Texto de Estudo

Mateus 4:19:

19 E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens.

 

 No nosso presente estudo, a vantagem está relacionada à missão da Igreja de Cristo aqui na Terra. Recebemos a ordem: “Ide, portanto, fazei discípulos...” (Mateus 28:19). A grande questão é: De que forma ir, e de que forma fazer discípulos? A resposta da Igreja cristã, ao longo dos anos, tem sido a implementação dos mais variados métodos de evangelização. A classificação do método mais vantajoso dependerá de muitos fatores, pois está longe de acabar a discussão quanto aos resultados estarem voltados mais à quantidade ou à qualidade dos novos discípulos. Tem havido um grande esforço, por parte dos escritores, para enfatizar ambos os resultados. Ou seja, quantidade e qualidade devem estar integradas; e, não, em lados opostos. 

Abandonando essa e tantas outras discussões que podem se originar da questão inicial, pensemos em outra questão mais incisiva: “Até que ponto nossos esforços para manter as coisas funcionando bem estão contribuindo de fato para o cumprimento da Grande Comissão de Cristo?”  . Precisamos saber se confundimos planejamento e execução de programas evangelísticos com o verdadeiro resultado que Jesus deseja: a transformação das pessoas. É possível que muitas igrejas pensem que, por estarem em ação, automaticamente alcançam o objetivo da Grande Comissão. E nem sempre isso é verdade. É aqui, pois, que devemos recorrer ao método de discipulado de Jesus. 

Somente ao examinarmos e aplicarmos seu método é que poderemos entender as vantagens que a discipulação de Jesus oferece-nos, em contraste com os outros empregados hoje em dia. 

 

A VANTAGEM DO CONCEITO

 

O discipulado implementado e mantido por Jesus não era um programa dentre muitos outros. Ele estava apenas com a célula básica de sua Igreja; ainda não havia ‘departamentos’ para cuidar de áreas específicas. Então, quando a Igreja nasce, já volta-se à evangelização do mundo. E, para isso, utilizar-se-ia apenas um método - o discipulado. 

Hoje em dia, a questão é vista de forma diferente. As igrejas locais estruturadas implantam o discipulado como se fosse mais um programa entre tantos outros de se evangelizar alguém. Essa diferenciação é resultado de uma confusão entre o princípio e a forma. Discipulado é o treinamento criado por Jesus para transformar as pessoas conforme a sua imagem e semelhança. A Igreja, da forma como está organizada hoje, deve entender isso. Não é à toa que muitos veem com maus olhos o discipulado, encarando-o apenas como mais um modismo. De fato, excessos foram e estão sendo cometidos. Todavia, isso é resultado de uma filosofia de trabalho evangelístico; e, não, uma falha ou irrelevância do plano que o Mestre Jesus legou aos atemporais discípulos. 

Não deve existir separação entre evangelização e discipulado. Os dois conceitos complementam-se; separá-los talvez seja o maior erro que cometemos hoje.

 

A VANTAGEM DO SIMPLES E MANEJÁVEL

 

Esse “simples e manejável” está relacionado à forma de ensino e à quantidade de aprendizes. O discipulado de Jesus era simples, porque dispensava toda aquela estrutura promovida nas escolas rabínicas (isto é, sistemática de memorização das Escrituras e debates interpretativos nas sinagogas, por exemplo). 

Jesus ensinava aos discípulos valendo-se do cotidiano, enquanto estava a caminho de algum lugar. Esse “ir” constante às pessoas forçava os discípulos a terem uma percepção mais realista do drama das pessoas. Afinal, a missão era resgatar os perdidos. Então, ele colocava-os em meio aos perdidos. Disse Jesus: “pois não vim chamar justos; e, sim, pecadores ao arrependimento” (Mateus 9:13). 

O discipulado de Jesus também se mostrou vantajoso, pois focava um grupo pequeno de pessoas. As multidões estavam, sim, inclusas no seu ministério, mas ele decidiu dispensar um cuidado especial àquele grupo mais restrito. Está escrito: “... chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele” (Marcos 3:13). Isso tornava sua missão mais manejável. Um grupo pequeno facilitava o ensino e o acompanhamento da prática do que foi ensinado. Se houvesse bastante gente, ficaria difícil para Jesus supervisionar o aprendizado de cada aluno. 

É o que deve servir de base para o trabalho nas igrejas locais de hoje. Ainda respiramos uma atmosfera de fazer um trabalho grande, voltado às massas, porque o objetivo é atingir o maior número de pessoas, no menor tempo possível. É preciso um “corpo a corpo” na hora de discipular. Se a Igreja contemporânea quer mesmo viver o discipulado, então precisa preparar líderes para discipular com pequenos e reproduzíveis grupos. O objetivo é que todos, mesmo sendo um grupo heterogêneo, “cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para o outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Efésios 4:13-14). 

 

 

A VANTAGEM DA FORMAÇÃO CONTINUADA

 

Outra grande vantagem do discipulado de Jesus era o trabalho em longo prazo, ou o que definimos como “formação continuada”. Seu ministério durou pouco mais de três anos, e esse período foi o tempo de que precisou para dar início a um processo de transformação que duraria a vida toda de todos eles.

Portanto, Jesus tinha pouco tempo e investiu intensamente nos três anos para modelar aqueles homens comuns. No processo de formação continuada, Jesus tinha a meta de lhes fazer fiéis testemunhas da presença e do poder do Reino de Deus. Como bem disse LeRoy Eims: “O verdadeiro crescimento exige tempo e lágrimas, amor e paciência. Exige-se do líder que ele veja, pela fé, as pessoas sob a ótica de Deus”  . Ele ainda diz mais: 

 

Não podemos ‘jogar’ a pessoa dentro de um programa e esperar que ela saia como discipulada, no fim da linha de montagem. Fazer um discípulo demanda tempo. Precisamos dedicar-lhe atenção espiritual e nos envolver com ele. Passar horas orando por ele. Precisamos de paciência e entendimento para ensiná-lo a buscar por si mesmo a riqueza da Palavra  de Deus; paciência até que se alimente sozinho e saiba buscar, no Espírito Santo, o poder para viver...  .

 

Será também a meta das igrejas de hoje? Talvez sim; talvez não. Não podemos dar um mesmo julgamento a todas as comunidades locais que atuam na evangelização do Brasil. Todavia, ao averiguarmos alguns programas de evangelização, logo ficará nítida a deficiência em prover um trabalho contínuo e personalizado a fim de que os novos convertidos cresçam na graça e no conhecimento do Senhor. 

 

 

A VANTAGEM DE NÃO ESTAR PRESO A METAS “DENOMINACIONAIS”

 

O discipulado de Jesus começou como um movimento, um seguimento. Não havia patrocínio de uma instituição organizada e aceita pelo poder dominante da época. Jesus respondia diretamente ao Pai. A religião romana e o judaísmo faziam parte da realidade estatal. No caso de Jesus, não temos nada disso. Ele começou seu trabalho com poucos homens, sem o aval do Estado ou da religião dominante. Digamos que, por não estar atrelado a uma religião organizada e sistematizada, seu discipulado era executável e adaptável a qualquer realidade. Mesmo que não houvesse a manutenção de um culto, clero, templo e símbolos sofisticados e tradicionalmente elaborados, a Igreja de Jesus estaria ativa e discipulando. “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mateus 18:20).

Isso não quer dizer que devemos deixar de nos congregar e de cultuar, como fazemos atualmente. Aquela igreja formada por uma célula de discípulos-apóstolos multiplicar-se-ia exponencialmente. O tempo e os momentos decisivos da história do cristianismo ajudaram a construir a cristandade de hoje. Porém, há que se destacar que nem tudo o que os cristãos promoveram foi bom. A Igreja precisa estar reunida, mas quais são os elementos essenciais e periféricos da reunião de adoração? Pensemos um pouco sobre isso. 

O fato é que o modelo usado por Jesus era mais despojado; despojada de uma tradição de perfil ‘labirintal’. Isto é, era como se mover dentro de um labirinto. Quanto mais estruturada ficou, mais complexa também se tornou.  

 

A VANTAGEM DO OBJETIVO

 

Não há sombra de dúvida de que todas as igrejas cristãs organizadas alegariam que seus programas de evangelização têm por objetivo “ganhar almas para Cristo”. A grande questão, no entanto, é que não basta “ganhá-las”; urge treiná-las, fazê-las entender que a vocação tem um preço. Elas precisam ter Cristo formado nelas. 

As igrejas têm metas e agendas a cumprir. E, na concentração de força para que estas sejam atingidas, ocorre o risco de que a fundamental etapa do discipulado seja queimada. E antes fosse só isso! Estamos arrazoando sobre a agenda das igrejas. Contudo, nota-se que existem muitas preocupadas em discipular de forma saudável. Só que os candidatos a viver o discipulado de Jesus estão escassos. E, quando uma igreja local resolve trabalhar na linha de um discipulado radical, como o de Jesus, as pessoas assustam-se e até se afastam. Elas temem e alegam não ter capacidade para assumir tamanha responsabilidade. 

Outro vantajoso objetivo no discipulado idealizado e aplicado por Jesus era o de preparar as pessoas para sua missão no mundo. Infelizmente, acostumamo-nos a trabalhar para dentro das estruturas eclesiásticas. O movimento discipular é para fora, para o mundo. A Igreja Primitiva reunia-se para adorar, porque o culto de adoração era o fechamento de uma semana na qual vidas estavam em missão por outras vidas. Assim, havia uma harmonia entre adoração e missão; elas complementavam-se. A intenção de Jesus não foi arregimentar pessoas para uma escola. Antes as arregimentou e treinou-as para que vivessem no mundo, sem serem do mundo, para transmitirem a Graça aos que estão no mundo. A missão de Cristo nunca foi a de fazer da sua Igreja um fim em si mesma; a Igreja trabalha para a Missão. E a Missão trabalha para que toda a língua confesse que só o Senhor é Deus. 

O nosso texto base também sedimenta a vantagem do objetivo. Em Mateus 4:19, temos uma garantia. Fazer daqueles simples homens pescadores de homens não foi visto por Jesus como uma pálida possibilidade. Ele afirmou: “eu vos farei”. Eis uma garantia, uma promessa. Há poder nas palavras desse Mestre! A igreja contemporânea precisa ter em suas fileiras pessoas comprometidas com o objetivo de fazer pescadores de homens. 

 

CONCLUSÃO

 

Pela forma como foi apresentada a comparação entre o modelo de discipulado de Jesus e a forma como estamos levando sua missão adiante, hoje, parece que encontramos respostas e vemos tudo como algo fácil e sem obstáculos. Todavia, notificamos que não o é. Respeitamos o estado inerte de cada um, pois, no fim, todos temos agido assim. E talvez por negligência. 

A primeira ação para deixarmos o cenáculo da negligência é repensar e alterar nossa visão de ser Igreja. Depois, termos paciência e viver na dependência do Espírito para que um discípulo seja formado em nós. Entretanto, é preciso avaliar a situação do ponto onde estamos. Essa postura revelará sabedoria e vontade de mudar. Somos de ‘raiz protestante’. Então, faz parte, ou pelo menos deveria fazer, de nosso espírito coletivo protestar. E protestar até mesmo contra nossa maneira ‘não discipular’ de viver.