Texto de Estudo

Naum 1:3:

3 O SENHOR é tardio em irar-se, mas grande em poder, e ao culpado não tem por inocente; o SENHOR tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés.

INTRODUÇÃO

Estudar os profetas do Antigo Testamento é viajar no tempo para um encontro com homens extraordinários que obedeceram ao Senhor de maneira radical, em ambientes, em sua maioria, hostis. 

No cenário em que viveram os profetas prevalecia a injustiça social, corrupção política, e legalismo religioso. Não raras vezes estudiosos se referem aos profetas como “nossos contemporâneos” em uma clara alusão à semelhança do contexto em que vivemos, com os contextos originais da mensagem profética.

Assim sendo, estudar os profetas é uma redescoberta de uma das dimensões do que é ser Igreja, observando o ambiente em que se vive, comparando-o com a vontade revelada de Deus em Sua Santa Palavra. 

Onde se verificar injustiça social, corrupção política e legalismo religioso, aí se faz necessário ouvir mais uma vez a mensagem profética, e assumir o papel de arauto das verdades de Deus.

O fato de alguém ser nomeado entre os profetas o coloca como partícipe de um evento conhecido como “O Fenômeno do Profetismo” , um capítulo especial no estudo da Bíblia Sagrada, e que é bastante diferente da compreensão popular sobre profetas e profecias, que atualmente limita-se a um aspecto reducionista e meramente preditivo, enquanto os profetas bíblicos tinham uma função de denúncia das injustiças onde quer que elas se apresentassem.

Nesta lição trataremos sobre o livro do Profeta Naum, que tem sido tradicionalmente classificado como um dos profetas menores, e também um profeta pré-exílico, isto é, exerceu seu ministério antes do cativeiro babilônico.

 

Autoria, Data e Local

O texto oferece testemunho interno que o atribui a Naum, o elcosita, personagem não referido em nenhum outro lugar das Escrituras Sagradas. A sua origem, Élcos, também permanece uma incógnita sendo difícil precisar a localização, havendo apenas suposições. Entretanto, não vemos obstáculo, especialmente se nos lembrarmos da distinção feita por Brown entre “autor” e “escritor”, quando o autor é aquele a quem ele considera como pai das ideias, enquanto o escritor seria o redator do texto. No caso da Profecia de Naum, podemos afirmar com tranquilidade que Naum foi o escritor e Deus mesmo é o autor.

Com relação à datação, podemos afirmar: 

O Livro de Naum é suscetível de ser datado dentro dos limites de meio século. De pesquisas arqueológicas sabe-se que Nínive caiu em 612 A.C. A predição de Naum foi escrita provavelmente um pouco antes da destruição da cidade. Além disso, em 3:8 o profeta menciona o cativeiro de Nô (Nô-Amom ou Tebas, a capital do Egito Superior) como acontecimento histórico. Assurbanipal da Assíria (668-626 A.C.) efetuou a tomada da cidade egípcia no ano de 663 A.C. Portanto, o livro pode ser datado entre 663 A.C. e 612 A.C., provavelmente mais próximo desta última data. 

O nome do profeta significa “cheio de consolo”, formado pela palavra hebraica similar a outras que significam “cheio de graça” e “cheio de compaixão”. Certos estudiosos não veem a conveniência desta designação, visto que Naum proclama uma mensagem de destruição e devastação. Mas um exame mais detido revela que a natureza de sua profecia está no cerne do consolo – para o povo de Deus. 

A profecia de Naum, a exemplo de outros textos canônicos – inclusive outros seis profetas menores  –, não tem preocupação com precisão cronológica, e sim com fidelidade à mensagem revelada por Deus ao seu Profeta. Isto posto, consideremos o teor do livro, dividido em três capítulos.

 

Deus o Justo Juiz (capítulo 1)

Sentença contra Nínive, livro da visão de Naum o elcosita. (Naum 1:1)

A Profecia de Naum se inicia com uma sentença sendo proferida, e seus termos encerram uma afirmação pesada, que trará no seu cumprimento sofrimento, dor e destruição para Nínive, a capital do poderoso Império Assírio que aconteceria em 612 A.C. 

Nínive era uma das mais antigas cidades do mundo, seu fundador foi Ninrode (Gênesis 10:11), e junto com a Babilônia representou uma das maiores ameaças ao povo de Deus no Antigo Testamento.  Nínive era a capital de uma potência que dominou e aterrorizou o mundo – o Império Assírio –, sendo proverbial a crueldade dos assírios para com os povos dominados. A profecia de Naum começa com afirmações impactantes sobre Deus, o Juiz que julgará os atos de Nínive. A figura do juiz evoca a justiça, e para que ela seja executada, é imprescindível que o juiz tenha autonomia e não possa ser intimidado ou corrompido. Deus não depende de Nínive, não pode ser intimidado ou corrompido por ela. O Juiz é justo e a justiça virá.

Nínive era bem protegida.  A cidade media 48 km de extensão por 16 de largura, sendo protegida por cinco muralhas e três fossos. A chamada “Nínive interior”, que era a capital propriamente dita,  media quase 5 km de largura por 2,5 de largura, protegida por muralhas de 30 metros de altura, o equivalente a um prédio de nove andares, hoje. Podemos ter uma ideia da grandeza da cidade com esta observação de Baxter:

Os muros tinham 30,5 m de altura, eram tão largos que três carros podiam andar lado a lado sobre eles. Essas paredes eram fortificadas com 1.500 torres, cada um com 61 metros de altura. Com base num levantamento trigonométrico, a área total foi calculada em 900 km quadrados – comparável à da moderna Londres! 

A mensagem de Naum traz, por um lado, a ira e a justiça, e por outro, misericórdia e graça. Deus é justo juiz, e seu juízo será executado sobre todos. A crueldade da cidade de Nínive será punida, e o clamor dos oprimidos será ouvido.

Entre os muitos atributos de Deus está a justiça; na profecia de Jeremias lemos: Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, com que será chamado: SENHOR, Justiça Nossa. (Jeremias 23:5 6). E esse Senhor, o justo juiz, estava se levantando para julgar Nínive, continua julgando e por fim se levantará para julgar toda a terra (Salmos 7:8; Salmos 97; Romanos 2:16; entre outros).

O capítulo primeiro descreve o poder de Deus que atuará defendendo os oprimidos pela metrópole assíria, e sobre ela executará seu juízo.

O Senhor é Justo e Juiz, Ele sempre executa seus juízos. Em um contexto de justiça morosa e por vezes acusada de parcialidade, a lembrança de que Deus é um Justo Juiz deve confortar, e confrontar, o Seu povo, e despertá-lo para a busca de uma vida justa em todas as esferas, e para a promoção da justiça, o que será feito à medida que a Igreja exerça sua voz profética.

 

Deus Julga Nínive (capítulo dois)

O capítulo dois se inicia descrevendo a cidade de Nínive, e anuncia: Está decretado: a cidade-rainha está despida elevada em cativeiro, as suas servas gemem como pombas e batem no peito. Nínive, desde que existe, tem sido como um açude de águas; mas, agora, fogem. Parai! Parai! Clama-se; mas ninguém se volta. (vv. 7, 8). Defender a cidade seria impossível, pois a destruição inevitável estava a caminho por um decreto divino, e a Deus ninguém pode se opor. O opressor – Nínive – seria destruído e o oprimido – Judá – seria reerguido.

Por mais poderosa que fosse Nínive, por maiores que fossem as suas conquistas, e por mais terror que ela espalhasse, essa situação não ficaria impune. Deus julgaria a temível cidade, ela não poderia resisti-lo. Aquela que fazia tremer as nações sequer seria ouvida, o Senhor dos Exércitos estava contra ela. Seu Palácio seria destruído (v. 6), seu povo seria levado cativo (v. 7), ou fugiria aterrorizado (v. 8), suas riquezas seriam saqueadas (v. 9), sua autoestima cairia (v. 10). Deus julgaria Nínive e toda a sua soberba e arrogância.

No versículo treze vem a terrível sentença: Eis que eu estou contra ti, diz o SENHOR dos Exércitos; queimarei na fumaça os teus carros, a espada devorará os teus leõezinhos, arrancarei da terra a tua presa, e já não se ouvirá a voz dos teus embaixadores. Aquela a quem ninguém conseguia se opor, e a todos dominava cruelmente, agora tinha contra si o Senhor do Universo, que sobre ela aplicará o Seu juízo.

Não é de se admirar que Deus anunciou: "Eis que eu estou contra ti" (v. 13). Mais de um século antes, o Senhor havia enviado Jonas para advertir o povo de Nínive, e quando a cidade se arrependeu, retirou seu julgamento. Contudo, o tempo dos ninivitas havia se esgotado e era chegado o fim. A Assíria seria deixada sem armas, sem líderes e sem vitórias a serem anunciadas por seus mensageiros.  Deus julgou Nínive no passado, e julga os opressores em todos os tempos, nenhuma injustiça deixa de ser ponderada no julgamento divino (Eclesiastes 12:14). Por mais que aos olhos humanos pareça tardar a justiça, por mais que a justiça humana falhe, o julgamento de Deus é certo, justo e sempre vem no tempo certo, o tempo de Deus.

Em meio às dificuldades, sofrimentos e dores, os servos e servas do Senhor que estão sendo oprimidos devem lembra-se que o “...socorro vem do SENHOR, que fez o céu e a terra.” (Salmos 121:2). Esta bendita esperança, e gloriosa certeza, renovará as forças daqueles que elevarem os olhos para o socorro que vem do Senhor.

 

Deus Pune Nínive (capítulo 3)

O capítulo três da Profecia de Naum é um alerta para todos os que agem injustamente: a punição do Senhor é certa, e o seu juízo é inescapável. A severa punição de Nínive pode ser esboçada da seguinte forma:

1.Lista dos pecados (1-4) – ao julgar, Deus o faz de forma justa e lista os pecados da cruel cidade. O julgamento de Deus não é genérico, é específico. Nada é desconsiderado, ou esquecido, pelo justo juiz. 

2.A punição é descrita (5-18) – as consequências das ações serão sentidas, e uma das leis de Newton afirma: “A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade”. A crueldade de Nínive foi uma ação de uma sociedade pecadora e perversa e teve como reação a punição divina, vista por alguns com muita severa; tratam-se das justas consequências dos atos pecaminosos.

3.A comemoração dos oprimidos (19) – quando o opressor cai, os oprimidos celebram, e a celebração deve ser porque a justiça foi feita e a liberdade alcançada; deve-se evitar qualquer desejo de vingança, ou mesmo o oprimido ter como meta se tornar o opressor.

O capítulo três encerra a profecia de forma completa ao listar a causa do juízo, nomeando os pecados de Nínive; ao descrever a aplicação da justa punição e ao registrar a reação aliviada daqueles que foram vitimizados por Nínive. Em um mundo injusto e cruel, a justiça de Deus intervém para por termo à situação.

Nem sempre o juízo sobre os opressores vem quando os oprimidos desejam, mas a sua vinda será inevitável.

 

CONCLUSÃO

A Profecia de Naum traz um relato grave da aplicação do juízo de Deus. Conquanto a mensagem do Cristianismo enfatize a sua maravilhosa graça, celebrada em tantas canções, a mensagem da graça salvadora não pode prescindir do anúncio do juízo divino. A graça se manifesta paralelamente ao juízo divino, consideremos o ensino do apóstolo Paulo registrado aos Romanos:

“Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus.” (Romanos 3:23 24). “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Romanos 6:23).

A manifestação da Graça Salvadora ocorre no ambiente de julgamento do pecado, que tem a morte como consequência. Estas verdades permeiam toda a Bíblia. Naum nos mostra que Deus é tardio em irar-se, mas mostra também que a retribuição aos pecados, caso não haja uma mudança real de atitudes por meio do arrependimento, é dada no momento certo. Sua misericórdia não pode ser interpretada como uma concessão ao pecado, mas como uma oportunidade a uma vida de retidão e quebrantamento.

A Profecia de Naum é um alerta que a tolerância divina tem limites, e quando ela acaba, o julgamento é efetuado. A vida humana não pode ser vivida sem levar em conta de que há um Deus justo, que não tolera a injustiça.

 

 

 

 

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