Estudo de Texto

Isaías 9:6:

6 Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.

INTRODUÇÃO

A palavra profética é constituída basicamente de denúncia e anúncio. Vimos que o profeta Isaías, após seu chamado, denunciou de forma intensa as práticas de um povo cujo coração estava contaminado pela soberba, ganância, injustiça, além de estar associado a ídolos variados. Esse era o contexto espiritual que se refletia nas liturgias vazias e nas relações sociais marcadas pela exploração e desigualdade.

Seguindo essa configuração, veio o momento de anunciar um Rei e, consequentemente, um reino bastante diferente do que estava estabelecido. Uma promessa é revelada no capítulo 9, e ainda no 11, já tendo sido indicada na parte 7, trazendo em seu conteúdo a informação de que as trevas seriam aniquiladas; a alegria, instaurada; o jugo, quebrado. E as guerras cessariam pela ação do messias, apresentado primeiramente na figura de um menino que carrega os títulos de Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade e Príncipe da Paz.

Um reino novo iria brotar do tronco de Jessé, um rebento que levaria adiante a missão de ser luz para todos os povos. Para isso, repousou sobre ele o Espírito do Senhor, conferindo-lhe tudo que faltava aos governantes da época, a saber: conselho, sabedoria, entendimento, fortaleza, conhecimento e temor do Senhor.

Enfim, ele traria tudo quanto estava em falta e colocaria ordem naquilo que se invertera. Também estenderia seu reinado para muito além das fronteiras de Israel, abrigando todas as nações na sombra do seu reino pleno, perfeito, e que jamais terá fim.

 

O ESTADO DE REBELDIA HUMANA

A história de Israel é uma ilustração da própria História humana. O cenário quase sempre era de pecado, no interior da nação, e opressão por parte de inimigos circunvizinhos. Espiritualmente, é grande a semelhança com a humanidade, tanto no aspecto coletivo como no individual. E pode-se perceber tal realidade de trevas por dentro e por fora, o que coloca o gênero humano em estado constante de guerra. 

A queda inaugurou o processo que se alastrou para todos os tipos possíveis de relacionamento humano, seja com Deus, com o próximo (que passou a ser visto como “o outro”), ou consigo. O conhecimento do bem e do mal, que estava no Criador, foi transferido ao homem, e tudo se relativizou. O que é o bem para um pode ser visto como mal para outro. Assim, a unidade humana foi minada, e estabeleceu-se o que se pode ver até hoje: um cenário de opressão e dominação de uns poucos sobre grandes massas, isto é, a manifestação clara de um espírito de injustiça por conta do estado de rebelião ao qual o ser humano aderiu. 

Reino após reino, ao longo da História, até o presente momento, a realidade seguiu igual, marcada pelo desequilíbrio, enfatizado nas palavras do profeta quando mencionou as trevas que dominavam o mundo.

Num contexto de escuridão, Deus revelou ao profeta algo mais sobre o messias. Ele nasceria de uma virgem, restauraria o trono de Davi e teria uma forte ligação com a região da Galileia. E viria trazendo a luz; na verdade, sendo a própria luz que, não só aquela região, mas da qual o mundo inteiro necessitava.  

 

PROMESSA DE DIAS MELHORES

Em contraposição à terrível angústia que sobreviria ao povo por causa da sua incredulidade (Isaías 7), Isaías retratou ao povo a gloriosa salvação de um futuro melhor. Em 9:6, essa profecia assumia um caráter messiânico explícito. O verso 1 menciona as áreas que mais sofreram quando os assírios vieram sobre Israel. Os territórios de Zebulom e Naftali, os quais ficam situados entre o mar da Galileia e o mar Mediterrâneo, tinham sofrido grandemente por causa das invasões assírias, de 734 a 732 a.C. (2 Reis 15:29). 

Tiglate- Pileser III fez de tais territórios uma província assíria, levou os habitantes para o exílio e trouxe os povos de outras nações para habitar ali. Ele também tomou Gileade, no outro lado do Jordão, e anexou parte da planície de Sarom, próxima ao mar Mediterrâneo. Mas a Galileia, onde o juízo de Deus primeiramente humilhou o seu povo nos dias de Isaías, seria honrada no futuro. Isso foi cumprido quando Jesus ministrou e escolheu os primeiros discípulos na Galileia — a qual ainda era menosprezada pelo povo de Jerusalém . Em contraste com a escuridão mencionada em 8.22, viria um dia quando a escuridão seria levantada da vida do povo de Deus.

Os versos 2  anunciam a transformação das trevas em luz, mediante o ministério do Messias, com profunda alegria. Não foi fácil reverter o cativeiro assírio e trazer um novo Dia. O ministério de Jesus foi mais além da Galileia, mas começou ali. A missão do Messias era mais lata que a própria terra de Israel, mas começou em Israel. O evangelho deveria levar a luz a todas as nações e, assim, um propósito divino universal foi posto em movimento na Galileia, como os antigos judeus dificilmente compreenderiam . 

Alguém já disse, e é uma verdade física, que a escuridão não existe; o que há é ausência de luz, ou seja, onde não se tem luz ali se produzem trevas. Isso significa que, para combater as trevas, a luz só precisa estar no lugar onde antes não estava. A Igreja é impelida pelo Espírito Santo a entrar nos territórios tenebrosos a fim de que a luz que possui dissipe as trevas que ali imperam.

O verso 3 também traz uma rica promessa ao povo: “Tens multiplicado este povo, a alegria lhe aumentaste; alegram-se eles diante de ti, como se alegram na ceifa e como exultam quando repartem os despojos”. Nos dias de Isaías, a colheita de grãos fracassou. Os poucos sobreviventes do ataque assírio ficaram vagueando em meio às trevas, blasfemando contra o rei e contra Deus (cf. 8:21). Porém, a “multiplicação” tornara-se a palavra-chave; não subtração, nem divisão. Houve, então, antes, a mais profunda tristeza; porém, naquele momento, predominava alegria triunfante, a qual ocorria na presença do Poder de Deus, que possibilitou a reversão para condições jubilosas.

Haveria grande abundância para todos. O povo de Israel seria alimentado de novo e sentir-se-ia tão jubiloso como um exército que tivesse logrado grande vitória e estivesse dividindo os despojos. Naquele tempo passado, eles eram presas e despojos de exércitos pagãos. No futuro, porém, dividiriam os despojos da Vida Eterna .

As promessas de dias melhores cumpriram-se quando Jesus inaugurou o reino de luz. Literalmente a profecia descrita no verso 1 cumpriu-se em Mateus 4:12-17, quando Jesus, após a morte de João Batista, foi habitar na região da Galileia, em especial nos confins de Zebulom e Naftali. O povo dali experimentou a presença daquele que disse: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida.” (João 8:12).

Jesus trouxe dias melhores à humanidade, pois nos tirou das trevas e transportou-nos para sua maravilhosa luz (1 Pedro 2:9). Éramos saqueados e despojados pelo inimigo; mas Cristo, na cruz, deu-nos a vitória sobre todas as coisas. Ele transformou o nosso lamento em festa.

 

CARACTERÍSTICAS DO REI

Nos versos 4 a 7, encontramos as características do Rei que se levantaria para livrar seu povo. Ele seria o único a ter poder para quebrar o jugo do opressor (v.4). Aos olhos humanos, não havia quem pudesse se levantar e derrotar o poderoso exército assírio, mas o profeta lembrou que o mesmo aconteceu com Gideão, na vitória sobre os midianitas (Juízes 7); o Senhor fizera Gideão, com apenas 300 homens, prevalecer. O rei que se levantaria teria poder para derrotar o opressor do seu povo.

Mas quem era, e onde estava, aquele que iria empreender e realizar essas grandes coisas para o povo de Deus (e para a Igreja)? O profeta afirmou (vs. 6,7) que tudo seria realizado pelo Messias, o Emanuel, o filho de uma virgem, cujo nascimento ele havia predito (7:14). Então, falava sobre elas, no estilo profético, como algo já realizado : “um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros” (v.6). 

O Messias descrito pelo profeta possuía toda a autoridade, pois “o governo está sobre os seus ombros” (v.6). Jesus, como Rei prometido, reivindicou essa autoridade ao dizer: “Toda a autoridade me foi dada, no céu e na Terra” (Mateus 28:18). Isaías destacou algumas qualidades do Libertador que marcariam seu reinado:

Maravilhoso Conselheiro: Aqui se demonstra a sabedoria de Cristo. Não existem problemas, nos céus ou na Terra, que ele não possa resolver. Jesus é a sabedoria de Deus (1 Coríntios 1:30). O Messias foi dotado de uma autoridade que todo o homem ouvirá e seguirá .

Deus Forte: (hebraico, El Gibor; o Poder que prevalece). Reduzir isso a "divino em poder", ou "parecido com um deus", é perverter o título. A expressão ensina a deidade do Messias, que se elevava muito acima de todas as expectativas judaicas. Mediante aplicação, podemos ver no menino (Filho) o ser divino . 

Pai da Eternidade: Pode ser traduzido como “Pai (ou “Autor”) da Eternidade (ou “do Universo”). Isso se ajusta a João 1:3 no qual o Verbo vivo é aquele por intermédio de quem Deus fez tudo o que foi feito (cf. Hebreus 1:2). E também aponta seu cuidado fiel e amoroso, que é perpétuo . Jesus disse: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. (Apocalipse 22:13)

Príncipe da Paz: Aquele que traz a verdadeira paz, a qual inclui salvação, bênção, integridade, harmonia e bem- estar. Uma paz que Jesus dá agora (João 14:27)  e será plena no porvir. (Apocalipse 21:4).

 

CARACTERÍSTICAS DO REINO

Esse era o reino discernido por Daniel quando interpretou o sonho de Nabucodonosor (Daniel 2:44). Um novo estado de coisas começaria com uma pedra lançada na base do império das trevas. Ele esmiuçou todo aquele sistema marcado por profunda iniquidade. 

O capítulo 11 descreve como seria o reino do Emanuel, o Messias que estabeleceria um império justo e piedoso, o oposto da Assíria. Seria um descendente da prometida linhagem de Davi, Deus declarou-o. Depois de derrubada a árvore de Davi, ficando apenas o toco, o rebento brotaria. Seu reinado seria marcado pelas seguintes características:

Justiça: O versículo 4 mostra que o Messias julgaria justamente a causa das pessoas. Seria um juiz, mas distinto dos humanos; ele não teria que depender de evidências externas. Com percepção divina, veria dentro das mentes e dos corações das pessoas (cf. João 2:25). E saberia o que era ou não verdade (cf Mateus 7:21-23) . Não haveria mais corrupção, favoritismo, tampouco impunidade. Seu Reino seria um contraste com o que estava acontecendo nos dias de Isaías (1:4). Ao inaugurar o Reino de Deus na Terra, Jesus proferiu as seguintes palavras: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.” (Mateus 5:6). Seu reino sacia toda a fome e sede de justiça, pois Cristo é a verdadeira Justiça. 

Paz: As condições do Império de Cristo seriam de harmonia e paz, com base na verdadeira religião. A figura dos ferozes animais predatórios vivendo em paz com os fracos e indefesos simbolizou a remoção de toda a hostilidade natural e do temor entre os homens (vv. 6-8). O verso 9 destaca que “a Terra se encherá do conhecimento do Senhor”, e isso deveria ser a base da harmonia a prevalecer sobre o mundo. Todos os efeitos da maldição infligidos na Terra, por causa do pecado de Adão, seriam findos. A criação “será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Romanos 8:21) .

 

CONCLUSÃO

Jesus foi a pedra que chegou como um menino, visto por alguns pastores numa manjedoura, adorado e presenteado por certos homens do Oriente, perseguido por Herodes, mas preservado por Deus. 

O Cristo é o portador da paz; é aquele em cujos ombros repousa o governo e onde seu reino chega. Ali se estabelece o que os judeus denominavam shalom, um estado de equilíbrio em que não há pendências, nem necessidades, pois todos desfrutam do que Deus é, e do que Deus doa.

Jesus de Nazaré foi ungido pelo Pai com o Espírito Santo para instaurar a justiça que promove a verdadeira paz. Ele pode fazer porque é Maravilhoso Conselheiro, ou seja, traz o conselho perfeito, o juízo verdadeiro, pois conhece os corações. É Deus forte, e aqui se afirma a divindade do Messias, o Deus feito homem, que construiu seu tabernáculo entre os seres humanos. É Pai da Eternidade, aquele que traz em si mesmo a semente do que é eterno. É Príncipe da Paz, o único que dá, conforme ele mesmo afirmou, a perfeita e a genuína harmonia por meio do seu reinado, que não é caracterizado pelo domínio opressor como os da História; mas, sim, por uma atmosfera de amor e serviço.