Texto de Estudo

Ex. 20.14

 

INTRODUÇÃO

A fim de resguardar a família e manter a santidade do casamento, Deus ordenou que o povo não praticasse qualquer ato sexual fora dos limites matrimoniais. Mesmo inserido em um contexto de poligamia, cercado de nações para as quais a prática sexual desenfreada e sem regra eram notórias, o povo de Israel recebeu instruções sobre os limites da conjunção carnal, bem como as formas de punir os excessos cometidos.

Foi com base em tais princípios que o Novo Testamento resgatou a monogamia, a honra e a santidade do casamento, assim como a pureza sexual. Ademais, procurou tratar o adultério como um procedimento de dentro para fora e estabeleceu que a cobiça era tão nociva quanto o ato em si. Quanto à prostituição, precisava ser evitada a todo custo.

 

O MANDAMENTO EM SEU CONTEXTO

            Enquanto o sexto mandamento protege a integridade da vida, o sétimo preocupa-se com a integridade da família e com a santidade do matrimônio, proibindo o adultério, prática que mina o relacionamento conjugal e desvia o homem do propósito original, dado por Deus, ao estabelecer que marido e mulher tornam-se “uma só carne” por meio do matrimônio (Gn. 2:24). Além de manter a sacralidade da família e do casamento, a lei servia para Israel manter a pureza sexual e evitar as práticas da cultura egípcia (em que Israel esteve inserida) e da cultura Cananéia (para onde o povo se dirigia)[1]. Visando a melhor compreensão do mandamento, estabelecem-se algumas observações a seguir.

Primeiramente, observemos o conceito de adultério contido no sétimo mandamento. Seu significado básico é “contato sexual de uma mulher casada com alguém que não seja seu marido ou noivo. Ou de um homem casado que não fosse com sua esposa.”[2]. Como a sociedade tinha o costume de poligamia, a proibição residia, basicamente, no fato de um homem deitar-se com a mulher do outro. No entanto, não devemos nos prender apenas a questões linguísticas e contextuais da época quanto ao significado do termo, pois o adultério é a invasão da intimidade do leito nupcial e a quebra da aliança matrimonial. Sua restrição não se limita ao contato sexual entre os “não casados”, mas é também a forma de Deus dizer não a toda prática sexual destituída do ideal divino para o homem.

Assim comentou Ezequias Soares a respeito:Isso vai muito além da cópula extraconjugal. É a proibição de toda a forma de prostituição; é Deus dizendo “não” a todas as concupiscências desnaturais, imaginações e pensamentos impuros e lascivos.” (Mateus 5:27 28)[3]

Em segundo lugar, deve-se atentar à seriedade com que o adultério é tratado no Antigo Testamento. A lei que regulamentava a conduta sexual em Israel era rígida e continha várias orientações. Estupro, por exemplo, era punido com pena de morte ao agressor (Deuteronômio 22:25-26); o incesto restringia o grau de parentesco (Levíticos 18:6-18) e punia com a morte quem mantivesse relação sexual com a madrasta (Levíticos 20:11); a prática sexual entre uma pessoa e um animal era punida com a morte (Levíticos 18:23-29), da mesma forma que um ato homossexual (Levíticos 20:13). A pena para a fornicação (sexo entre solteiros com consentimento mútuo quando a moça estava comprometida com outro homem) era punida com morte por apedrejamento (Deuteronômio 22:23-24). Havia também a punição aplicada quando acontecia a prática sexual antes do casamento (que se aplicaria a qualquer pessoa, mesmo não sendo noiva), que não envolvia morte, mas o homem tinha de pagar uma indenização aos pais da moça, de casar com ela e nunca poderia se divorciar (Deuteronômio 22:28-30).

Todos os casos mencionados encaixavam-se, portanto, no conceito de adultério. Champlin observou que punir o ato de adultério era comum entre os povos antigos e que a pena de morte “...mostra que as sociedades antigas encaravam o adultério não meramente como um ato privado errado, mas que ameaçava o arcabouço do lar e da sociedade...”[4].

Umaterceiraobservação deve ser feita em relação aos termos traduzidos por “adultério” e seus correlatos em nossa língua. Veja a tabela a seguir:

 

Termo Hebraico

Significado

Ocorrência

tinã ’ph,'

Cometer adultério.

Êx 20:14;  Deuteronômio 5:18

ni’uph

Prostituição (religiosa).

Jeremias 13:27Ezequiel 13:26

na’ãphüph

Relação sexual com a esposa ou prometida de outro.

Os 2:4

Zãnãh, zonãh, zenümm, zenüt, taznü,

Relação sexual ilícita, prostituição “profissional”, prostituição religiosa.

Sua ocorrência encontra-se em vários textos nos quais se abordam prostituição, prostitutas, prostituição religiosa etc.

 

O vocábulo usado no sétimo mandamento é “tinã ’ph”, que vem precedido pela partícula negativa “lô. Há semelhança com o sexto mandamento, pois temos uma ordem enfática, firme e inegociável, cuja tradução mais adequada seria “jamais cometa adultério”.

Ainda se deve abordar a poligamia (ou concubinato), amplamente praticada em Israel (e até hoje em muitas culturas). É preciso observar que a prática era legal, com contrato estabelecido. Contudo, mesmo sob esse regime, um homem não poderia tomar para si a mulher de outro. É provável que Levíticos 18:18 seja uma alerta (ou proibição) sobre a poligamia, reconhecendo, assim, o princípio bíblico da monogamia.

 

O SÉTIMO MANDAMENTO NO NOVO TESTAMENTO

            O Novo Testamento mantém o ensino original sobre o sétimo mandamento, e isso pode ser visto pelo menos nas seguintes situações:

a)           O Novo Testamento reconheceu a seriedade do adultério. Quanto a isso, o ensinamento de Jesus foi mais profundo e direcionou-se à raiz do problema. Ele disse que não seria preciso o homem deitar com uma mulher para cometer adultério; bastaria olhar e cobiçar a que não fosse sua esposa. Dessa forma, teria cometido adultério. (Mateus 5:28) Tratava-se, portanto, do adultério da mente, consumado no corpo. Não se restringia somente à prática do ato, mas também ao pensamento[5]. Podemos inferir que o adultério envolvia o indivíduo como um todo - pensamentos, intenções, palavras, emoções, vontades -, e não apenas a conjunção carnal.

b) O Novo Testamento valorizou e reconheceu o ideal monogâmico. Enquanto na antiga aliança havia concessões à poligamia e ao concubinato, no novo conserto, parece não haver apoio a tal prática. Embora já na época do surgimento da Igreja o sistema fosse monogâmico, Jesus e os apóstolos, efetivamente, resgataram-no. O Mestre reafirmou o ideal monogâmico e ampliou o conceito de adultério (Mateus 5:27-28; 19:4-6). Paulo também seguiu o princípio ao estabelecer que os obreiros não fossem polígamos (1Tim 3:2); em Efésiosele, fez uso do simbolismo do casamento para ensinar sobre o relacionamento entre Cristo e a Igreja, ressaltando temas como a fidelidade, a pureza, o amor sacrifical, bem como a monogamia e o princípio da união mística (quando marido e mulher tornavam-se uma só carne). (5:22-23) Em Hebreus 13:4 o leito conjugal é tido como honroso em seu estado de pureza, santidade e fidelidade, alertando que o julgamento de Deus recairia sobre adúlteros e impuros.

c) O Novo Testamento reconheceu como pecado, além do adultério, qualquer relação sexual ilícita, porém manteve a distinção entre as várias práticas sexuais condenáveis e o adultério propriamente dito. Segundo Ezequias Soares, o termo porneia, às vezes, aparecia junto de adultério; em outras, surgia como sinônimo. Todavia, como um termo genérico, indicava “prostituição, incastidade, fornicação, adultério, imoralidade, práticas homossexuais”, ao passo que moicheia foi usado, especificamente, para adultério e nunca se aplicou à prostituição [6]. A prostituição foi listada entre os frutos da carne (Gálatas 5:19-21), e sua prática evidenciava a falta de santidade (Efésios 5:3). A recomendação bíblica era que fosse evitada (1 Coríntios 6:18); tanto que Paulo sugeriu o matrimônio aos que eram incontidos em sua vida sexual, dizendo que “cada um tenha sua própria mulher e a esposa ao seu marido” (1 Coríntios 7:2). Pelos textos já mencionados (dentre outros), fica claro que o Novo Testamento reprovou a prática sexual ilícita em todas as suas formas, concordando com o Antigo Testamento. Contudo, diferiu daquele por não aplicar as punições ali praticadas. Nem por isso, ficando frouxo nas sanções, os adúlteros e os que se prostituem ficam reservados à punição do fogo eterno (Hebreus 13:4; Apocalipse 22:15; 1 Coríntios 6:9-10).

 

CONTEXTUALIZANDO

Com a desvalorização da família e dos valores morais, em um mundo no qual tudo é relativo, em que as pessoas ficam sem parâmetro para discernir entre o certo e o errado, faz-se necessário retomar o sétimo mandamento como base à fidelidade conjugal, bem como a uma vida moralmente saudável. Paulo orientou: “Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra seu próprio corpo” (1 Coríntios 6:18). Assim, o ato sexual ilícito (fora dorelacionamento conjugal) é tido como um atentado contra si mesmo, e pecar contra o corpo é defraudá-lo da parte que o mesmo tem com Cristo; é cortá-lo de seu destino eterno.[7] A prostituição não é algo a ser enfrentado com força, como se fosse possível lutar contra ela e vencer. Recomenda-se que fujamos e, na fuga, precisamos encontrar em Cristo virtudes morais a fim de nos mantermos a salvo.

Infelizmente, proliferam-se heresias, hoje em dia, que vão contra a ordem do sétimo mandamento. Uma das expressões mais usadas pelos que promovem a revolução sexual é “sexo seguro”. Essa ideia leva muitos a acreditarem que existe mesmo segurança em um estilo de vida libertino. Os preservativos podem evitar doenças – e, sem dúvida, ajudam nesse sentido. Contudo, a proteção que oferecem reduz, mas não elimina o risco. Além do mais, esse mito repousa no conceito de que a doença é a única consequência indesejável de tal comportamento. Porém, os resultados da quebra do sétimo mandamento são multifacetados e de longa duração[8].

Faz parte do mesmo mito a ideia de que “você precisa testar um carro antes de comprá-lo”. Parece lógico, não é? Morar junto ou coabitar mostra-se como uma forma livre de riscos para verificar a compatibilidade do casal. Deveria ser um excelente método de atingir um casamento perfeito. Porém, as estatísticas mostram que acontece o contrário; casais que começam o casamento dessa maneira têm quase o dobro de possibilidade de divorciar-se, dentro de 10 anos, em comparação aos que começam a vida em comum com o casamento. Ademais, um estudo recente descobriu que os casais que apenas coabitam têm um índice de agressão física três vezes mais elevado que os efetivamente casados[9].

Por tudo isso, prova-se que o sétimo mandamento é de ordem urgente e necessária à preservação e à manutenção da vida familiar, segundo o propósito divino.

 

CONCLUSÃO

As relações familiares foram protegidas no sétimo mandamento, como a integridade do lar, a santidade e a fidelidade conjugal. Deus estabeleceu tanto o matrimônio quanto o sexo. E, além da procriação, o ato sexual é fonte de prazer a ser desfrutada no leito matrimonial.

Por outro lado, o Senhor regulamentou e deu limites quanto a seu uso abusivo e irresponsável. As práticas sexuais ilícitas desonram a Deus e ao próximo. Cremos que a Palavra divina é a nossa norma de fé e prática cristã; o que nela contém sobre o sétimo mandamento é a revelação de Deus. Assim, devemos seguir seguramente, na certeza de que o Senhor é conhecedor de todas as coisas. O que está em sua Palavra é o melhor para a humanidade.

 

 


 

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