Uma comunidade onde a vida é valorizada
- Detalhes
- Pr. Edonir Lemos e Heloise Gonçalves Nunes Lemos
- Devocionais
13 Pois possuíste os meus rins; cobriste-me no ventre de minha mãe. 14 Eu te louvarei, porque de um modo assombroso, e tão maravilhoso fui feito; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. 15 Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui feito, e entretecido nas profundezas da terra. 16 Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia.
Salmos 139:13-16
INTRODUÇÃO
Ao refletir sobre os últimos dois anos, vêm à memória a inesperada pandemia que chegou devastadora a todas
as nações do mundo. Muitos ficaram traumatizados, outros sofreram dores profundas e suas vidas mudaram para sempre. À medida que o novo normal se apresentava, descobria-se o que significa dar valor a cada fôlego de vida – que a vida, como um sopro e dom de Deus, é o maior bem a ser preservado.
Para entender mais sobre isso, precisamos traçar uma rota de estudo. Em primeiro lugar precisamos compreender que a vida das pessoas vale mais que as coisas. Segundo lugar: viver de forma consciente e responsável revela um coração grato. E, por fim, é necessário entender que a vida pertence a Deus, o Criador. Aqui nosso dever é apreciar e aceitar a soberania de Deus para que possamos usufruir de uma vida em abundância.
O Salmos 139:13-16 deixa evidente a importância de cada vida para Deus, o Ser Supremo. Medite nessa leitura. Na lição de hoje, vamos aprofundar mais sobre essa questão: dar valor à vida que Deus nos deu.
A BÍBLIA VALORIZA O SER EM DETRIMENTO DO TER (Lucas 12:13-15)
É impossível ficar alheio às várias transformações que ocorrem na sociedade, principalmente no que se refere às
relações humanas. Muitas dessas, decorrem da evolução tecnológica que estreita os relacionamentos e, ao mesmo
tempo, torna rasas as conexões. Não é incomum que ao acessar as redes sociais se constate o quanto as pessoas têm privilegiado o “ter” (apego aos bens materiais – às coisas) em detrimento do “ser”, que se pode entender como a busca pelas virtudes do Reino aplicadas à vida espiritual - às condutas, à forma de viver. “(...) a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele tem”. (Lucas 12:15 NAA), disse Jesus. E com essa afirmação, ensina-nos que não são as coisas que imprimem valor à vida e que devemos considerar nossa existência com a devida sensatez, honrando o que realmente importa: nosso relacionamento com o Criador, pois é desse relacionamento que se imprime o caráter de Cristo em seus filhos.
Alguém da multidão sinalizou: “Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança” (Lucas 12:13 NAA). Dessa
fala retiramos duas problemáticas a respeito desse homem – até então não identificado no texto bíblico. A primeira:
imaturidade; essa descoberta faz lembrar quando as crianças disputam por seus brinquedos umas com as outras e, em determinado momento, quando uma delas se sente vulnerável e prestes a ter que ceder, recorre à autoridade do pai ou da mãe para ajuizar sobre aquela causa e derrubar a intenção do seu “adversário”. Todavia, crianças são crianças e necessitam amadurecer a virtude da partilha, do diálogo e da amizade, e precisam ser ensinadas diligentemente pelo exemplo. Extraise do texto, conforme a referência dispensada por Cristo, tratar-se de um homem com idade suficiente para elaborar e dirigir essa sentença ao Rei dos Reis. É como se ele dissesse: “Jesus, meu irmão tem uma ‘coisa’ que eu quero, mas ele não quer me dar, faça com que ele mude de ideia!”
A premissa da lição que Cristo dá é: “Quem me nomeou juiz ou repartidor entre vocês?” (Lucas 12:14 NAA). Ora, um juíz era alguém incumbido de mediar questões terrenas, disputas civis e, no sentido forense, era aquele que investigava e decidia um caso. Sabe-se que Cristo veio não para julgar, mas para salvar as “pessoas” (…) por que o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido (Lc. 19:10 NAA) e de acordo com o texto joanino “(…) Porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo” (João 12:47 NAA). O pedido de ajuda para a divisão de herança, só reforçou o nível superficial da busca daquele homem (e de boa parte da multidão) em relação à grandeza do ministério de Cristo na terra.
A segunda problemática: foco no material (herança). Não foram poucas as vezes que Jesus alertou a respeito da
supremacia do reino espiritual em relação à vida terrena. Ainda no evangelho de Lucas, o Mestre disse “(…) porque a vida é mais do que o alimento, e o corpo mais do que as roupas” (Lucas 12:23 NAA), evidenciando que o foco é a vida das pessoas e sua alma regenerada. Toda a missão de Cristo tem direção nas pessoas; em resgatá-las e reconciliá-las novamente com o seu Criador. Portanto, não é de se espantar a súbita repreensão de Cristo àquele homem que, evidentemente, estava mais preocupado com sua vida terrena do que com a espiritual. “Busquem, antes de tudo, o seu Reino e estas coisas lhes serão acrescentadas” (Lucas 12:31 NAA). É imperativo que ao homem cabe buscar, perseguir, desejar o reino, viver com o Rei no presente com garantia de seu futuro na eternidade. A Deus cabe suprir, sustentar, acrescentar o que é necessário ao homem para a boa governança de sua vida no presente e para usufruir uma vida eterna com Ele.
Quando há uma inversão de prioridade e o homem busca seus próprios interesses, entesoura para si bens materiais, supervaloriza as “coisas”, tão facilmente afasta-se do Reino “mas não é rico para com Deus” (Lucas 12:21b NAA) e longe está da graça de viver sob os princípios do Rei.
Jesus ensina-nos que não são as coisas que imprimem valor à vida e que devemos considerar nossa existência com a devida sensatez, honrando o que realmente importa: nosso relacionamento com o Criador, pois é desse relacionamento que se imprime o caráter de |
VIVER COM RESPONSABILIDADE É UMA FORMA DE GRATIDÃO A DEUS (Eclesiastes 11:9)
Se você já leu e se atentou ao teor do livro de Eclesiastes, notou que o autor narrou sua busca pelo significado da vida e, no versículo 9, do capítulo 11, traz uma concessão de aspecto irônico: “Alegre-se, jovem, na sua mocidade, e que o seu coração lhe dê muita alegria nos dias da sua juventude. Ande nos caminhos que satisfazem ao seu coração e agradam aos seus olhos; saiba, porém, que de todas estas coisas Deus lhe pedirá contas”. (Eclesiastes 11:9 NAA).
Há, no texto, certa permissão ao homem para deleitar-se em sua juventude, fase da vida em que os desejos estão acentuados, a sensualidade aflorada, os sonhos altivos, e a vontade própria predomina, muitas vezes, associada a uma ansiedade inconsequente. Consta no escrito uma ordem positiva, quase um incentivo: Alegre-se; ande; como quem diz: Aproveita a vida, meu jovem!
O texto não para por ali e, sabiamente, o escritor adverte: “(…) Deus lhe pedirá contas”, que implica dizer que o
homem deverá responder por cada escolha (boa ou má) que tomar durante a sua jornada terrena. A definição da palavra responsabilidade23 é: 1. qualidade do que é responsável; 2. Obrigação de responder pelas ações próprias, pelas dos outros ou pelas coisas confiadas. Com atenção ao trecho destacado, extrai-se que Deus confiou ao homem a bênção da vida, não para que a viva desonrosamente, mas de forma consciente, pautando suas escolhas e ações nos valores e princípios divinos.
O ensinamento do escritor se baseia no fato de que são os valores de Deus e não a devassidão que devem conduzir o homem ao prazer. Sobre o texto, KIDNER (p. 50, 1989) declara:
À primeira vista este lembrete do julgamento parece uma espada de Dâmocles pendurada sobre a nossa cabeça, para roubar à festa todo o seu sabor. Talvez seja verdade, mas apenas se a nossa alegria for uma paródia da verdadeira alegria. Os caminhos que satisfazem ao teu coração e agradam aos teus olhos, ou, em outras palavras, a verdadeira liberdade, devem ter um alvo que valha a pena alcançar, um “muito bem!” que desejamos ouvir para ter satisfação. Caso contrário, a trivialidade ou, o que é pior ainda, o vício assume a direção. Seja qual for a conotação que a palavra “playboy” tenha para nós, sabemos que é uma pessoa que não relaciona a sua vida com coisa alguma que seja exigente, e muito menos com os valores eternos; é uma pessoa miserável. Assim este versículo, ao insistir que nossos caminhos interessam a Deus e são, portanto, significativos em toda a sua extensão, não rouba alegria alguma, mas apenas acaba com o vazio.
Saber viver ou usufruir dos deleites da vida, sob a perspectiva do Reino, é conseguir alinhar os nossos anseios humanos ao perfeito propósito divino. O apóstolo Paulo na carta aos Romanos 12:2 aconselha: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Só é possível experimentar a perfeita vontade de Deus, quando o homem se submete aos Seus desígnios. Ao se colocar sob a tutela do Pai, o homem demonstra apreciar e confiar em Sua soberania. A forma consciente e responsável que o homem conduz sua vida é diretamente proporcional à gratidão que sente pelo privilégio da Vida.
Deus confiou ao homem a bênção da vida, não para que a viva desonrosamente, mas de forma consciente, pautando suas escolhas e ações nos valores e princípios divinos. |
A VIDA PERTENCE A DEUS, O CRIADOR (Gênesis 1:26-27)
O homem e a mulher foram o último ato criacional de Deus - o ponto alto da criação e o propósito de tudo o mais que havia sido já criado. “E Deus disse: — Façamos o ser humano à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os animais que rastejam pela terra. Assim Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn. 1:26-27)
Percebam que o Criador deu forma ao espaço físico, proveu as condições climáticas ideais, os recursos hídricos e os alimentos antes de soprar o fôlego de vida nas narinas do homem para que ele já pudesse usufruir de um ambiente perfeito. Tudo o que o homem precisava foi lhe fornecido em abundância, inclusive a própria presença de Deus.
O fato de termos um Criador revela que a nossa vida pertence a Ele: “Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no ventre de minha mãe. Graças te dou, visto que de modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles ainda existia” (Sl.139:13-16 NAA). Só há existência humana porque Deus consentiu, criou e a mantém.
Na abundância da criação, o homem pecou. E o pecado afluiu de forma a separar a criatura do seu Criador. Como restaurar essa conexão? Cristo, ao tomar a forma humana de servo e viver de forma imaculada, morrer e ressuscitar, redimiu o ser humano de todo pecado.
Jesus afirma: “O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em
abundância” (João 10:10 NAA). A palavra vida (do grego “zõe”), no versículo de João, tem seu significado sublime ao expressar o que de mais precioso os filhos de Deus possuem. Esse termo é usado no Novo Testamento para expressar a vida como princípio, vida no sentido absoluto, vida como Deus a tem, aquilo que o Pai tem em Si mesmo e a qual o filho manifestou ao mundo e, dessa vida, os homens se tornam participantes pela fé em Cristo.25 Essa vida abundante só se encontra em Cristo, porque de fato, pertence a Ele.
CONCLUSÃO
Nesta lição, pudemos compreender como Deus nos ama, o quanto Ele se importa com o homem. Nós como Seus filhos precisamos valorizar esse bem tão valioso: a vida que o Pai, Criador, nos deu e assegurou em Cristo. Em uma comunidade onde a vida é valorizada, entende-se que o foco deve estar nas pessoas, no resgate das vidas para Cristo. Compreende-se que é nosso dever viver de forma responsável e consciente, expressando nossa gratidão a Deus. Vive-se a vida abundante que Deus nos preparou antes mesmo da fundação do mundo.
Para encerrar, compartilharemos uma porção de um relato (autor desconhecido) que nos faz refletir sobre o que
realmente tem valor.
Certo dia, um homem muito rico levou seu filho para um passeio a um pequeno vilarejo. Chegando lá, eles passaram o dia na fazenda de uma família muito pobre.
A intenção do pai com aquilo tudo era mostrar ao filho como era a vida de alguém que é pobre. No caminho de volta para casa, o pai perguntou ao filho:
– O que você achou do passeio?
– Foi ótimo, pai! – respondeu o menino.
– Você viu como as pessoas pobres vivem? – perguntou o pai.
– Claro que sim! - o menino respondeu.
O pai, prontamente, fez outra pergunta:
– Então, o que você aprendeu com o nosso passeio?
O filho respondeu:
– Nós temos um cachorro, eles têm quatro. Nós temos uma piscina, eles têm rio. Nós temos lâmpadas à noite, e eles, estrelas. Nós compramos a nossa comida, eles plantam tudo o que comem. Nós temos paredes para nos proteger, eles têm amigos. Nós temos televisão, eles passam o tempo com os amigos e parentes.
O pai do menino ficou sem palavras. O filho ainda completou dizendo:
– Obrigado, papai, por me mostrar como somos pobres. Moral da história: nada que é valioso na vida é relacionado a dinheiro e a bens materiais.
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE
1. Leia Lucas 12:13-15 e responda: o que a atitude do homem que pediu a Jesus que ajudasse seu irmão na divisão da herança revela sobre ele?
R.
2. O que Eclesiastes 11:9 ensina a respeito da busca desenfreada pelo prazer?
R.
3. O fato de Deus ter criado o homem por ultimo o que isso revela sobre o caráter do ser humano?
R.
4. Por que existe tanta inversão de valores no mundo de hoje?
R.