João 16:16-24:

16 Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porquanto vou para o Pai. 17 Então alguns dos seus discípulos disseram uns aos outros: Que é isto que nos diz? Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; e: Porquanto vou para o Pai? 18 Diziam, pois: Que quer dizer isto: Um pouco? Não sabemos o que diz. 19 Conheceu, pois, Jesus que o queriam interrogar, e disse-lhes: Indagais entre vós acerca disto que disse: Um pouco, e não me vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis? 20 Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria. 21 A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo. 22 Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará. 23 E naquele dia nada me perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há de dar. 24 Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra.

Introdução: Nesta seção de seu discurso, Jesus dirige o seu olhar mais além do momento presente, rumo à nova era que virá. Ao fazê-lo, faz uso de uma concepção que tinha raízes muito profundas no pensamento judaico. Os judeus criam que o tempo estava dividido em duas idades: a era atual e a era que estava por vir. A era atual era completamente má e estava condenada. A era que viria era a Idade de Ouro de Deus. Entre ambas, antes da vinda do Messias, que traria a nova era, estava o Dia do Senhor. Seria um dia tremendo; o mundo se desintegraria, todas as coisas se convulsionariam e logo amanheceria a idade de ouro.

Os escribas empregavam, de fato, a imagem da dor do parto que precede à chegada de toda vida nova ao mundo. O Antigo Testamento e a literatura escrita entre ambos os Testamentos estão infestados de imagens que descrevem esta época intermediária. "Eis que vem o Dia do SENHOR, dia cruel, com ira e ardente furor, para converter a terra em assolação e dela destruir os pecadores" (Is. 13:9). "Perturbem-se todos os moradores da terra, porque o Dia do SENHOR vem, já está próximo; dia de escuridade e densas trevas, dia de nuvens e negridão!" (Jl. 2:1-2). "E a honra se tornará em vergonha e a força se humilhará e se destruirá a probidade e a beleza se converterá em fealdade" (2 Bar. 27). "Mas o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite, no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há se queimarão" (2 Pd. 3:10). Essa era a imagem dos dores de parto da vinda do Messias.

Jesus conhecia as Escrituras; conhecia estas imagens. Elas estavam presentes em sua mente e em sua memória. E agora dizia a seus discípulos: "Vou deixá-los, mas voltarei. Chegará o dia quando começarei o meu reinado. Mas, antes disso, vocês terão que passar por coisas terríveis com um sofrimento semelhante à de dores de parto. Não obstante, se perseverarem com fé e passarem por esse tempo tremendo, as bênçãos serão preciosas".

Mesclado às palavras de conforto, de promessas, estavam avisos de perseguições severas e inevitáveis. A coexistência destes temas, aparentemente contraditórios, cria o paradoxo da alegria com misto de tristeza, da vitória com misto de sofrimento e lutas. E este paradoxo é resumido numa fórmula simétrica, no verso 16: "Um pouco, e não mais me vereis; outra vez um pouco, e ver-me-eis".

São bastante pertinentes as palavras de Linda Harris quando afirma que, diante do sofrimento, de uma doença em estágio terminal, o homem questiona a bondade e a soberania de Deus. Isto porque sofrer não parece lógico ao ser humano.

Vi como os amigos de Jó usaram a "lógica" para explicar suas atribulações. Eles estavam procurando uma explicação. Acho que estavam com medo de que algo semelhante pudesse lhes acontecer. Se Jó sofria por nenhuma razão, então o que impedia que eles também sofressem? Jó tinha numerosas perguntas para Deus. Ele queria saber por que o Senhor não o deixara só ou não permitira que morresse. Todas as suas perguntas se resumiam a uma: o que ele havia feito para merecer aquilo? Quando sofremos, também temos perguntas: por que eu? O que eu fiz para causar isto? O que eu poderia ter feito diferente? Assim como Jó, podemos nunca receber respostas a nossos questionamentos acerca do porquê sofremos, mas podemos confiar no Pai, que tem todas as respostas em suas mãos. Jesus disse: "Neste mundo tereis aflições. Mas tende bom ânimo! Eu venci o mundo" (João 16:33). Sofrimento não é opcional; todos o enfrentamos. A questão não é "Por quê?", mas "Como?" Como enfrentaremos as provas que aparecem em nosso caminho? Deixaremos que nos derrotem ou confiaremos que Deus trará o bem através delas? Podemos descansar em sua promessa: "Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar" (1 Pedro 5:10).1

Jesus, nesta passagem, nos ensina como é que o cristão deve encarar o sofrimento em sua vida.

1. Em primeiro lugar, Jesus nos ensina que o sofrimento se converterá em gozo. Observe o que Ele nos diz no verso 20: "Em verdade, em verdade eu vos digo que chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria".

Pode chegar um momento em que ser cristão não parece produzir mais que dor enquanto pareceria que pertencer ao mundo só produz alegria. Mas chega um dia quando se invertem os papéis. A alegria despreocupada do mundo se converte em sofrimento e o aparente sofrimento do cristão se converte em alegria. O cristão sempre deve lembrar, quando sua fé lhe custa caro, que esse não é o fim de tudo, que depois da dor vem a alegria.

Bem disse o salmista: "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã" (Sl. 30:5).

2. Em segundo lugar, Jesus nos ensina que há duas coisas muito valiosas sobre esta alegria cristã:

a) Ninguém poderá jamais tirá-la de nós. No final do verso 22, Ele diz: "... e a vossa alegria ninguém poderá tirar". Será independente das contingências e as mudanças do mundo. Nenhuma atividade ou ataque do homem poderá tocá-la. É um fato muito certo que em todas as épocas, as pessoas que sofriam de maneira tremenda falaram de momentos doces passados com Cristo. A alegria que o mundo proporciona está à sua mercê. A alegria que brinda Jesus é independente de algo que possa fazer o mundo. Não depende do que este dá ou saca, pois só depende da presença de Cristo e seu único fundamento é Deus.

b) Será completa. No verso 24, Jesus diz aos seus discípulos: "Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa". O que caracteriza a vida é que em suas maiores alegrias sempre há um elemento de finitude. Sempre falta algo. Pode ser que de algum modo existe um sentimento de pesar ou a noção de que uma nuvem íntima pode arruiná-lo, ou que sempre tenhamos presente que não pode durar muito tempo. Na alegria cristã, a alegria da presença de Cristo e da vida vivida com Ele, não há nenhuma mistura, nenhum vestígio de imperfeição. É perfeita e completa.

3. Em terceiro lugar, Jesus nos ensina que na alegria cristã a pessoa se esquece da dor que a precedeu. Num paradoxo singular, Jesus ilustra a alegria que vem após um período de sofrimento, ao fazer a seguinte comparação:

A mulher, quando está para dar à luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo um homem. Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará... (Jo. 16:21,22)

A mãe se esquece da dor diante da maravilha de seu filho. O mártir esquece sua agonia na glória do céu. Se a fidelidade custar muito, o homem que a experimenta esquecerá seu preço na alegria de estar com Cristo para sempre e na alegria muito simples de ter-se demonstrado fiel.

4. Em quarto lugar, Jesus nos ensina que o conhecimento a respeito das coisas espirituais, após o período de sofrimento, será total. Disse Jesus, no verso 23: "Naquele dia, nada me perguntareis". Nesta vida sempre subsistem as perguntas sem resposta e os problemas sem solução. Fazemos diversas perguntas em meio ao sofrimento: Como pode esta provação ser parte do plano de Deus? Nossa visão finita não pode visualizar o porvir, e esquecemos que Deus tem nos feito passar por outros momentos difíceis.

Em última instância, nesta vida sempre devemos partir pela fé e não pelo que vemos. Devemos aceitar constantemente coisas que não compreendemos. Só percebemos fragmentos da verdade e vemos esboços de Deus. Entretanto, na era por vir com Cristo conheceremos tudo. Quando estivermos totalmente com Cristo terminará o tempo das perguntas e chegará o momento das respostas.

5. Em quinto lugar, Jesus nos ensina que, após o período de sofrimento e espera, haverá uma nova relação com Deus. Quando conhecemos real e verdadeiramente a Deus podemos ir a Ele e lhe pedir ou lhe perguntar algo. Sabemos que a porta está aberta, sabemos que é o Pai e que seu coração é todo amor. Somos como meninos que jamais duvidam de que seu pai se alegra ao vê-los e que podem falar com ele quanto queiram.

Jesus diz que nessa relação pediremos algo. Mas pensemo-lo em termos humanos, que são as únicas coisas que conhecemos. Quando um menino ama e confia em seu pai sabe muito bem que em alguma oportunidade seu pai não lhe satisfará algum pedido, porque seu amor e seu conhecimento são superiores aos do menino. Podemos chegar a estabelecer uma relação tão íntima com Deus que podemos levar a Ele todas nossas coisas, mas sempre devemos terminar nossa prece com estas palavras: "Faça-se a tua vontade".

6. Em sexto lugar, eu aprendo que essa nova relação é possível por intermédio de Jesus. Existe em seu nome. Jesus disse assim, no verso 24: "Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa". Devido a quem é Jesus e ao que Ele fez, nossa alegria é indestrutível e perfeita, nosso conhecimento é completo, um novo caminho se abre para o coração de Deus. Tudo o que temos veio a nós por meio de Jesus Cristo. Em seu nome pedimos e recebemos, aproximamo-nos e somos recebidos.

Conclusão: Se você está passando por uma provação, volte-se a Deus em oração. Entenda que o sofrimento e a espera não durará para sempre. Deixe o Pai celestial saber como você está se sentindo, ainda que não seja algo bonito de se dizer. Peça ao Senhor para lhe dar a paz que ultrapassa todo entendimento. Lembre-se dos momentos em que Deus trabalhou seus problemas no passado e os transformou em algo bom. Diga-lhe que você confia nele para trazer a alegria vinda da tristeza que você agora experimenta. Esta é a única atitude que pode mudar sua vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. HARRIS, Linda. Entendendo e vivendo. In. CAMENGA, Andrews J. Ensinos para a comunidade. Estudos Bíblicos para a Escola Sabatina. Curitiba: CBSDB, 2011, p. 61.

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