Texto de Estudo

Tiago 1:5:

5 E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada.

INTRODUÇÃO

Certa vez disse o sábio: “Feliz é quem encontra sabedoria, pois o lucro dela é melhor que o da prata; e sua renda é melhor do que o ouro” (Provérbios 3:13-14). Porém, como e onde encontrá-la? Essa é uma questão que vem sendo discutida desde a antiguidade. A própria filosofia já existe desde o século VI a.C. Por que é tão importante para os cristãos adquirir a sabedoria?

O estudo de hoje nos ensinará que o Senhor é a fonte da verdadeira sabedoria. Sabedoria esta que reflete em nossa vida o caráter de Deus, e que ele, sem reservas, deseja dar a todo aquele que com fé busca essa preciosa dádiva.

 

PEDINDO A SABEDORIA

Algo importante para pensarmos é o fato de que o homem necessita de sabedoria, mas isso é algo que ele não possui naturalmente. É preciso que o ser humano supere o orgulho e admita que necessita dela e que é incapaz de, em si mesmo, obter essa virtude divina.  O desejo de Tiago para seus leitores é que fossem perseverantes e que se achassem “em nada deficientes” (Tiago 1:4).

O verso 5 aponta para a sabedoria como sendo o requisito fundamental para fazer com que os cristãos sejam perfeitos e íntegros, sem nenhuma deficiência. Para que isso aconteça, são necessárias três coisas:

1. Precisamos pedir sabedoria a Deus (v. 5). A Bíblia aponta para Deus como sendo a fonte da verdadeira sabedoria (1 Samuel 2:3; Jó 12:13; Provérbios 3:19; Efésios 3:10). Sendo ele o único mantenedor desta virtude, não há outro lugar no qual possamos encontrá-la. Talvez Tiago, ao afirmar “peça a Deus”, tivesse em mente os ensinamentos de Jesus, que disse: “Pedi e vos será dado” (Lucas 11:9). O ato de pedir nada mais é do que declarar a alguém uma necessidade. Precisamos reconhecer que sem a sabedoria de Deus somos imaturos e incapazes de permanecer de pé em meio às dificuldades. Sem a sabedoria que vem do alto, estamos impossibilitados mesmo tendo um amplo conhecimento, pois o conhecimento sem a sabedoria é vão.

2. Precisamos conhecer o caráter de Deus (v. 5). Frequentemente nós tentamos compreender os desígnios de Deus com base nos conceitos e valores humanos. Então achamos que o Senhor nos dá sabedoria da mesma maneira como nós damos algo a alguém. A segunda parte do verso 5 nos revela a essência do verdadeiro altruísmo emanado do caráter de Deus. Tiago diz que “Deus dá de bom grado”. A palavra grega para o modo como Deus dá significa “simplesmente”, “despretensiosamente”, “sem segundas intenções”, “singelamente”.  Significa dizer que, ao dar, Deus não faz ressalvas e é cheio de bondade.  A sabedoria que vem de Deus é espiritual, pois Deus é espírito. Ela carrega em si graça, misericórdia, santidade e discernimento pra que possamos viver de modo que agrade o nosso Deus. Em outras palavras, ela nos ensina a nos comportar de acordo com a vontade do Pai.

3. Precisamos pedir sabedoria com fé (vv. 6-8). A palavra de Deus diz que fé é certeza e convicção (Hebreus 11:1). A fé alcança o que é impossível de ser conquistado pelas nossas forças ou pelos méritos que há em nós. Devemos pedir sem nada duvidar, pois quando duvidamos colocamos em descrédito o poder de Deus. Tiago exorta os seus leitores a orarem com fé.

Tiago compara o homem que ora, mas duvida, utilizando duas figuras:

Em primeiro lugar, ele é inconstante como as ondas do mar. A fé do homem que duvida é resultado das circunstâncias ao seu redor. Quando trazemos à mente as ondas do mar, lembramos que não há uma uniformidade nelas. Ora são pequenas, ora são grandes. Em um momento estão perto da areia, e em outro estão longe. O homem que não confia em Deus é inquieto, sujeito a todas as ações que o rodeiam, assim como as ondas estão sujeitas às forças do vento, da maré e da gravidade.

Em segundo lugar, ele é como duas almas em um só corpo. O termo “ânimo dobre” (gr. dipsychos) significa literalmente “alma dividida”. O Antigo Testamento caracteriza aquele que tem um coração dividido como sendo pecador (Os 10:2; Salmos 12:2 ARC - “coração dobrado”).  O Senhor diz que o encontraremos e o buscaremos de todo o coração (Jeremias 29:13). Se o buscarmos em oração, mas em nosso coração ainda existirem reservas ou dúvidas, seremos semelhantes ao homem de “ânimo dobre”. É como se parte de nós acreditasse e outra parte não.

Tiago fala de dois resultados negativos ao crente que ora, mas duvida:

O primeiro resultado é o fracasso na oração (v. 7). Tiago diz que a oração daquele que duvida não traz resultado algum. Isso é consequência da falta de fé, pois sem ela é impossível agradar a Deus e receber recompensas (Hebreus 11:6). Muitas vezes pensamos que Deus está dizendo “não” aos nossos pedidos, quando na verdade ele nem está ouvindo a nossa oração. Talvez, o que precisamos para que não vivamos uma vida espiritual fracassada é humildade, como a que teve o homem que pediu a Jesus que o ajudasse em sua falta de fé (Marcos 9:24). 

O segundo resultado é a inconstância espiritual (v. 8). A instabilidade na vida espiritual pode trazer o desprezo da parte de Deus, como ocorreu coma igreja de Laodicéia (Apocalipse 3:16). Não podemos ser levados por qualquer vento de doutrina, acreditando em Deus de uma maneira hoje e de outra amanhã. Ser inconstante na vida espiritual é como subir hoje um degrau de uma escada e amanhã descer outro, não nos levando a lugar algum.

SABEDORIA NA PRÁTICA

A Bíblia nos ensina que o modo de viver do crente deve refletir a glória de Deus e que o mesmo é transformado à sua imagem pelo Espírito do Senhor (2 Coríntios 3:18). Então, por meio de nossas ações, demonstramos na prática a sabedoria divina que nos é concedida. Aquele que pratica a Palavra de Deus é comparado a um homem prudente que está alicerçado sobre a rocha (Mateus 7:24).

Sabemos que o assunto da epístola de Tiago é a perfeição cristã prática. Ele escreve não meramente a respeito da perfeição cristã, mas concernente à perfeição cristã prática, isto é, uma perfeição que não é teórica, mas prática em nosso viver diário.  No caso dos pretendentes ao cargo de mestre, a sabedoria e o preparo deles devem ser mostrados de duas formas.

Primeira, “mediante condigno proceder” (v. 13). Em outras palavras, “mostre suas obras pelo seu bom procedimento” (A21). A sabedoria é externada na vida do mestre por meio das suas ações. O principal e fundamental fruto que deve ser encontrado na vida daquele que julga ser sábio é o “temor a Deus” (Salmos 111:10; Provérbios 9:10).

Jesus censura severamente os escribas e fariseus que atavam fardos pesados aos homens, mas não moviam um dedo para ajudar. Diziam ser filhos de Abraão, porém não praticavam as mesmas obras do patriarca. O mestre os compara a sepulcros caiados (Mateus 23:27). Embora eles se julgassem sábios, o seu proceder não demonstrava isso.

Segunda, “em mansidão de sabedoria” (v. 13). Deve ser entendido como um qualificativo de obras. Estas devem ser praticadas em “mansidão” que caracteriza a “sabedoria” ou nasce dela. Mansidão na mente da maioria dos gregos, dificilmente era uma virtude a ser buscada: ela sugeria um rebaixamento servil e desprezível. Mas Jesus que, que pessoalmente foi “manso” (Mateus 11:29), pronunciou uma bênção sobre aqueles que fossem mansos (Mateus 5:5). Tal mansidão cristã envolve uma compreensão sadia acerca de nossa falta de méritos diante de Deus e uma respectiva humildade e falta de orgulho no trato com os nossos semelhantes. 

 

DOIS TIPOS DE SABEDORIA

O homem sempre tem buscado encontrar a origem do saber. A própria filosofia  tem seus precedentes por volta do século VII e VI a.C. Muitas correntes filosóficas, presentes no tempo dos apóstolos, chegaram a colocar o homem como o centro do saber e ensinavam que a perfeição poderia ser alcançada sem a intervenção externa, sendo o homem único responsável, autônomo e equivalente.

No início de sua epístola, Tiago trata da importância da sabedoria para que o cristão vença as adversidades e viva uma vida íntegra e perfeita. Agora no capítulo 3, ele esclarece a diferença de conceito e resultados entre a sabedoria que vem do alto e a sabedoria humana. Para isso, ele faz uso de dois paradigmas. Vejamos:

1. Paradigma da cultura humana (vv. 14-16). Falando sobre a origem e a natureza da sabedoria baseada na cultura humana, Tiago diz que ela pode ser triplamente caracterizada.

Em primeiro lugar, ela é terrena, pois tanto suas pautas quanto sua origem são terrestre. Ela mede seu próprio êxito em termos mundanos e seus propósitos são também mundanos.  “Terrena” traz neste texto sentido de “mundo”. João diz que “o mundo jaz no maligno” (1 João 5:19), e Jesus fala do diabo como o “príncipe deste mundo” (João 12:31; 14:30; 16:11). O homem sem Deus, orientado pela sabedoria terrena, sem saber, está caminhando para a morte (Provérbios 14:12).

Em segundo lugar, ela é “animal”, que também pode ser traduzida como “da alma” (gr. psychikós). Esta palavra refere-se ao ser humano natural e a seu modo de ser. Tiago emprega o mesmo termo que Paulo em 1 Coríntios 2:14. Paulo afirma que o ser humano “psíquico”, “natural”, “carnal” não percebe nada do Espírito de Deus. O ser humano carnal não está apenas no mundo; o mundo é que está nele. Sua natureza é totalmente determinada pelo modo de ser do mundo. 

Em terceiro lugar, ela é diabólica. No sentido de que não provêm de Deus. Sua origem está no diabo. Seus frutos, inveja e sentimento faccioso não refletem uma natureza divina, antes são decorrentes de uma natureza demoníaca. Segundo Tiago, a sabedoria que não vem do alto só traz “confusão e toda espécie de coisas ruins” (v. 16).

2. Paradigma da cultura divina (vv. 17,18). Tiago aponta para os seus leitores as características da sabedoria segundo uma dádiva proveniente de Deus. Vejamos o que significa cada uma dessas características:

Em primeiro lugar, a sabedoria do alto é pura. Uma sabedoria sem mancha, sem mistura. É uma sabedoria que não pode ser contaminada pelos princípios humanos. Ela é pura porque não nos pode fazer mal e os seus resultados só nos trazem benefícios (Provérbios 3:13-35).

Em segundo lugar, a sabedoria do alto é pacífica. Promove paz e bom relacionamento, tanto de ser humano para ser humano, quanto deste para com Deus. De certa forma, também gera felicidade, pois os pacificadores são chamados por Jesus de “bem-aventurados” (Mateus 5:9).

Em terceiro lugar, a sabedoria do alto é moderada. Porque é sensível, bondosa, generosa, tolerante e compreensível. Este fruto da sabedoria do alto nos ensina a perdoar, a respeitar e escutar. Em outras palavras, faz com que o homem não seja tão intransigente. 

Em quarto lugar, a sabedoria do alto é compreensiva. Essa qualidade ajuda o crente a tolerar as diferenças de comportamentos e pensamentos que há no meio da igreja. Ajuda a amar, pois nos instrui a nos colocarmos no lugar do outro.

Em quinto lugar, a sabedoria do alto é plena de misericórdia. Assim como Deus não nos trata como merecemos, a sabedoria que procede Dele nos ensina a ter misericórdia do próximo, quer ele mereça ou não. 

Em sexto lugar, a sabedoria do alto é cheia de bons frutos. Refere-se às qualidades que mantêm a paz e que mostram o amor de Deus derramado no coração dos que nasceram dele (Romanos 5:5).  A sabedoria divina opera pelo Espírito. O homem carnal não pode produzir frutos bons, somente frutos maus gerados pela sua natureza terrena (Gálatas 5 19 a 21). O homem natural não consegue ser bom (Romanos 3:12), por isso precisa da sabedoria celestial para que possa produzir em si algum fruto benigno.

Em sétimo lugar, a sabedoria do alto é imparcial. Um contraste total de como é a fé do homem que duvida, descrito como a onda do mar (Tiago 1:6). A verdadeira sabedoria não é sinuosa nem vacilante. Ela se baseia nos padrões divinos, os quais são concretos e imutáveis.

Em oitavo lugar, a sabedoria do alto é autêntica. O termo também pode ser traduzido como “sem hipocrisia”. É verdadeira e não utiliza o engano para os seus próprios fins. Não procura viver apenas em aparência. 

 

CONCLUSÃO

É importante para nós reconhecermos a necessidade que temos da sabedoria divina, a qual nos ajudará especialmente nos tempos de provação e dificuldades. Sabedoria esta que não será encontrada em faculdades, livros ou filosofias. Ela é uma dádiva divina alcançada mediante oração e fé. A sabedoria do Alto resulta numa vida de acordo com a Palavra de Deus e é caracterizada pelo serviço humilde ao Senhor e ao próximo.

O mais importante é que essa sabedoria da qual precisamos não é para saber que tipo de investimento faremos que nos trará melhor rendimento. Não! Essa sabedoria é para que possamos conseguir entender o problema do sofrimento e das provações em nossa vida. Pois ela é a base da sustentação para que possamos nos manter firmes nas dificuldades. A sabedoria é um presente do Espírito Santo que nos capacita a ver a história da perspectiva divina. A sabedoria não é adquirida em um curso, mas ela vem de Deus.