Texto de Estudo

João 10:11:

11 Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.

INTRODUÇÃO

No Novo Testamento, há três listas primárias de dons espirituais. Estas se encontram em Romanos 12:6-8, 1 Coríntios 12:8-10 e Efésios 4:11. Não creio que estas listas devessem ser definitivas, mas elas indicam a maioria dos dons espirituais e também coincidem, às vezes.

Todo cristão tem, pelo menos, um dom espiritual, que é dado no momento em que uma pessoa recebe Jesus Cristo como Salvador. Dons espirituais não são conquistados; não são dados com base em mérito ou dignidade. Não são dados como recompensa por serviço ou fidelidade, ou como resposta de oração. São dados com base na soberana vontade de Deus, através de seu Espírito (1Cor 12:11). Dons espirituais são dados para equipar e edificar o corpo de Cristo (Efésios 4:12), e para que possamos servir uns aos outros (1 Pedro 4:10).

Um dom espiritual é um presente do Senhor por meio do qual o cristão é habilitado a realizar bem determinada função; o fiel tem prazer em fazê-lo e abençoa outros quando o faz. Na lista de Efésios, o dom do “pastor” é mencionado. Este dom é também chamado o dom de pastorear. Este pode ser definido como a responsabilidade de exercitar o cuidado espiritual sobre um grupo de pessoas por um extenso período de tempo. Os elementos de servir, liderar e equipar estão contidos neste dom.

Entre os cristãos, a palavra pastor é geralmente a preferida para designar ministros ordenados. O uso do termo é compatível com o ministério do nosso Senhor, que aplica o termo "pastor de ovelhas" a Si mesmo. Assim, os que o Espírito Santo chama para o ministério pastoral são subpastores de ovelhas.  

O termo “pastor” tem origem no latim com o significado de “aquele que guarda as ovelhas”, “o que cuida das ovelhas”. No grego é poimen e significa “...aquele que cuida de rebanhos (não meramente aquele que os alimenta), é usado metaforicamente acerca dos ‘pastores’ cristãos (Efésios 4:11)”. Em termos ministeriais, o pastor é aquele que tem esse dom ministerial e é encarregado de cuidar da vida espiritual dos que aceitam a Cristo e ficam sob seus cuidados, numa igreja ou congregação local. Pastor é um termo de cuidado, de zelo, de ternura, para com as ovelhas de Jesus. 

 

O CHAMADO PASTORAL

O dom pastoral é validado por um senso de chamado que vem de duas perspectivas. Há um chamado interior, que é o chamado de Deus, e há um chamado exterior, que é o chamado do povo de Deus em reconhecimento ao dom espiritual colocado sobre um indivíduo. O chamado interior pode se manifestar através do testemunho interior do Espírito Santo, e é, às vezes, confirmado pelo conselho divino de outros. O Senhor fala com frequência por intermédio de seu povo, da igreja. Se um indivíduo sente um chamado para o ministério pastoral, e ninguém mais pode, conscienciosamente, confirmar esse chamado, haveria a necessidade de questionamentos sérios para saber se esse chamado é, de fato, de Deus. 

É muito raro Deus chamar um indivíduo para o ministério pastoral e não permitir que outros ao redor dessa pessoa vejam os indícios desse chamado, tais como sua dotação, sua aptidão para a obra, sua dependência do Senhor, sua determinação a não ser facilmente desencorajado, e seu desfrute do discipulado, sustento espiritual e cuidado para com as pessoas. Além disso, a manifestação de amor genuíno pelas pessoas, a dedicação ao serviço do Senhor e a percepção de que a colheita está pronta, mas os trabalhadores são poucos podem ser fatores que motivam alguém a responder ao chamado pastoral em suas vidas. 

Uma afeição ao título e à posição de “pastor”, ou alguma característica de egocentrismo, ou o prazer na atenção pública não são motivações apropriadas para buscar um chamado pastoral. Deve haver um desejo genuíno e robusto de ajudar outros a se desenvolverem e amadurecerem espiritualmente. Quando os chamados interior e exterior coincidem, o chamado a esse ministério particular é completo.

Há uma diferença entre o papel do pastor e o dom do pastor. Em raras ocasiões, alguém pode ser convocado e concordar em atuar temporariamente no papel de pastor, sem ter o dom espiritual para tanto. Isso pode acontecer porque uma pessoa espiritualmente dotada pode não estar disponível no momento, ou alguém com o dom estar no processo de preparação para o ofício. Quando isso ocorre, todo esforço deve ser feito para assegurar que tal arranjo perdure pelo menor tempo possível.

Assim, no corpo de Cristo, alguns são chamados para serem pastores. Creio ser esta uma porcentagem relativamente pequena de cristãos. Deus confia um rebanho de ovelhas a um pastor. Algumas dessas ovelhas podem ser ovelhas perdidas; outras, rebeldes. Algumas podem morder; outras seguirão o pastor sem fazer muitas perguntas, enquanto, por outro lado, haverá as teimosas. Nada disso importa. Um pastor é chamado para ser fiel e exercitar a mordomia da melhor forma possível sobre o rebanho que lhe foi confiado.

 

QUEM QUALIFICA?

1 Timóteo 3:1-7 nos dá um retrato do que um pastor deve ser; uma lista de características que nos ajuda a discernir o tipo de pessoa que o Senhor qualifica para tal chamado. Eu tomo a liberdade de dividir essa lista em três categorias, como se segue:

 

Caráter

•Irrepreensível

•Marido de uma esposa

•Sensato

•Autocontrolado

•Respeitável

•Não violento, mas gentil

•Não irascível

•Não amante de dinheiro

•Não dado a bebidas

 

Dotação

•Hábil no ensino

 

Serviço

•Não um recém-convertido

•Administra bem sua própria casa

•De boa reputação para com os de fora

•Hospitaleiro

 

Eu diria, então, que o dom espiritual de pastorear não está relacionado somente a ter o dom, mas ao fato de que este dom seja plenamente cumprido, que seja acompanhado por um caráter apropriado, evidenciado parcialmente no serviço prestado por um período de tempo no passado.

 

TRÊS TAREFAS PRINCIPAIS

Alguém que possui o dom espiritual de pastorear e que atua nesse papel será cobrado por Deus pelo rebanho que foi confiado sob o seu cuidado. Isso faz dessa questão algo muito significativo, que não pode ser minimizado. De todas as tarefas que um pastor deve cumprir, três são mais críticas para o cumprimento de seu dom: liderar, alimentar e proteger.

Quando alguém assume o papel de pastor, imediatamente se torna um líder, esteja preparado para sê-lo ou não. O pastor é chamado a liderar suas ovelhas, não importa quantas sejam ou quão poucas sejam. Para liderar bem, o pastor deve continuar aprendendo, estar disposto a se envolver, ser célere em se antecipar e tomar decisões sábias. Então, o que um líder/pastor faz? Ele:

Lidera 

Inspira 

Decide

Envolve-se

Recicla-se e está sempre pronto a aprender

Antecipa-se

O pastor deve ser um estudioso de seu chamado por toda a vida. Ele deve mergulhar fundo no conhecimento do que é preciso para uma parceria com Deus na criação de uma igreja saudável, para que o rebanho tenha a melhor oportunidade de se tornar seguidor de Jesus Cristo em pleno desenvolvimento. Sem o aprendizado contínuo, o pastor limita sua habilidade de conduzir seu rebanho rumo aos campos preparados por Deus. Um pastor que segue aprendendo é um pastor que segue crescendo.

Líderes devem também se envolver com seu povo. A maioria de nós provavelmente poderia identificar um pastor que se tornou tão inepto que acaba ficando distante de seu rebanho. Pastores nessas situações não são capazes de ter empatia com seu rebanho; não estão nas trincheiras lidando com a multiplicidade de problemas e questões de uma congregação típica. Ficar no topo de situações de conflito em potencial é uma das maneiras que o pastor tem de se envolver com seu rebanho. É através desses tipos de envolvimento que o pastor saberá como pastorear melhor o seu rebanho, estando familiarizado com suas necessidades, dores e sonhos.

Antecipar-se é outra tarefa que os pastores devem cumprir. Liderar é se antecipar. Bons líderes estão cinco passos à frente de todos. Eles veem as coisas antes de todos. Sentem as coisas antes de todos e assumem compromissos antes de todos os outros. Antecipar-se é muito útil no processo de planejamento de qualquer organização. Muito frequentemente, fracassar em planejar é fracassar em se antecipar bem. E isso causa estresse desnecessário em todos.

Líderes são também aqueles que decidem. Não podem ter medo de ser decisivos. Por mais difícil que isso seja às vezes, pastores devem tomar decisões no melhor interesse de seu rebanho. Ao se envolver no processo de tomada de decisões, eles devem começar pedindo direção a Deus em oração, depois buscando o que a Bíblia tem a dizer sobre a questão. Em seguida, devem procurar algum precedente histórico relevante. Em outras palavras, é uma boa ideia considerar como outros no passado lidaram com situações similares. Depois que isso é feito, buscar o conselho de Deus através de outros é um passo sábio. Não somente é importante que os líderes tomem as decisões certas, eles devem também tomar decisões justas.

Pastores não são chamados somente para liderar seu rebanho. São também chamados para alimentá-lo. Este alimento inclui ensinar a Bíblia, ensinar a orar e ensinar a serem discípulos de Jesus. Quando esse trabalho de alimentar o rebanho é bem feito, as ovelhas também aprenderão como se alimentar sozinhas. Uma das maiores e mais subutilizadas ferramentas para alimentar o rebanho é lançar desafios. Desafios mantêm o rebanho conectado e faminto. Desafios estimulam o discipulado ao chamar o rebanho às disciplinas que Deus designou.

O rebanho deve também ser protegido. Essa pode ser a maior responsabilidade de um pastor. Há lugares para protegê-los dos lobos rondando nas colinas? E quanto aos lobos no rebanho, vestidos em pele de ovelha? Uma das melhores maneiras de proteger o povo é estabelecer responsabilidades para aqueles que pretendem escalar os degraus da liderança da igreja. Compromissos, expectativas e alianças são maneiras de responsabilizar as pessoas em cada nível da igreja. Concordância na liderança evita discordância em todas as outras áreas do fronte.

 

A MISSÁO DO PASTOR

A principal missão do pastor é cuidar das ovelhas de Cristo, que lhe são confiadas. A ele cabe apascentar (do grego poimanô) as ovelhas, dando-lhes o alimento espiritual, através do ensino fundamentado da Palavra de Deus. No Salmos 23 Davi mostra o cuidado do pastor. Sua missão é múltipla ou polivalente. Um pastor de verdade tem que agir como ensinador, conselheiro, pregador, evangelizador, missionário, profeta, juiz de causas complexas, fazer as vezes de psicólogo, conciliador, administrador eclesiástico, além de outras tarefas como pai, esposo e como pastor de sua família. A atividade pastoral genuína é tão importante, que o profeta Isaías, falando ao povo de Israel, acerca do livramento que lhe seria dado, usa a figura do pastor, aplicando-a ao próprio Deus (Isaías 40:11). O verdadeiro pastor cuida bem das ovelhas: recolhe os cordeirinhos (os mais fracos, mais novos) entre os braços; leva-os no regaço; aos novos convertidos, os “amamenta”, como a “bebês espirituais” e os guia mansamente.

 

O PASTOR E AS CONTRADIÇÕES

A despeito de sua honrosa missão, o pastor é alvo de constantes contradições. A lista de contradições sobre o que as pessoas pensam do pastor é ampla e variada. Alguém já escreveu diversas listas sobre isso. A seguir, resumimos uma delas: se o pastor é ativo, é ambicioso; se é calmo, é preguiçoso; se o pastor é exigente, é intolerante; se não exige, é displicente; se fica com os jovens, é imaturo; se fica com os adultos, é antiquado; se procura atualizar-se, é mundano; se não se atualiza, é de mente fechada, retrógrado, ultrapassado; se prega muito, é prolixo, cansativo; se prega pouco, é que não tem mensagem; se veste-se bem, é vaidoso; se veste-se mal, é relaxado; se o pastor sorri, é irreverente; se não sorri, é cara dura. O que o pastor fizer alguém pensa que faria melhor. Pode parecer algo hilário ou grotesco, mas reflete um pouco a visão que muitas pessoas têm do pastor de uma igreja local. Aliás, alguém já escreveu, dizendo que “pastor é uma espécie em extinção”.

 

CONCLUSÃO

Pastores não podem continuamente magoar seu rebanho, seja por abuso ou negligência. O Senhor, com sua sabedoria infinita e sua onisciência, designou que dentro da igreja deve haver pastores que exercitem seu dom de equipar e edificar o corpo, para que as ovelhas se tornem maduras e frutíferas. Quando as igrejas desenvolvem processos bem pensados e eficazes para identificar os dotados espiritualmente com o dom do pastorado, desenvolvê-los e utilizá-los apropriadamente, Deus se agradará.