Texto de Estudo

Apocalipse 5:6:

6 E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra.

INTRODUÇÃO

Os leitores de João viviam numa época em que o Império Romano ditava as regras. Mas isso não era uma realidade apenas para eles. Seus antepassados também viveram sob o domínio de forças estrangeiras. Quanto mais o tempo passava e o Senhor demorava em assumir o controle terreno de todas as coisas, mais a fé daquelas pessoas era solapada. Porém, João lhes escreveu para que eles perseverassem na fé que uma vez foi entregue aos santos. O estabelecimento do governo divino na terra poderia tardar, mas não era uma farsa. Prova disso é a visão que João tem do trono de Deus lá nos céus. Sob o ponto de vista terreno, a história parece estar nas mãos dos homens. Mas sob o ponto de vista do trono de Deus, a história está, inquestionavelmente, nas mãos de um só: Deus!

 

O LIVRO

Tudo o que João diz neste capítulo está em harmonia com o capítulo anterior. Isto significa que ambos os capítulos são como uma espécie de introdução para os capítulos seguintes.

De forma resumida, podemos dizer que o que João vê e ouve no capítulo 5 refere-se ao governo universal do Cordeiro. Ele é descrito como o governador e soberano da história e do destino da humanidade. Cada abertura dos selos nos capítulos seguintes mostrará a hegemonia do Cordeiro. Aquele que antes fora humilhado agora reina soberanamente, trazendo a justiça para o mundo dos homens.

O que chama atenção de João em primeiro lugar? O que chama sua atenção é o livro que está na mão direita daquele que está assentado no trono (5:1), ou seja, Deus, o Pai. O que vem a ser esse livro? Pelo desenrolar dos capítulos 6 e seguintes, este livro seria um registro dos decretos e intenções de Deus para com a humanidade no fim dos tempos. A última hora foi inaugurada com o ministério terreno de Jesus Cristo. Agora, o Cordeiro vem para fechar os últimos minutos da longa história dos descendentes de Adão.

A simbologia deste livro que João vê não é uma ideia estranha ao próprio contexto cultural e histórico dos leitores originais. Eles já eram sabedores de que, assim como os reis humanos registravam informações que consideravam importantes com respeito aos seus reinos, o mesmo se aplica a Deus (cf. Ezequiel 2:9-10).

A outra coisa que chamou a atenção de João foi o fato de o livro ser “escrito por dentro e por fora” (5:1). Segundo as informações dos estudiosos, não era muito comum um rolo ser escrito de ambos os lados, a não ser que fosse um título para identificar o documento, ou porque talvez houvesse tanta coisa a ser escrito que só pelo lado de dentro não seria suficiente. No caso do rolo do livro visto por João, já não havia tempo para escrever mais, e não havia mais espaço para outros escritos; o livro estava completo.  Para alguns estudiosos, o fato de o livro ser escrito por dentro e por fora significa “plenitude de conteúdo”. 

O próximo detalhe apresentado por João é o de que o livro tinha sete selos. Mais do que a simbologia em torno do número sete (plenitude ou perfeição), a imagem procura nos mostrar o quão secreto é o livro e também o quão inviolável ele é. Era usual selar documentos legais romanos sete vezes. Naquele tempo, um testador ditava um testamento e o selava no final em conjunto com mais seis testemunhas. Depois todos os sete selavam o documento enrolado do lado de fora. Agora ele precisaria de instância judicial para ser aberto. 

Apesar de ser coerente com o contexto da época e de lançar alguma luz sobre nosso texto, ainda assim não podemos dar certeza absoluta de que se referia a isso. O que podemos afirmar com certeza, e à luz do próprio contexto do capítulo 5, é que aquele livro era algo exclusivo, ultrassecreto, que somente uma pessoa autorizada poderia tocar e abrir.

 

QUEM É DIGNO?

Na sequência, João vê um “anjo poderoso” (5:2) fazendo uma ampla proclamação em alta voz. Somente um ministro forte vindo de Deus poderia proclamar uma mensagem de tão alto alcance. A narrativa descritiva de João apresenta um ponto de suspense e tensão. Os mistérios ocultos de Deus precisavam ser revelados. E como ele havia sido instruído sobre o teor futurístico do livro, não era de se estranhar que João ficasse apreensivo.

A proclamação veio em forma de pergunta: “Quem é digno de abrir o livro e de lhe desatar os selos?” (5:2). Interessantemente o anjo não perguntou sobre quem era o mais forte, ou o mais sábio, ou o mais diplomático, mas sim quem era digno de romper os selos e de abrir o livro! O verso 3 diz que ninguém tinha capacidade o bastante para singular missão. Ninguém, nem mesmo no mundo angelical, era capaz o bastante. O silêncio acabou revelando tudo! João ficou tão mal com aquilo que chorou muito (5:4). Ele deve ter imaginado que não havia mais esperança. Naquele momento quando João não viu e nem ouviu ninguém apto para tomar aquele livro nas mãos, ele deve ter vivido o fim do mundo dentro de seu apertado coração.

 

NÃO CHORES

Tendo em vista que João chorava muito, um dos anciãos trouxe uma notícia que reverteria aquele choro (5:5). Apesar de ninguém ter se apresentado para abrir o livro, o ancião afirmou categoricamente que havia alguém digno. Este alguém era único, mas seus títulos, os mais variados. Ele é “o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos” (5:5). O primeiro título encontra seu pano de fundo em Gênesis 49:8-10. Possivelmente o ponto da analogia seja por causa da força e fama do leão em relação aos demais animais. O segundo título encontra seu pano de fundo em Isaías 11:1-10. O texto de Isaías faz referência a uma raiz de Jessé, e não de Davi. Isso não tem importância. Os nomes são intercambiáveis. Davi era o filho de Jessé. A ideia de “raiz” significa que vem do tronco ou gerado por Jessé. O fato de o nome de Davi ter tomado proeminência se dá pelo fato de ele ser o descendente especial de Jessé, escolhido pelo Senhor. Foi com Davi que o Senhor firmou uma aliança, e não com Jessé.

Agora não havia mais espaço para as lágrimas de João. Jesus venceu na cruz, completou sua obra, agradou ao Pai, satisfez suas exigências de justiça e de amor. Ele é o único digno de abrir o livro. Amém!

 

A VISÃO DO CORDEIRO

Depois da fala do ancião, os olhos de João foram direcionados para o meio do trono e dos quatro seres viventes. E o que ele viu? Viu a figura de um cordeiro de pé como tendo sido morto (5:6). Esta primeira informação tem a ver com o ministério terreno de Jesus. De alguma forma, João viu a marca do sacrifício no cordeiro. Por isso que ele emprega a linguagem estranha de “tendo sido morto”. Obviamente que, no momento da visão, ele não estava mais morto.

Depois João notou que o Cordeiro tinha “sete chifres” (5:6). Simbolicamente os chifres carregam a ideia de poder. Sendo assim, temos uma exótica mistura de imagens figurativas. Temos tanto a ideia dócil, mansa e sacrificial do cordeiro, como os símbolos de sua força. Tal mistura só é possível para o Cordeiro de Deus, pois somente ele pode carregar sobre si a ideia do sacrifício supremo e do poder supremo. Humildade e poder juntos como nunca!

João prossegue em sua descrição e vê que o cordeiro tinha “sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados por toda a terra” (5:6). A explicação acrescentada relaciona a santa fusão do ministério de Cristo com o ministério do Espírito Santo. Eles estão sempre juntos. Na visão de João, o cordeiro tinha toda a plenitude da visão. Temos uma descrição simbólica da sondagem ao nível da perfeição. Toda a terra de uma só vez está diante da aguçadíssima visão do Cordeiro.

Com estes atributos agregados, Jesus tem a capacidade de lidar externamente com os inimigos (sete chifres, poder pleno) e de lidar internamente (sete olhos, que veem tudo). O livro de Provérbios diz que se até o além está descoberto aos olhos de Deus, quanto mais o coração dos homens (15:11).

O verso 7 dá o fechamento da cena: o Cordeiro toma “o livro da mão direita daquele que estava sentado no trono”.

 

O LOUVOR DOS QUE ESTÃO NO CÉU

Quando o Cordeiro tem o livro nas mãos, os quatro seres viventes e os 24 anciãos prostram-se diante dele (5:8). O que se segue agora é a mais singular de todas as adorações. João realmente foi muito privilegiado por ver este momento de adoração nos céus. Os elementos de destaque desta adoração são as orações e a música. As orações são representadas pela simbologia das “taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos” (5:8) e pela música das harpas.

Vendo, pois, os seres celestiais que o livro na mão do cordeiro significava um evento de posse do governo universal, eles entoaram um hino de coroação. A letra do hino é de alta significação para os cristãos. Por isso que é descrito como um “novo cântico”. É novo por falar da última e mais relevante intervenção de Deus na história. Os Salmos 33:3; 40:3; 96:1 e 98:1 também fazem menção a um “cântico novo”, mas nenhum deles é igual ao que será cantado na posse definitiva do cordeiro. Uma nova matéria é trazida para ser cantada, por isso que é novo.

O que o cântico diz?  Diz que somente o Cordeiro era digno de tomar o livro e abrir-lhe os selos (5:9). E a autoridade para tanto repousava no fato de ter sido morto e com o sangue dele ter comprado para Deus todos os que “procedem de toda tribo, língua, povo e nação” (5:9). Esse é o alcance da redenção do Cordeiro, ou seja, todas as espécies de pessoas. Sem fronteiras, sem separação. Agora todos são um só povo de Deus e do Cordeiro!

O cântico diz mais. Ele diz que essas pessoas que foram compradas por sangue tão precioso, serão ministros de Deus (5:10). As figuras do sacerdote e do rei eram bem conhecidas dos leitores de João. Em Êxodo 19:6 encontramos uma promessa desse tipo, em que o Senhor prometeu a seu povo que, se guardassem a aliança, seria constituída uma nação santa e reino de sacerdotes. No fim dos tempos, tal promessa se cumprirá definitivamente. 

 

UMA CANÇÃO UNIVERSAL

Dos versos 11 a 14, temos uma expansão do círculo dos que adoram ao cordeiro. No primeiro momento de louvor, apenas os quatro seres viventes e os 24 anciãos entoaram o cântico. Agora não só um número incontável de anjos como também toda a criação canta àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro.

No verso 13, a audição de João sai completamente daquele círculo mais próximo do trono e ganha dimensões universais, a se referir à terra, ao mar e a tudo o que nele existe. O céu e a terra e tudo o que estes contêm foram criados para cumprir um único propósito: cantar a glória de Jesus Cristo. O plano final de Deus é um universo inteiro que louve a Cristo; e é nosso privilégio contribuir com nossa voz e nossa vida com este coro universal; porque a concepção divina é tal que sua obra não estará completa enquanto falte, por menor que seja, uma só voz. 

A canção que vem de toda a terra destina ao Cordeiro todo o louvor, honra, glória e domínio eterno. Todos estes substantivos foram desejados pelos homens de proeminência ao longo dos séculos. Mas agora governa o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. Seu reino não tem fim. Por isso, nenhuma outra potência terrena poderá sorver expectativas de uma derrocada do Reino do Cordeiro. Quando ele finalmente unir céus e terra em uma só sala de adoração, não haverá mais espaço para os auspícios humanos divorciados de Deus. À humanidade foi dado o tempo para o arrependimento. Desde o começo, o Senhor tem enviado mensageiros para exortar as pessoas que deixem de girar em torno de si mesmas.

A sala do trono que João viu apresenta um conceito de centralidade. Já houve uma proposta geocêntrica, segundo a qual a Terra era o centro do sistema solar. Depois, uma proposta heliocêntrica (proposta por Nicolau Copérnico), que defendia que o sol é o centro do sistema. Porém, mesmo sem ser astrônomo, João recebe uma visão de Deus e vê que na realidade o novo sistema revelado por Deus é Cristocêntrico! Não é uma maravilha isso? Não é uma questão de física ou matemática. Na percepção do Pai, o centro de tudo nunca se tratou de uma massa incandescente e gás (sol) ou de uma massa planetária (Terra). Antes se tratou de uma pessoa: “Nele, tudo subsiste... Ele é o princípio,... para em todas as coisas ter a primazia” (Colossenses 1:17-18). Frente a tudo isso, os quatro seres viventes e 24 anciãos não tinham outra coisa a dizer senão: “Amém!”. 

 

CONCLUSÃO

Sem sombra de dúvidas, João não tinha mais motivo para chorar. Se sua preocupação era a de encontrar alguém que fosse digno de ter o livro da história da humanidade nas mãos, já não precisava mais se preocupar. O livro estava nas mãos certas. Todavia, se João não devia mais chorar, o mesmo não poderia ser dito dos que habitavam na terra. Os próximos capítulos descreverão como será a vida na terra quando o Cordeiro começar a abrir este livro. Mas isso será visto nos próximos estudos. Por ora, fiquemos com a estonteante visão do Cordeiro de Deus assentado no trono, governando todas as coisas e sendo louvado com alegria!