Texto de Estudo

Êxodo 20:17:

17 Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.

 

INTRODUÇÃO

Chegamos ao último mandamento da Lei Moral de Deus, entregue ao povo de Israel no Monte Sinai: “Não Cobiçarás”. Podemos encontrar o pecado da cobiça desde o princípio, até o último momento na História da humanidade. Qual é, portanto, o seu significado e a sua relevância para os israelitas no passado e para os cristãos de hoje? 

O desejo de ter, ser e estar está no mais íntimo do ser humano; esse sentimento leva-o a realizar grandes feitos, a conquistar e a alcançar até mesmo aquilo que se achava impossível. Desejar alvos legítimos e bons é aceitável diante de Deus, pois estimula o ser humano a avançar e a alcançar vitórias, que engrandecem a humanidade e dignificam ao Senhor . Em 1 Crônicas 4:10 lemos: “Porque Jabez invocou o Deus de Israel, dizendo: Se me abençoares muitíssimo, e meus termos ampliares, e a tua mão for comigo, e fizeres que do mal não seja afligido! E Deus lhe concedeu o que lhe tinha pedido”. Para alcançar seu desejo de ampliar suas divisas, a primeira ação de Jabez foi orar a Deus para que o abençoasse. 

Devemos estar em alerta e ponderar: em que momento esse desejo torna-se nocivo para o ser humano? É contrário à vontade de Deus? Quando ele transforma-se em cobiça? É sobre esse desejo que o mandamento trata - o desejo que leva o homem a agir contra o próximo para ficar com aquilo que não lhe pertence. 

O MANDAMENTO

Em que momento fez-se necessário ao ser humano uma lei que o proibisse de cobiçar, de desejar tudo que seus olhos viam? Ao revermos a trajetória da humanidade, desde a criação, percebemos a serpente instigando o desejo de Eva para comer do fruto do bem e do mal: “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento;” (Gênesis 3:1-6) O inimigo instigou no casal a cobiça pelo conhecimento, que os levaria ao mesmo patamar da sabedoria divina. 

Temos também o caso de José, na casa de Potifar, que estava exercendo suas obrigações como administrador. Em Gênesis 39:6-7, a Palavra descreve José como um homem belo e simpático, qualidades que despertaram a cobiça por parte da esposa de seu dono. 

Vemos, assim, que o desejo visual está intimamente relacionado à cobiça. O próprio Senhor Jesus Cristo disse-nos: Eu, porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela. Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. (Mateus 5:28-29)

Ao descer do Monte Sinai, Moisés entregou para o povo a lei de Deus, o código moral que o orientaria a ter uma conduta correta em relação ao divino e a seus irmãos, nele constando a ordem: “Não cobiçarás!”. A cobiça está sempre relacionada àquilo que nossos olhos podem ver, palpável ou não.

Vejamos o que nos diz a origem da palavra. O verbo hebraico hamad, “desejar, ter prazer em, cobiçar, ter concupiscência de”, aparece 14 vezes no Antigo Testamento. O termo em si é neutro e se aplica também a coisas boas (SI19:10; 68.16). Essa palavra é repetida no décimo mandamento no texto de Êxodo 20:17 e uma só vez no registro do Decálogo, em Deuteronômio 5:21: “E não cobiçarás a mulher do teu próximo”. Na segunda cláusula, “e não desejarás a casa do teu próximo”, aparece outro verbo awah, “desejar ardentemente, ansiar, cobiçar, anelar”. Ambos os verbos aparecem como sinônimos no relato da tentação do Éden: “agradável aos olhos... e desejável para dar entendimento” (Gênesis 3:6) .

A Septuaginta traduziu o verbo epithymeo, literalmente, “fixar desejo sobre”. O  termo, em ambas as línguas, pode se referir à coisa boa ou à má, dependendo do contexto. (Mateus 5:28; 13:17) A cobiça é o “desejo excessivo de possuir aquilo que pertence ao outro”; esse é o pecado que o último mandamento condena. Trata-se de cobiçar a casa do outro, a mulher do próximo e, em seguida, o mandamento inclui servo e serva, boi e jumento, e termina com as palavras: “nem coisa alguma do teu próximo”. A descrição deixa claro que não se trata de simplesmente almejar uma casa ou um boi, mas de desejos incontroláveis de possuir a casa e o boi que já têm dono, e isso por meio ilícito. (Atos dos Apóstolos 20:33; 1 Coríntios 10:6) É o mesmo que roubar. (Miquéias 2:2) O Novo Testamento menciona esse último mandamento do Decálogo (Romanos 7:7; 13:9) . 

O décimo mandamento aparece expandido em Deuteronômio em relação ao texto de Êxodo e inclui o campo do próximo na lista das coisas que não devem ser cobiçadas. Alguns críticos estranham a inversão das cláusulas, pois a fraseologia de Êxodo começa por não cobiçar a casa do próximo e em seguida vem a proibição de não cobiçar a mulher do próximo, mas em Deuteronômio essa ordem é invertida: primeiro vem a mulher e depois a casa. Ambos textos, contudo, proíbem a cobiça de bens e pessoas, além da mulher ou do esposo, pois a mulher pode também cobiçar o marido alheio, o servo e a serva do próximo; propriedades, casa e campo; o termo “casa” aparece muitas vezes na Bíblia com o sentido de “família” ( Josué 24:15; Atos dos Apóstolos 16:31), mas parece não ser essa a ideia aqui; e semoventes: boi, jumento ou qualquer outra coisa. A frase final “nem coisa alguma do teu próximo” inclui posição social ou ascensão no trabalho .

DO SINAI AOS DIAS DE HOJE

O primeiro e o décimo mandamentos tratam daquilo que se encontra no coração, enquanto os outros oito concentram-se em ações exteriores. Pessoas gananciosas transgridem todos os mandamentos de Deus a fim de satisfazer seus desejos, pois o coração do pecado é o pecado no coração (Mateus 15:19). Os dez mandamentos terminam com uma ênfase no bom relacionamento com nosso próximo. Jesus ao ser questionado sobre o maior mandamento respondeu que o primeiro é amar a Deus de todo coração, alma e entendimento, e amar ao próximo como a si mesmo (Mateus 22:34-40; Levíticos 19:18). Se amamos nosso próximo, não cobiçamos o que ele tem, não roubamos dele, não mentimos sobre ele nem fazemos qualquer uma das coisas que Deus proíbe em sua Palavra. Por isso, o amor é o cumprimento da lei (Romanos 13:8-10). No entanto, só Deus pode mudar o coração pecaminoso(Hebreus 10:14-18), dando-nos o amor de que precisamos para lhe obedecer e levando-nos a nos preocupar com os outros (Gálatas 5:22-26; Romanos 5:1-5). 

Quanto a validade da Lei de Deus para nossos dias, grandes erros têm sido cometidos a esse respeito. Ao nosso redor há aqueles afirmando que a lei está totalmente anulada e abolida. Ensinando abertamente que os cristãos não tem o compromisso de tomar a Lei Moral como regra de conduta diária. 

Podemos ver o “não cobiçarás” interligado a todos os outros nove mandamentos. A cobiça leva o ser humano a ter outros deuses além de Deus, na busca de adquirir coisas. Leva-o a criar ídolos, sobre quem pode exercer o seu poder. Leva-o a desrespeitar o nome de Deus, tratando-o meramente como instrumento para realização dos seus desejos. Leva-o a trabalhar no sábado apenas para o próprio enriquecimento, ao invés de estar em comunhão com o Criador. Leva-o, também, a desonrar os pais, se esses atrapalharem seus planos ambiciosos. Leva-o a matar quando se sente ameaçado. Leva-o a adulterar, manchando seu leito e o de outra família. Leva-o a tirar do outro o que não lhe pertence e a prejudicá-lo com falso testemunho para benefício próprio. 

A respeito do assunto, conta-se a história de uma tribo selvagem que aprendeu a caçar macacos valendo-se apenas da cobiça dos animais. Os homens saíam com pedras coloridas e brilhantes dentro de jarros de vidro para que os macacos pudessem enxergá-las. A curiosidade e o desejo pelas pedras levavam os animais a enfiarem as mãos dentro da pequena abertura dos jarros, com o objetivo de alcançá-las. Como o pescoço dos potes era bem apertado, os macacos não conseguiam retirar as mãos em que seguravam as suas riquezas. E o jarro era muito grande para que fugissem, carregando-os. Então, aqueles curiosos animais enfrentavam uma escolha agonizante: largar as quinquilharias e fugir, ou manter as mãos fechadas e ser capturados. Em geral, escolhiam a captura e adquiriram seu tesouro, mas somente por um momento. No final das contas, perdiam a liberdade e suas vidas. Da mesma forma, diante das riquezas, muitos homens transformam-se em tolos. A cobiça habita no íntimo do ser humano; é o pecado que as pessoas não veem, não sentem, nem desconfiam que possam tê-lo, até ser tarde demais para dominá-lo. O caso do rei Acabe, como vimos na lição anterior, ilustra bem o conceito de cobiça. Ele possuía riqueza e todo o tipo de bens materiais, mas dirigiu seus olhos e sua cobiça à vinha de Nabote, seu vizinho. Seu desejo incontido desencadeou uma série de pecados: abuso de autoridade, acusação, falso testemunho, homicídio e roubo. (1 Reis 21

Pecados como esses, em nossos dias, repetem-se e tornam-se banais. Movido pela concupiscência dos olhos, o ser humano nunca se sente satisfeito com o que possui. A cobiça é insaciável. E, sem Deus, há um vazio preenchido por desejos desenfreados. A proibição da concupiscência da carne, da concupiscência dos olhos e da soberba da vida (Gênesis 3:6; 1 João 2:16) envolve muitos tipos de pecado, como sensualidade, luxúria,  busca desenfreada por possessões ilícitas, obsessão pelo poder, ostentação, esnobismo e orgulho. Esse mal continua no gênero humano, desde a sua queda até a atualidade.  

Em Provérbios, há um sábio ditado: “A sanguessuga tem duas filhas, a saber: Dá, Dá. Há três coisas que nunca se fartam; sim, quatro que nunca dizem bastas: o Seol, a madre estéril, a terra que não se farta d’água, e o fogo que nunca diz basta”. (Pv30:15-16) A cobiça assemelha-se a uma natural necessidade de crescimento e conquista, mas sua principal característica é ser insaciável. Nada é capaz de satisfazê-la. “Todo o trabalho do homem é para a sua boca, contudo nada satisfaz a sua cobiça”. (Eclesiastes 6:7

Por isso, o homem lança-se aos excessos. Tal comportamento, por exemplo, pode parecer fruto de uma forte motivação para o trabalho. Então, o indivíduo deixa de ter tempo para a família e para Deus, pois precisa atender às ambições materiais que lhe parecem legítimas, sobretudo no contexto capitalista atual. O consumismo é a religião dos tempos modernos; já não se busca algo para o próprio bem dentro da normalidade, e ninguém mais quer começar do pouco. Consideremos um edifício; sua construção nunca começa de cima para baixo, e muitas pessoas não consideram os pequenos começos de baixo para cima. (Zacarias 4:10) Além do mais, somos imediatistas, e isso pode trazer sérias dificuldades, inclusive a tentação. (Tiago 1:14-15) Devemos entender que, quando buscamos conquistar alguma coisa importante na vida, essa conquista deve ser bem ajuizada, sem a necessidade de “atropelar” alguém. Caso contrário, as consequências serão devastadoras, como no exemplo de Absalão. (2 Samuel 15:2-6)

       

DOMÍNIO PRÓPRIO: O FRUTO DO ESPÍRITO

Ao homem, Jesus prometeu o Espírito Santo (João 14:26) para que todos os que creem lembrassem de seus ensinamentos. O Espírito Santo é aquele bom amigo que nos manterá no caminho certo no que se refere à conduta. 

Todos nós temos uma experiência reiterada na vida. Quando nos sentimos tentados a fazer algo mau e estamos a ponto de levá-lo a cabo, apresenta-se, em nossa mente, a frase de Jesus, o versículo do salmo, a “imagem” de Cristo, as palavras de alguém que admiramos e temos carinho, os ensinos que recebemos durante a juventude... Em um momento de perigo, essas coisas passam por nossa mente sem que as tenhamos convocado. Eis a obra do Espírito Santo. No momento de prova, ele apresenta, em nossa memória, aquilo que jamais deveríamos ter esquecido.    

Os nascidos de Deus, por meio do Espírito, produzem frutos (Gálatas 5), dentre os quais está o “domínio próprio”: a capacidade de controlar impulsos, atitudes e vontades. O ser que possui tal virtude é abençoado com vida espiritual, social e pessoal equilibrada, pois será capaz de rejeitar e de dizer não ao pecado. Será capaz de vencer a vontade carnal, desenfreada e maligna que o afasta de Deus. O domínio próprio não nos deixa ser dominados pela cobiça. Ele ensina-nos a sermos satisfeitos com aquilo que o Senhor sempre nos dá. Assim, tal domínio refreia nossos desejos carnais e faz-nos reprimir até que não sejamos mais sobrepujados por eles.    

 

CONCLUSÃO

Desejar algo e correr em busca dos sonhos não está errado quando o fazemos de forma correta - trabalhando honestamente, respeitando o próximo, seus bens e honrando a Deus. Que o Espírito Santo dê a cada um de nós o domínio próprio e um coração humilde para aceitarmos e agradecermos pelo que o Senhor Deus tem nos concedido por meio de suas bênçãos.

A Palavra de Deus destaca, e devemos lembrar que o nosso tesouro, o nosso maior bem está com Deus: Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. (Mateus 6:19-21)

 

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