Texto de Estudo

Romanos 10:14:

14 Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?

 

INTRODUÇÃO

Jesus fundou sua Igreja sobre uma pedra inabalável (Mateus 16:13-20). Enquanto a multidão variava de opinião sobre quem ele era, Pedro respondeu de maneira categórica: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo!”. Essa revelação que Pedro teve da parte do Espírito Santo foi a pedra fundamental, a rocha sobre a qual o Senhor afirmara que edificaria sua Igreja. Ou seja, a Igreja Apostólica seria a de “Cristo, o Filho do Deus Vivo”.

Portanto a Igreja é o corpo formado por aqueles que receberam do Pai o sublime discernimento de que Jesus é o Cristo, o filho do Deus vivo, aquele que é maior que patriarcas, sacerdotes, profetas e reis, verdadeiramente homem, e verdadeiramente Deus. Não apenas um realizador de prodígios e milagres, mas o próprio Deus encarnado, a imagem exata da sua glória, merecedor de toda a honra, em quem tudo foi criado e em cujo nome tudo subsiste, o que o torna digno de ser adorado pelos séculos dos séculos. Jesus é o fundador e o fundamento da Igreja; por isso, ela vive por ele e para ele. A Igreja é Cristo; assim, cumpre a missão de Cristo, e o discipulado faz parte dessa missão. 

 

O PAPEL DA IGREJA NO DISCIPULADO

Ainda falando da Igreja que edificaria, Jesus acrescentou que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela. Ora, isso indica, de modo simbólico, que o inferno, que é o sistema maligno no qual jaz o mundo, possui portas que estão cerradas, encarcerando inúmeras vidas imersas na escuridão, sem conhecimento de Deus e vivendo segundo o curso deste mundo, conforme o espírito que opera nos filhos da desobediência (Efésios 2:2-3).

 Essas almas em trevas necessitam de uma ação de resgate; e essa é missão da Igreja fundada por Cristo. O povo que já foi resgatado e regenerado precisa marchar em direção às portas do inferno a fim de sobrepujá-las e levar luz aos que estão na escuridão, tendo em mente a garantia dada por Jesus de que tais portas, por mais firmes que sejam, não permanecerão de pé ante a investida triunfante e poderosa de sua Igreja. Muitos entendem essa frase como a informação de que a Igreja será atacada pelo inferno, mas é justamente o oposto.

 Há que se ter consciência de que existe uma guerra sendo travada e que os remidos por Cristo não são chamados a serem meros espectadores; mas, sim, soldados sempre na ativa, a postos, prontos para um combate que não é contra carne ou sangue, mas exatamente contra o que sustenta as portas do inferno. 

Ora, toda essa ação traduz-se, na prática, o que seja o discipulado. A ordem de Jesus, “Ide e fazei discípulos!”, guarda íntima relação com a destruição das portas do inferno na medida em que é a verdade que liberta, e esta é o que falta aos que estão aprisionados no império das trevas. É dever da Igreja, como comunidade formada pelos discípulos de Cristo, levar a mensagem que proporcionará tal liberdade. “Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como pregarão se não forem enviados?” (Romanos 10:14). A Igreja precisa discipular para enviar soldados bem treinados para o campo de batalha. Na verdade, a Igreja é o único grupo humano que tem essa função/missão. Só os discípulos podem fazer discípulos, e só há discípulos na Igreja, não necessariamente na instituição terrena com suas instâncias jurídico-administrativas, mas certamente no Corpo místico de Cristo, invisível e espalhado por todo o mundo, como fermento levedando a massa, sal interrompendo processos de deterioração e luz revelando o caminho, a verdade e a vida.

Olhando para a Igreja como comunidade local, é importante atentar para o fato de que esta precisa cumprir, como grupo e de modo coletivo, a missão central que dá sentido à sua existência. Portanto, o local onde está estabelecida precisa ser alvo de sua ação e influência. Não podemos esquecer que, mesmo sendo o objetivo de Cristo alcançar todos os lugares (Atos dos Apóstolos 1:8), os primeiros atingidos pela missão evangelística e a discipular foram as pessoas circunscritas ao território dos discípulos. 

A Igreja de hoje precisa se desenvolver, mas não com estratégias de gerenciamento e marketing, fórmulas prontas ou segredos mágicos para um “crescimento explosivo”, posto que esses elementos se aplicam à lógica de mercado, ao pensamento que tem como centro o sucesso material e, até mesmo, o lucro financeiro. Tudo isso, definitivamente, não guarda relação alguma com o sentido da existência da Igreja de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A motivação para o ato de discipular deve ser o amor que o próprio Cristo inseriu nas vidas dos que compõem sua Igreja e que os direciona às almas com o objetivo de mostrar-lhes a luz do Pai, o Evangelho da Salvação e não meramente aumentar o número verificado no rol de membros de uma corporação religiosa.

Infelizmente, isso tem acontecido em muitos grupos que, liderados por indivíduos que mais parecem gerentes do que pastores, acabam sendo envolvidos por motivações relacionadas ao que se convencionou denominar de sucesso, ou seja, um número expressivo de pessoas fazendo parte de uma determinada denominação ou grupo local, independentemente do fato de que estas nada saibam sobre o evangelho em sua plenitude. A Igreja de Cristo gera discípulos; e, não, adeptos ou simples admiradores do Evangelho.

 

COMO TODOS PODEM COMPROMETER-SE

Na qualidade de membros do corpo de Cristo, seus discípulos devem mostrar ao mundo sua essência. Jesus afirmou querer que os homens vissem as obras da Igreja, não para que determinada denominação seja agraciada com prêmios ou honrarias sociais, mas para que o Pai, que está no céu, fosse glorificado pelo testemunho dos que ele redimiu e enviou em missão.

Outra questão importante é a que se refere ao prejuízo sofrido pela estrutura “igreja” no decorrer da História, quando a divisão entre clero e povo foi se acentuando de tal forma que desvirtuou o princípio bíblico do sacerdócio de todos os santos. É preciso resgatar e viver essa realidade em nossas comunidades, pois a existência desse pensamento - os que ocupam determinadas posições na Igreja seriam pessoas especiais - tem trazido, ainda que de forma inconsciente, uma espécie de transferência de responsabilidade por parte dos membros que acreditam que a função de discipular é prerrogativa exclusiva do “clero” (liderança), o que é um completo absurdo.

Não há mais “pessoas especiais”; todos são comprados e remidos pelo sangue de Cristo e, como tais, foram constituídos sacerdotes nesta terra, povo adquirido para anunciar as grandezas daquele que resgata das trevas para sua gloriosa luz! Essa consciência é fundamental para que todos se envolvam na obra do discipulado. É preciso que cada um assuma com alegria o privilégio de ser discípulo de Cristo e de realizar todas as obras inerentes a tal condição, a esse novo modo de ser e existir neste mundo.

Outro aspecto refere-se ao cotidiano de cada um. Já é sabido que o “ide”, mencionado em Mateus 28 não foi bem traduzido; e que “indo” seria a expressão mais adequada para se entender o teor dessa passagem. Então, em vez de “ide e fazei discípulos”, tem-se “indo, fazei discípulos!”. A coerência é maior na medida em que se tem, nesse último caso, a ideia de continuidade, isto é, não se pode entender a prática do discipulado como algo necessariamente planejado, com data, hora e local para acontecer; mas, sim, como um estilo de vida constante, de maneira que em tudo que o discípulo pensa, diz ou faz existe discipulado acontecendo. Essas verdades precisam estar sempre presentes na consciência de cada membro, em cada congregação, a fim de desconstruir conceitos perniciosos implantados pelo sistema religioso e que se estabeleça de fato a vontade daquele que é o dono da Igreja.

 

IGREJA DISCIPULANDO E SENDO DISCIPULADA

Na medida em que todos se comprometem, a Igreja vai discipulando e sendo discipulada. Esse processo ocorre do maior até o menor. Um dos problemas que a Igreja enfrenta hoje é a falta de liderança. E isso ocorre, porque ela não se preocupou em formar líderes.

Jesus formou líderes, e estes formaram outros. Tudo isso pelo processo do discipulado. Essa deve ser a função da Igreja. E esse processo pode ser, e deve ser, iniciado o quanto antes. Por exemplo: se a Igreja não investe no discipulado infantil, provavelmente não terá bons líderes entre os adolescentes. Se não se preocupar com o discipulado entre os adolescentes, dificilmente encontrará uma liderança eficaz no grupo de jovens. E, se não há a mesma preocupação com a classe dos jovens, provavelmente, sobrarão poucas pessoas na congregação, pois é durante a juventude que a maioria se afasta da Igreja.

Cada membro precisa se preocupar com o outro. Não é preciso saber tudo para poder discipular alguém. Enquanto aprendemos, podemos ensinar àqueles que sabem menos do que nós. Um exemplo é Apolo, que conhecia apenas o batismo de João Batista; mesmo assim, ensinava com ousadia sobre Jesus. Posteriormente, ele encontrou Priscila e Áquila, os quais lhe expuseram com perfeição o caminho de Deus (Atos dos Apóstolos 18:24-28). Ou seja, Apolo estava discipulando e sendo discipulado; e tal processo o fez desenvolver sobremaneira. A Igreja deve ser um organismo vivo; ela é corpo de Cristo, crescendo e se desenvolvendo, aprendendo e ensinando.

 

O QUE ACONTECE À IGREJA QUE NÃO DISCIPULA

É preciso que se faça novamente uma distinção entre a Igreja como Corpo de Cristo espalhado pela Terra e a igreja como agremiação local, comunidade que se reúne e desenvolve relações mais próximas, estando vinculada, normalmente, a uma determinada denominação. A Igreja invisível e universal do Senhor Jesus Cristo é vitoriosa e indestrutível em sua essência. Está destinada à glória e à redenção eterna, ou seja, é inextinguível. É a coluna e firmeza da verdade; é a noiva do Senhor e reinará com Ele eternamente.

Contudo, como igreja local não é difícil imaginar o que pode acontecer a um grupo, a uma congregação que não exerce de modo sério e contínuo o discipulado. Será semelhante à água parada; não haverá circulação do que seja bom. A tendência é que se torne turva, não potável. Assim é a comunidade que se fecha em si mesma, transformando-se em uma espécie de clube privado. A Igreja precisa atuar fora das portas, discipular, estar atenta à localidade onde está inserida, identificando inclusive as opressões advindas das injustiças sociais e atuando de tal forma que vá ao encontro de todos. Assim, precisa estar pronta a receber todo e qualquer ser humano em seu interior.

Se tal atitude não for uma constante na vida de uma determinada congregação, a extinção será o seu destino já que está funcionando de modo estanque e fechado. Essa questão remete às cartas para as sete igrejas, relatadas no Apocalipse. Ali se veem colocações específicas para cada igreja, inclusive com a advertência para o fato de que poderia haver uma “remoção de candelabro” em uma delas (Apocalipse 2:5), ou seja, nota-se a clara possibilidade de um determinado povo ser extinto como igreja local quando não existe aquilo que é o cerne do ser igreja de Cristo, a saber, viver em comunhão, adoração e missão!

CONCLUSÃO

Todos na Igreja são chamados à comunhão no Espírito Santo, a suportarem uns aos outros em amor, vivendo em mutualidade de sentimentos e em ações que beneficiem todo o grupo, sem fazer qualquer tipo de acepção, pondo em prática de forma cabal a realidade expressa na Bíblia acerca de como viviam os do Caminho, tendo tudo em comum, desapegados de posses, vivendo a partilha, confessando culpas uns aos outros e orando uns pelos outros. Nessa comunhão, reconhece-se a grandeza do Altíssimo, aquele que criou e sustenta tudo que é digno de adoração; portanto, esse povo prostra-se de corpo e coração diante da presença deste Deus bondoso, adorando-o em espírito e em verdade, isto é, com todo o ser.

E, por fim, essa comunidade que vive em mutualidade, que se reúne para adorar coletivamente, também permanece em missão. A salvação recebida leva o salvo a tornar-se agente do Reino de Deus, embaixador, portador da mesma mensagem que o alcançou e transformou-o. Assim, é seu prazer compartilhar o bem precioso com todos quantos o Senhor lhe der a chance de fazê-lo. Indo, fazendo discípulos por onde quer que passe.