir do texto estudado, concluímos que não se trata de tentarmos impor a nossa fé a outros religiosos; mas, antes de tudo, de falarmos da Verdade que liberta do jugo do pecado, da escravidão e da morte.

Não devemos entrar em discussões intermináveis para ter razão, fazendo-nos advogados de Deus, tentando comprovar o Evangelho com métodos mundanos.

Evangelizar não deve ser um embate religioso ou cultural. O certo é apresentar a Verdade da Palavra de Deus. Trata-se de entender a necessidade do Evangelho para a salvação da vida das pessoas e fazê-las conhecer Aquele que é o Caminho, e a Verdade, e a Vida, Jesus Cristo.